Gabigol Flamengo Atlético-GO
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Um Flamengo cinza arranca empate do Grêmio no Maracanã

Gabigol gol Grêmio Brasileiro 2020 Maracanã

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Domenec Torrent Gabigol abraço Flamengo

(Alexandre Vidal / Flamengo)

A montanha-russa estabelecida no Ninho do Urubu após a saída de Jorge Jesus ainda é parte do cotidiano. Um processo natural de transição. Entre erros e acertos que arrancaram o time da constante excelência até a paralisação diante da pandemia, o Flamengo atual é cinza. Nem mais Jorge Jesus e nem ainda Domènec. Um meio-termo em que tudo ainda se adapta, ainda busca o acerto e, com isso, também abre espaços para erros. Alterna bons e – longos – maus momentos. Neste panorama, o time conseguiu até um bom resultado ao arrancar o empate com o Grêmio em 1 a 1 no fim da partida no Maracanã. O desempenho, de novo, foi aquém.

Diante do Atlético-MG, o time foi um misto de ideias entre as eras de técnicos. Contra o Atlético-GO, Dome decidiu marcar suas digitais com velocidade e implodiu a atuação. O feijão com arroz diante do Coritiba indicou um entendimento de panorama com a necessidade do fôlego. Restava, no entanto, um adversário à altura. O Grêmio era o adversário ideal. Estilo ofensivo, gosto pela pressão no campo rival e posse de bola. Qualidades tática e técnica. Um desafio que mostrou que o Flamengo de Domènec Torrent está ainda longe do ideal para ser competitivo. Não só enfrenta um processo de transição de ideias, como também encara inúmeros jogadores em má fase técnica. O time que encantou perdeu a fluidez.

Fla no início: atacantes por dentro, Arão pouco mais à frente

Domènec Torrent mandou a campo um Flamengo no 4-4-2, com João Lucas dono temporário da lateral direita, Gabigol e Bruno Henrique mais próximos por dentro. A escalação era basicamente a de Jorge Jesus. Mas há distinções. Willian Arão, por exemplo, já não é tão responsável como homem posicionado ao meio na saída de três. Diego Alves arrisca passes agudos por dentro. Arão tem mais liberdade, vai mais à frente e Gerson mais avançado à esquerda. E sofreu pressão em seu campo, com dificuldade na saída de bola. Não que seja algo que não tenha ocorrido nos tempos de Jorge Jesus – um técnico que será fartamente citado pelo trabalho acima da média. É inevitável.

Mas ao ser pressionado em seus tempos dourados não tão distantes, o Flamengo saía ao ataque e devolvia da mesma forma: era agressivo ao perder a bola. Pressionava incansavelmente o rival, sufocando já a partir da dupla de atacantes. Agora já há muito menos resistência. Habitar a intermediária defensiva rubro-negra é uma realidade. O Grêmio sabia disso. Renato Gaúcho acertou o Tricolor Gaúcho em um 4-2-3-1 com marcação no campo adversário. Empurrava o Flamengo para o seu campo a fim de sufocá-lo e aproveitar o momento de mudanças. De início o duelo foi mais rubro-negro. Everton Ribeiro, inspirado, fez ótimas duas jogadas pelo lado direito, insinuante. O Flamengo observava um velho erro gremista: a caça desenfreada de Kannemann aos atacantes do Flamengo, especialmente Gabigol. O argentino chegava a ir à intermediária buscar o atacante, oferecendo espaço às costas. Oportunidades de ouro, incluindo aí uma chegada de João Lucas no cruzamento a Bruno Henrique, desperdiçadas.

Grêmio no início: pressão no campo rival, Jean Pyerre com espaço

Rapidamente o Grêmio igualou a partida. Ocupou o meio, manteve a pressão a saída de bola e passou a trocar passes rápidos com muita movimentação. Maicon, ainda que mais lento do que o usual, comandava o ritmo ao lado de Matheus Henrique. Alçava bolas eventuais para Diego Souza fazer o pivô com a casquinha a Pepê ou Alisson. Mas era Jean Pyerre quem aparecia com espaço à frente dos zagueiros. Elegante na passada, o meia circulava com liberdade para acionar a ultrapassagem de laterais. Depois de assustar em duas cobranças de falta, Jean Pyerre achou Cortês pela esquerda. O cruzamento achou Diego Souza na área, que ajeitou para Alisson. O meia-atacante perdeu chance incrível à frente de Diego Alves. O Grêmio era superior de um Flamengo já irreconhecível. Passadas lentas, pouca mobilidade, fácil de ser marcado. Sem criação. O primeiro tempo sem gols já parecia lucro quando Pepê, veloz, puxou ao meio, tocou em Alisson e aproveitou a desorganização na defesa para infiltrar. João Lucas no meio da área, Rodrigo Caio na dúvida da cobertura. Pouca resistência dos volantes. A bola entrou ao lado de Filipe Luís e se ofereceu a Pepê. Na bomba, 1 a 0.

Fla ao fim: Vitinho como meia, Gabigol à direita, Bruno à esquerda

Um resultado justo para um Grêmio superior. Ao voltar do intervalo, Renato Gaúcho indicou à equipe a velha fórmula do contra-ataque. Seguro em um 4-4-2, os gaúchos tentavam explorar as bolas esticadas a Diego Souza para acionar os pontas. Em minutos quase provou a ideia perfeita. Diego Souza recebeu pelo alto na intermediária, tocou em Pepê e recebeu de volta na grande área. O atacante deu corte seco em Rodrigo Caio e bateu para fora. Enorme chance desperdiçada. Pois a partir de então o Grêmio, já com Lucas Silva no lugar de Maicon, diminuiu o ritmo. Deu passos atrás, trouxe o Flamengo a seu campo e assumiu o risco. Talvez até mesmo calculado. Este Flamengo atual está longe de ser fatal como o anterior. Passou a trocar passes laterais sem nunca ser agressivo. Da esquerda à direita, da direita à esquerda, um circular de bola ineficaz que lembrou os momentos derradeiros de Zé Ricardo, em 2017.

Grêmio ao fim: mais recuado, em busca do contra-ataque

Dome deixou clara sua predileção por um 4-3-3: sacou Everton Ribeiro e pôs Vitinho em campo. Abriu o camisa 11 de um lado, Gabigol na direita e pôs Bruno Henrique por dentro. Antes também já havia deixado claro o quanto ainda precisa conhecer melhor o elenco. João Lucas, lesionado, teve Renê, lateral-esquerdo, como seu substituto na direita, embora Matheuzinho estivesse no banco. O Flamengo seguiu a girar a bola na frente da área de um Grêmio recuado, sem finalizar. Gerson saiu e o Flamengo seguiu com três atacantes na entrada de Pedro. Bruno Henrique e Gabigol abriram aos lados com o centroavante centralizado. Vitinho deu passos atrás e basicamente alinhou como Arrascaeta como meia. O Flamengo ocupou o campo rival e só chegou ao empate num pênalti cedido infantilmente por Kannemann ao bloquear com o braço um chute de Vitinho. Gabigol pôs fim ao jejum de sete jogos sem gols e arrancou um ponto na marra.

Talvez mais estimulado nos minutos finais, o Flamengo encontrou maior fluidez e movimentação. Bruno Henrique, em péssima fase, acertou a primeira jogada pelo lado esquerdo com as características que o fizeram atingir outro patamar até março: velocidade e técnica. É um time que, em que pese o momento ruim físico e técnico, tem o mental um de seus grandes predicados. Trabalhava com a faísca da arquibancada que borbulhava o Maracanã, em um transe que levava à sinergia. Não é o que acontece em tempos de pandemia. Foi um Flamengo com maior posse* – 60% – mas menos finalizações (8 x 10) e desarmes (12 x 15). Não é mais Jorge Jesus, nem é ainda Domènec. Falta tempo para passar ideias. O catalão tenta seu esboço, apaga e rabisca de novo durante os jogos. O time ressente de jogadores em pleno vigor mental e técnico. Não pulsa mais, tão rubro-negro. O Flamengo perdeu muito de seu encanto. Entrou num estágio cinza.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X1 GRÊMIO

Local:
Maracanã
Data: 19 de agosto de 2020
Árbitro: Rafael Traci (SC – Fifa)
VAR: André Luiz de Freitas Castro (GO)
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Gabigol, Filipe Luís, João Lucas (FLA) e Diego Souza, Kannemann, Geromel (GRE)
Gols: Pepê (GRE),aos 44 minutos do primeiro tempo e Gabigol (FLA), aos 43 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, João Lucas (Renê, 9’/2T), Rodrigo Caio, Léo Pereira e Filipe Luís; Willian Arão, Gerson (Pedro, 35’/2T), Everton Ribeiro (Vitinho, 17’/2T) e Arrascaeta; Bruno Henrique e Gabigol
Técnico: Domènec Torrent

GRÊMIO: Vanderlei, Orejuela, Geromel, Kannemann e Cortês; Matheus Henrique (David Braz, 43’/2T) e Maicon (Lucas Silva / Intervalo); Alisson (Thaciano, 43’/2T), Jean Pyerre (Thiago Neves, 28’/2T), Pepê; Diego Souza (Isaque, 19’/2T)
Técnico: Renato Gaúcho

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