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Sim, se pode: Flamengo usa talento dos meias, sobe o nível e passa pelo Fortaleza

Arrascaeta Flamengo Fortaleza 2019 voleio

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Gabigol Flamengo Fortaleza 2019

(Alexandre Vidal / Flamengo)

O curto trabalho de Abel Braga nesta segunda passagem pelo Flamengo ficou marcado por breves bons momentos e uma insistência em não se dobrar à enorme qualidade técnica do elenco. Seria mais fácil dar continuidade ao estilo da equipe iniciado em 2016, com manutenção da posse, troca de passes, busca por envolver o adversário. Abel tentou fazer um Flamengo à sua moda e, com isso, ignorou o talento que tinha à disposição. Criou desgaste desnecessário. Em 30 jogos, apenas em dois escalou o trio de meias formado por Diego, Arrascaeta e Everton Ribeiro. A Marcelo Salles, o Fera, bastou uma partida. Com o trio em campo, o Flamengo subiu o nível de desempenho e teve sua grande atuação no Brasileiro na vitória de 2 a 0 sobre o Fortaleza, no Engenhão. Tudo ficou mais leve.

Foi neste ambiente aparentemente oxigenado que o Flamengo entrou em campo para enfrentar o Fortaleza diante de uma semana tumultuada, recheada de desencontros fora de campo. Com a atenção voltada para o demissionário Abel e a diretoria, o time pareceu se ver livre de amarras. Jogou leve, tranquilo. Ofensivo. Salles poupou Renê e Bruno Henrique e optou pelo trio de meias. Um Flamengo num 4-2-3-1 que buscou sempre o simples. Toques curtos, rápidos, geralmente de primeira, confundindo a defesa rival. Manutenção da posse, circulava bem a bola, de lado a outro e agregava o necessário: acelerar o jogo quando havia espaço. É um trio que se completa: Arrascaeta gosta do passe por vezes longo, torna tudo mais objetivo. Diego mantém mais a bola no pé, segura até achar espaço ideal. Everton Ribeiro, em fase esplendorosa, une um tanto de cada característica. Carrega a pelota, costurando entre adversários, mas tem também a facilidade do passe.

Fla no início: meias alternando, trocando passes, entrosados

Adicione a esses três um atacante com velocidade, sem lugar fixo, saindo dos lados para dentro da área, capaz também de tabelar com facilidade. Com Gabigol, o Flamengo foi senhor do jogo no Engenhão. Chegou a picos de 76% de posse de bola. Apresentou muita movimentação entre os meias, mostrou ao rival o quanto seria complicado para o anular. Com troca de passes, Arão quase marcou no início da partida após receber de primeira de Everton Ribeiro. Em enfiada de bola caprichada, Arrascaeta achou Gabigol às costas de Gabriel Dias. O rolar de bola para o centro encontrou Diego, livre, de frente para o gol. A batida fraca, nas mãos do goleiros, transformou a expectativa em frustração. O Flamengo era muito superior. Mas nem por isso perfeito. Há, claro, vários problemas que Abel deixou em seu trabalho.

Fortaleza no início: aceleração pelos lados como grande arma para atacar

Um deles é a facilidade com que o adversário consegue finalizar em frente da área rubro-negra é uma delas. Bem postado na defesa, o Fortaleza apostava em saídas com muita velocidade pelos lados, com Marcinho e Romarinho. Mas ao avançar logo enxergava a possibilidade de penetrar na defesa rubro-negra pelo meio. Há, geralmente, um clarão em frente à grande área. Dali, André Luis arrematou logo no início da partida. Cuellar, soberbo na cobertura de espaços, tem de se desdobrar para dar conta e evitar que a presença rival seja ainda mais constante. Por mais que fosse bem organizado, o Fortaleza é muito limitado tecnicamente. Num 4-4-2, o time teve dificuldades para manter a linha defensiva com a grande troca de passes rápidos do Flamengo. Era quase recorrente ver zagueiros e laterais olhando de lado a lado o vaivém da bola.

Diante de tamanho volume, o Flamengo apresentava um futebol que dificilmente não se traduziria em vantagem. Everton Ribeiro perdeu ótima chance na grande área, de frente para o goleiro. Diego cobrou falta na trave, enquanto Everton não conseguiu aproveitar o rebote. E aí veio uma jogada de manual. Pudéssemos escolher um lance para explicar o talento dos meias, imaginaríamos exatamente este. Arrascaeta por fora, à esquerda, achou Diego por dentro. O camisa 10 esticou a Everton Ribeiro dentro da área, que fez o jogo andar num genial toque de letra. Arrascaeta já ultrapassava pela esquerda para cruzar a um Gabigol livre na pequena área. O toque sutil completou o golaço. Três vezes talento pelo meio. 1 a 0. Um lance que fez o Flamengo descer ao intervalo nos braços da torcida.

Ao fim, time com mais forças pelos lados, velocidade e drible

O retorno para o segundo tempo trouxe uma equipe rubro-negra ainda com gosto pelo jogo ofensivo. Em vez de recuar e buscar explodir nos contra-ataques, o Flamengo voltou a se portar como dono do jogo. Manteve a estrutura e a movimentação intensa dos meias, com passes curtos, de lado a outro e a tentativa de arremate vertical. Assim, Everton Ribeiro deixou Cuellar na cara do gol, mas Boeck saiu bem e evitou que a finalização parasse na rede. Foi interessante: com o time tão bem organizado ao atacar, o colombiano se sentiu à vontade para vançar e infiltrar na área, tarefa que muitas vezes cabe a Arão. Impressionava a facilidade para rondar a área do time de Rogério Ceni. Chateava a insistência do Flamengo em cometer também erros: a dificuldade para transformar as chances em gol, liquidando a partida. Assim como os espaços abertos no sistema defensivo que permitiram, por exemplo, Romarinho avançar livre às costas de Trauco e cruzar para Marcinho cabecear à queima-roupa para bela defesa de Diego Alves.
No geral, porém, foi uma tarde muito feliz do Flamengo sob a batuta de Marcelo Salles. Intenso, com muita movimentação, troca de passes, jogadas objetivas e com inteligência. Uma atuação, enfim, compatível com a qualidade do elenco. Mesmo quando sofreu pressão na saída de bola – uma de suas deficiências – conseguiu se livrar do problema com competência. Daí a importância de ter peças disponíveis para alternar estilos entre um jogo e outro. Substituto de Renê, Trauco sempre encanta pela facilidade com que trata a bola. A qualidade do passe cresce. Não à toa foi entre o peruano e Arrascaeta, pelo lado esquerdo, o maior número de troca de passes da equipe: 27 em toda partida. Rodrigo Caio, ao sempre procurar um passe mais vertical, também apresenta qualidade necessária que torna difícil a vida de rivais mais limitados como o Fortaleza.

Ao fim, Fortaleza mantém estrutura, mas sem tanta velocidade aos lados

O segundo gol rubro-negro, uma enfiada de bola de Arrascaeta a Gabigol, não foi surpresa diante do girar insistente pela área do Tricolor. Ali, o Fortaleza já havia entendido que teve a infelicidade de encontrar um Flamengo ajustado, disposto, descansado. Willian Arão manteve a postura de volante, sem configurar o 4-1-4-1 ao se alinhar com o trio de meias. Assim, apareceu por vezes como elemento surpresa. Seu jogo cresce à frente e atrás. Marcelo Salles poupou jogadores ao desmontar aos poucos sua linha de meias, colocando Vitinho e Berrío aos lados, tentando manter a ofensividade, mas com outro estilo, mais acelerado. Ficou barato.

O Flamengo apresentou contra o Fortaleza seu melhor jogo do Campeonato Brasileiro – talvez o melhor do ano, ao lado da partida contra a LDU, no Maracanã, pela Libertadores. Em ambos aliou troca de passes com agressividade ao acelerar o jogo. Envolveu o rival e foi implacável no ataque. Desta vez fechou em 61%* de posse de bola, teve 20 finalizações e trocou 607 passes. Muito em razão da escolha do trio de meias. Por duas vezes em 30 partidas, Abel Braga optou por iniciar a partida com Diego, Arrascaeta e Everton Ribeiro juntos. Venceu o San José por 6 a 1 e o Vasco por 2 a 0 no primeiro jogo da final do Carioca. Preso a seus próprios conceitos, ignorou o passado recente do time – em 2018, o Flamengo que liderou o Brasileiro com ótimo jogo também tinha três meio-campistas que faziam o time girar a bola. Jorge Jesus, de acordo com relatos de especialistas que o acompanharam de perto em Portugal, tem predileção por montar suas equipes em um 4-1-3-2. Se assistiu ao jogo contra o Fortaleza, pode insistir no que Abel, inexplicavelmente, tentou ignorar. Há talento para jogar em alto nível. Sim, se pode.

*Números do app Footstats Premium

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 2X0 FORTALEZA
Local: Engenhão
Data: 1 de junho de 2019
Árbitro: Rodrigo D’Alonso Ferreira (SC)
VAR: Rafael Traci (SC)
Público e renda: 35.725 pagantes / 37.658 presentes / R$ 458.146,00
Cartão amarelo: Léo Duarte (FLA)
Gols: Gabigol, aos 39 minutos do primeiro tempo e aos 22 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Pará, Léo Duarte, Rodrigo Caio e Trauco; Cuellar (Piris da Motta, 42’/2T) e Willian Arão; Everton Ribeiro (Vitinho, 26’/2T), Diego (Berrío, 36’/2T) e Arrascaeta; Gabigol
Técnico: Marcelo Salles

FORTALEZA: Marcelo Boeck, Gabriel Dias, Juan Quintero, Roger Carvalho e Bruno Melo; Romarinho, Paulo Roberto (Dodô, 20’/2T), Juninho e Marcinho (Marlon, 26’/2T); Andre Luis (Osvaldo, 13’/2T) e Kieza
Técnico: Rogério Ceni

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