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O vacilo de Jair

Jair Ventura talvez tenha entendido com maior clareza a exposição de estar à frente de um grande clube em uma temporada de sucesso. É cortejado para entrevistas, suas palavras são notadas e analisadas com maior atenção. Ao vivo na Fox Sports, vacilou. Seguiu ao lugar comum e tentou reforçar a ideia de reserva de mercado ao criticar a contratação de Reinaldo Rueda pelo Flamengo. Foi pouco habilidoso. Esquentou o clima para um clássico decisivo dali a dois dias com o rival e certamente diminuiu a margem de simpatizantes que crescia a cada jogo.

Há um ano à frente do Botafogo, o técnico é um exemplo atual de como profissionais bem preparados podem
dar resultados assim que recebem uma oportunidade. Talvez seja a melhor representação da nova safra de técnicos no país. Um símbolo do novo. Por isso é de estranhar que na primeira oportunidade se apegue a velhos conceitos e dispare justamente contra uma novidade no futebol nacional. Criticou a chegada de Rueda, superado por ele neste ano e atual campeão da Libertadores que de maneira eficaz tanto persegue com o Glorioso. Foi deselegante e contraditório.

Pois logo ele, Jair, preza pela meritocracia no seu trabalho independentemente de nacionalidade. Camilo que o diga. Não achou espaço mesmo com o tamanho que ganhou no clube com as atuações de 2016. Contrariado, preferiu deixar o Botafogo a tentar duelar com a convicção de Jair. Um técnico contra estrangeiros em sua função, mas que dá aval aos gringos em sua equipe. Carli e Gatito, argentino e paraguaio, não tomam vagas de profissionais brasileiros. São pilares deste Botafogo que encanta o país com tanta entrega e alma simplesmente porque apresentam melhores desempenhos do que outros. No Botafogo de Jair não há reserva de mercado como defende o técnico.

Jair não está sozinho. A cada contratação de técnico estrangeiro no futebol nacional um coro se forma em torno do profissional. São declarações abertas ou cifradas que misturam preconceito e irritação. Ingenuamente, o técnico botafoguense, pouco acostumado a holofotes neste início de carreira, externou um discurso recorrente no meio boleiro. É difícil para que técnicos e jogadores estrangeiros triunfem em suas experiências brasileiras. Há barreiras invisíveis que delimitam as ações dos profissionais.

Como se a troca de ideias, o intercâmbio de culturas futebolísticas não pudessem promover os dois lados. Engrandecer ideias dos treinadores brasileiros e, quem sabe, levá-los a novas práticas que reabram espaço na Europa. Não, Jair não foi xenófobo, uma da bobagens ditas em redes sociais. O técnico, pura e simplesmente, seguiu a tendência quase cultural do futebol nacional de agir pela reserva de mercado. Foi inocente. Espetou o rival ao tentar colocar uma cerca em sua classe. Vacilou.

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