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A rejeição ao Clássico dos Milhões deve promover uma reflexão

Arena da Amazônia

O último Flamengo e Vasco ocorreu na Arena da Amazônia, em 2016

O último Flamengo e Vasco ocorreu na Arena da Amazônia, na semifinal do Campeonato Carioca de 2016

É uma ironia por si só. O Clássico dos Milhões não pode mais fazer jus ao apelido. Não pode abrigar mais duas torcidas de uma só vez, em um só espaço. Foi rejeitado. Sim, rejeitado. A semifinal da Taça Guanabara, entre Flamengo e Vasco, não pode ocorrer no Rio de Janeiro com as duas torcidas por determinação judicial. Pensou-se em Brasília, mas a ideia acabou vetada também por impossibilidade de garantia de segurança. O jogo está marcado para a mineira Juiz de Fora, mas com probabilidade de ser mais uma vez rejeitado, também por questões de segurança. O episódio deveria levar todos a uma reflexão.

Deveríamos tentar entender quando nos transformamos em uma sociedade na qual uma tradicional partida de futebol não pode ocorrer sob o risco de que pessoas travem batalhas campais rumo ao estádio. Não basta vencer o rival no campeonato. É preciso dizimá-lo pelas ruas, transformá-lo em inimigo, espalhar o terror. No fundo, sabemos que perdemos. Ou estamos perdidos. Mas vivemos em um transe no qual o futebol é apenas a extensão de um dia a dia em que a vida pouco vale nas ruas. Damos passos sem saber para onde.

Flamengo e Vasco recebeu o apelido de Clássico dos Milhões justamente por ser o confronto das duas maiores torcidas do Rio de Janeiro. Sem elas, a essência do jogo se dissipa. Valores que se perderam. Nos bons tempos de Maracanã, o confronto no gogó da arquibancada gerava expectativa durante a semana. As ruas ficavam cheias de ansiedade rumo ao estádio. O pai levava o filho para apresentá-lo a um espetáculo que impactaria sua vida de torcedor. É a tal frase de que arquibancada forma caráter. Hoje, o filho fica em casa com o pai para poupar a vida. Não há nem Maracanã disponível. E o jogo bate de porta em porta em busca de quem o aceite com uma nostalgia de quem já foi desejado há alguns anos. É dolorido.

A semana anterior ao clássico era antes debatida com jogadores, escalações, confrontos de times que representariam sua bandeira diante de uma arquibancada que sabia conviver de maneira minimamente decente. Hoje, abordamos torcida única, as brigas, a troca de insultos pelas redes sociais, a influência da Federação, o local que aceite sediar o jogo. Sobre futebol em si, praticamente nada. Em três cidades do país, o Clássico dos Milhões é visto com desconfiança por trazer mais problemas do que benefícios. Sim, admitamos. Nós nos perdemos. Clubes, torcedores, autoridades públicas, todos deveriam fazer uma reflexão. Fazer do Flamengo e Vasco um clássico sem seus milhões e rejeitado não faz o menor sentido.

  • Valdênio Mesquita

    Bela matéria!!????????????