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Vinicius e a saudade do que a gente não viu

Vinicius Junior Flamengo despedida Maracanã 2018

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Vinicius Junior beijo camisa Flamengo 2018

(Gilvan de Souza / Flamengo)

O apito final soa. Fim. Não só de um jogo. Talvez de uma vida. Breve vida. Pintada de vermelho e preto. O guri olha para trás, olhos arregalados. Parece que alguém o chama. uma voz, em um tom, lá no fundo. Agora, sem a eletricidade do jogo, ele ouve. Claramente. “Fica, Vinicius!”. Há pouco tempo era apenas mais um deles ali, aos berros na arquibancada. Beija a camisa. Então ele se esquece. Em nada parece o jogador ousado que, tão novo, já causa temor aos adversários. Entrega-se. Balança os braços. É mais um entre tantos. Todos, menos alguns. Ah, que saudade.

Então ele se convence. Geralmente sorridente, boca escancarada, está mais sério. Caminha lentamente em direção a eles. “Fica, Vinicius!”. Ele tira a camisa, indica que parte dele, certamente, vai ficar ali. Agora. Na mão de alguém. Sobe as escadas lentamente, causa eletricidade, levanta a arquibancada como um drible seco. E se joga aos abraços. Não conhece ninguém. Mas, sim, conhece todos. Reconhece-se. Antes de ser do Ninho é cria da arquibancada, moleque. Ah, que saudade.

Vinicius Junior Flamengo 2018 Maracanã

(Gilvan de Souza / Flamengo)

A garota sobre seu ombro sorri, incrédula. Mãos passeiam sobre sua cabeça. Orgulho de quem compartilha genuinamente a alegria de ser rubro-negro. “Fica, Vinicius!”. Entorpecido, ele não enxerga mais nada. Desce a escada, anda cambaleante pela mureta do Maraca. O pedido agora é literal. Fica. Neste momento. Só mais um pouco. Braços se esticam e o agarram. Segura crianças, posa para selfies. A camisa não é mais a 20. Tem o 12 atrás. A torcida encarnada. O microfone chega. A voz embarga, o choro é mais forte. Que é isso, moleque? Ah, é saudade.

As lágrimas escorrem enquanto as palavras saem. Queria ficar, mas o futuro lhe chama. Queria um título, mais uma explosão nos braços da massa, mais um drible, mais um gol. Mais, mais, mais. Hoje foi quase. Ali, na mesma faixa de campo que estreou há um ano, ainda com o uniforme desengonçado no corpo. Faltava tanto. Não falta mais nada. Os precoces são assim. Vivem tanto em tão pouco tempo. A alegria, a língua para fora, a dancinha. O jeito de moleque. Mais um entre tantos, a ponte entre campo e arquibancada. Tinha tanto ainda para realizar. As lágrimas escorrem, o peito aperta. Um menino que preencheu o Maracanã tão rapidamente deixa um vazio. Que é isso, moleque? É saudade. De tudo que a gente ainda não viu.

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