(Flamengo / Adriana Fontes)
Antes de mais nada é fundamental dizer: seria impossível fazer uma análise de Flamengo x Atlético-MG sem passar pela desastrosa arbitragem de Ramon Abatti Abel. Ainda que o time rubro-negro tenha vencido por 1 a 0, o impacto do apito foi evidente diante de tantos erros crassos. Nem adianta você, nobre leitor deste espaço, tentar acusar este escriba disso ou daquilo. Não traçar linhas sobre a arbitragem ao abordar o jogo seria desonesto. E aqui não é lugar para isso. Pois enfim. O Flamengo venceu o Atlético-MG em jogo pegado, um tanto quanto copeiro, e abraçou de novo a liderança do Brasileiro. Vitória com característica importante.
Não se trata aqui de dourar a pílula para uma atuação, de fato, abaixo do time rubro-negro. Mas em um campeonato de pontos corridos, numa longa procissão, há vitórias e vitórias. Arrancar três pontos fundamentais em um embate duro como o deste domingo foi valioso. Pois o Flamengo de Filipe Luís estava lotado de desfalques. Sem dois laterais pela esquerda – Alex Sandro e Ayrton Lucas – De La Cruz, Pulgar, Danilo e, por que não?, Wesley, recém-negociado. A tentativa, sempre, é se impor. Mas foi uma noite atípica não só pelos desfalques, mas por alguns erros excessivos do sistema defensivo inicialmente.
O Flamengo foi a campo no 4-4-2, que por vezes alterna ao 4-2-3-1, com Pedro e Bruno Henrique como atacantes, Plata e Arrascaeta pelos lados, mas em busca do centro. Viña na lateral esquerda. O time tinha mais volume, como esperando, e tentava atacar por dentro. Do outro lado, um Atlético-MG claramente à espera do contragolpe em um 5-4-1, com Scarpa e Menino abertos e na volta para formar a defesa, Cuello e Rony nos lados à frente para tentar acionar Hulk e a busca incessante por bolas longas às costas, especialmente, de Viña. O Flamengo mostrou dificuldades com a linha de cinco. Tentava o toque mais aproximado por dentro, sempre de maneira mais direta, sem rodar a bola de um lado a outro. Acabou surpreendido em algumas oportunidades.
Em erro de Viña, indeciso, Rony só não abriu o placar graças a um rápido raciocínio de Varela, que o induziu a um canto e fechou o outro. Mas era uma defesa confusa. Hulk tentava circular atrás dos volantes e acionar as pontas. O jogo duro, pegado de parte a parte permitia pouco espaço para criação. O Flamengo, já com problemas notórios neste quesito, foi ainda mais tímido. Arrascaeta pouco rendia ao buscar o meio e ter Alan Franco colado em cada movimento. Jorginho, porém, sobressaía mais uma vez. O volante comanda o meio de campo com rara habilidade. Sabe ditar o ritmo, buscar atalhos para antecipações, pressionar, tem o passe certo e, com a experiência, dosa energia para evitar o desgaste. Coube ao Flamengo, então, tentar as bolas esticadas. Em uma delas, Bruno Henrique acabou empurrado na área por Afonso e Ramon Abatti ignorou. O erro mais grave do árbitro, porém, veio posteriormente.
Linda enfiada de bola de Jorginho para Plata. O equatoriano era o tempo todo acompanhado por Fausto Vera, onde quer que fosse. Ao tentar o domínio acabou atropelado pelo argentino. Falta clara, mas fora da área. Plata ficaria frente a frente com Everson, teria a oportunidade de arremate com a perna canhota, a preferida. E Alonso mal teria tempo de alcançá-lo não fosse a falta. Ramon Abatti assinalou pênalti. Um erro crasso transformado em outro ao ser chamado pelo VAR. Falta fora da área, mas apenas cartão amarelo para Vera. Plata tinha a clara e manifesta chance de gol, sem outro adversário possível a fazer a cobertura de Vera. O jogo acabou direcionado pelo apito. Sem a expulsão, o Atlético-MG passou a segurar a pressão rubro-negra no entorno da área. Arrascaeta ainda foi derrubado em lance, mas de fato não houve pênalti neste lance.
Aí vale mais um parênteses sobre Ramon Abatti Abel. Elogiadíssimo sem motivos no Mundial, o catarinense insiste em erros demasiados para quem supostamente está no topo do apito nacional. Marca faltas a qualquer contato, impede a marcação de pressão, é incoerente nas escolhas e interefere no andamento da partida. Enerva os jogadores. Filipe Luís e Cuca sabiam bem. Tanto que, no intervalo, sacaram seus amarelados. Allan pelo Flamengo e Fausto Vera pelo Galo. O segundo tempo veio com panorama bem parecido.
Faltava ao Flamengo maior agressividade para arrematar ao gol atleticano. É um time que espera sempre o último toque, evita finalizações à distância. O ataque buscava a alternância constante de posições entre Bruno Henrique, Plata, Arrascaeta. O time de Cuca ainda mantinha a linha de cinco e priorizava as esticadas para Rony e Cuello. Seguia com as marcações individuais em Arrascaeta e Plata. De certa forma conseguia êxito na ideia. Travava os cariocas e tentava escapar. Filipe Luís, então, optou por mexer no time e dar agressividade. Wallace Yan na vaga de Plata, Luiz Araújo na de Arrascaeta. O menino é o verdadeiro fio desencapado. Utiliza a provocação como arma, tenta tirar os rivais no jogo mental. E é sempre objetivo. Provavelmente vai pagar em algum momento pelo jeito explosivo. Mas, na essência, o Flamengo necessita vez e outra de uma faísca como a do número 64. Pelo lado esquerdo passou a pressionar os atleticanos e a tentar o arranque pelo setor.
O Atlético-MG acabou dando passos atrás. Desta vez não por opção. Era empurrado por um Flamengo mais pulsante e revitalizado. O gol de Léo Ortiz saiu em uma cobrança de falta sofrida justamente por Wallace Yan. Na bola parada o Flamengo tem sido fatal. No lance, Ramon Abatti cometeu mais um erro ao ignorar o segundo amarelo de Saravia. Cuca, de novo, leu o panorama e foi ágil. Sacou Saravia, além de Rony e Cuello. Já havia colocado Júnior Santos à direita para tentar forçar o jogo em cima de Viña, ainda em recuperação física. Filipe entendeu e pôs Juninho para fechar o setor. Em seguida, sacou Viña, pôs Cleiton como lateral, jogou Juninho ao meio e trouxe Luiz Araújo à esquerda. O Flamengo tinha velocidade para sair e chamou o Atlético, que recusou o convite ainda que com jogadores mais ofensivos.
Uma vitória justa pelo que se viu em campo. O Flamengo, sim, pode mais. Diante dos desfalques e do consequente desgaste de quem entra em campo repetidamente – Jorginho, por exemplo – conseguiu uma solução para sair vitorioso. Mas deve melhorar diante de times muito fechados, o que tem sido rotina no Maracanã. O Atlético-MG, em semana difícil, até competiu. Mas também mostrou pouco para quem investe tanto e pensa em grandes momentos na temporada. 61% de posse rubro-negra, 16 finalizações contra 13 e 502 passes trocados contra 301*. O Flamengo é, de novo, o líder do Brasileiro. A procissão é longa. E, por vezes, é preciso vencer como possível para superar o rival e uma arbitragem tão catastrófica que, talvez com erros a favor de time tão badalado, seria pauta principal e motivo de escândalos durante toda semana.
*SofaScore
FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X0 ATLÉTICO-MG
Data: 27 de julho de 2025
Local: Maracanã
Árbitro: Ramon Abel Abatti (SC – Fifa)
VAR: Marcio Henrique Gois
Acréscimos: 5’/1T e 5’/2T
Público e renda: 51.345 pagantes / 54.550 presentes / R$ 3.222.755,00
Cartões amarelos: Allan, Pedro, Viña (FLA) e Everson, Hulk (ATL)
Gol: Léo Ortiz (FLA), aos 29 minutos do segundo tempo
FLAMENGO: Rossi, Varela, Léo Ortiz, Léo Pereira e Viña (Cleiton, 32’/2T); Allan (Evertton Araújo / Intervalo) Jorginho, Arrascaeta (Luiz Araújo, 16’/2T) e Plata (Wallace Yan, 16’/2T); Bruno Henrique e Pedro (Juninho, 32’/2T)
Técnico: Filipe Luís
ATLÉTICO-MG: Everson, Saravia (Igor Gomes, 33’/2T), Igor Rabello e Junior Alonso; Alan Franco, Fausto Vera (Natanel / Intervalo), Gabriel Menino (Júnior Santos, 22’/2T), Cuello (Bernard, 33’22T), Gustavo Scarpa e Rony (Biel, 33’/2T); Hulk
Técnico: Cuca