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O desafio é mental: apesar de evolução, Flamengo para no Athletico-PR

Gabigol Flamengo 2019 Athletico Copa do Brasil

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Diego Flamengo Athletico 2019

(Alexandre Vidal / Flamengo)

A discussão em torno da eliminação do Flamengo, natural, gira em torno do pênalti cobrado por Diego. Uma tentativa no mínimo inusitada, com flerte à irresponsabilidade, que rotula a queda rubro-negra – mais uma – em um Maracanã lotado. Ocorre que a partida diante do Furacão, um empate em 1 a 1 com decisão nos penais, indicou uma vez mais que o Flamengo ainda peca na força mental nos momentos decisivos. Marcado pela série de insucessos recentes em grandes torneios, o time e seus jogadores simbólicos indicam buscar soluções alternativas para resolver um dilema antigo. A opção pode ser uma cobrança de pênalti que parece desconectada do que os cerca. Mais do que a tática, Jorge Jesus parece ter um desafio mental a superar no Ninho do Urubu. Em campo, a evolução é clara.

No saldo dos dois jogos, o Flamengo desafiou e foi desafiado pelo Athletico-PR. Seria impensável que o time de Abel Braga pudesse oferecer maior resistência ao atual campeão da Copa Sul-Americana, com ótimos desempenhos contra tradicionais rivais da América do Sul, como Boca Juniors e River Plate. Coletivamente, não é absurdo considerá-la a melhor equipe do futebol brasileiro. Diante deste panorama específico é possível notar que o Flamengo evoluiu. Fez frente ao Athletico-PR como equipe apenas no terceiro jogo de Jorge Jesus. Tecnicamente é inegável que é superior, até mesmo pelo investimento. Daí nasce a revolta da arquibancada, ampliada pelas redes sociais. Mas o Flamengo, mentalmente, tem dificuldades de romper barreiras decisivas. Precisa de mais tempo e maturação sob a batuta do treinador português. Há correções a fazer, inclusive táticas. Fica claro que, hoje, o time tem uma ideia clara, ofensiva, que atende aos anseios das raízes do clube.

Fla no início: Vitinho só à esquerda, Lincoln muito fora da área

Pois o Flamengo, uma vez mais, tomou o jogo para si no início do confronto no Maracanã, como já fizera contra o Goiás. Novamente em um 4-1-3-2, Jorge Jesus optou por ter Lincoln na vaga do lesionado Bruno Henrique. Em um jogo que pediria a já falada intensidade, como na Arena da Baixada, escalou Cuéllar, mais vibrante, no lugar de Willian Arão à frente da defesa. O Flamengo iniciou ao seu novo estilo. Retomando a bola, time adiantado, pressionando a saída rival, com passes sempre verticais e curtos. Ao manter a saída de três, com Cuéllar entre os zagueiros, liberando os laterais para aumentar a presença no ataque, sufocou o Athletico-PR. Criou pelos dois lados. Arrascaeta perdeu chance clara, na pequena área, diante de Santos, cabeceando fraco. Lincoln, ao receber bola de Rafinha na direita, carimbou a trave do goleiro. O gol parecia questão de minutos. Parecia. Até a primeira pancada.

Athletico no primeiro tempo: mais acuado do que de costume

Com 13 minutos, Arrascaeta sentiu problema na coxa direita e saiu. Como já não tinha Bruno Henrique, Jorge Jesus, em seu primeiro confronto decisivo no Flamengo, tinha dois desfalques pelo mesmo setor. Ambos ocupam o lado esquerdo, fazendo a engrenagem da equipe funcionar. Arrascaeta sai da esquerda para dentro. Bruno Henrique, por vezes, ocupa a esquerda, alternando com a presença na área. Com os substitutos, Vitinho e Lincoln, o jogo rubro-negro teve mais dificuldades. O primeiro ocupa apenas o lado esquerdo, sem buscar o meio. Lincoln fez pouca presença de área. Como Gabigol, na mecânica atual, atua demais pelo lado direito, o Flamengo teve pouco o que incomodar a dupla de zaga do Athletico. Ainda assim, a partida era mais favorável aos mandantes.

Apesar de a escalação indicar um time ofensivo como na Arena da Baixada, o Athletico teve dificuldades no início da partida. O 4-2-3-1 se resumiu a um 4-4-2, com Marco Ruben e Nikão à frente, Cirino e Rony alternando os lados em busca de velocidade como resposta ao abafa de um rival adiantado. Bruno Guimarães, o desafogo, era bem pressionado no meio. O Athletico precisava respirar. Por 25 minutos, não conseguiu. Baixou a menos de 30% de posse e mais correu atrás da bola do que a teve nos pés. Não tinha tempo para raciocinar. Teve sorte de não sofrer o gol nas chances de Arrascaeta e Lincoln. E aí, então, percebeu que o rival enfim arrefeceu depois de 25 minutos. É impossível manter por muito tempo o ritmo incessante do Flamengo de Jesus. Tiago Nunes avançou a sua equipe. Passou a ter espaço para acelerar o jogo. A ser perigoso. Rony, por cima do gol, assustou Diego Alves. E o primeiro tempo terminou igual.

Bastaram pouco mais de dez minutos da etapa final para o português entender que o jogo já não se desenhava como no início. O Athletico conseguira avançar, ter mais a bola, trocar passes, desafiar mais o Flamengo. Bruno Guimarães tinha mais liberdade em campo. Atuava já com maestria, abastecendo os lados, ditando o ritmo paranaense. Os laterais rubro-negros já não avançavam tanto. A troca de Lincoln por Berrío indicava um Flamengo que necessitava reagir. Voltar a ter o ímpeto ofensivo, perturbar a defesa paranaense. Por isso, o colombiano inicialmente ocupou a área, com Gabigol continuando a deslocar da direita para dentro. Vitinho, esticado à esquerda, tentava fazer o seu jogo: o mano a mano com o marcador, tentando o fundo para achar a área. Em um lance, conseguiu. Passou como quis por um atabalhoado Jonathan e levantou a bola na área. Everton Ribeiro – apagado até então – foi brilhante no toque de cabeça para Gabigol que ocupava a área com Berrío. No cochilo de Robson Bambu, um arremate difícil para o gol. 1 a 0.

Ao fim, Flamengo com atacantes Berrío entrando na área com Gabigol

O Maracanã explodiu na vibração do camisa 9. É um aspecto interessante em 2019. A maneira quase intempestiva de atuar, inconformado com marcações da arbitragem, volta e meia lhe rende cartões. Mas Gabigol, ainda que peque em algumas boas oportunidades, tem marcado presença no que se faz necessário: nas redes. São 18 gols na temporada, atuações intensas, participando do ataque. Incorpora o espírito da arquibancada, da busca pela vitória. O encaixe com o perfil rubro-negro é claro. Fosse outro rival, a classificação poderia ser muito bem encaminhada em um Maracanã com 70 mil pessoas. Mas o Athletico não é, mesmo, um time qualquer. Além de organizado, é mentalmente forte. O suficiente para absorver a pressão do revés e da arquibancada. E continuar a praticar o seu jogo sem desacerto.

Tiago Nunes sacou Nikão, mais velocista, para colocar Bruno Nazário, mais lento e com maior qualidade no passe. Era claro: tentar fazer com que meia tivesse espaço no meio para circular com a bola e chegar nos pontas com extrema velocidade, utilizando Marco Ruben e sua força como pivô. A pressão na saída rival em três jogos em sequência cobrava o preço ao Flamengo. Faltavam pernas. E o time já entregava mais espaços mesmo com a vantagem. Mantinha, ainda, o posicionamento avançado da equipe em busca do segundo – e talvez definitivo – gol.  É da essência de Jorge Jesus. Foi contratado para pôr em campo suas ideias e desafiar os rivais. Ali se propôs a isso. Não está no futebol brasileiro para trair as próprias convicções. Seria mais fácil recuar o time e tentar destruir os espaços ao Athletico. Como na Arena da Baixada, agrediu ao custo de ainda ser agredido. Um jogo de riscos.

Athletico ao fim: avançado, em busca do segundo gol, levando perigo

Aí estava incluída a possibilidade de receber uma bola nas costas da defesa adiantada. Mas é necessário observar: no estouro de Léo Pereira da defesa até o gol de Rony houve uma sequência de erros. Mas sem invalidar a ideia de jogar avançado. Bastaria, por exemplo, que Rafinha desarmasse Rony. Ou Cuéllar derrubasse Marco Ruben – como fez o Athletico-PR incessantemente com o aval da péssima arbitragem de Wilton Pereira Sampaio. Mas Léo Duarte errou na escolha. Com Rafinha tão adiantado era latente a cobertura do lado direito em vez de fechar o meio, em busca de Cirino, ao lado de Rodrigo Caio e Renê. O corredor aberto entre lateral e zagueiro, problema conhecido em outros trabalhos no Flamengo, apareceu. E ofereceu o caminho livre para Rony, acompanhado por Rafinha – que tentava se recuperar. A finalização, ruim, resvalou em Diego Alves e entrou. 1 a 1. O Flamengo, então, ruiu. Física e mentalmente.

O Athletico, mais inteiro na partida, deslocou Wellington à lateral esquerda, sacando Márcio Azevedo para a entrada do experiente Lucho González. Maior qualidade no passe pelo meio e um vislumbre da decisão por pênaltis que se avizinhava. O Flamengo, ainda assim, continuou a conceder generosos espaços pelo meio. Ficou mais espaçado. Mentalmente, perdido. Sem confiança para seguir os pedidos de Jorge Jesus. Reflexo direto na decisão por pênaltis.

Diego chegou ao Flamengo em 2016 com a responsabilidade de ser a referência. Até hoje veste o mesmo véu, ainda que o elenco atual conte com mais jogadores renomados, capazes de alternar entre si o protagonismo de campeonatos ou jogos. Ao chamar a decisão para si e abrir a contagem de pênaltis, mesmo com histórico ruim, o camisa 10 aceitava a responsabilidade de retomar a concentração mental da equipe. Ao cobrar o primeiro pênalti de maneira no mínimo arriscada, indicou que as cicatrizes são profundas. E as expôs novamente diante de seus companheiros. Fez a própria atuação, ótima na condução do meio sem Arrascaeta e com um Everton Ribeiro apagado, buscando passes rápidos e o jogo sempre vertical. Taticamente, o Flamengo evoluiu. Mentalmente, não. Das três fichas restantes na temporada, só mantém duas nas mãos. O principal desafio se apresentou a Jorge Jesus mais rápido do que o imaginado.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO (1) 1X1 (3) ATHLETICO-PR
Local: Maracanã
Data: 17 de julho de 2019
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO – Fifa)
VAR: Igor Junio Benevenuto (MG)
Público e renda: 64.884 pagantes / 69.980 presentes / R$ 4.106.610,40
Cartões amarelos: Renê, Gabigol, Bruno Guimarães (FLA) e Léo Pereira, Rony (ATL)
Gols: Gabigol (FLA), aos 16 minutos e Rony (ATL), aos 31 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Rafinha (Rodinei, 42’/2T), Léo Duarte, Rodrigo Caio e Renê; Cuéllar; Everton Ribeiro, Diego e Arrascaeta (Vitinho, 13’/1T); Gabigol e Lincoln (Berrío, 13’/2T)
Técnico: Jorge Jesus

ATHLETICO-PR: Santos; Jonathan, Robson Bambu, Léo Pereira e Marcio Azevedo (Lucho González, 43’/2T); Wellington e Bruno Guimarães; Marcelo Cirino (Vitinho, 38’/2T), Nikão (Bruno Nazárii, 24’/2T) e Rony; Marco Ruben
Técnico: Tiago Nunes

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