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Rival à altura, oitava taça: Flamengo supera Palmeiras e reforça papel na História

Diego Alves Flamengo taça Supercopa do Brasil 2021

(Alexandre Vidal / Flamengo )

Gabigol Flamengo Supercopa do Brasil 2021

(Alexandre Vidal / Flamengo)

O pensamento é recorrente. Indica ser necessário aguardar o devido distanciamento histórico para entendermos a dimensão de uma era. Quanto tempo seria suficiente? Uma década? Duas? Felizardos são os que percebem o carrossel da História à sua frente, a olhos vistos. Fatos que serão relembrados, contados em prosa e versa, daqui a 50, 60 anos. Até mais. É o que ocorre com este Flamengo. Do encantamento em 2019 à extensão de uma era competitiva de glórias. São taças atrás de taças em curto período. Anormal. Fenomenal. A conquista na decisão de pênaltis de tirar o fôlego do bicampeonato da Supercopa do Brasil, neste domingo, sobre o Palmeiras em Brasília, foi mais uma joia desta era. O oitavo título em um período próximo de completar dois anos. E diante de um rival à altura.

É óbvio que as duas apresentações até então da temporada do time titular rubro-negro tinham sido satisfatórias. Mas óbvio, também, que Bangu e Madureira não refletiriam o campeão da América e da Copa do Brasil. O Palmeiras é um bom time. E se viu obrigado a variar. Fez seu melhor jogo em tempos sob o comando de Abel Ferreira. Agrediu, teve momentos com a bola. Superior aí às atuações em decisões de Copa do Brasil e Libertadores e também na frustração do Mundial. O que enaltece mais uma conquista rubro-negra. Um time que se reinventa, se adapta e aproveita a quantidade de talentos que reúne de uma vez só por tanto tempo – algo raro demais no futebol brasileiro. Rogério Ceni sabe disso. E compartilha o gosto pelo jogo.

Fla no primeiro tempo: Gerson afunilando demais e espaço livre

Pôs o time em campo em uma decisão novamente ofensivo. 4-4-2 com Willian Arão na defesa, Diego como volante. A mesma formação que teve início e deu certo demais contra o próprio Palmeiras, em Brasília, na reta final do Brasileiro 2020. Abel lembrava. E mostrou aprender. Manteve o time paulista no 4-2-3-1 e, de certa maneira, surpreendeu ao continuar com um meio mais lento, com Felipe Melo e Zé Rafael, mesmo diante de um adversário com poderio do Flamengo. Mas mudou a postura. Iniciou a partida mais à frente, tentando dificultar a saída rubro-negra. Precisava de um gol imediato. Deu muito certo. Diego Alves errou o passe pelo alto ao receber lateral de Filipe Luís e bateu mal, como Hugo Souza diante do São Paulo, e Felipe Melo se sentiu à vontade para tocar de cabeça para Raphael Veiga. O giro com drible sobre um Arão que tentava dar o bote foi genial. A batida com categoria pôs o Palmeiras à frente e na situação ideal para praticar o seu estilo fatal. Bola longa e contra-ataque fulminante.

Palmeiras no início: volantes mais lentos e velocidade pelos lados

Ocorre que o Flamengo contava com uma vantagem clara. É um time histórico, com jogadores experientes e inteligentes o suficiente para retomar o controle emocional do jogo. Com taças e decisões empilhadas recentemente não houve desespero. Houve, sim, dificuldades em fechar espaços ao Palmeiras nos minutos iniciais. Por mais que Diego cumprisse bem o papel de primeiro volante, Gerson afundava demais pelo meio para encostar em Gabigol e Bruno Henrique ao tentar sufocar o time rival. Especialista em saída rápida, o Palmeiras aproveitava o buraco por dentro, já que Everton Ribeiro pouco fechava o setor com o avanço de Gerson. Por ali Raphael Veiga tinha liberdade para receber os lançamentos e acionar Breno Lopes e Wesley, alternando entre esquerda e direita. Por dentro, Rony também acelerava. Um jogo desenhado, mas efetivo dos paulistas. Mas agredir significa, também, ser agredido.

O Flamengo alternava Arrascaeta com Bruno Henrique entre esquerda e meio. O uruguaio passou a buscar o centro com mais constância, atrás dos volantes. Encontrou ali espaço para confundir a defesa palmeirense. Bruno Henrique abria e puxava Luan para fora da área. Felipe Melo entrava para dar o suporte e cedia luxuoso espaço para Arrascaeta. Ao entrar na área, o uruguaio perdeu ótima chance em cruzamento de Isla depois de Bruno Henrique aparecer pela direita para auxiliá-lo. O volume rubro-negro aumentava, a pressão na saída de bola rival também. Não era um time que sufocava e trocava passes rapidamente. Nem perto disso. Mas incomodava. Luan, inseguro, tentou aliviar uma das bolas na defesa. A pelota sobrou para Arrascaeta. O urugaio necessita de menos de um segundo para clarear as jogadas. O craque antevê. Com um passe de primeira viu Filipe Luís infiltrar por dentro da área. Em jogada inteligente, o lateral parecia numa quadra. Tirou Gómez com habilidade do lance e chapou na trave direita de Weverton. Gabigol aproveitou o rebote e tocou para empatar. 1 a 1.

Era uma decisão franca. Um jogo aberto, com times adaptados aos seus estilos e em busca do gol. Agradava. Pois se o Flamengo tocava a bola, girava o jogo e tentava acelerar da intermediária para frente, o Palmeiras se defendia muito bem, recuperava a bola e esticava para seus velocistas. Wesley pela direita teve pouco sucesso com um Filipe Luís em manhã soberba. Taticamente sobra no futebol brasileiro com tamanha inteligência. O garoto, então, por vezes trocava o lado. Em uma dessas espichadas, recebeu de Veiga por dentro, avançou e no balanço de corpo confundiu Arão e Isla. A bola passou entre os dois e deixou Breno Lopes livre para driblar Diego Alves e só não marcar o segundo gol graças a um Diego fiel à posição de primeira volante. Aos 35 anos, o Camisa 10 mostrou fôlego para salvar a bola em cima da linha. Era muito exigido diante de um forte rival e com um Gerson muito abaixo do que pode render. O Camisa 8 afundava pelo meio e tinha dificuldades para voltar, prender a bola e fazer o jogo girar. Recebia botes com insistência e parecia sem forças para reagir. O Palmeiras também apostava nas faltas para quebrar qualquer fluidez de jogo. E o centro do campo continuava sob seu domínio.

Com tanto espaço não tardaria ao Palmeiras aproveitá-lo. As subidas de Isla deixavam espaço à direita para os contragolpes. Raphael Veiga, de novo pelo meio, achou Wesley na esquerda. O corte foi seco em cima do chileno e Vuaden assinalou incorretamente pênalti. O VAR corrigiu a falta fora da área que obrigou bela defesa de Diego Alves. Nesta reta final da primeira etapa, porém, o Flamengo já equilibrara o jogo e era até superior. Carecia de peças importantes como Gerson e Bruno Henrique, mas contava com Arrascaeta. Isla virou o jogo à esquerda, Bruno Henrique dominou e ajeitou para Arrascaeta. No bico da da grande área pela esquerda, o uruguaio mostrou que é craque com espamos de genialidade. Antevê. Ao dominar a bola e dar um toque, a olhada sutil indicou onde bateria, para a surpresa generalizada. Até mesmo do goleiraço Weverton. Abriu o movimento do corpo como se fosse bater de chapa, no canto direito. Mas entregou um chute rasteiro, venenoso e direto, no contrapé do goleiro. Cantinho esquerdo. 2 a 1.

A vantagem rubro-negra foi suficiente para Abel Ferreira, já expulso, modificar o Palmeiras. O meio já era seu, mas ele precisava de agressividade para empurrar o Flamengo e voltar a forçar o mano a mano de seus atacantes contra a dupla de zaga formada por Arão e Rodrigo Caio. Sacou Felipe Melo e Zé Rafael e pôs Danilo e Gabriel Menino. Tornou-se mais forte e mais ofensivo. O Flamengo então deu passos atrás. Inverteu o papel pré-estabelecido com o Palmeiras. Sentiu desconforto. Estava diante de um time forte. Um rival à altura. Ceni entendeu a necessidade de oxigenar o meio. Sacou Diego e pôs João Gomes. Também tirou Isla e pôs Matheuzinho. Mais jovialidade em um embate que já se apresentava ao vigor. Poderia o técnico, também, ter optado mais cedo por compor a defesa com Bruno Viana ou Gustavo Henrique e adiantar Arão para sua posição original.

Fla ao fim: jovens no meio e maior fôlego para competir com Palmeiras

O Palmeiras, mais agressivo pela direita com Mayke e Menino, tinha também Verón. O garoto perdeu ótima chance de cabeça e Gómez obrigou Diego Alves a trabalhar. As bolas aéreas, invariavelmente, tinham sucesso palmeirense. Quando o Flamengo, no entanto, parecia mais à vontade no segundo tempo, com time adiantado ao meio de campo e um girar de bola com maior calma, veio o golpe. O Palmeiras é fatal no contragolpe. Arão tentou o passe agudo para Everton Ribeiro. O meia buscou o toque de primeira e entregou no pé de Danilo, o dono do meio de campo na segunda etapa. A esticada longa, à la Palmeiras de Abel, achou Rony na velocidade diante de Rodrigo Caio. De novo um mano a mano e, desta vez, a puxada de camisa indicou o pênalti. Raphael Veiga cobrou muito bem, no canto esquerdo de Diego Alves. 2 a 2.

Palmeiras ao fim: força pela direita e time mais agressivo

Mesmo sem Pedro como alternativa, Rogério tentou voltar a incomodar o Palmeiras. Sacou Bruno Henrique e Everton Ribeiro e pôs Michael e Vitinho mais abertos. Pepê na vaga de Gerson. A qualidade técnica caiu, mas o time voltou a competir em bom nível físico depois de reduzir demais a rotação. Não conseguiu a virada porque Weverton teve sorte em bola chutada por Vitinho no pé da trave e que foi salva na linha depois de bater em suas costas. E quase o mesmo com Gabigol, já no apagar das luzes. O beijo na bola em uma das oportunidades, à la Pagliuca, era justificado. O empate para levar a decisão aos pênaltis, também.

Um show à parte dos goleiros em belas defesas nas cobranças. Não foi a barbada de 2020, diante do Athletico-PR. Era um rival à altura, um Palmeiras cobrado justamente para que atuações como a deste domingo sejam regra, não exceção. E por fim uma virada incrível de um Flamengo que escreve linhas da História diante dos mais variados olhos rubro-negros. Que permite enxergar hoje personagens para sempre. Gabigol – agora artilheiro do clube no século – Arrascaeta, Bruno Henrique, Filipe Luís, Rodrigo Caio em plena ação. Vão ser histórias contadas em rampas do Maracanã. Em bares e churrascos. Em encontros de Natal. De pai para filho. De avô para neto. Gerações já marcadas fora de campo. Até onde vai este Flamengo com oito títulos em dois anos? Só mesmo o futuro para dizer. Mas o presente, aos berros, já pede que prestem atenção. Sem necessidade de distanciamento. A História está a pleno galope, trajada de camisa rubro-negra, nos campos de futebol.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO (6) 2X2 (5) PALMEIRAS

Local: Estádio Mané Garrincha, em Brasília
Data: 11 de abril de 2021
Árbitro: Leandro Vuaden (RS)
VAR: Wagner Reway (MT)
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Isla, Rodrigo Caio, Willian Arão, Rogério Ceni (FLA) e Felipe Melo, Wesley, Abel Ferreira, Luan, Mayke (PAL)
Cartão vermelho: Abel Ferreira (PAL)
Gols: Raphael Veiga (PAL, a um minuto, Gabigol (FLA), aos 22 minutos, Arrascaeta (FLA), aos 48 minutos do primeiro tempo; Raphael Veiga (PAL), aos 27 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Isla (Matheuzinho, 15’/2T), Willian Arão, Rodrigo Caio e Filipe Luís; Diego (João Gomes, 17’/2T), Gerson (Pepê, 42’/2T), Everton Ribeiro (Vitinho, 33’/2T) e Arrascaeta; Bruno Henrique (Michael, 42’/2T) e Gabigol
Técnico: Rogério Ceni

PALMEIRAS: Weverton, Marcos Rocha (Mayke, 15’/2T), Luan, Gustavo Gómez e Viña; Felipe Melo (Gabriel Menino / Intervalo) e Zé Rafael (Danilo / Intervalo); Breno Lopes, Raphael Veiga e Wesley (Gabriel Verón, 15’/2T); Rony (Gustavo Scarpa, 45’/2T)
Técnico: Abel Ferreira

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