Fluminense Taça Guanabara 2017
Não há como explicar um Fla-Flu: a festa tricolor em um clássico que celebrou o futebol
05 março 19:22
Na Taça Guanabara, Ferj supera Fla por pouco em arrecadação; campeão Flu tem prejuízo
07 março 00:39

A alma de Abel

Abel Braga Fluminense Taça Guanabara 2017

Abel Braga Fluminense Taça Guanabara 2017

O jogo corre e à beira do campo o técnico gesticula, berra, deixa a camisa empapada de suor. Abel Carlos da Silva Braga não se enquadra em esteriótipos modernos. Aos 64 anos, é um técnico da velha guarda. Viveu uma época ainda romântica. Tem gosto pelo que faz. Encarna o espírito do clube que defende. Vive o futebol com alma.

Talvez por isso tenha sido rotulado de ultrapassado em papos de bares e tvs depois de uma temporada fora do Brasil. Críticas que bateram fundo. Na alma. Após a conquista da Taça Guanabara sobre o Flamengo, ele desabafou. Lembrou que minutos antes levantara a 24a taça da carreira como treinador. Como estaria ultrapassado? O seu Fluminense pratica um jogo moderno. Usa esquemas em voga. 4-1-4-1. Vai para o 4-3-3. Passeia pelo 4-2-3-1 se necessário. Joga, ocupa espaços. Faz gols. Sofre poucos. Perde. E vence.

Ao voltar às Laranjeiras, Abel prometeu o retorno da alma a um Tricolor que caminhou por grande parte de 2016 de maneira indiferente. Foi vítima de deboche. Falar em alma soa como bravata em um futebol cada vez mais tático, estudado. Mas a experiência vale muito a Abelão. Futebol é a mistura de conhecimento com alma. Tática e técnica com atitude. O seu Fluminense, ainda em início de trabalho, tem isso. Remontado, com garotos velozes e técnicos, troca de posições, jogo vertical. Desejo pela conquista. Elétrico. Pulsante. Contagiante. Com alma.

Abel Braga representa a união de dois mundos. É, ao mesmo tempo, profissional e amador. Sabe reestruturar uma equipe, montar elencos, tornar um time competitivo. Defende arduamente o clube no qual trabalha. Sabe que relações importam. Em 2003, 13 jogadores deixaram a Ponte Preta do técnico em meio ao Brasileiro. Nove por atraso salarial. Realizado, com passagens pelo futebol europeu, estabilizado financeiramente, seria fácil pedir o boné. Abel não pediu. Deu a palavra que deixaria o clube na Primeira Divisão. Dito e feito. O técnico vive o futebol com alma. Em um futebol extremamente profissional, frio, o estilo caloroso de Abel é um alento.

Torna-se mais um da torcida. Entende a linguagem da arquibancada. Sente. O jeitão de zagueiro dos tempos da famosa “Barreira do Inferno” vascaína, nos anos 70, pode assustar. Mas Abel berra e afaga. Estuda e conversa. Pula como garoto em um gol. Dá bronca como professor severo quando vê um erro. Tem seus meninos sob o comando. Mas não é dado a poses e trejeitos. Palavras dóceis para vender a imagem a quem deseja ouvir e tascar rótulos positivos. Não muda de comportamento ao som da música da moda. Abelão é Abelão. Rosto vermelho, camisa suada, explosivo. Alma de vencedor.

Os comentários estão encerrados.