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Palavras pequenas

Corria o dia em outubro de 2007 e a redação do LANCE! fervia. Rodrigo Benchimol tinha a bomba em mãos: conseguira uma cópia do pré-contrato de Thiago Neves, então no Fluminense, com o Palmeiras. Repórter dos bons, Benchi era setorista do Flamengo, mas tinha ótimas fontes em todos os cantos do meio da bola. E levou aos editores a preciosidade. Thiago Neves negara insistentemente por alguns meses a notícia de que tinha assinado um acordo com o Palmeiras para 2008. Mas não tinha jeito. Era batom na cueca.

Comprovado o fato com a publicação do acordo com a assinatura do meia, o Fluminense teve de se envolver no negócio e indenizar o Palmeiras. Revelação tricolor, Lenny acabou em São Paulo. E Thiago Neves ficou no Fluminense e com a BMW, comprada com os R$ 400 mil de luvas dados pelo clube paulista. Mais do que a confusão entre os clubes, o que chamou a atenção foi a facilidade em rasgar compromissos, desonrar a palavra no meio do futebol. Assinar documentos como que por pura brincadeira. Palavras ao vento.

E cá estamos quase dez anos depois. Vez em outra em uma negociação no mundo da bola a polêmica surge. Uma das partes não quer cumprir o combinado e indica a Justiça como maneira de avalizar o desprezo pelo compromisso firmado. O Flamengo quer Geuvânio. Ao deixar o Santos rumo ao Tianjin Quajian, da China, o jogador assinou uma cláusula de exclusividade: durante o período da vigência do acordo com o clube chinês, no Brasil ele só poderia atuar no Peixe. Contrato firmado, negociação fechada. E agora nada mais vale.

Advogados invocam a Constituição Federal e argumentam a liberdade de exercício da profissão. Torcedores lembram que o meia-atacante pode ter sido pressionado a aceitar o acordo. É difícil, no entanto, acreditar que o Santos abriria mão de 12 milhões de euros e bater o pé por esta cláusula. Jogador e Flamengo parecem ignorar o compromisso. Pode até ser que a Justiça valide a transação depois de muito desgaste. Mas trechos de uma decisão judicial não suplantam o fato de que Geuvânio deu a palavra e firmou um compromisso com o Santos, aceitando a cláusula. Tem todo o direito de não querer cumpri-la. Mas não deve ignorar o aperto de mãos. Converse, negocie. Honre o compromisso firmado.

Claro que há diferenças grandes entre os casos de Thiago Neves e Geuvânio, por exemplo. Assim como o de Vasco e Leandro Amaral em 2008, quando o atacante acabou obrigado pela Justiça a deixar o Fluminense e cumprir o restante do acordo firmado com o clube de São Januário ou pagar a rescisão. Mas há um ponto comum em todos os episódios: o ignorar do compromisso, da palavra firmada. Mais do que um documento validado pela Justiça, imperfeita que só ela, há a postura do cidadão antes do jogador. Do homem antes do atleta.

Não vale o desgaste para a imagem do Flamengo, de ser encarado como um clube predador, atrás de um batalhão de advogados, que ignora acordos na sede por reforços. Tampouco para Geuvânio, cria do Santos. Há espaço para conversa, um ajuste dos termos. Toma lá, dá cá. Tudo para que mais uma vez o mundo a bola não transforme compromissos assinados em uma canção de Cássia Eller. Palavras apenas. Palavras pequenas.

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