Pedro Flamengo Fla-Flu semifinal Carioca 2024
Sólido, Flamengo se impõe a Fluminense e aumenta vantagem rumo à final
11 março 02:04

Na volta à América, um Flamengo em amadurecimento para no Millonarios

Pulgar Pedro Millonarios Marcelo Cortes

Arrascaeta Flamengo Millonarios Libertadores

O bom início do Flamengo na temporada, com avassaladores 28 gols marcados e apenas um sofrido em jogos oficiais obviamente traria consequências. A primeira seria o choque ao sofrer o primeiro gol no ano. Depois, a dificuldade do torcedor em compreender que certamente em algum momento a equipe jogaria abaixo do nível regular que apresentava. Em seguida, ignorar obstáculos que impactam todo o cenário. Por exemplo: desgaste, altitude, desfalques. Foi este combo que resultou no empate em 1 a 1 entre Millonarios e Flamengo na estreia na Copa Libertadores, em Bogotá. Um resultado ruim diante das circunstâncias. Mas compreensível no pacote.

Virá o torcedor, colérico, a esbravejar que não seria jamais o momento de poupar um ou outro jogador justamente na estreia da Libertadores, o dito “jogo mais relevante do ano” até então. Pois bem. É salutar lembrar que 2023 foi um cenário de completa terra arrasada. Perdas consecutivas de títulos e consequências irreparáveis ao longo da caminhada. O Flamengo, hoje, clama por taças. Sejam elas da Guanabara, do Carioca, da Libertadores ou do primeiro turno do Brasileiro. Perder não é uma opção sob o risco de rachar novamente os solos instáveis de Gávea e Ninho do Urubu. Portanto, compreensível não dar brecha para o Nova Iguaçu na final do Carioca, já bem encaminhada.

Millonarios: Cataño foi arma principal pela direita no início

Com isso em mente, o Flamengo detectou possíveis desgastes na maratona que se anuncia entre Carioca, Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil. Ora, se tem a vaidade de se gabar em ser um clube rico, de faturamento superior e um bilhão, natural que tenha elenco capaz de sustentar tamanhas dificuldades. Nem por isso tudo será perfeito. Há variáveis impossíveis de controlar. Talvez minimizar. A altitude, por exemplo. E nisto o Flamengo não soube trabalhar tão bem. Tite mandou a campo o time no 4-2-3-1 usual, com Bruno Henrique na direita e David Luiz na zaga pela esquerda. Igor Jesus como volante. Houve um erro: tentar impor ritmo intenso em 2.600 metros acima do nível do mar. Apertar a saída do Millonarios, já acostumado ao ar rarefeito, à velocidade da bola. Óbvio que cansaria.

Flamengo no início: Viña à esquerda, BH à direita, Igor Jesus por dentro

Talvez se Viña tivesse aproveitado a ótima bola de Bruno Henrique, diante deu um gol basicamente vazio, o jogo poderia ser condicionado. Mas o lateral estava em péssima tarde. Errava passes, passadas e tinha enorme dificuldade na marcação com Cataño em seu setor. Cebolinha, com claras dificuldades para executar o vaivém pela esquerda, também estava abaixo. A ponto de Tite, ao fim da primeira etapa, trocar o Camisa 11 com Bruno Henrique de lado. Por ali, o time da casa viu o setor ideal. Investiu em bolas esticadas à direita e cruzamentos a Castro e Giordana. O Millonarios mantinha basicamente um 4-4-2 e o Flamengo os poucos se adequou da mesma maneira, ao se defender com maior constância. Havia espaço por dentro, pelos lados. Um jogo corrido, sem controle rubro-negro. Desconfortável e desgastante em altitude.

Arrascaeta e Pedro destoavam. O primeiro com a classe usual. Tinha o tempo da bola, procurava passes curtos, giros rápidos. Respirar. Pedro buscava o arremate, o pivô e prendia a pelota a fim de dar jogo ao time. Nada de acelerar. Mas aos poucos o Flamengo caiu na armadilha colombiana. Faltava fôlego, diminuía o raciocínio. Jogo acelerado. Igor Jesus e Pulgar tinham dificuldades por dentro, Giraldo e Silva se apresentavam. Cataño assustou em bola cruzada da esquerda. Castro cabeceou na trave. O Flamengo clamava pelo intervalo.

Ao fim, Millonarios com menos um e apostando no veloz Rivaldo à direita

Ele veio para um respiro e um reorganizar de ideias. Tite sacou Igor Jesus, pôs Allan mais alinhado a Pulgar e agrupou o time. Toques mais curtos, tentativa de sair da pressão do Millonarios e maior volume à frente. O time melhorou. Mais encorpado, o jogo igualou e em seguida os rubro-negros foram até superiores. Bola no pé, troca de passes, sem aceleração tamanha. Era o jogo ideal para altitude e a quem tecnicamente era melhor a saltar os olhos. Então houve a ajuda do improvável. Um erro de saída de bola do Millonarios, bote de Pulgar, Arrascaeta recebeu e Vásquez tomou a decisão mais infantil possível. Empurrar o uruguaio diante da clara e manifesta chance de gol. Expulsão e pênalti óbvios. Pedro cobrou bem, com confiança. 1 a 0.

Fla ao fim: com Allan, mais agrupado, mas desconcentrou

Com um a mais, vantagem no placar, na altitude. Bastaria fazer a bola correr, o tempo passar e garantir a vitória, correto? Nem tanto. O Flamengo abaixou demais a concentração. Trocou passes, mas abusou da desconcentração. Não reteve a posse a todo custo, com inteligência. E aí um elemento fundamental: De La Cruz, febril, estava fora até mesmo da relação. A evolução do time em 2024 passa diretamente pelo baixinho uruguaio da camisa 18. Dá dinamismo ao meio, segura a bola e acelera quando necessário. Ritmo. Ausência muito sentida. Tite apostou em sacar Pedro, que ainda conseguia reter a bola, para pôr Luiz Araújo de lado e avançar Bruno Henrique. O Camisa 27 tem dificuldades em jogar de costas e não acelerar. O jogo ficou mais elétrico. Além disso, o técnico demorou a sacar Viña, esgotado e alvo constante no setor. Não deu tempo. O empate sairia por ali.

Rossi precipitou a saída de bola, Pulgar errou o domínio e depois o bote em Rivaldo. No cruzamento, a bola sobra para a finalização certeira de Daniel Ruiz. De repente, o jogo que parecia tão seguro em mãos rubro-negras estava a ponto de ruir. Desgastado, até mesmo nervoso, o Flamengo pôs a afastar bolas e abraçar o empate. O apito final chegou como alívio.

A parte intensa e dura da temporada começou. E o Flamengo, antes inabalável, sofreu 16 finalizações* – embora duas no alvo. Número bem acima do que está acostumado. É relevante apontar que havia desfalques justificados. De La Cruz é enorme ao coletivo da equipe, por exemplo. Mas altitude não pode ser subestimada em Libertadores. Especialmente quando ainda há uma outra maior pela frente, em La Paz com seus 3.600 metros. A chance se apresentou para uma estreia até tranquila. O Flamengo apresentou erros, encontrou obstáculos. E mostrou o óbvio: sem desespero, não está pronto. Ainda vai amadurecer.

*Números Sofa Score

FICHA TÉCNICA
MILLONARIOS 1X1 FLAMENGO

Data: 2 de abril de 2024
Local: El Campín, em Bogotá (COL)
Árbitro: Dario Herrera (ARG)
VAR: Silvio Truco (ARG)
Público e renda: Não divulgados
Cartões amarelos: Castro (MIL) e Luiz Araújo (FLA)
Cartão vermelho: Vásquez (MIL), aos 16 minutos do segundo tempo
Gols: Pedro (FLA), aos 18 minutos e Daniel Ruiz (MIL), aos 35 minutos do segundo tempo

MILLONARIOS: Montero, Alfonzo, Moreno Paz, Vargas e Hernández; Vásquez, Giraldo, Silva (Beckham Castro, 49’/2T), Cataño (Daniel Ruiz, 33’/2T), Giordana (Rivaldo, 32’/2T) e Castro (Pereira, 44’/2T)
Técnico: Alberto Gamero

FLAMENGO: Rossi, Varela (Evertton Araújo, 41’/2T), Fabrício Bruno, David Luiz e Viña (Ayrton Lucas, 36’/2T); Igor Jesus (Allan / Intervalo) e Pulgar; Bruno Henrique, Arrascaeta e Everton Cebolinha; Pedro (Luiz Araújo, 26’/2T)
Técnico: Tite