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Quem joga, ganha: Flamengo é superior e vence Palmeiras na estreia do Brasileiro

Pedro gol Flamengo Palmeiras estreia Brasileiro 2021

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Bruno Henrique Flamengo Palmeiras estreia Brasileiro 2021

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Superioridade. Está lá no dicionário: “posição ou condição de ser superior ou estar mais adiantado com relação a outro(s); vantagem”. Não doi dizer, embora muitos tenham extrema dificuldade em externar: o Flamengo foi superior ao Palmeiras na estreia do Campeonato Brasileiro 2021. Nos dois tempos. Primeiro e segundo. Não na íntegra dos 90 minutos, o que obviamente é impossível em um duelo de tais forças no futebol sul-americano. Mas mesmo sem seu maior fator de desequilíbrio – Gabigol – o Flamengo foi superior o suficiente para vencer por 1 a 0 no Maracanã e arrancar bem na busca pelo tricampeonato consecutivo. Muito por escolha.

Flamengo no início: 4-2-3-1, Pedro como referência, time adiantado

Pois o Flamengo de Rogério Ceni ainda tem defeitos. Por vezes apresenta espaçamentos entre defesa e meio de campo, falhas no posicionamento defensivo em jogo aéreo, lentidão, dificuldade em ser incisivo no ataque. Fatos. Mas há um enorme mérito em sua escolha: deseja jogar sempre. Ter a bola, ser ofensivo, troca de passes, agredir o rival. Custe o que custar. Tem qualidade para isso. Mesmo com riscos no pacote. Sem Gabigol, Rogério alterou o Flamengo. Saiu do 4-4-2 usual para o 4-2-3-1. Pedro como referência, Arrascaeta por trás, Bruno Henrique e Everton Ribeiro dos lados, Diego e Gerson mais atrás. Tornou o time até mais equilibrado para encarar o Palmeiras, principalmente com os laterais. Filipe Luís e Isla pareciam até mais balanceados de lado a lado, até para tentar garantir o bom posicionamento defensivo para evitar o principal – e basicamente único – estilo de ataque palmeirense: o contragolpe.

Palmeiras no início: fechado, linha de cinco e sonho por saídas rápidas

Assim o Flamengo alugou o campo e se postou da intermediária ofensiva para frente. Equipe bem agrupada, com zagueiros muito adiantados, laterais quase sempre no campo rival, Diego e Gerson trocando bola por dentro, Everton entrando ao centro para abrir corredor para Isla. Não é fácil, de fato, penetrar no sistema defensivo do Palmeiras. Um mérito de Abel Ferreira. O português montou o atual campeão da América no 5-3-2, com os três zagueiros, Gabriel Menino e Viña alinhando pelos lados quase sempre, Felipe Melo à frente da defesa, Patrick de Paula e Raphael Veiga responsáveis para conduzir a bola rapidamente e lançar Luiz Adriano, mas principalmente Rony às costas de Filipe Luís. Muito, muito pouco. Simplesmente porque um time – e um elenco – do tamanho do Palmeiras ter de se relegar a um papel de coadjuvante no jogo, encostado no canto do campo, aguentando pancadas até esperar uma brecha para escapar em bola longa. É namorar o tempo todo com o perigo. Confiar demais na defesa para tamanho investimento.

O Flamengo trocava passes por vezes com lentidão, por vezes mais acelerado. Mas sempre no campo ofensivo. Arrascaeta achou Pedro por dentro logo de início e Weverton, brilhante na saída, impediu a conclusão do atacante por cima. A bola rondava sempre a intermediária palmeirense. Flerte constante com o perigo. Chega a ser ingênuo entender como um jogo que o Palmeiras deseja, anseia. Não, não é confortável ter o rival do tamanho do Flamengo, com jogadores de tamanha qualidade, rondando sempre a sua área, trocando passes, buscando o arremate, tramando jogadas, cruzamento rasteiros, pelo alto. É pouco. É pobre. É arriscado demais. É necessário ser preciso demais. E o Palmeiras não foi. Mesmo quando teve brechas justamente em dois vacilos técnicos do Flamengo.

No trocar de passes da esquerda à direita, o Flamengo buscava o centro para o arremate. Gerson, mais lento do que de costume, hesitante do que de costume, recebeu de Filipe Luís na entrada da área. A opção poderia ser Isla à direita, desmarcado. Preferiu quebrar para a esquerda, ajeitar o corpo. Acabou desarmado por tanta indecisão. O risco do jogo do Flamengo é por sua disposição tática. Não erros técnicos infantis, como este. No desarme, o Palmeiras utilizou sua principal arma. Raphael Veiga recebeu pelo centro e lançou Rony disparado às costas de Filipe Luís, quando Isla falhou na linha de impedimento. A velocidade do atacante gerou ótimo cruzamento para Luiz Adriano tocar na pequena área e perder gol feito – embora Diego Alves tenha sido magistral ao deixar o pé e impedir o gol do Palmeiras. Claro, há riscos para o Flamengo. Claro, é o estilo de jogo do Palmeiras. Mas seguia lá o time rubro-negro na frente da área palmeirense.

Daí a achar absolutamente curiosas tais afirmações como a que o estilo de jogo palmeirense encaixa com o Flamengo. Difícil crer em tal pensata se o encaixe é altamente desconfortável e depende exclusivamente de um vacilo do rival, não das próprias ideias. Pois estava lá o Flamengo no campo ofensivo, com Isla ultrapassando pela direita, Everton trabalhando por dentro com Arrascaeta, Felipe Melo recorrendo a entradas duras para travar a fluidez do jogo rubro-negro. Diego, em ótima tarde, recebia a bola da defesa, agilizava a passada e acionava invariavelmente Filipe Luís à esquerda. O volume era rubro-negro. O domínio era rubro-negro. A única solução verde era o escape rápido. Ele veio, de novo, em vacilo técnico do mandante.

Flamengo adiantado a ponto de Arão, zagueiro, estar na ponta direita para cruzamento. A bola rebatida pelo Palmeiras ao meio gerou um erro bobo de domínio de bola de Diego. A bola sobrou para Luiz Adriano, que girou e esticou em Rony, às costas de Gerson. Mas o Camisa 7 mostrou incompetência ao perder a passada e deixar o volante rubro-negro ocupar a sua frente. A finalização foi ruim, com olhos quase fechados e apenas forte. Diego Alves defendeu com mais plasticidade do que dificuldade. Ainda que as chances mais claras tenham sido do Palmeiras, o Flamengo quase abriu o placar ao fim da primeira etapa com Everton Ribeiro por dentro enfiando bola para Pedro, que se desequilibrou ao tentar o arremate cruzado e bateu para fora. No olhar seco, das planilhas e calculadoras, o Palmeiras foi melhor por ter duas chances mais claras. No jogo, estava claro: o Flamengo ocupava o campo ofensivo, girava a bola, teve arremates e tornava o rival desconfortável. De novo: ninguém gosta de Arrascaeta, Gerson, Filipe Luís, Pedro, Everton Ribeiro e Diego no entorno de sua área, com perigo iminente. Se gosta, é rubro-negro. Quem joga, geralmente, ganha.

O segundo tempo trouxe apenas maior claridade quanto a isso. Simplesmente porque Abel Ferreira não tentou buscar alternativas como fez na Supercopa do Brasil, quando o Palmeiras, de fato, tentou desafiar o Flamengo. Manteve o 5-3-2 de início e só liberou um pouco mais os alas quando já via o time ser sufocado diante de um rival mais incisivo. Felipe Melo já perdera o vigor da primeira etapa e Anderson Daronco, em atuação lamentável, já não picotava tanto a partida como no primeiro tempo, quase como um árbitro de basquete. O Palmeiras se encontrava em dificuldades mais severas e não soube aproveitar uma questão: embora mais forte ofensivamente, o Flamengo teve por momentos uma piora defensiva por espaçamento entre meio de campo e defesa. Os zagueiros permaneceram mais plantados, os volantes seguiram tão ou mais avançados. Havia mais espaço para o Palmeiras aproveitar do que no primeiro tempo. Não havia força. Felipe Melo saiu para dar vaga a Danilo depois de Bruno Henrique assustar Weverton duas vezes, dentro da área em toque por cima e em chute rasteiro, com boa defesa, justamente depois de Felipe Melo ser facilmente batido no meio por Gerson. A blitz rubro-negra seguia. E os espaços apareciam. Natural.

Ao fim, Fla oxigenado, com Michael no lado, Vitinho por dentro

Nenhuma equipe consegue correr tanto atrás da rival por tanto tempo sem desgaste. Ocorreu com Felipe Melo e com outros palmeirenses. O time de Abel se deteriorava em sua ideia. Espaçava. O Flamengo aplicou velocidade. Gerson, Arrascaeta e Everton Ribeiro aceleravam para Bruno Henrique. Com o campo mais largo, o Camisa 27 passou a criar inúmeros problemas. E ser imprevisível. Tinha o fundo para buscar e cruzar por baixo ou por cima, como fez com Pedro, que não conseguiu alcançar a bola na segunda trave de cabeça. Poderia também fazer o movimento clássico de 2019, arrancado da esquerda para o centro e buscar o arremate de longe, no latifúndio entre volantes e zagueiros. A pane palmeirense ligou o alerta de Abel, que respondeu imediatamente com três trocas: saíram Raphael Veiga, Patrick de Paula e Luiz Adriano para as entradas de Gustavo Scarpa, Zé Rafael e Wesley. Rony ficou mais ao centro. Wesley abriu à esquerda, Scarpa à direita. Funcionou pouco. O Palmeiras, tão forte defensivamente, já era vulnerável e pouco tinha de escape.

Palmeiras ao fim: mais aberto, em busca de empate e mais vulnerável

O Flamengo já tinha se reagrupado, melhorado o espaçamento entre os setores do início da segunda etapa e seguia a atacar em bloco. De forma imprevisível. Por cima, como Pedro tocou de calcanhar para Bruno Henrique sofrer pênalti de Luan, ignorado por Daronco depois de falta apitada atrasada sem sentido no primeiro lance. Em bola parada, como na cabeçada de Rodrigo Caio após falta de Arrascaeta e defesa de impressionante tranquilidade de Weverton. Não havia muita resistência. O jogo do encaixe, o gosto pela sofrência, o desejo por trazer o Flamengo ao seu campo e ter as saídas rápidas, a proposta perfeita portuguesa. Todas as pensatas esfarelavam como castelinhos de areia diante de um mar em plena ressaca. Não tardaria o golpe fatal com espaço. Quem joga, ganha. Quem joga, marca. Ainda que demore. Ainda que tenha requintes de crueldade. Quando o Palmeiras avançou um pouco a equipe, tentava alçar bolas à área para tentar reagir de alguma maneira, tomou a pancada ao seu veneno. Diego Alves saiu com qualidade com o pé por dentro, no peito de Arrascaeta. O toque saiu para Gerson, daí a Bruno Henrique, que disparou. Gabriel Menino tentou o corte, em vão. No chão. Luan, também no gramado. Gómez já na linha de fundo nada poderia fazer. De carrinho, Pedro completou. 1 a 0. Com reverência. Com justiça.

Abel tentou a última cartada ao sacar Viña, colocar Victor Luís, improvisar Empereur como lateral-esquerdo ao atacar e apelar para as bolas alçadas na área para Rony. Mas a defesa rubro-negra estava em boa tarde. Arão saía com qualidade e teve bom posicionamento. Rogério oxigenou o time com Vitinho na direita na vaga de Everton Ribeiro. Depois, jogou Vitinho para dentro no lugar de Arrascaeta e pôs Michael na direita. Velocidade. Quase ampliou com o próprio atacante, que ficou em dúvida entre cruzar e passar a Bruno Henrique em um contra-ataque fulminante e soltou um peteleco nas mãos de Weverton. Ficou apenas no 1 a 0 de um time que foi melhor no jogo todo. Se não na íntegra dos 90 minutos, nos dois tempos.

Há maneiras e maneiras de se vencer. Há estilos a se respeitar no futebol. Mas há, também, de se ter variedade para enfrentar times poderosos e com poderio ofensivo alto. Claro que o Flamengo de Rogério Ceni joga com riscos defensivos – apresentou dois no primeiro tempo por erros técnicos bobos. Mas tem caráter ofensivo, jogadores técnicos, trocam a bola o tempo todo, ocupam o campo rival, raciocinam, entendem atalhos do campo, como Filipe Luís. Foi um Flamengo mais organizado, até paciente para chegar ao gol e que ainda apresentou defeitos como a lentidão ofensiva em parte do primeiro tempo. Forte o suficiente para bater outra equipe também forte, mas limitada nas ideias de jogo. É muito pouco para um clube com investimento do tamanho do Palmeiras, que traz no DNA o orgulho de ser chamado de Academia, se restringir a ser coadjuvante diante de seu maior adversário atual no país, entricheirado em um 5-3-2 e apenas em busca de bolas longas e saídas rápidas. E, pasmem, ainda colhe elogios em alguns quintais por isso.

No intervalo do jogo, os apaixonados por calculadoras defendiam um melhor primeiro tempo palmeirense com planilhas em mão. Pois então apresentemos os números, frios, ao fim do jogo: foi um Flamengo com 61% de posse de bola, dez finalizações no gol contra quatro do rival e 504 passes trocados contra 303*. 1 a 0 no placar. Três pontos na tabela. Uma vitória justa, que poderia ter sido até mais larga. Pois vejam: o Flamengo foi superior ao Palmeiras na estreia do Campeonato Brasileiro 2021. Esteve longe de ser brilhante. Mas foi superior, nos dois tempos. Por escolha. Quem joga, ganha.

*Números app SoFa Score

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X0 PALMEIRAS

Local: Maracanã
Data: 30 de maio de 2021
Árbitro: Anderson Daronco (RS – Fifa)
VAR: Daniel Nobre Bins (RS)
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Rodrigo Caio e Vitinho (FLA) e Viña, Patrick de Paula, Wesley (PAL)
Gols: Pedro (FLA), aos 29 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Isla, Willian Arão, Rodrigo Caio e Filipe Luís; Diego (Hugo Moura, 40’/2T) e Gerson; Everton Ribeiro (Vitinho, 31’/2T), Arrascaeta (Michael, 40’/2T) e Bruno Henrique; Pedro (Rodrigo Muniz, 46′, 2T)
Técnico: Rogério Ceni

PALMEIRAS: Weverton, Luan, Gómez, Alan Empereur; Gabriel Menino, Felipe Melo (Danilo, 9’/2T), Raphael Veiga (Gustavo Scarpa, 16’/2T), Patrick de Paula (Zé Rafael, 16’/2T) e Viña (Victor Luís, 31’/2T); Luiz Adriano (Wesley, 16’/2T) e Rony
Técnico: Abel Ferreira

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