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Política arriscada, garotos e a tragédia de Abel: o 2017 do Fluminense

Richarlison Henrique Dourado Fluminense estreia Brasileiro 2017

Abel Braga Maracanã 2017

Impossível dissociar o 2017 do Fluminense da tragédia pessoal encarada pelo técnico Abel Braga. A perda do filho mais novo no meio da temporada aumentou o tom da dramaticidade vivida pelo Tricolor. Houve, claro, impacto direto e natural com um técnico moralmente abatido e que ainda assim optou por encerrar a temporada no comando. Diante deste episódio inserido em um panorama confuso, com um clube endividado e com claras limitações orçamentárias, o torcedor do Fluminense talvez tenha sentido na pele pela primeira vez o reflexo da falta de uma parceria forte que compense a incompetência da diretoria.

Sim, Pedro Abad levantou a bandeira da austeridade e confiou o destino do time em 2017 a Abel e à fábrica de Xerém. Mas ao trazer apenas o lateral-direito Lucas devido à baixa capacidade de investimento, o novo presidente não se dissociou do antecessor, Peter Siemsen. Pelo contrário. Abad, presidente do Conselho Fiscal na gestão anterior, indicou ser também parte da herança maldita que engessou o clube e o fez entrar em pane financeira ao er refém de contratos supervalorizados firmados por Siemsen, casos de Marquinho, Henrique, Henrique Dourado.

No início, o Fluminense indicava que poderia sair ileso de 2017 graças a mais uma boa safra de Xerém. Os 3 a 0 arrebatadores diante do Vasco na estreia do Carioca indicavam um time muito veloz, no 4-3-3, com Scarpa mantendo a boa forma, Wellington Silva mais maduro e Henrique Dourado com o faro afiado. As chegadas de Orejuela e Sornoza, firmadas no ano anterior, no meio com o aproveitamento de jovens como Douglas e Wendel davam ideia de que o time poderia ser competitivo. Até poderia. Mas eis o problema de um elenco na conta do chá. Não é possível encarar os percalços que fatalmente entram no caminho ao longo de um calendário exaustivo.

As dificuldades rapidamente se apresentaram. O Fluminense mostrava facilidade para marcar gols em adversários mais frágeis. Mas já assustava por ter um sistema defensivo também vulnerável aos mesmos rivais. Ao perder Scarpa na semifinal da Taça Guanabara, por mais de dois meses, o time se sustentou por algum tempo. Levantou a taça nos pênaltis em um Fla-Flu elétrico. Mas era um ledo engano. Era difícil se equilibrar na balança com tantos desfalques.

Abel tentava. Fez o time ser digno na finalíssima do Campeonato Carioca após um primeiro jogo ruim. Perdeu a taça ao se atirar ao ataque desesperadamente, nos minuto finais. Mas a parte pesada da temporada indicava que apenas os garotos não conseguiriam estabilizar o Fluminense. Por necessidade, Abel os lançou aos montes. Enquanto perdia Scarpa, Sornoza, Renato Chaves, Gum, Marquinho com lesões, a molecada entrou em campo. Nogueira Reginaldo, Frazan, Léo, Luiz Fernando, Mateus Norton, Matheus Alessandro, Marlon Freitas, Mascarenhas, Marquinhos Calazans, Pedro, Peu, Wendel e Douglas. É salutar lançar jovens no time principal. Mas não desta maneira.

Garotos ainda recém-saídos da categoria sub-20 necessitam, em sua maioria, de tempo para maturação. Não apenas psicológica e ao jogo em si, mas física. Então foi natural observar jovens que acabaram fora de ação devido a lesões. São, ainda, pouco preparados para o jogo mais físico, intenso, com disputas a cada quarta e domingo. Era um preço a pagar pela escolha da gestão de Pedro Abad. Que arriscou ainda mais a temporada ao negociar, talvez, seu principal jogador no ano.

Quando o Fluminense já fora facilmente eliminado pelo Grêmio na Copa do Brasil, o time ainda tinha Richarlison. No meio da temporada, a proposta do Watford, da Inglaterra, enfraqueceu ainda mais o time. Ao mesmo tempo, Abel viveu sua tragédia pessoal. E o time entrou no período de maior turbulência na temporada. Alternava do 4-3-3 para o 4-2-3-1. Depois passava ao 4-4-1. A troca de jogadores era grande. Orejuela pareceu ter caído em desgraça com o grupo. O vice de futebol, Fernando Veiga, foi desligado do cargo após ter um áudio vazado no qual admitia a realidade: a capacidade de investimento tricolor é reduzidíssima.

Mesmo em choque, o Fluminense esteve perto de eliminar o Flamengo na Sul-Americana com um elenco recheado de garotos. Mas o trabalho de Abel também comprometia. O Fluminense, desgastado pela longa temporada com elenco enxuto, mostrava desorganização em campo, e sofria gols com facilidade. Pouca criatividade, também, para atacar o gol adversário. Apesar da fase artilheira de Ceifador era comum ver Scarpa recuar antes do meio de campo no fim de jogos para lançar bolas a grandalhões, zagueiros ou atacantes, a esmo na área rival.

Apertado, o clube apresentou reforços poucos efetivos, casos de Romarinho, Marlon e Robinho. Não houve melhora. Ao atingir os 47 pontos no Campeonato Brasileiro, o torcedor tricolor suspirou de alívio, mas também de raiva. Há um futuro muito incerto pela frente. A capacidade de investimento continua reduzida, o que ficou claro com a lista de dispensas com medalhões como Cavalieri e Henrique. Um exposição desnecessária e que desnudou a pouca habilidade de lidar com o elenco, além de desvalorizar patrimônios do clube. Abel, valente, continua. Mas experiente que é sabe que o time precisará ser mais competitivo em condições que se apresentam ainda mais adversas. Um nebuloso panorama tricolor.

  • Valentino

    Triste realidade do Fluminense, que vai perdurar até 2019, enquanto os mafiosos que estão no poder continuam destruindo o clube.
    Se o time conseguir se segurar na Série A até lá vai ser um milagre