Flamengo campeão Florida Cup 2019
Em um levantar de taça, Flamengo joga luz sobre erros e acertos de 2018
13 janeiro 02:21
Diego Flamengo 2019 Bangu
Corneta em dia, trejeitos de 2018: Flamengo vence Bangu no pontapé oficial de 2019
21 janeiro 02:35

Prazer, Fernando Diniz: estreia do Fluminense mostra um técnico fiel às suas ideias

Fernando Diniz Fluminense estreia 2019

(Mailson Santana / Fluminense FC)

Ibañez estreia Fluminense 2019

(Mailson Santana / Fluminense FC)

O cronômetro não marcava nem mesmo 15 minutos de bola rolando para a temporada 2019 e a arquibancada, inquieta, já chiava, irritadiça. O motivo? Lá estava o Fluminense trocando passes com calma, recuando a bola até o goleiro Rodolfo e tentando se armar para reiniciar todo o jogo. Um processo que exige paciência. De cara, os torcedores pareciam confusos, sem entender ao certo por qual motivo o time se arriscava de tal maneira. Afinal, um chutão aliviaria tudo. O Volta Redonda, fisicamente mais inteiro, adiantava a marcação, beliscava. E a bola ia de um lado a outro, Ibañez a Digão, passando por Rodolfo, chegando a Airton e Ezequiel. Até que houve erro. Houve gol rival. Houve empate após pressão. Um 1 a 1 entre Fluminense e Volta Redonda, na estreia do Carioca, que parecia berrar ao Maracanã: prazer, Fernando Diniz.

O torcedor tricolor mais atento ao noticiário já sabia: se o clube contratara Fernando Diniz consequentemente apoiaria a sua ideia de futebol. Farta troca de passes, movimentação intensa, tentativa de atacar em bloco, paciência para chegar ao gol rival. São meros 15 dias de pré-temporada e a limitada equipe que entrou em campo já apresentou essas características. Será, sim, um processo longo, colocado à prova em um futebol sedento por resultados, mais do que imediatista. Mas a dura realidade do Fluminense, financeiramente sufocado, apontou para um norte em 2019: a maior aposta é ter um conjunto forte, uma ideia clara de jogo e conseguir fazer frente aos maiores rivais. Há um preço a pagar. Talvez os resultados ruins logo no início do ano. Há testes a fazer, ideias a amadurecer, jogadores a compreender. Mas um ano a disputar.

Flu no primeiro tempo: Airton em meio a zagueiros para saída e time bem aberto

Com desfalques como Bruno Silva, Yony González e Mateus Gonçalves, peças importantes para a montagem do time, Fernando Diniz lançou a campo um Fluminense jovem. No 4-2-3-1 inicial, Ibañez e Digão na zaga, Airton com Zé Ricardo logo à frente, Ezequiel e Mascarenhas pelos lados, com Everaldo e Marquinhos Calazans mais à frente, Daniel centralizado e Luciano no ataque. Estático, era esse o Fluminense. Ao rolar da bola, o time de Diniz se transforma imediatamente. Ao ter a posse, Airton dá passos atrás, os zagueiros abrem bem pelos lados e Ezequiel e Mascarenhas disparam à frente. Daniel ganha a companhia de Zé Ricardo por dentro. Luciano tem Everaldo e Calazans como parceiros. Com o time esgarçado, o passe sai sempre pelo chão. Nada de lançamentos ao léu, bolas arriscadas. Gosto maior pela triangulação, de pé em pé. Parece perfeito? Nem de perto esteve assim. A ideia foi essa. Na prática, há a limitação técnica de alguns atletas. E, também, a tentação por arriscar um passe mais longo, uma bola comprida pelo alto. É natural do futebol jogado por aqui.

Fernando Diniz contraria essa lógica, de forma muito contundente. Mesmo com equipes limitadas impõe seu estilo e suas ideias. Como dito, há um preço. A dificuldade da equipe em se encaixar defensivamente, por exemplo. Houve enormes espaços pelo meio quando Airton alinhava aos zagueiros e o time avançava. O Volta Redonda inteligentemente dava o bote por dentro ao ver o rival se aproximar, espetava ao lado, geralmente no veloz Douglas Lima e jogava às costas de Airton, visivelmente fora de forma e esbaforido no bote, em meio aos zagueiros. As grandes chances do Voltaço saíram assim. Com erros, então, tudo foi facilitado. No gol do time sul-fluminense, Airton avançou e Everaldo saiu da esquerda para completar o espaço do meio. Tranquilo, recebeu o passe, mas…errou o domínio. A bola pererecou e Douglas Lima, sempre no encalço do atacante, disparou entre os zagueiros e só foi parado na grande área com um carrinho de um apavorado Rodolfo. João Carlos, com categoria, abriu o placar. 1 a 0.

Flu ao fim: pontas em diagonal para área e força com Julião e Luciano

Era daquelas ironias. Não era uma má estreia da equipe de Fernando Diniz. O time trocava passes, avançava, tentava colocar as ideias em prática. Daniel voltava para buscar bola pelo centro, tabelava com Ezequiel e Zé Ricardo. Mas o forte, mesmo, era o outro lado. Com Everaldo, o time tentava ser mais agudo, entrar na área, agredir. Talvez uma característica que tenha faltado ao Atlético-PR de Diniz na primeira metade de 2018. Mas a semente esteve lá e foi aprimorada por Tiago Nunes no já Atlhetico-PR campeão sul-americano. Dar agressividade. Everaldo era esse escape. Luciano se movimentava, buscava a entrada da área, permitindo a entrada dos pontas. Mas faltava o acerto defensivo. Reflexo claro de uma temporada que mal começara, o início do segundo tempo trouxe outro erro igual do Tricolor.

Fernando Diniz sacara Zé Ricardo, colocando João Pedro centralizado no ataque, empurrando Luciano à direita. Calazans ficou por dentro. Em uma saída rápida do Volta Redonda, Douglas Lima, sempre ele, disparou pela direita e com muita categoria enxergou a ultrapassagem de Wandinho por dentro. Com o time adiantado, o buraco entre os zagueiros apareceu. Atabalhoado, Calazans atropelou o atacante. Para sorte tricolor, Marcelo convenceu João Carlos a abrir mão da segunda cobrança de penalidade. E no capricho mandou a bola para fora. Havia jogo no Maracanã. Havia, ainda, pouco entendimento por parte da arquibancada da ideia de jogo de Diniz. De novo o time, calmamente, voltava a bola até Rodolfo, de pé em pé, esperando o recuo de Airton ao meio, a abertura dos zagueiros pelos lados, a conversão de laterais em alas. E subia em bloco ao ataque. Novos chiados da arquibancada, sedenta por um time que ataque diretamente, sem rodeios.

Diniz, então, arriscou. Mostrou que a sua ideia de time vivo, com movimentação constante, sem posições marcadas, é a sério. Sacou Daniel, adiantou Ezequiel ao meio e pôs Igor Julião, mais ofensivo, na lateral direita. O Fluminense adiantou ainda mais o time, sufocando o Volta Redonda. A pressão resultou na expulsão de Luis Gustavo, atormentado por Everaldo, um segundo amarelo por falta clara. Diante de um rival entricheirado, o Tricolor passou a arriscar finalizações de fora da área. Everaldo, Julião…e alternou o jogo pela direita. Por ali, a bela jogada de Julião, tocando para João Pedro cruzar forte, a zaga rebater mal e a bola tocar em Ibañez, já totalmente avançado no segundo tempo, e entrar. 1 a 1. O Maracanã, feliz, explodiu em momentos de delícia pela primeira vez na temporada. Nem tudo estava perdido.

De fato, não está. Fernando Diniz tem a ideia de um futebol mais bem jogado mesmo com equipes limitadas. É corajoso, mas também assume um enorme risco. Em caso de falta de resultados, a saída pode ser precoce, como no Atlhetico em 2018. Mas é a aposta tricolor para esta temporada. Um time de coletivo muito forte, diferente do usual justamente para surpreender rivais e tentar fazer frente a quem, financeiramente estabilizado, consegue se impôr no mercado e elevar o nível técnico. Faltam peças a ser utilizadas. São apenas 15 dias de reinício dos trabalhos em 2019. Não foi bom. Não foi ruim. Foi, assim, diferente. É o Fluminense de Fernando Diniz.

FICHA TÉCNICA
FLUMINENSE 1X1 VOLTA REDONDA

Local: Maracanã
Data: 19 de janeiro de 2019
Horário: 19h
Árbitro: Wagner do Nascimento Magalhães (RJ)
Público e renda: 6.192 pagantes / 6.774 presentes / R$ 156.416,00
Cartões Amarelos: Rodolfo e Igor Julião (FLU) e Renan Gorne e Bruno Barra (VOL)
Gols: João Carlos (VOL), aos 36 minutos do primeiro tempo e Ibañez (FLU), aos 41 minutos do segundo tempo

FLUMINENSE: Rodolfo; Ezequiel, Ibañez, Digão (Matheus Ferraz 20’/1T) e Mascarenhas; Airton e Zé Ricardo (João Pedro / Intervalo); Marquinhos Calazans, Daniel (Igor Julião 26’/2T) e Everaldo; João Pedro
Técnico: Fernando Diniz

VOLTA REDONDA: Douglas Borges; Luis Gustavo, Daniel Felipe, Heitor e Luiz Paulo; Bruno Barra, Bileu, Marcelo, e Douglas Lima (Núbio Flávio 28’/2T); João Carlos (Renan Gorne 28’/2T) e Wandinho (Gelson 32’/2T).
Técnico: Toninho Andrade

Os comentários estão encerrados.