Sólido, Flamengo se impõe a Fluminense e aumenta vantagem rumo à final

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Em um trabalho que ainda toma forma é difícil procurar um adjetivo para definir uma equipe. O Flamengo sob o comando de Tite evolui a passos largos neste início de 2024 e aponta cada vez mais qual característica mais impacta: a solidez. Pois foi desta maneira, sólido, que passou por cima do campeão da América, o Fluminense, com autoridade no primeiro jogo das semifinais do Campeonato Carioca em um 2 a 0 que saiu barato. Bem barato. São 25 gols marcados e apenas um sofrido – e com a equipe sub-23 – em 12 jogos disputados em todo o Estadual. Impressiona.

“É um típico time de Tite”, você já deve ter ouvido falar. De fato. Fisicamente impecável, sem o lastro dos fracassos dentro e fora de campo de 2023, o Flamengo consegue desempenhar o que o técnico espera. Uma equipe muito agrupada, que mantém pressão tão logo perde a bola, alterna lados e tenta definir a jogada sem tanta demora. Sem Gerson se transformou num 4-2-3-1 movido por um motor chamado De La Cruz no meio de campo. Onipresente, o uruguaio foi uma senhora tacada no mercado. Está em todos os cantos, acelera quando necessário e limpa o campo quando o jogo parece truncado. É ele que dá o tom da rotação ideal do jogo. Sente a temperatura. E é técnico, ambidestro.

Flu no inicio: criatividade, mas sem intensidade no meio

Assim o Flamengo entrou em campo diante do Fluminense. Disposto a pressionar, sufocar o rival a qualquer custo. Cebolinha e Luiz Araújo pelos lados, Arrascaeta e De La Cruz por dentro para apertar, apertar e apertar. Ao roubar a bola, definir. Do outro lado, Fernando Diniz deveria esperar isso. Certamente esperava. Mas colaborou para o jogo rubro-negro ao, sem o suspenso e conhecido desafogo André, optar por Renato Augusto ao lado de Paulo Henrique Ganso. Inegáveis as qualidades técnicas de ambos. Mas em um clássico que obviamente clamaria pela intensidade física, o Fluminense teria desvantagem. Seria impossível armar, perder a bola e tentar recuperá-la diante de tamanha pressão, frente a um adversário mais jovem em média e fisicamente mais inteiro.

Fla no primeiro tempo: pressão e dinâmica de De La Cruz

O resultado foi uma avalanche rubro-negra. De todos os lados. Bolas que alternavam da esquerda à direita. Cruzamentos, tabelas curtas, tentativas de finalização. O perigo sempre à ronda. Para sorte tricolor, a pontaria rival andava em falta. Mas o incômodo era nítido. O Campeão da América, talhado pelo jogo construído, com saída muito trabalhada, apostava nos lançamentos com pouco tempo de jogo. Ganso ou Martinelli até recuava para a saída entre os zagueiros, mas Felipe Mello, invariavelmente, arriscava o passe longo. Havia irritação. Ganso e Felipe, como usual, reclamavam com a arbitragem em demasia. Havia sufoco. Cebolinha, Pedro, De La Cruz. Todos perderam boas chances na frente de Fábio.

O Fluminense só conseguiu respirar por momentos a partir dos 20 minutos quando acertou algum lançamento longo. Diniz alternava constantemente Keno e Arias pelos lados, pedia a participação de ambos por dentro e a aproximação com Renato Augusto e Ganso. Mas a pressão rubro-negra impedia qualquer fluidez tricolor. É um time que tem os setores conectados, ataca e defende em bloco. A rigor, o primeiro tempo trouxe um mínimo lance de perigo na primeira etapa, com um cruzamento de Guga para Diogo Barbosa, de direita, mandar por cima do gol. Rapidamente o Flamengo retomou as rédeas. Time à frente do meio de campo, jogo pelo meio para os lados, cruzamentos ou passes rápidos por dentro para tentar o arremate. Não foi surpresa ver o gol de Cebolinha em um cruzamento longo de Pulgar, com liberdade, nos acréscimos antes do intervalo. 1 a 0.

Flu ao fim: menos um e tentativa de manter semifinal viva

Era pouco para os rubro-negros e também para os tricolores, cada qual com sua perspectiva. O Fluminense tinha dificuldade em ultrapassar a solidez rubro-negra com um meio de campo de criatividade, mas sem intensidade. Arias era um batalhador solitário. Diniz optou por sacar Diogo Barbosa por Marcelo. E com dois minutos perdeu Ganso, lesionado, e pôs Lima. Trouxe equilíbrio mínimo ao time e talento com Marcelo, responsável por enxergar os espaços do campo. Tite perdeu Ayrton Lucas e pôs Viña. E o Flamengo seguia superior. Arriscava arremates de longe e bailava ao compasso de De La Cruz e Arrascaeta. Se o primeiro uruguaio, como citado, dita o ritmo, limpa o campo e acha passes em profundidade com rara qualidade, o segundo dá o toque do imprevisibilidade. Não estava em uma noite brilhante no todo. Mas iniciou bem 2024, fisicamente está inteiro, suporta as partidas e dá o refino técnico para trocar por dentro com De La Cruz e Pedro, importante no pivô. Um Flamengo sólido e melhor. Bem melhor.

Fla ao fim: fôlego novo, estrutura parecida, pressão contínua

O clássico ficou ainda mais ao feitio com a expulsão de Thiago Santos. Carrinho mais do que imprudente ao tentar consertar o próprio erro de passe. Reflexos de um Fluminense nervoso, sem conseguir imposição. Diniz sacou Renato Augusto, pôs Manoel e parecia pensar na derrota mínima para manter a semifinal viva. Tite respondeu com Bruno Henrique, fresco, em cima de Marcelo. O gol parecia questão de tempo. E foi, ainda que, de novo, quase nos acréscimos. De La Cruz foi imprevisível com o passe no contrapé à esquerda. Arrascaeta, soberbo com o passe na cabeça de Pedro. 2 a 0.

23 finalizações* do Flamengo, nove no gol. Oito do Fluminense, nenhuma no alvo. 20 faltas rubro-negras – um expediente utilizado para quebrar o jogo tricolor ainda no campo ofensivo ao perder a bola. Dez do Fluminense. A vantagem já era rubro-negra. Agora é muito maior. O placar é o mesmo da ida da final de 2023. Mas o panorama é totalmente diferente. O Fluminense segue de Diniz, agora campeão da América e da Recopa. Só que o Flamengo sob o comando de Tite está diferente. Continua com talentos. Mas evolui como uma equipe. Seguro. Sólido. E como.

*Números do app SoFa Score

FICHA TÉCNICA
FLUMINENSE 0X2 FLAMENGO

Data: 9 de março de 2024
Local: Maracanã
Árbitro: Yuri Elino da Cruz
VAR: Rodrigo Carvalhães
Público e renda: 48.105 pagantes / 52.169 presentes / R$ 3.013.736,50
Cartões amarelos: Guga, Martinelli, Felipe Melo (FLU) e De La Cruz (FLA)
Cartão vermelho: Thiago Santos (FLU), aos 17 minutos do segundo tempo
Gols: Everton Cebolinha (FLA), aos 46 minutos do primeiro tempo e Pedro (FLA), aos 45 minutos do segundo tempo

FLUMINENSE: Fábio, Guga, Thiago Santos, Felipe Melo (Antônio Carlos, 37’/2T)e Diogo Barbosa (Marcelo / Intervalo); Martinelli, Paulo Henrique Ganso (Lima, 2’/2T), Renato Augusto (Manoel, 19’/2T), Arias, Keno (Lelê, 37’/2T) e Cano
Técnico: Fernando Diniz

FLAMENGO: Rossi, Varela, Fabrício Bruno, Léo Pereira e Ayrton Lucas (Viña, 2’/2T); Pulgar (Igor Jesus, 25’/2T), De La Cruz, Arrascaeta; Luiz Araújo (Bruno Henrique, 25’/2T), Everton Cebolinha (Victor Hugo, 40’/2T) e Pedro
Técnico: Tite