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Individual sobre coletivo: Flamengo vira contra Botafogo no brilho de Bruno Henrique

Bruno Henrique Gabigol Flamengo estreia 2019 Botafogo

(Flamengo / Divulgação)

Flamengo Bruno Henrique gol estreia 2019 Botafogo

(Flamengo / Divulgação)

Basta um olhar nas substituições do clássico. Zé Ricardo lançou a campo Lucas Barros, Alan Santos e Rodrigo Pimpão. Abel se deu ao luxo de poupar Arrascaeta e utilizou Gabigol, Piris da Motta e a estrela do jogo, Bruno Henrique. A diferença talvez nunca tenha sido tão grande, no papel, entre o Flamengo e seus rivais no futebol carioca, não apenas o Botafogo. A virada de 2 a 1 passa muito por aí: superioridade técnica. A individualidade do Flamengo superou o coletivo do rival. É bom, mas é ruim. É ruim, mas é bom. O desafio é alcançar o equilíbrio. Coletivo forte com individualidades a pleno vapor.

Botafogo no início: fechado, com poucos espaços e buscando os lados

Há, porém, um caminho a trilhar. Leva tempo. Peças novas, outras equipe e mentalidade. Estamos apenas no terceiro jogo oficial da temporada, o segundo com a maioria dos titulares. A mudança é gradual. Por enquanto, Abel optou por manter praticamente o mesmo time de 2018, exceção naturalmente à zaga. 4-1-4-1, Vitinho à esquerda, Everton Ribeiro à direita e a leve pitada de 2019: Willian Arão mais à esquerda, Diego mais à direita. Diante disso, o time incorporou o espírito da última temporada. Jogou um bom futebol, com trocas de passe, farta posse de bola, girando de um lado ao outro. O lado positivo. Mas, também, incorporou o negativo: era pouco agressivo. Nada agudo, de um lado a outro do campo, incomodando pouco um rival que protegia bem os lados do campo, impedindo tentativas de triangulações ou enfiadas de bola. A rigor, houve uma chance clara rubro-negra: um desarme de Cuellar em Jean, esticada rápida para Uribe e um passe na medida para Vitinho à esquerda, que desperdiçou ao finalizar para fora. Um bom momento com duração de 20 minutos.

O Botafogo, por sua vez, foi a campo também no 4-1-4-1. Mas a postura indicava a consciência da inferioridade técnica: um time muito agrupado, fechando espaços ao rival, correndo atrás da bola e, ao retomá-la, apostando nos lançamentos para Kieza, no meio, raspar a bola a um dos velocistas: Erik na direita e Luiz Fernando, na esquerda. Rhodolfo, com faltas, constantemente tentou quebrar a estratégia alvinegra. Houve, claro, problemas: Jean, à frente da zaga, não era o mais indicado para iniciar o jogo da equipe. Falta qualidade na saída de bola, especialmente quando pressionado. Quase gerou o gol de Vitinho, por exemplo. À esquerda, o garoto Jonathan se portou bem. Mostrou segurança e arriscou bons passes longos. No meio, Alex Santana e João Paulo contribuíam para uma boa troca de passes. E o time aproveitou bem a chance que teve. Erik recebeu a bola na direita e rolou para a frente da área, onde Jean bateu fraco e João Paulo, em meio aos defensores na área, desviou de Diego Alves. 1 a 0.

Fla no início: pouco agressivo e com Arão quase alinhado a Uribe

Um gol até inesperado. Mas não completamente ao acaso. Em 2019, o Flamengo ainda carrega falhas de outras temporadas. A liberdade para trabalhar em frente à sua área, por exemplo. Willian Arão está longe de ser um volante combativo – lembre do gol de empate do River Plate na estreia da Libertadores de 2018, no próprio Engenhão. Recorde do corte de Dudu em Pará para a frente da área e e a batida no canto de César sem incômodo, contra o Palmeiras em 2018 no Maracanã. Por vezes o camisa 5 está longe até de exercer a função de volante, principalmente no 4-1-4-1.

No arremate de Jean, Cuellar se aproximou de Renê, que fechava o ângulo para Erik. Arão permaneceu dentro da área, pedindo impedimento. O gol deixou o Flamengo atônito, outra herança de temporadas anteriores. O jogo de posse, mais trabalhado, de um lado a outro, em busca de espaço, desapareceu. Desorganizado, o time passou a alçar bolas na área, com Diego ou Renê e Pará. Buscava os lados e, com o fundo fechado, cruzava da intermediária. A detestável prática de arremessos laterais à área por duas vezes apenas ressaltou o jogo pobre. Quase 58% de posse, mas na maior parte do primeiro tempo a apresentação rubro-negra foi ruim. Seria necessária uma mudança.

Embora Everton Ribeiro estivesse apagado, bem marcado e pouco inspirando para achar espaços, Abel indicou que não pensa em escalar dois pontas nos lados do campo. Trocou um, Vitinho, pelo outro, Bruno Henrique, na esquerda. Uma aposta curiosa. Vitinho tem o drible mais curto, o jogo com tabelas. Bruno Henrique, explosivo, precisa de espaço, exatamente o que o Botafogo negava ao Flamengo. O time de Zé Ricardo voltou com a mesma postura: fechado e apostando nos lançamentos. O plano foi quase perfeito com minutos da etapa final: casquinha de Kieza para Erik em velocidade na direita, cruzamento rasteiro de volta na área, mas a finalização do camisa 9 carimbou a trave esquerda de Diego Alves. Poderia ter sido fatal. Para azar do Alvinegro, não foi. E o Flamengo ressurgiu no mesmo lance. Bruno Henrique, endiabrado, arrancava de dentro para fora, arrastando Marcelo para a cobertura de Marcinho – Jean não tinha mais fôlego. Aí uma vantagem rubro-negra.

Ao fim, um Botafogo rumo ao ataque, em bloco, urgente por um ponto

Diante do Resende, Abel fez o giro do elenco vasto. Seus jogadores estavam com fôlego em dia. O Botafogo, com limitações, não pôde promover o rodízio contra o Bangu. Faltavam pernas e os espaços aumentavam no campo, ao gosto de Bruno Henrique. Não que o Flamengo fosse organizado, envolvendo o rival com passes e tramando boas jogadas. Ao contrário. Willian Arão, mais à esquerda, por vezes quase alinhou a Uribe, o centroavante, e pressionou o goleiro Gatito na saída de bola. Lembrou bastante a atuação contra o Atlético-MG, ainda sob o comando de Mauricio Barbieri, no Brasileiro de 2018. Sua grande característica é infiltrar e aparecer na área como elemento surpresa. Solto quase como um segundo atacante pela esquerda, ele perdia este fator e, consequentemente, o time ficava desequilibrado. Diego, por vezes, fez mais a função de volante, recuando e lançando bolas da direita ao lado esquerdo. Uma aposta bem clara na individualidade de Bruno Henrique, elétrico.

Cansado, o Botafogo passou a cometer erros com mais facilidade. Kieza perdeu bola na intermediária para Cuellar, que serviu Diego. Às costas de Lucas Barros, substituto de Jonathan, Uribe cruzou rasteiro para a pequena área e o gol só não saiu graças à antecipação de Jean. O Botafogo cedia os espaços. O Flamengo os aproveitava com uma nota só. Rápido, agudo, elétrico e à esquerda. Uma mudança de postura em relação ao primeiro tempo. Por vezes, a presença de um simples jogador é capaz de mudar este espírito. Aconteceu com Bruno Henrique e seu jogo vertical. No escanteio, Everton Ribeiro colocou na cabeça do estreante, que testou no fundo da rede. 1 a 1.

Ficou claro que dificilmente o Botafogo teria forças para segurar o ímpeto do Flamengo. Além da individualidade: sobrava ao Rubro-Negro elenco para ditar as regras em uma partida disputada sob o sol forte do verão carioca, com menos de um mês do retorno das atividades. A nota de um jogo só, bem óbvio: insistência pelo lado esquerdo. Infernal, Bruno Henrique mostrou o oposto de Vitinho. Vaiado contra o Bangu, o camisa 11 se contenta com o drible e o passe. O 27 entendeu, de cara, o atalho para ser amado pela torcida: força, vitalidade e gols. Até exagerou, em um carrinho que poderia ter resultado em uma expulsão com um árbitro mais rigoroso. Mas incendiou o clássico. Gingou à frente de Marcelo e chutou rente ao travessão. Abel imprimiu mais velocidade com Gabigol no lugar de Uribe. No cruzamento rasteiro de Renê, Marcelo Benevenuto furou, Everton Ribeiro dividiu e a bola se ofereceu a Bruno Henrique, que chapou forte na rede. 2 a 1.

Ao fim, Fla mais fechado em busca dos contra-ataques de Bruno Henrique

Na óbvia superioridade técnica, o Flamengo virou o jogo sem tanto esforço. Zé Ricardo lançou Pimpão na vaga de Jean, adiantou o time e pôs Alan Santos entre os zagueiros para liberar os laterais, esgarçar a defesa rival e atacar o Flamengo em bloco. Precisava pontuar no clássico. Abel surpreendeu. Arrascaeta não entrou no jogo. Piris da Motta substituiu Diego, que já fazia a composição do meio de campo. Arão, ainda como dublê de meia-atacante, recuou alguns passos. Não configura, hoje, um volante. Parece mais um dos focos do desequilíbrio. Com Cuellar e Piris, o Flamengo inverteu o jogo e tentou evitar espaços ao rival e apostar no contra-ataque. Conseguiu fazer o terceiro tento, com Gabigol após lindo lançamento de Everton Ribeiro para Bruno Henrique. Mas a arbitragem, de forma equivocada, anulou o lance. O clássico estava decidido.

Sem nenhuma vitória em 2019 e já ameaçado na Taça Guanabara, o Botafogo acabou batido de forma fulminante pelo maior rival. Ainda que Carli e Leo Valencia não tenham estreado, falta a Zé Ricardo justamente o que sobra a Abel: qualidade técnica para grandes duelos. O coletivo, organizado em grande parte, encontra dificuldades diante de rivais pequenos, quando tem a obrigação de tomar o jogo para si, e pode ser ineficaz contra adversários do porte do Flamengo. O time trocou 233 passes certos, mas lançou a bola – principal estratégia – 42 vezes no jogo.

Com 50 anos de futebol nas costas, Abel pareceu mais interessado em garantir uma vitória importante, fora de casa, diante de um rival para permitir maior tranquilidade para a sequência do trabalho a arriscar um time mais solto com Arrascaeta. Estratégia sensível e a refletir quando enfrentar rivais de nível técnico equivalente. Com 58% de posse de bola, 462 passes trocados e 13 finalizações*, o Flamengo venceu o clássico de forma até fácil quando acelerou e tornou o jogo mais agudo. Mas os 35 cruzamentos, com grande parte no primeiro tempo, indicam um coletivo ainda a ajustar. Há muita qualidade para vencer e bem. Há um passado recente na montagem do time, com gosto pela posse, a não ignorar. Mas, claro, as contratações milionárias foram realizadas para ajudar o time a decidir partidas e campeonatos. Desta vez, funcionou. Bruno Henrique chegou e já tem um jogo para chamar de seu.

*Números do app Footstats Premium

FICHA TÉCNICA
BOTAFOGO 1X2 FLAMENGO

Local: Estádio Nilton Santos, o Engenhão
Data: 26 de janeiro de 2019
Árbitro: Maurício Machado Coelho (RJ)
Público e renda: 5.314 pagantes / 6.268 presentes / R$ 391.846,00
Cartões amarelos: Alex Santana (BOT) e Diego e Bruno Henrique (FLA)
Gols: João Paulo (BOT), aos 22 minutos do primeiro tempo e Bruno Henrique (FLA), aos 18 minutos e aos 24 minutos do segundo tempo

BOTAFOGO: Gatito; Marcinho, Marcelo Benevenuto, Gabriel e Jonathan (Lucas Barros, 15’/2T); Jean (Rodrigo Pimpão, 28’/2T) e Alex Santana; Erik, João Paulo (Alan Santos, 38’/1T) e Luiz Fernando; Kieza
Técnico: Zé Ricardo

FLAMENGO: Diego Alves; Pará, Rhodolfo, Rodrigo Caio e Renê; Cuellar; Everton Ribeiro, Diego (Piris da Motta, 31’/2T), Willian Arão e Vitinho (Bruno Henrique / Intervalo); Uribe (Gabigol, 21’/2T)
Técnico: Abel Braga

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