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Sobre haters e cagadores de regra

Quem me acompanha no Twitter sabe como gosto de opinar com sobre futebol. É frequente, natural. Gosto pessoal. Mas incomoda. Bastante. Dia desses um camarada começou a contestar algo, partiu para um tom agressivo e foi respondido da mesma maneira. Aumentou o tom, no que fiz o mesmo. Ali pelo meio do papo estilo toma lá, dá cá veio a expressão pejorativa usual à qual os haters recorrem: “caga-regra”.

Então funciona mais ou menos assim atualmente: você cria um perfil em uma rede social, dá suas opiniões e caso desagrade alguém é chamado de cagador de regra. O sujeito se nega a dar aquele unfollow maroto e simplesmente te ignorar. Ele confere avidamente cada tuitada e decide perturbar, gastar tempo e energia com ódio. Fui verificar o cidadão que tinha partido para o embate. Como não era um fake, foi possível constatar que é um rubro-negro morador de Brasília, pai de uma menina novinha, com a esposa grávida do segundo filho. As fotos eram de puro amor e orgulho. Uma contradição a quem se dispõe a ir a uma rede social espetar um jornalista até fazê-lo perder a calma. Esquisito esse mundo paralelo do Twitter.

É, além de pouco inteligente, um desperdício. Quem viveu tempos sem redes sociais sabe como a troca de ideias era mais restrita. O acesso a especialistas de cada área, fosse medicina ou jornalismo, muito mais reduzido. Quem dera lá em meus tempos de universitário trocar mensagens com um setorista de um dos clube cariocas para saber a quantas andavam as investidas de Flamengo, Fluminense e até Botafogo para tirar Romário do Vasco. O jeito era acessar os sites que demoravam uma eternidade para atualizar as notícias ou grudar o ouvido nos programas de rádio. O Twitter, hoje, é o rádio das redes sociais. Mas bem mais instantâneo. Toma lá, dá cá. Uma delícia. E um paraíso para desavenças e ataques.

Embora muitos coleguinhas não concordem e acreditem que jornalista deva se portar praticamente como um semideus da isenção sem ousar opinar, sou da corrente completamente oposta. De nada vale um jornalista sem opinião. É bacana saber como este ou aquele profissional pensa. Há receio com a própria imagem, também. Claro, é necessário medir na dose do pitaco, da crítica. E o torcedor deveria entender bem isso, aliás: uma opinião de um jornalista esportivo, na maioria das vezes, está longe de ser um pitaco de bar. É ali a ponta de um icerberg de informações de bastidores e experiências anteriores que não podem ser todas desnudas ali em – agora – 280 caracteres. Há um natural zelo profissional e um cuidado com o relacionamento com torcedores e fontes que se dispõem a acompanhá-lo ali. Porque, afinal, a opinião incomoda. Às vezes não é bem vista nem mesmo por quem deveria defender seu livre exercício, caso de coleguinhas.

Meses atrás, um deles mandou aquela indireta de “caga-regra” durante um Flamengo x Palmeiras que me chegou apenas um dia depois. Era óbvio, dado que tínhamos trocado palavras ácidas semanas antes justamente por ele não ter concordado com críticas que tuitei. Como se fosse pecado opinar sobre futebol quase o tempo todo. Achei até graça. Mesmo anos depois ainda estamos tateando essa liberdade em redes sociais, medindo os passos, tentando entender até onde podemos avançar. Já fiz lambanças, me irritei além da conta e mandei recado anos atrás para um destinatário, quando outros dois – sem nenhuma relação com o assunto  – assumiram como se fosse algo para eles. O resultado foi uma ridícula e sem sentido briga de cerca virtual que nada me acrescentou. Pelo contrário. Desgastou na profissão de maneira boba, até infantil. Foi, sem dúvidas, um aprendizado. Mas continuo em plena paixão com o Twitter.

Lembro de quando comecei a utilizar a ferramenta de verdade, na Copa de 2010. Na África do Sul, passei a usar o twitpic (!) para postar fotos de alguns nas bastidores das sedes da Copa. Havia um contato tímido ainda. Mas era legal. Poucos haters, uma galera curiosa, parcos seguidores. Meses depois, o técnico Silas seria apresentado no Flamengo, na Gávea. Tuitei um passo a passo. A saída do vestiário, a apresentação aos jogadores. Pensava num torcedor curioso, como fui anos antes em busca de informações do Romário, recebendo aquelas notícias. Era um prazer. Entendi que aquilo ali indicava muito como seria o futuro da profissão. Contato direto, quase sem interferência, com o receptor da mensagem.

Dois dias depois, o Eduardo Tironi, um dos grandes chefes que tive na vida e que sempre me ensinou demais até com puxões de orelha classudos, juntou a redação do LANCE! no Rio para um papo. E abordou o Twitter. Citou como exemplo o meu passo a passo despretensioso sobre a chegada do Silas. Achei bacana. Formulei na semana seguinte um projetinho, uma ideia sobre cobertura de clubes para jornal e site via Twitter. Abastecer o leitor com informações sucessivas. Coisa que não necessariamente teria espaço no jornal nem no site, mas caberia ali. Seria espinhoso, não havia essa fartura de smartphones e banda larga atual. Estupidamente, nunca apresentei à chefia. Mas segui no Twitter, firme e forte.

Convivi com cornetadas até no próprio meio. Lembro de 2013, treino do Flamengo no Ninho, tuitando curiosidades enquanto cobria a atividade para o site da ESPN. Um coleguinha, em tom jocoso, disse “corre aí, coloca logo no teu Twitter”. A gargalhada de quem estava ao lado me deu a certeza de que não tinham compreendido ainda o potencial daquela ferramenta. Ainda tenho muito a aprender. Por vezes, respondo a quem não deveria. E tampouco da maneira mais polida,  como deveria. Erro a mão. É um aprendizado contínuo.

Adoro dar opinião sobre futebol. Adoro ouvir e ler a dos outros. Há contatos virtuais que fazemos ali, discordamos de boa. Sempre me divirto ou informo com o Paulo Sérgio Souza, o Daniel Esteves, o Celo, o Pablo. Acompanho vários ótimos profissionais que conheci no dia a dia da profissão. Outros que nunca nem encontrei, mas admiro o trabalho. Mas há quem só queira agredir mesmo. Chamar de caga-regra, dono da verdade.

Aquela verdade ali é apenas minha, amigo. Você pode ter a sua. Um terceiro, a dele. Por vezes elas se esbarram. Em outras, não. E seguimos. Todos atualmente têm direito a opinar. Se um ou outro acha que usar esse palanque particular é ser um cagador de regra, à vontade. Se acha que é melhor atacar do que trocar ideia, tudo bem. Repito: é um baita desperdício. Aprendi muita coisa com alguns seguidores, conheci gente interessante. Fui criticado de forma elegante. E interpelado com inúmeros xingamentos. Entre um cadeado e outro para evitar o furor, respiro fundo e digo: mesmo desviando de haters e ironias de “cagador de regra”, vale a pena ficar por ali. Sigam-me os bons.

  • Sidney Araujo da Silva

    Perfeito, Pedro. O jornalista é quase que forçado a comentar aquilo que agrada a maioria…e aí está o problema! Pois isso é chato e intimidador pro profissional. Além do que, não há como agradar todo mundo, sempre tem a galera do contra…e isso é o legal das discussões nos bares, em casa e Twitter. O segredo para os jornalistas e seguidores é simples e objetivo: respeitar e tentar entender as opiniões divergentes…dá pra todo mundo brincar nesse parque de diversões sem se machucar, basta saber usar.