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O amargo déjà vu do Flamengo na Libertadores reacende lições para o futuro

Gabriel Flamengo Libertadores 2017

Gabriel tenta jogada para cima de Nikão na partida: meia-atacante perdeu chance incrível no segundo tempo

Gabriel Flamengo Libertadores 2017

Gabriel tenta jogada para cima de Nikão na partida: meia-atacante perdeu chance incrível no segundo tempo

Um estranho déjà vu certamente invadiu a cabeça do torcedor rubro-negro ao fim da partida na Arena da Baixada. Pelo quarto jogo seguido na Libertadores, o Flamengo foi melhor do que o adversário. Teve controle, girou a bola, tentou aproveitar a posse, mas…acabou batido pela segunda vez na temporada. Nas mesmas circunstâncias da derrota para a Universidad Católica. No triunfo de 2 a 1 do Atlético-PR em Curitiba, faltou ao time de Zé Ricardo, mais uma vez, matar o jogo com chances tão claras. Um problema antigo. Em mais uma partida de peso, o Flamengo indicou que ainda tem lições a aprender se quiser, de fato, avançar na Libertadores.

Se no confronto do Maracanã Zé Ricardo sacou da cartola o avanço de Trauco ao meio de campo para surpreender Paulo Autuori, desta vez pecou pelo contrário. Verdade que foi prejudicado pelo importante desfalque de última hora de Everton. Mas o 4-1-4-1 sem um auxílio de criatividade a Guerrero para agredir o adversário funcionaria em um primeiro momento caso não ocorresse imprevisto algum. Mas o futebol, longe de ser uma ciência exata, abre espaço para imprevistos. Gabriel, Willian Arão, Romulo e Trauco, o bloco atrás do camisa 9, poderiam dar segurança no meio e posse de bola, mas pouca efetividade no ataque.

Como esperado, o Atlético-PR utilizou a incrível atmosfera da Arena da Baixada para abafar o time visitante nos instantes iniciais. Em um 4-3-3 quando partia para a ofensiva, o Furacão optou por velocidade e dribles de Nikão e Douglas Coutinho, pelos lados, para tentar chegar ao gol rapidamente. Quase conseguiu. Com apenas sete minutos, Nikão passou por Rafael Vaz e, dentro da área, carimbou a trave direita de Muralha.

Flamengo no início: posse sem criação

A torcida fez barulho, o time tentava se impor, mas foi o Flamengo quem encontrou seu jogo. Posse de bola, troca de passes. E teve duas belas chances. Uma com Romulo, de cabeça, após cruzamento de Gabriel da direita. Outra com Guerrero, que avançou no mano a mano com Thiago Heleno e na entrada da área bateu para fora diante de Weverton. Talvez tenha sido o único pecado do atacante peruano na partida. Por que, a partir daí, ele teve de se desdobrar para dar conta do que faltava na frente.

A troca de passes quase lateral do meio não o ajudava. O time sentia falta de Everton e Diego na aproximação a Guerrero. No primeiro jogo, Zé não teve Everton, mas teve Diego até sair machucado, no meio do segundo tempo, com a vitória já construída. Contra o Botafogo, não teve Diego, mas contou com Everton e seu incansável fôlego para ajudar na defesa e disparar ao ataque. E o time, no domingo, soube aproveitar as ótimas jogadas de pivô do peruano. Sem ter com quem dialogar, Guerrero correu mais. Aparecia na ponta esquerda. Mas Trauco não acompanhava. Corria para a direita. Não tinha Gabriel. Posse, posse, posse. Domínio, domínio, domínio. Mas a lição da Libertadores veio de novo. Dominar não é vencer. E o futebol abre espaço para o imprevisto. Como uma falha grotesca de Muralha.

Matheus Rossetto cobrou falta da intermediária de maneira quase despretensiosa para o bolo na grande área. Thiago Heleno subiu mais do que Vaz e tocou de cabeça. A bola viajou no alto, mas desceu devagar. Muralha a olhou, acompanhou e se enrolou. Quando tentou dar um tapa nela, a pelota já morria no fundo das redes do goleiro, que reclamou falta inexistente de Eduardo da Silva. O Flamengo era melhor. Mas futebol, no frigir dos ovos, é bola na casinha. 1 a 0. O caldeirão da Baixada explodiu. O Atlético-PR era líder do grupo 4. Zé precisava mudar o Flamengo. Era necessário agredir. Ele mudou no segundo tempo, mas nem tanto.

Havia opções no banco. Marcelo Cirino, transferido ao Internacional e conhecedor do Atlético e sua Arena, poderia ser mais uma se a negociação esperasse mais dois dias diante de tantos desfalques cariocas. Mas Zé Ricardo, ainda assim, insistiu na peça de segurança, velha conhecida de 2016. Gabriel. Não o tirou do jogo, mas o fez sair do meio e acompanhar Guerrero por dentro, à frente. Espelhava a função de Diego no 4-4-2 do Maracanã. O Flamengo melhorou. Não só mantinha o domínio como foi mais agressivo, com a passagem de Trauco para o centro. Mas há limitações ao se contar com jogadores como Gabriel, o que ficou claro em minutos, quando Guerrero fez bem o pivô e lançou o camisa 17 na esquerda. Com tanto espaço, ele ignorou os pedidos de bola desesperados do peruano no centro e, indeciso, bateu em cima da zaga.

Havia, de novo, superioridade do Flamengo. O Atlético-PR, geralmente rompedor em seu campo, marcava atrás da linha do meio de campo, à essa altura já com Felipe Gedoz na vaga de Lucho González. A preocupação do time da casa era defensiva, em busca de um contra-ataque fatal. Impossível sem ter a bola, que era do Flamengo. Que pecava pela falta de força ofensiva. Zé sacou, de uma só vez, Renê e Romulo e pôs Damião e Matheus Sávio em campo. Trauco recuou para a lateral, o garoto parou na ponta esquerda e Damião centralizou na área, dando mais mobilidade e companhia a Guerrero, que era cercado por ao menos três atleticanos ao tocar na bola.

Mais farto no ataque, o Flamengo apertou o Atlético, mas esbarrou em sua incompetência. Damião, de cabeça, perdeu duas chances. A primeira mandou na trave. Em seguida, a dupla Trauco e Matheus Sávio castigou o zagueiro improvisado de lateral-direito Zé Ivaldo. O peruano cruzou na cabeça de Damião que, mesmo com Weverton batido e o gol livre, tocou por cima. Aos 39 minutos, talvez o lance que definiu a partida. Pará subiu ao ataque e em belo cruzamento achou Gabriel sozinho, de frente para Weverton. A ansiedade e a limitação técnica o permitiram perder chance clara, num trançar de pernas que mandou a bola para longe e fez Guerrero e Réver não esconderem o desespero. Então a Libertadores, traiçoeira, cansou de se oferecer e deu as caras.

Flamengo no fim: agressivo

No contra-ataque, Eduardo da Silva achou a defesa carioca desarrumada. Rafael Vaz foi à linha de fundo, Réver ainda voltava do ataque. Pará, confuso, não soube quem marcar. Márcio Araújo saira para dar lugar a Mancuello. Com tanto espaço, a bola atravessou a área no passe do atacante e encontrou o pé direito de Felipe Gedoz, que bateu de chapa no fundo da rede de Muralha. Déjà Vu do Rubro-Negro carioca na Arena da Baixada. Melhor em campo, a segunda derrota na Libertadores estava encaminhada. Um espelho da partida contra a Católica que nem o gol de Arão, após cobrança de escanteio de Mancuello e bate-rebate na área, conseguiu evitar. E empacotou, de novo, lições para o Flamengo.

O time teve mais posse de bola (54%) e mais finalizações (18 x 11) do que o adversário, de acordo com o site Footstats. Mas perdeu ao menos quatro chances claras de gol. O poder de decisão em uma competição tão disputada não pode ser abaixo da média. É preciso ser fatal, principalmente em jogos fora de casa. Sim, há vida para o Flamengo sem Diego. Mas perder Everton, ao mesmo tempo, dificulta a tarefa de Zé Ricardo. Por isso é necessário ousar como fizera no primeiro jogo do Maracanã, sem peças de segurança como Gabriel. Matheus Sávio entrou bem na partida e deu opção de dribles e melhor passe ao ataque. O Flamengo de Zé é seguro, gosta de ter o controle do jogo. Dificilmente é batido. Mas só na Libertadores já foram duas vezes. Deve aprender, também, a ser cruel com os rivais. Nos jogos além do Maracanã, mostrou ingenuidade de parece acreditar que o resultado positivo será apenas consequência. Por sorte, a vaga pode estar a uma vitória em casa. O futuro, no entanto, depende de um time mais fatal. Sem espaços para um amargo déjà vu.

FICHA TÉCNICA:
ATLÉTICO-PR 2×1 FLAMENGO

Local: Arena da Baixada, em Curitiba
Data: 26 de abril de 2017
Horário: 21h45
Árbitro: José Argote (Venezuela)
Cartões amarelos: Weverton (ATL) e Guerrero e Rafael Vaz (FLA)
Público: 33.463 pagantes / 36.519 torcedores / R$ 1.588.815,00
Gols: Thiago Heleno (ATL), aos 35 minutos do primeiro tempo; Felipe Gedoz (ATL), aos 42 minutos e Willian Arão (FLA), aos 44 minutos do segundo tempo

ATLÉTICO-PR: Weverton; Zé Ivaldo, Paulo André, Thiago Heleno e Sidcley; Otávio, Matheus Rossetto (Wanderson, 38’/2T), Lucho González (Felipe Gedoz, 5’/2T); Nikão, Douglas Coutinho (João Pedro, 20’/2T) e Eduardo da Silva
Técnico: Paulo Autuori

FLAMENGO: Alex Muralha; Pará, Rever, Rafael Vaz e Renê (Matheus Sávio, 25’/2T); Márcio Araújo (Mancuello, 40’/2T); Gabriel, Willian Arão, Romulo (Leandro Damião, 25’/2T) e Trauco; Guerrero
Técnico: Zé Ricardo

  • pedrovitor7

    Texto perfeito.

  • Igor L.A

    Muito bom