Do sábado de carnaval até a Quarta-Feira de Cinzas foram quatro dias para Cristóvão Borges analisar o que houve de errado no clássico diante do Flamengo. Mas pouco mudou. E a insistência quase custou caro. Não fosse uma lambança monumental do zagueiro Brunão, do Vila Nova, no fim da partida, o Vasco merecidamente jogaria sua sorte na Copa do Brasil nos pênaltis. Mas o placar fechou em 2 a 1 para os cariocas no Serra Dourada. Time classificado, alívio dos torcedores cruzmaltinos. Alívio de Cristóvão.
É compreensível o argumento do técnico do Vasco de que recebeu jogadores em pleno andamento da temporada. É difícil, mesmo, ajustar o equipamento com um avião em pleno voo. Mas vale ao menos tentar adaptar peças, mudar ideias que já não têm resultado. Ter alternativas para surpreender adversários. Pois o Vasco, com o desfalque de seu principal jogador, Nenê, foi a campo com o mesmo 4-2-3-1 de sempre. Andrezinho fez a faixa do lesionado camisa 10, centralizado. O restante do time, Wagner na esquerda, Kelvin pela direita, Thalles à frente, igual. Mazola Júnior, técnico do Vila Nova, deve ter sorrido.
Tinha pela frente um rival imutável. Pôs três defensores, recheou o meio com cinco jogadores, e às vezes seis, e um atacante. O Vasco travou. Tentava jogar, mas era muito bem marcado. Andrezinho não respirava. Wagner, no lado esquerdo, não tinha espaços. Um time lento, previsível. O lado direito, com Gilberto e Kelvin, desafogo nos últimos jogos, também foi bem anulado. Talvez por isso o gol vascaíno tenha saído em uma das poucas escapadas de Henrique pela esquerda. O lateral foi à ponta e bateu forte, rasteiro, para o meio da área. Thalles, de primeira, finalizou de pé esquerdo e fez um golaço. A bola ainda tocou no travessão. 1 a 0.
Mas, aos fatos: o Vila Nova era melhor. Ainda que tenha chegado ao gol, de Wallyson, em um pênalti muito contestável marcado por Vuaden, após a bola bater no braço de Gilberto na área em cruzamento de Jonathan. O primeiro tempo, então, terminou com o Vasco ciente de que era necessário mudar para sair da arapuca montada pelo Vila Nova. Marcação encaixa, antecipações, lados fechados. Pouco espaço e sem Nenê para tirar da cartola uma jogada individual ou um lance em bola parada. Provável, então, que o Vasco mudaria. Que nada.
O time voltou para o segundo tempo exatamente igual. 4-2-3-1, lento, absorvido pela marcação do adversário. Cristóvão dava razão às cornetas. Douglas trocava de lado com Jean. Mas a única mudança, ainda que tímida, eram as tentativas de chute de média distância. Diante de um bloco de cinco ou seis jogadores, restava ao Vasco um chute caprichado. Eles não chegaram. Diante da óbvia ineficácia, Cristóvão enfim mudou. Sacou Gilberto, amarelado, e pôs Pikachu na lateral. Andrezinho, inexpressivo, deixou o campo para Escudero, que entrou pelo lado direito. Kelvin saltou para a esquerda, em busca de espaço. Wagner foi para o meio. 4-2-3-1. O Vasco, inocentemente teimoso, se jogava na teia de marcação do Vila Nova. Lógico que não andou.
Era um jogo truncado, sem muitas chances. O Vila Nova dava a bola ao Vasco e o aguardava em seu campo, em busca de um bote para sair em disparada no contra-ataque. Cristóvão tentou a última cartada com Guilherme Costa na vaga de Kelvin. Escudero foi para a esquerda, Guilherme na direita. 4-2-3-1. Era um time previsível demais, sem inspiração individual, sem triangulações, com passes burocráticos. Até que…Thalles resolveu sair da área e cruzar a bola da esquerda na cozinha aos 39 minutos do segundo tempo. Sozinho, o zagueiro Brunão cabeceou para a própria área e deu praticamente um passe para Wagner, também de cabeça, tocar para o gol e livrar o Vasco do sofrimento dos pênaltis. Teimoso, previsível, com o mesmo sistema, o Vasco avançou. Mas a teimosia quase custou muito caro. É hora de buscar alternativas.
FICHA TÉCNICA:
VILA NOVA 1X2 VASCO
Local: Serra Dourada, em Goiânia (GO)
Data: 01 de março de 2017
Horário: 21h45
Árbitro: Leandro Vuaden (RS)
Público e renda: 14.698 pagantes / R$ 296.230,00
Cartões amarelos: Thalles, Gilberto, Henrique e Rodrigo(VAS) e Everton e Alemão (VIL)
Gols: Thalles (VAS), aos 15 minutos e Wallyson (VIL), aos 30 minutos do primeiro tempo e Wagner (VAS), aos 39 minutos do segundo tempo.
VILA NOVA: Wendell; Wesley Matos, Alemão e Brunão; Maguinho, Fagner, Billy, Everton (Serrato, 20’/2T) e Jonathan (Patrick Leonardo, 42’/2T); Moisés (Hiroshi, 36’/2T) e Wallyson
Técnico: Mazola Júnior
VASCO: Martín Silva; Gilberto (Pikachu, 14’/2T), Rodrigo, Luan e Henrique; Douglas e Jean; Kelvin (Guilherme Costa, 30’/2T), Andrezinho (Escudero 14’/2T) e Wagner; Thalles
Técnico: Cristóvão Borges