Plata Flamengo Internacional 17ago2025
Muito superior, Flamengo dá baile no Inter e faz vitória no Beira-Rio parecer normal
18 agosto 17:08

No caminho da História: Flamengo, exuberante, atropela Vitória em noite eterna

Pedro Flamengo Vitória goleada Maracanã Brasileiro 2025

(CR Flamengo / Adriano Fontes)

Samuel Lino Flamengo Vitória 2025

(CR Flamengo / Adriano Fontes)

Há momentos em que a História, assim mesmo, em caixa alta, se apresenta diante dos olhos. Um momento em que de repente o tempo parece paralisar como se sublinhasse no roteiro da vida um momento marcante. O time de 2019 do Flamengo teve vários. O de 2025 começa a colecionar os seus. Depois do baile em Porto Alegre diante do Internacional, o avassalador resultado contra o Vitória ganhou um lugar na prateleira. 8 a 0 de forma magnífica, irretocável e que diz mais sobre o futuro do que sobre o presente.

Conquistar a torcida do Flamengo é desafio dos mais difíceis atualmente. O rubro-negro, exigente por si só, deseja vencer, mas também convencer. É uma espécie de orgulho implícito à alma flamenguista. É preciso apresentar a todos uma maneira envolvente de jogar futebol. Em 2019, a conquista começou em um fulminante 6 a 1 sobre o Goiás no Maracanã. A goleada desta segunda, por si só, já é histórica. Mas vai além. É a sedução de qualquer arquibaldo que ainda desconfiava a capacidade da equipe de Filipe Luís.

Flamengo no primeiro tempo: espaços, fluidez, volantes a mil

Já diria o saudoso Washington Rodrigues, o Apolinho, que o Flamengo é um gigante que se alimenta de vitórias. A fome estava insaciável. Pois com três minutos de jogo o Flamengo já tinha o triunfo sacramentado. 2 a 0. Mas desejava mais. Sedento por jogo, o time continuou voraz e letal. 8 a 0 foi consequência de uma noite em que tudo deu certo. Filipe Luís levou o time a campo no 4-2-3-1, Arrascaeta atrás de Pedro, Samuel Lino e Plata nas pontas. Mais atrás, a dupla que se entende por música. Jorginho e Saúl. O jogo é especialmente por dentro. Pela bola se luta a qualquer instante. Pressiona, retoma e tenta finalizar a jogada. Bastaram dois lances assim. Recuperação por dentro, Lino à esquerda e chute entre os zagueiros. 1 a 0. Saúl de primeira depois da bola rifada pelo meio. Pedro no domínio e tranquilidade. 2 a 0.

Vitória no início: Pepê perdido, Lucas Braga ainda mais e fartos espaços

O Vitória, em um 4-1-4-1, dava fartos espaços. Pior: desfalcado, improvisou Lucas Braga na lateral direita. Espaços para atacar com falta de cacoete para marcar. Combinação explosiva. Samuel Lino, exuberante, não indica o lado preferido ao avançar com a pelota. Corta para o centro, para a fora, tenta o drible por entre as pernas. O Flamengo pressionava e desfilava. Arrascaeta brincava às costas de Pepê. Tudo parecia fácil. Reflexo de um time tão bem encaixado como este Flamengo. Que vibra, pulsa, finaliza e encanta a partir do conforto de seus onipresentes volantes.

Em 2019, o time rubro-negro teve um salto absurdo de qualidade e, consequentemente, de patamar, ao contratar dois laterais muito acima da média. Rafinha e o hoje técnico Filipe Luís. Construíam o jogo, acalmavam os companheiros, controlavam a linha defensiva com maestria. Em 2025, o fenômeno se repete nos volantes. Jorginho e Saúl encaixaram de tal maneira que é difícil apontar química tão bem vista. Jorginho faz mais o primeiro volante, volta aos zagueiros para iniciar o jogo. Entende cada centímetro do campo. Induz, com ginga de corpo, o adversário a outro lado. Vê a jogada rival brotar e se antecipa a impedi-la.

A tranquilidade do Camisa 21 encontra harmonia em Saúl. Canhoto, forte e com passe primoroso, o espanhol faz a bola girar e, ao mesmo tempo, sustenta a posse com sabedoria. Os passes, preferencilamente, são verticais, por dentro depois de mapear o campo inteiro com o olhar. No entendimento entre ambos o Flamengo se sobressai. O jogo acelera, com toques de primeira, e encontra em Arrascaeta o complemento ideal. Um time que tem prazer em jogar, em valorizar o coletivo que potencializa o individual.

Com predileção por toques de primeira e triangulações, o Flamengo envolveu o Vitória como quis. Dosava o ritmo de acordo com a necessidade. Nos passes rebuscados, com as famosas notas artísticas de Jorge Jesus, o time chegou à pintura do terceiro gol. Toques de calcanhar, de ombro. Plata e Arrascaeta dentro da área com Pedro e Lino. A bola da direita à esquerda. E o chute fatal. Os aplausos da arquibancada tinha total sentido. O Flamengo, leve, engolia como queria o adversário.

Mesmo pressionado e já com o jogo perdido, o Vitória insistiu em dar espaços. Pepê, perdido à frente da defesa, não conseguia acompanhar o circular da bola. E Lucas Braga…vigiava Lino de longe. Tempo e espaço para o atacante pensar entre a finalização e o passe para gol. Assim, livre, Lino foi fundamental para o fulminante Flamengo ser tão letal no início do segundo tempo como fora no primeiro. Primeiro serviu Pedro. Depois completou de cabeça, como um centroavante, o cruzamento de Varela. O entendimento era muito claro. Luiz Araújo, na vaga de Plata, induzia o fundo e tocava a Jorginho mais atrás. Varela ultrapassava para receber de novo de Luiz Araújo. O Camisa 7, aliás, também surgiu na área para finalizar como centroavante. 4 a 0. Confortável.

Fla no fim: trocas, mas mesma intensidade e busca pela vitória

A superioridade tática pelo meio e também pela esquerda tornaram o jogo fácil ao Flamengo. Mas era um dia além. Perfeito. As individualidades pulsavam. Tudo era acerto. Pedro, exuberante, de novo recebeu de Lino dentro da área. Espaços fartos. Arriscou o elástico em cima de Lucas Halter e conseguiu o toque de classe sublime. Moralmente o Vitória estava acabado. Da mesma maneira Pedro está recuperado. As duras palavras de Filipe Luís permitiram ao atacante refletir. É hoje um Pedro mais participativo, combatente. A pressão ao adversário resulta em gols. Três só na mesma partida. Um Flamengo que já alternava ao 4-4-2 lu até 4-2-4 com Arrascaeta como segundo homem do ataque.

Vitória ao fim: tentativa de fechar o centro, mas moralmente abatido

Sufocado, o Vitória não conseguia sair do campo defensivo. Carille tentou Osvaldo na vaga de Erick, foi ao 4-4-2 e tentava bloquear mais o centro do campo. Em vão. A superioridade era, além de tudo, mental. Atônito, o time baiano não sabia como conter os avanços e as triangulações do Flamengo. O jogo bem construído a partir da defesa. Estava inerte. Com o calendário mais folgado, os mandantes não tiraram o pé. Talvez fariam o oposto em caso de novo jogo em três dias. Tanto que “apenas” mais um gol chegou a ser surpreendente. De pênalti, com Bruno Henrique em sua cobrança mais caprichada desde que chegou ao clube. Noite épica.

A nação, embriagada por uma noite dos sonhos, fazia pulsar o Maracanã e relembrar os mais belos momentos do ato de ser torcedor. Cantar, vibrar e assistir ao time em um desfile com misto de beleza, fúria e capricho. Um Flamengo com 73% de posse de bola, 20 finalizações e 770 passes trocados*. A maior goleada da era de pontos corridos nasceu no pontapé inicial e ganhou contornos para sempre. O caminho é longo, tortuoso. Mas não é nem um pouco de exagero dizer que este Flamengo já caminha na direção da História.

*Números Sofa Score

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 8X0 VITÓRIA

Data: 25 de agosto de 2025
Local: Maracanã
Árbitro: Felipe Fernandes de Lima (MG)
VAR: Marco Aurelio Fazekas Ferreira (MG)
Acréscimos:
Público e renda: 57.249 pagantes / 60.642 presentes / R$ 3.099.165,00
Cartões amarelos:
Gols: Samuel Lino (FLA), a um minuto, Pedro (FLA) aos dois minutos e Arrascaeta (FLA), aos 31 minutos do primeiro tempo e Pedro (FLA) a um minuto, Samuel Lino (FLA), aos quatro minutos, Luiz Araújo (FLA), aos oito minutos, Pedro (FLA), aos 13 minutos, Bruno Henrique (FLA), aos 34 minutos

FLAMENGO: Rossi, Varela, Léo Ortiz, Léo Pereira e Alex Sandro (Viña, 23’/1T); Jorginho e Saúl (De La Cruz, 24’/2T); Plata (Luiz Araújo / Intervalo), Arrascaeta (Carrascal, 17’/2T) e Samuel Lino (Bruno Henrique, 17’/2T); Pedro
Técnico: Filipe Luís

VITÓRIA: Lucas Arcanjo, Lucas Braga, Lucas Halter, Zé Marcos e Ramon; Pepê; Erick (Osvaldo, 13’/2T), Ronald (William Oliveira, 14’/2T), Wendell (Ricardo Ryller, 21’/2T) e Aitor (Edu, 21’/2T); Renato Kayzer
Técnico: Fábio Carille