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01 fevereiro 18:16

Everton Ribeiro e o futebol descartável

Everton Ribeiro Flamengo final Guayaquil 2022 Libertadores

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Everton Ribeiro Fla-Flu semi Taça Rio 2019

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Está estampado por aí, embora não oficializado: Everton Ribeiro não veste mais a camisa 7 do Flamengo depois de quase sete anos. Só devido a trajetória tão longínqua já não seria uma saída natural. Mereceria reverências. Mas a reação de grande parte da torcida e do clube em si ao ritual de passagem do jogador rumo ao fim do seu ciclo é um triste quadro de como o futebol abraçou a ideia de ser descartável. Não há pertencimento. Frio. Cruel. Indiferente. Uma relação como outra qualquer. Não é. Jamais será.

O torcedor-cliente, que paga e exige resultados, já vai bradar logo após a linha acima que o Flamengo, veja bem meu bom senhor, ofereceu um novo ano de contrato a Everton e o jogador não aceitou. Queria dois. E depois de um toma lá, dá cá contra-argumentou com um ano mais um renovável diante de metas. Algo feito já com David Luiz, no clube desde meados de 2021. Entendo. Direito de cada lado. Mas cá do meu cantinho acrescento: Everton, sete anos depois e aos 34 de idade, poderia ter sido tratado com mais carinho. Um papo mais direto, olho no olho, sem arrastar ao penúltimo dia de contrato com extremo desgaste. E assim, definido às claras que não ficaria, poderia até ter se despedido com Filipe Luís e Rodrigo Caio, outros expoentes da segunda maior geração rubro-negra. Mas não.

Grande parte da torcida o trata como descartável. Abraça a ideia de que o agora ex-Camisa 7 era um reles funcionário. Recebeu para entregar. A partir do momento que seu rendimento abaixou, rua. Certamente nessa gama de gente há quem bata no braço pela “magnética”. Encha-se de orgulho pelo “futebol raiz”. E, contraditoriamente, até se revolte com os preços exorbitantes que elitizam a arquibancada. Mal entende que os gestores os vêem como eles enxergam Everton: um produto descartável no futebol dos clientes. Pagou, levou. Recebeu, entrega. Queda de rendimento, rua. Risca da planilha. Friamente. Visão rasa. Míope.

O futebol vai além. É vivo, pulsante e apaixonante por estar encharcado de relações humanas. Emoções. Vitórias, derrotas, conquistas, fracassos. Identificação. Há pessoas no contexto. No tratamento. É necessário saber gerir…pessoas. Everton não é descartável. Como não são Marília, Guto e Totói. Todos envolvidos com o universo rubro-negro. Foi integrante do Quarteto Histórico do clube. Do melhor time em quatro décadas. E divide opiniões sobre a contribuição técnica que ainda poderia gerar.

É legítimo que houvesse um limite para um novo contrato. É legítimo que ele quisesse mais como capitão histórico de mais de dez conquistas em quase sete anos de clube. Não era razoável que Everton Ribeiro deixasse o Flamengo como mais um. Sem devidas homenagens e deboches. Óbvio, torcedor-cliente, não há ninguém maior do que o clube. Mas o clube é feito justamente por torcida e ídolos com histórias, paixões. Pessoas. Everton Ribeiro foi isso. Ídolo histórico e pessoa num Flamengo que, hoje, muitas vezes flerta com a frieza e a impessoalidade num futebol que cada vez mais preza pelo descartável.

  • Tozza

    Batendo palmas de pé, Pedro.

    Texto perfeito. Era o texto que eu queria ter escrito, mas não tenho capacidade para tal.