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Xerém virtual: da terceirona inglesa à Champions sem gastar um centavo no FIFA

Quem joga FIFA no modo carreira, sabe que chega um momento em que perde a graça. Você monta timaços, faz dinheiro e não tem mais quem contratar, então acaba brincando de sheik árabe pagando mais do que o justo por qualquer jogador de nome. Fiz isso com o Borussia Dortmund até que cansei. Decidi, então radicalizar. Começar uma nova carreira com o AFC Wimbledon, time da League One, a terceira divisão inglesa. E com uma dificuldade adicional: resolvi que não contrataria ninguém. Subiria com o time sem gastar dinheiro. Sem transferências. Usaria o elenco atual do clube e desenvolveria jovens talentos peneirados pelos olheiros. Seria minha própria Xerém virtual.

Difícil? No nível “world class”? Sim. E por que na terceira divisão? Porque o AFC Wimbledon é minha paixão inglesa, como escrevi neste texto, e seria bacana demais ver gente como o capitão Barry Fuller, George Francomb, Jake Reeves e meu atacante preferido, Lyle Taylor (aquele que fez um golaço contra “eles”), jogando e, quem sabe, sendo competitivos na Premier League.

Sucesso logo de cara

O começo não foi nada tenso. Não, o AFC Wimbledon não é o melhor time da League One, mas consegui encontrar um jeito de fazer o time ser eficiente e ganhar partidas. Logo, assumi a liderança da tabela e abri vantagem. Só que o maior desafio logo de cara nem era esse. Era preciso pensar em longo prazo. Mandar os olheiros para África, América do Sul, Leste Europeu, etc. e tal em busca de talentos. O elenco do Wimbledon já tinha alguns titulares na casa dos 30 anos e seria preciso substituí-los em breve. Essa era uma parte importante do plano de 5 anos que eu tinha em mente.

Outra era desenvolver os talentos já na casa. O problema é que quando você contrata um juvenil no FIFA, seu olheiro te diz mais ou menos o potencial dele. Quando o atleta já faz parte do elenco, não há como saber. Decidi (sabiamente, mas eu só saberia mais tarde) trabalhar os mais jovens. Entre eles, o veloz atacante Olutoyosi Olusanya, o zagueiro Will Nightingale e o goleiro Joe McDonnell. Todos viraram titulares cedo ou tarde. Mais tarde viriam reforços achados pelos olheiros em suas viagens pelo mundo, mas a primeira temporada foi basicamente com a prata da casa.

O título da League One só veio na última rodada. O time precisava ganhar do Peterborough para não depender do resultado do Charlton, que vinha colado, em segundo, na tabela. Saí atrás no placar e, no segundo tempo, coloquei Olusanya, com esperança de que sua velocidade bagunçasse a defesa adversária. Pois o garotão balançou as redes duas vezes em três minutos (o vídeo abaixo mostra) e garantiu o caneco. Em 2016-17, meu AFC Wimbledon ganhou a League One e foi até as semifinais da Copa da Liga, sendo eliminado em dois jogos pelo Chelsea. Campanhas respeitáveis, mas era só o começo do desafio. A parte mais fácil, diga-se de passagem.

 

Vendas na pré-temporada

Se tem uma coisa que eu não gosto, é jogador reclamão. Por isso, vendi três jogadores antes da temporada 2017-18. James Shea, insatisfeito com a perda da vaga para McDonnell; o meia-esquerda Andy Barcham, que pedia mais tempo de jogo; e Tom Soares, meia chato que caía de rendimento com a idade. Como eu não contrataria ninguém, o dinheiro não me serviria para nada a não ser agradar à diretoria. Quanto maior o lucro, maior a felicidade deles. Além disso, havia um objetivo financeiro, que era terminar o ano com X milhões (agora não lembro o valor) e eu cumpriria com facilidade. Deu até para contratar um olheiro melhor e bancar todas as viagens dos scouts o ano inteiro.

O ano no Championship foi duro. Se a defesa estava mais forte, graças à evolução de McDonnell e Nightingale, além da contratação de um lateral direito, o ataque sofria. Empatei muito. O time teve até uma sequência boa de vitórias, mas nunca esteve perto da classificação direta para a Premier League. Passei a maior parte da temporada em quinto. Com problemas para vencer e subir, meu trabalho como manager passou a ser treinar e fazer o elenco evoluir com a esperança de chegar com o time forte no fim do ano e tentar a ascensão via playoffs. Aproveitei todos os treinos ao máximo, sempre puxando mais pelas características mais necessárias para cada posição e o estilo de jogo que mais funcionava nas partidas.

O plano funcionou gloriosamente. Também ajudou não ter ido longe em nenhuma copa. Sofri uma eliminação precoce diante do Reading (nos pênaltis) na Copa da Liga e caí cedo diante do Manchester City na FA. Mas meu AFC Wimbledon perdia pouco, seria um adversário duríssimo no mata-mata, ainda mais sem desgaste por acúmulo de competições. E assim foi. Ganhamos os dois jogos das semifinais e fomos a Wembley em busca do lugar na Premier League. A final foi a partida mais aberta e insana de minhas três temporadas: 6 a 2 em cima do Wolverhampton Wanderers. Classificação garantida: AFC Wimbledon na Premier League.

Na elite

A temporada da Premier League 2018-19 foi surreal. Comecei com um time que não tinha um jogador sequer com overall acima de 75 e alguns titulares ainda abaixo de 70. Não tinha como não pensar “vou jogar pra não cair”. A ideia era jogar fechadinho, aproveitando um contra-ataque ou outro, embora meu time não fosse veloz o bastante pra isso. Mas não tinha muita opção.

A sorte é que a tabela ajudou. Os primeiros jogos foram contra Swansea, Crystal Palace, Watford, Newcastle e Burnley. Ganhei do Liverpool na sexta rodada e só fui perder na sétima, para o Leicester. A essa altura, já com 14 pontos na conta, dava pra pensar em ficar no meio do bolo. Se tudo desse certo, muito certo mesmo, talvez uma vaguinha na Euro. No cenário os sonhos, a Champions.

Mas aí vieram os jogos difíceis. Foi quando eu percebi que a minha zaga segurava a onda contra os cachorrões. O segredo? Fui eu que desenvolvi os zagueiros, então eles eram muito bons na marcação. Ruins em chutes a gol, com pouca ginga e péssimos em passes longos (não dá tempo de desenvolver tudo em duas temporadas, né?), mas ótimos no mano-a-mano, excelentes em desarmes de pé.

Do meio para a frente, sem a velocidade que eu gosto, a solução foi apostar em muito toque de bola e movimentação. Descobri que funcionava bem começar jogadas pelas laterais, ainda na intermediária, e encher aquela parte do campo de jogadores (usei bastante o R1!), atraindo a marcação, para depois achar um espaço com um meia penetrando pelo meio (o L1 funcionava bem para isso). Assim, enfiei 2 a 0 no Everton, 1 a 0 no United, perdi de 2 a 0 pro Chelsea e bati o Arsenal por 2 a 1 numa das copas. Assumi a liderança da liga. Dava pra sonhar com o título, ainda que nem na metade da temporada. Estávamos em novembro.

 

Sem goleiro na janela de transferências

Na reserva, Joe McDonell, então overall 73, pediu para sair. Como meu titular, o alemão Albert Graf, crescia e já passava de 75 com 17 anos, aceitei. Vendi. Logo ofereci contrato ao arqueiro uruguaio que estava na base. Mas foi aí que o game me aprontou. Graf sofreu uma concussão num treino e ficaria dez dias sem jogar. A próxima partida era no dia seguinte, e Olivera, o uruguaio, ainda não havia assinado. Fui para um duelo da FA sem goleiro. Escalei o zagueiro Will Nightingale para a posição. A ideia era jamais deixar que o adversário chutasse ao gol. Por sorte, o oponente era o fraco Rotherham, da League One. Ganhei por 2 a 0, sem permitir um chute.

A falta de meu goleiro titular, contudo, custou no jogo seguinte, contra o Arsenal. Olivera ainda era overall 55. Os Gunners mandaram duas bolas no gol. Venceram por 2 a 0. Paciência. Graf retornou no jogo seguinte, e o time voltou a vencer.

A seca na reta final

A coisa ficou dramática em abril. Meu AFC Wimbledon liderava a PL com nove pontos de vantagem a nova rodadas do fim. O time parecia embalado pra levantar o troféu sem drama. Bobagem. Foi quando o ataque estagnou. Sabe aquela fase em que seu atacante perde gol feito, o goleiro adversário faz milagre, a bola bate nas duas traves e sai? Esse momento veio. E com um ataque sem grandes valores individuais, não tinha para quem apelar.

Até então, eu confiava no jogo coletivo com dois meias de boa movimentação e pulmões invejáveis: Jake Reeves, o motor do time, a essa altura com overall 72; e Simon Nuñez, argentino que saiu da base e se desenvolvia rápido, nesse momento com overall 77. Era ele o dono do meio de campo. Bom finalizador e passador, mas sem grande velocidade. Só que, na fase ruim, eles não conseguiram brilhar. E não dava para meu centroavante, o limitado Tom Elliot (artilheiro do clube real em 2016-17), overall 71, compensar. Lyle Taylor saía do banco e quase nada fazia.

Perdi do Southampton por 1 a 0 e empatei com Stoke City, Burnley, Aston Villa, Everton e Leicester. Seis jogos sem fazer um golzinho. A vantagem na tabela evaporou. Arsenal empatou (com um jogo a mais), Tottenham e United colaram, Chelsea corria por fora três pontos atrás. Faltavam três rodadas quando um pequeno milagre aconteceu. O ataque desencantou: 3 a 0 no Chelsea, com gols de Reeves e Nuñez. Os outros resultados do dia também ajudaram. No fim das contas, o AFC Wimbledon só precisava de um ponto para ser campeão, e o próximo jogo seria em casa contra o West Brom.

O time jogou nervoso, cauteloso. Perder ali significaria buscar o pontinho que faltava em Old Trafford na última rodada. Não era o cenário ideal. A partida inteira foi tensa. Até que Reeves saiu do banco e, aos 84, fez o gol do título (veja no vídeo abaixo). Foi épico, histórico, mitológico. O time do povo, que não fez uma contratação sequer em três anos, saiu da terceira divisão e conquistou a liga mais cara do planeta. Um novo gigante. Minha Xerém virtual era gloriosa. A torcida em Plough Lane gritava sem parar o nome do manager. Dava pra ver cartazes com os dizeres “Courageous Cossenza” e “Amazing Alexander”. Pelo menos era o que eu via na minha cabeça enquanto comemorava o título abrindo uma Hoegaarden.

 

Notinhas da prancheta:

– Moral da história? Dá para ir longe no modo carreira de FIFA 17 sem ter dinheiro. É preciso paciência, usar todos os treinos possíveis e priorizar, sabendo suas necessidades. Não adianta treinar um zagueiro para sair jogando ou para ser mais ágil se ele ainda não é o melhor marcador possível.

– Não sei se foi coincidência ou se o jogo é programado para isso, mas consegui encontrar moleques bons nos lugares mais óbvios. Um goleiro alemão e outro uruguaio, um zagueiro espanhol e outro uruguaio, um ponta e um volante nigerianos, outro ponta brasileiro e um meia argentino. Nem sempre encontrei promessas nas posições que eu queria, mas também não tive dinheiro para contratar os melhores olheiros do mundo.

– Para matar a curiosidade de alguns, a folha salarial desse time campeão da Premier League era de US$ 43 mil por semana. Craques como Messi e Cristiano Ronaldo, na mesma época, recebem por volta de US$ 500 mil no FIFA 17.

– Deixo aqui a lista completa dos garotos que criei na base, com os ratings ao fim da temporada 2018-19. Seis deles – Graf, Sandoval, Godin, Bakare, Nuñez e Castro – foram titulares na campanha do título. Quase todos os outros eram reservas que entravam com frequência.

Time principal:
Albert Graf (GER), GK, overall 80, 18 anos
Feliciano Sandoval (ARG), RB, overall 74, 19 anos
Luis Godin (ESP), CB, overall 76, 17 anos
Christopher Bakare (NIG), CDM, overall 75, 20 anos
Simón Nuñez (ARG), CAM, overall 78, 18 anos
Leonardo Castro (BRA), LW, overall 74, 17 anos
Darlington Awazie (NIG), RW, overall 75, 17 anos
Igor Cardoso (BRA), CM, overall 71, 17 anos
Plácido Olivera (URU), GK, overall 60, 16 anos
Erik Jönsson (SWE), RW, overall 65, 17 anos
Rubén Benitez (URU) CB, overall 68, 17 anos
Lucas Martensson (SWE), overall RB, 59, 19 anos
Stéphane Ndiaye (IVC), overall LB, 66, 16 anos
Fabricio Masana (SPA), overall RM, 69, 18 anos

Ainda na base:
Julio Fuentes (URU), LB, overall 65, 16 anos
Emil Lundberg (SWE), CM, overall 60, 16 anos
Grigoriy Petrakov (RUS), LM, overall 63, 17 anos

– Como dá para ver, em três anos meus olheiros não encontraram um centroavante com grande potencial. Algo me diz que vai ser duro encarar a Champions com Tom Elliot ou Lyle Taylor na grande área adversária, mas isso é uma história para, quem sabe, outro post.

– E se você ainda acha que isso se trata de uma obra de ficção, aqui está a imagem da tabela de classificação final da Premier League.

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