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O dilema Guerrero

Guerrero Flamengo Fluminense Taça Guanabara 2017

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Guerrero Flamengo Libertadores 2017 Universidad Católica

Às vésperas da final da Sul-Americana, o Flamengo ganhou um problema bem indigesto para resolver. Como tratar o assunto da punição por doping de Guerrero? A linha é tênue entre a proteção aos interesses do clube e um passo em falso que comprometa a relação com um atleta que ainda pode ser absolvido. A primeira opção que invade a cabeça de torcedores e, certamente, também a de alguns dirigentes é rescindir o contrato de forma imediata. Há, claro, empecilhos jurídicos. Há o lado humano do jogador e seu prosseguimento com a carreira. Há o temor de abrir mão de um jogador importante e, em caso de absolvição, disponibilizá-lo de graça ao mercado. É um dilema.

Deve-se partir do princípio que Guerrero, de fato, é inocente como já afirmou reiteradas vezes. Ou seja, não buscou, de forma deliberada, utilizar substâncias proibidas. A própria punição imposta pela Fifa, mais branda do que em outros casos de doping, torna a possibilidade bem factível. Ainda cabem recursos ao atleta. Como o Flamengo poderia encerrar um vínculo válido até agosto de 2018 ainda com duas possibilidades de absolvição? Correria o risco de uma ação trabalhista no futuro. É assunto a ser resolvido em uma conversa de fino trato, com dose de sensatez de ambos os lados.

Pois por mais que alegue inocência, Guerrero caiu no exame antidoping quando não estava a serviço do clube. É, como diz a regra da Comissão Antidoping, responsável por tudo que ingere, ainda que tenha sido um chá receitado pela nutricionista da seleção peruana. A culpa, no fim, recai sobre o atacante. Em janeiro, o peruano vai chegar aos 34 anos. Parece inviável que consiga um contrato polpudo e de longo prazo para encerrar a carreira. No Flamengo está adaptado, conhece a estrutura, a torcida e é querido pelos companheiros. Parece ser mais indicado continuar à espera da redução da punição aprimorando a forma no Ninho do Urubu.

O problema é o seu peso no cofres rubro-negros. Guerrero é o carro-chefe da folha salarial. Sem poder contar com seus serviços, resta ao Flamengo a opção de estender a mão ao peruano para seu fim de carreira em novas condições. Os termos atuais, vultosos, seriam suspensos. Até porque o clube precisa ir ao mercado para substituir Guerrero na equipe. Em caso de absolvição, o atacante voltaria à ativa com um contrato em novas bases, adequadas à realidade pós-doping. Um preço a se pagar no bolso, mas válido diante da possibilidade de salvar a carreira e ter estabilidade. Até mesmo emocional.

Caso a punição seja confirmada sem mais possibilidades de recursos, o Flamengo não teria a obrigação jurídica de mantê-lo nos mesmo moldes. Mas há o lado humano de toda relação. Sim, Guerrero não foi vitimado por uma grave doença, como Ederson. Mas o peruano sempre teve relação muito profissional com o clube, pelo qual já mostrou manter o carinho. Guerrero se frustra com as derrotas e explode com as vitórias. Há um envolvimento. E  certamente atravessará um período difícil, principalmente se de fato ficar fora da Copa do Mundo. Cabe ao peruano entender o seu momento delicado e enxergar no clube o seu porto seguro para o fim de carreira. O martírio pode chegar ao fim em meses. Ao Flamengo, diminuir o peso mensal de Guerrero em novos termos após a punição pode ser interessante. Sinaliza ao mercado o cuidado que tem com pessoas antes de atletas. E teria o reforço do jogador para o futuro. Reforçaria uma relação que já parece boa com a arquibancada. Uma boa solução de dilema para os dois lados.

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