Felipe Vizeu Barranquilla Junior Sul-Americana
Na fábula de César, um reencontro com a identidade rubro-negra e Fla na decisão
01 dezembro 14:37
Pará Independiente final Copa Sul-Americana 2017
Frágil e agressivo, Flamengo erra a passada, mas volta ao Maracanã com decisão aberta
07 dezembro 03:15

Objetivo mínimo por caminho tortuoso: Fla ameniza 2017, mas coleciona reflexões

Rodrigo Caetano Vaz Vitória Flamengo 2017

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A batida forte, no alto, e o explodir de Diego e seus companheiros indicou ali um Flamengo aliviado pelo fim de uma agonizante procissão. O Campeonato Brasileiro de 2017 se tornou um fardo para o elenco. Rodada após rodada, a dúvida sobre a possibilidade de alcançar o mínimo objetivo castigava. Desgastava. Sim, o Flamengo conseguiu uma das vagas diretas para a Libertadores da América de 2018 ao bater o Vitória por 2 a 1 na bacia das almas em Salvador. Mas por um caminho tortuoso, aquém do esperado. Sexto lugar, beneficiado pelas presenças de Grêmio e Cruzeiro acima. De forma sofrida. Aflitiva. Com um pênalti oferecido pelo rival aos 48 minutos do segundo tempo. Um pacote que convida a reflexões para 2018.

Mudanças serão necessárias mesmo com a conquista da Copa Sul-Americana diante do Independiente. Obviamente é louvável a chegada da equipe em três finais ao longo da temporada – além da competição internacional, Carioca e Copa do Brasil foram disputados até o último minuto possível. Um indício claro de que o elenco, mesmo em meio a chuvas e trovoadas, não é supervalorizado. Pelo contrário. Já é, sim, forte para os padrões sul-americanos. Por isso era cobrado. Por isso foi tão exigido. Mas o Flamengo não conseguiu disputar as duas principais competições do ano, motivos de tamanho investimento financeiro. No Campeonato Brasileiro e na Libertadores, o time sequer se permitiu sonhar com o título. Esteve sempre distante, observando de longe outros concorrentes. Consequência, claro, de erros insistentemente acumulados ao longo de 2017.

Fla no início: time apático e espaçado

Natural, então, que o Flamengo os apresentasse logo no derradeiro jogo do campeonato. Claramente desgastado depois da vitória heroica sobre o Junior, de Barranquilla, menos de três dias antes, o time não poderia ser poupado. Era obrigatória a presença da melhor equipe possível em campo na busca pela vaga direta na Libertadores. Um objetivo mínimo que deveria ter sido alcançado já há algum tempo, dando tranquilidade para a disputa do fim de temporada. Mas o Flamengo de 2017 é fértil aos erros. Capaz, por exemplo, de jogar uma partida decisiva com o contestado Rafael Vaz e o jovem Léo Duarte, que tinha disputado apenas 49 minutos em todo o Brasileiro até então.

Reinaldo Rueda mandou o time a campo no mesmo 4-2-3-1 da classificação contra o Junior. Diego ao centro, Everton Ribeiro à direita procurando aproximação com o meio e Lucas Paquetá na esquerda. Talvez por cansaço, talvez por retomar a falta de espírito combativo ao longo da temporada, a equipe parecia não ter consciência do peso do resultado em 2017. Mais lenta, até apática, não aproveitava espaços dado por um Vitória que precisava vencer e fugir da degola. Jogadores espaçados. Em um 4-2-3-1 ao atacar, o time baiano tinha em Carlos Eduardo, ex-Flamengo, uma boa opção pelo lado direito, nas costas de Trauco, deficiência conhecida dos cariocas. Era um ponto sempre explorado nos contra-ataques. Por que, mesmo em câmera lenta, o Flamengo chegava. Mas falhava. Até displicente, Felipe Vizeu vacilou em duas boas oportunidades dentro da área, uma delas em boa bola enfiada em brilho esporádico de Everton Ribeiro. De novo, o Flamengo se arriscava.

Fla ao fim: pontas dribladores e Vinicius Junior

Entregava campo ao Vitória justamente nos contra-ataques. Trocava passes, mas pouco infiltrava na área do time baiano. Apenas girava o jogo, sem ameaça real. Diego e Everton Ribeiro, de novo apagados, carregavam excessivamente a bola. Cuellar e Willian Arão também pareciam esgotados, pouco participativos que eram. No avançar do time baiano, o gol sofrido em dois erros seguidos de Rafael Vaz. Primeiro, o bote atabalhoado em Carlos Eduardo na intermediária. A bola sobrou para Yago que devolveu no meia-atacante. Ocorre que Vaz abandonara a marcação de Carlos Eduardo para voltar à área e compor a defesa. Ao tentar remendar o erro, ficou no meio do caminho. Nem um, nem outro. De braços para trás e a um latifúndio de distância do meia-atacante do Vitória, Vaz deu espaço para que Carlos Eduardo escolhesse o canto esquerdo de César, batendo seco, rasteiro. 1 a 0. O Flamengo e sua insistência em erros.

Faltava um jogador interessado em costurar a defesa. Com gosto pelo drible. Que acendesse o time. Ele chegou até tardiamente, com quase 20 minutos da etapa final. É curioso que o Flamengo de milhões e medalhões dependa tanto da chama de guris com pouca experiência no profissional para retomar a vida. Se não funcionava com Paquetá, era a vez de Vinicius Junior. Difícil saber se o garoto vai virar de fato craque. Difícil, também, não enxergar o quanto ele modifica o ataque rubro-negro ao entrar nos jogos com apenas 17 anos. A bola, então, ficou mais no ataque do time de Rueda. Bola no Vinícius, que partia para cima. Dava vida às jogadas. Despertava o time por simplesmente buscar o gol adversário. Driblando para a esquerda, para a direita. Lá ia o menino da camisa 20, endiabrado.

Mancini tentou remediar. Sacou Carlos Eduardo, já cansado, e colocou André Lima, forçando uma presença fixa na área, jogando Kieza para o lado. Depois, decidiu responder a velocidade de Vinicius com a velocidade de Caíque Silva na vag do próprio Kieza. Era tarde, pois o Flamengo tinha entrado no jogo graças ao seu moleque de sorriso largo. Ele driblou Caíque, entrou na área pela esquerda. E quase caiu. Mas Vinicius prefere o jogo em pé. Apoiou-se no chão e levantou. Foi à linha de fundo e rolou para trás. Arão a recebeu e ajeitou para Rafael Vaz, que bateu chapado e contou com a sorte do desvio para empatar o jogo. 1 a 1.

O jogo parecia ao feitio do Flamengo, na busca por amenizar o fim de temporada. Diego estava mais entregue ao jogo, aceso. A apatia tinha ido embora. Os espaços ao Vitória, não. Em um jogo franco, Kanu quase desempatou em falta alçada na área, mas isolou a pelota como um beque de roça. Rueda sabia da vitória do Vasco em São Januário. Ao Flamengo só interessaria vencer, vencer, vencer. Sacou Cuellar e Vizeu, colocando Geuvânio e Lincoln em campo, indicando um 4-1-4-1 com Arão mais recuado com pontas – o próprio Geuvânio e Vinicius – dribladores, buscando o gol.

À sua maneira, o garoto foi decisivo de novo. Próximo ao apito final, depois de César trabalhar em chute de André Lima, saiu da esquerda para o centro, pondo-se a enfileirar rivais. Acabou derrubado na entrada da área. Na cobrança de falta de Diego, Uillian Correa cometeu erro infantil ao espalmar a bola dentro da área. Pênalti bem marcado e convertido. No desafogar rubro-negro, aos 50 minutos do segundo tempo. Uma batida que colocou o Flamengo, por vias tortas, na fase de grupos da Libertadores da América.

Uma vaga que ameniza a temporada, embora ainda deixe longe de ser satisfatória. Não terá, ao menos, sido em vão, afastando-se do desastre que seria uma ausência da principal competição continental em 2018. Já garantido na fase de grupos, o Flamengo fica menos refém do calendário apertado em temporada de Copa do Mundo. Projeta recursos e contratações com um mínimo de seis jogos pela competição na agenda. Não é pouco. Mas é, também, o mínimo para quem tanto investiu em 2017. A decisão da Copa Sul-Americana, provavelmente, se dará de maneira mais leve. O Flamengo vai buscar, tão somente, o seu primeiro título internacional em 18 anos. Um sentimento que uma geração ainda não sentiu.

Há inúmeras reflexões para 2018. Melhor planejamento, menor insistência em peças que comprometem com frequência nos jogos, maior utilização de bons valores da base, suporte aos métodos de Reinaldo Rueda e comprometimento contínuo com as grandes competições da temporada. Soluções para eventuais problemas em comissão técnica e comando mais efetivo do futebol. Arrastando-se em grande parte do Campeonato Brasileiro, o Flamengo conseguiu um remendo que não foi possível na Libertadores. Atingiu com uma campanha mediana, um mero sexto lugar, seu objetivo mínimo, uma vaga direta na própria competição sul-americana. A comemoração de jogadores e diretoria ao fim, de forma efusiva e sofrida, encontra pouco reflexo na arquibancada. É com esse sentimento que o clube deve pavimentar o futuro do seu futebol. Desejar ser dominante. Mas não ser conivente com erros e trabalhar para sê-lo. Os sinais estão todos aí.

FICHA TÉCNICA:
VITÓRIA 1X2 FLAMENGO

Local: Barradão, em Salvador
Data: 03 de novembro de 2017
Horário: 17h
Árbitro: Dewson Freitas (Fifa – PA)
Público e renda: 29.008 pagantes / R$ 444.964,50
Cartões amarelos: André Lima (VIT) e Diego, Gabriel e Lincoln (FLA)
Cartão vermelho: Caíque Sá, aos 46 minutos do segundo tempo e Carlos Eduardo, após o jogo
Gols: Carlos Eduardo (VIT), aos 39 minutos do primeiro tempo; Rafael Vaz (FLA), aos 29 minutos e Diego (FLA), aos 50 minutos do segundo tempo

VITÓRIA: Fernando Miguel; Patric, Kanu, Ramon e Thallyson; Uilian Correia e Zé Welison; Carlos Eduardo (André Lima, 14’/2T), Yago (Neilton, 37’/2T) e Danilinho; Kieza (Caíque Sá, 23’/2T)
Técnico: Vagner Mancini

FLAMENGO: César; Pará, Léo Duarte, Rafael Vaz e Trauco; Cuellar (Geuvânio, 37’/2T) e Willian Arão; Everton Ribeiro, Diego e Lucas Paquetá (Vinicius Junior, 14’/2T); Felipe Vizeu (Lincoln, 38’/2T)
Técnico: Reinaldo Rueda

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