Gabigol gol Athletico PR
Ideias na mesa: Flamengo sofre, empata e vê bons indícios na estreia de Jorge Jesus
11 julho 18:37
Gabigol Flamengo 2019 Athletico Copa do Brasil
O desafio é mental: apesar de evolução, Flamengo para no Athletico-PR
18 julho 19:53

O entendimento de Jesus: Flamengo, exuberante, amassa o Goiás no Maracanã

Arrascaeta Flamengo goiás hat-trick gols Maracanã 2019

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Rafinha estreia Flamengo balão chapeu

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Coube a um português atravessar um oceano inteiro para desembarcar no Rio de Janeiro com a missão de refazer a ligação entre campo e arquibancada. O vermelho, o preto e sua gente. Juntos, num só pulsar, dividindo em êxtase momentos de alegria. Puro deleite. Não justificado em um só. Um redentor. O Jesus rubro-negro é generoso. Tem apreço pela coletividade. Abre os braços. Esbraveja. Exige. Compreende. Que a natureza do mar vermelho e preto da arquibancada tem como premissa fúria nos próprios domínios. Gosto pelo ataque. De se fazer, sempre, inconformado. O primeiro gol leva ao segundo. O segundo ao terceiro. E assim sucessivamente. Dar-se por satisfeito, jamais. O rubro-negro, na sua arquibancada debaixo de um sol dominical no inverno carioca, só vê uma maneira de ser feliz. Vencer, vencer, vencer. Jorge Jesus compreendeu. Anteviu. No primeiro jogo do técnico do Maracanã, o seu Flamengo venceu. E venceu por seis vezes. Um 6 a 1 de lambuzar os beiços, trazer gargalhada frouxa de volta. Rir apenas por ser feliz. Sorriso aberto. Solto. Jorge Jesus, mais do que muitos que verbalizaram o nome do clube da Gávea em vão, entendeu perfeitamente o binômio Flamengo e Maracanã.

Fla no início: adiantado, técnico, laterais construtores e Arrascaeta fundamental

Certamente sua personalidade futebolística o ajuda. É inquieto, exigente, trama o time sempre ao ataque. Encaixa perfeitamente com o jeito feroz, quase soberbo, do rubro-negro de enxergar o mundo da bola. Oras, se em tempos bicudos o Flamengo já era cobrado a ser sempre onipresente no Maracanã, com a força magnética da arquibancada, imagine nos dias atuais recheado de jogadores de qualidade e com características ofensivas. É dessa premissa que parte o 4-1-3-2 do técnico português. Sempre em frente. Com um time notavelmente mais técnico, com Trauco e o estreante Rafinha nas laterais, Willian Arão como o volante à frente da zaga e três meias, o primeiro Flamengo mandante do técnico português anunciava que seria impetuoso. E cumpriu. Um abafa com a marcação adiantada desde o início da partida, sufocando o Goiás, acuado em seu campo.

O cartão de visitas de Rafinha em seus primeiros movimentos com a camisa do Flamengo já indicava que algo havia mudado. Ao receber o lançamento de Rodrigo Caio na direita, matou a bola com elegância e avançou como quem já faz do gramado do novo Maraca o seu parque de diversões há algum tempo. Dois chapeus, três toques de cabeça com a bola. Mostraria ao longo do jogo o grande acerto que foi sua contratação. É nível muito acima de Rodinei e Pará. Dialoga com precisão com Everton Ribeiro, na troca de passes. Conhece os atalhos com seu posicionamento defensivo. No avançar, acabou derrubado. Na sobra, Gabigol soltou o pé para a defesa de Tadeu. A massa inflamou, reagindo aos estímulos do campo. Assim funciona o Flamengo no Maracanã. Não à meia-bomba. Arquibancada e gramado dialogam, trocando energia, o tempo todo. Um acende o outro. E impacta o rival. A rigor, o Goiás de Claudinei Oliveira parecia pretender um 4-2-3-1. Não houve outro jeito a não ser se recolher em um 4-4-2, tentando diminuir espaços para o Flamengo. Em outros tempos, causaria dificuldades.

Goiás no início: recuado e em busca de bola longa para vencer a marcação rival

Avançado, o Rubro-Negro pressionava a saída de bola. Quando Rafael Vaz, aquele, tentou passe esticado pelo meio, um atento Arão deu o bote. Esticou a Everton Ribeiro, que tocou em Gabigol, rolando de primeira para Arrascaeta. Dali ao fundo da rede. 1 a 0. O lance, de tão rápido, é difícil de narrar. Mas explica muito o Flamengo de Jesus. Recuperação rápida, saída ainda mais veloz, com passes sempre verticais. O objetivo é o gol, sempre. Agora. Não depois. A calma do time das últimas temporadas que trocava passes até achar o melhor espaço caiu por terra. É uma equipe que abusa da velocidade e da troca de posições. Assim abriu espaços na defesa esmeraldina. Bruno Henrique entra como flecha na área. Gabigol cai para a direita. Ao centro. Recua. Dá bote. Está inquieto. Parece precisar do jogo ansioso, sempre alerta, para render ainda mais. Que partida. Mas o céu nem sempre foi de brigadeiro. O Flamengo à moda Jesus apresenta riscos, ainda mais em tão pouco tempo de formatação. A defesa adiantada é a principal delas.

A exigência de atenção é total. Por isso o erro de Rodrigo Caio ao tentar, de forma displicente, tocar bola para Trauco após lançamento do campo defensivo do Goiás, acabou punido. Com uma linha tão adiantada, o erro do zagueiro é praticamente fatal. Ao furar a bola do camisa 3, Kayke disparou para confirmar a Lei do ex no Maracanã de forma irreparável. No fundo da rede de Diego Alves, 1 a 1. O Flamengo, melhor, cadenciou mais o jogo. Pareceu até impactado por minutos. Natural. A defesa mais avançada é, sempre, um risco. Faltam mais treinos e jogos para que seja azeitada. Diego Alves, por vezes, já se apresentou mais adiantado, quase como um líbero, para evitar surpresas.  Jesus é assim. Flerta, sempre, com o risco. Pois o saldo positivo, quando aparece, é de se saborear. A falta de confiança instaurada por alguns minutos fez Michael receber bola esticada do goleiro Tadeu, gingar entre Rafinha e Léo Duarte e carimbar a trave de Diego Alves. O Maracanã, por segundos, suspeitou. Apenas falsa impressão.

Pois o Flamengo logo retomou o ritmo incessante. Saída de três, com Arão por dentro, os zagueiros abrindo e os laterais disparando bem abertos pelos lados. Por dentro, Everton Ribeiro, Diego e…Arrascaeta. O uruguaio necessita desse tipo de jogo. Passes trocados, diálogo rápido, quase sempre de primeira. Encaixa-se bem no jogo de Jorge Jesus por sempre pensar de forma objetiva. Passes verticais, em busca de espaços de um Flamengo insinuante no ataque. Entre esquerda e centro, o camisa 14 flutuava no Maracanã com propriedade não vista no Uruguai durante a Copa América. O segundo gol chegou em um passe dele para Trauco entrar livre na área, cruzar rasteiro para Bruno Henrique dividir com a defesa. A bola, pererecando, mergulhou no gol. 2 a 1. Em tempos já idos, o Flamengo daria passos atrás, aguardaria a investida do Goiás. Desta vez, não. Jorge Jesus compreendeu, claramente. O Flamengo, no Maracanã, vai sempre à frente. Do primeiro ao segundo. Do segundo ao terceiro. Veloz. Vertical.

Fla ao fim: postura ainda ofensiva, buscando o sétimo gol

Everton Ribeiro deu passe lindo de primeira para Gabigol, que foi ao fundo, limpou Vaz e cruzou para o centro da área. Arrascaeta ajeitou e bateu para o gol. 3 a 1. A arquibancada às gargalhadas mal teve tempo de soltar o fôlego quando o time rubro-negro, marcante, voltou a ocupar o campo rival. Diego, algumas vezes, recuperou bola no campo de defesa. O carrinho que desarmou o rival ao cobrir Trauco resumiu a conexão com a massa. Depois, de novo, o camisa 10 deu bote no meio junto de Gabigol. Pois anote: os camisas 10 e 9 deram bote no meio como volantes raçudos, desarmando Geovane. Gabigol disparou e tocou à esquerda. Arrascaeta – admitiria depois – tentou cruzar e fez a bola mergulhar no ângulo esquerdo de um inconformado Tadeu. 4 a 1 e Maracanã em êxtase com um Flamengo irresistível.

Ao fim, um Goiás já resignado com o baile que levava no Maracanã

A volta ao intervalo trouxe tarefa mais fácil. O Goiás, abatido, sabia que a partir dali a sua missão seria evitar pancada maior. Tinha perdido já a arma que respondeu algumas vezes no primeiro tempo, com bolas esticadas diante da defesa adiantada do rival – tática utilizada também pelo Athletico-PR em Curitiba dias antes. O Flamengo, onipresente, dominava o campo inteiro. Parecia treinar. Um, dois, três toques, jogo acelerado à frente. Arrascaeta, inspirado, achava espaços com mais facilidade. A mobilidade dos atacantes, alternando posições, acelerando em busca da bola enfiada, o ajuda. O talento, claro, prevalece. Foi do uruguaio a jogada para cruzar na cabeça de Gabigol na pequena área, no início do segundo tempo. Aí, até Jorge Jesus entendeu que poderia promover mudanças. Rafinha, ovacionado, deu lugar a Rodinei. Cuéllar assumiu a vaga de Willian Arão. Características distintas. Rafinha se posiciona, constroi, pensa. Rodinei acelera pelo lado. Arão tem melhor passe longo, mas menos vitalidade no combate no meio do que o colombiano. Alternativas para o futuro. O presente, ali, estava resolvido.

No circular da bola, trocando passes, buscando espaços, o Flamengo fez seu melhor jogo coletivo desde a vitória de 2 a 0 sobre o Figueirense em 2016, no Pacaembu, ainda sob a batuta de Zé Ricardo. Necessário destacar que Bruno Henrique e Everton Ribeiro, donos dos holofotes com as melhores atuações individuais da Era Abel Braga, tornaram-se engrenagens eficientes. Coletivo sobre o individual. Algo evidente no sexto gol – de Everton Ribeiro a Arrascaeta, em cruzamento preciso para um Gabigol solitário na área diante dos perdidos rivais. O Flamengo, seis gols na conta, desejava mais. E desperdiçou mais oportunidades já com a festa da favela entoada na arquibancada. Um domingo para ser feliz. O contraste com a outra goleada de 6 a 1 em 2019 – sobre o San José, na Libertadores, no mesmo Maracanã – era claro. O Flamengo, desta vez, venceu e jogou muito bem. Imponente. Bem treinado.

Os números são claros: 67% de posse de bola, 28 finalizações, 16 desarmes*, 500 passes certos trocados. Afirmar que o time será sempre assim no Maracanã é inútil exercício de futurologia. Rivais de níveis mais alto chegarão, outras formações irão aparecer. A premissa, no entanto, está desenhada. Alinhada com a arquibancada. Sem redentor, o Flamengo deve ser uma fúria coletiva no Maracanã. Incessante, voraz, em busca do gol. Da conexão essencial com a arquibancada. Jorge Jesus compreendeu.

*Números Footstats Premium

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 6X1 GOIÁS
Local: Maracanã
Data: 14 de julho de 2019
Árbitro: Caio Max Augusto Vieira (RN)
VAR: Rodrigo D’Alonso Ferreira (SC)
Público e renda: 60.947 pagantes / 65.154 presentes / R$ 2.218.843,50
Cartões amarelos: Willian Arão (FLA) e Barcia e Geovane (GOI)
Gols: Arrascaeta (FLA), aos cinco minutos, Kayke (GOI), aos 11 minutos, Bruno Henrique (FLA), aos 43 minutos, Arrascaeta (FLA), aos 45 minutos e aos 49 minutos do primeiro tempo e Gabigol (FLA), aos dez e aos 35 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Rafinha (Rodinei, 13’/2T), Léo Duarte, Rodrigo Caio e Trauco; Willian Arão (Cuellar, 13’/2T); Everton Ribeiro, Diego e Arrascaeta; Bruno Henrique (Vitinho, 26’/2T) e Gabigol
Técnico: Jorge Jesus

GOIÁS: Tadeu, Daniel Guedes, Yago, Rafael Vaz e Jeferson; Geovane (Léo Sena, 16’2T), Yago Felipe (Paulo Ricardo, 41’/2T) e Giovanni Augusto (Marlone, 16’/2T); Michael, Kayke e Barcia
Técnico: Claudinei Oliveira

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