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Derrotado com um empate: um Flamengo resignado não ameaça o River Plate

Vinicius Junior Flamengo River Libertadores 2018

(Flamengo / Divulgação)

Everton Ribeiro Flamengo River Libertadores 2018

(Flamengo / Divulgação)

À primeira vista, com a escalação mais completa possível, o Flamengo parecia mandar um recado aos seus: estava disposto a buscar uma graúda vitória diante do River Plate em pleno Monumental de Nuñez, garantir o primeiro lugar no grupo e dar sequência ao seu caminho de libertação na maior competição sul-americana. Valia, então, arriscar e escalar os pendurados Lucas Paquetá e Henrique Dourado. E então tudo se dissipou. Resignado com o fato de não perder, o Flamengo empatou sem gols na Argentina e pareceu satisfeito com um resultado que teria o mesmo efeito prático de uma derrota. No fundo, o Flamengo, sim, perdeu. Deu passos atrás e voltou a estampar a imagem de time que aceita passivelmente resultados ruins. Algo que começava a se distanciar desde a boa vitória contra o Ceará. O flerte com um pensamento aquém da capacidade e investimento pulsou.

Sem Diego, Rever, Juan e até Geuvânio, Mauricio Barbieri montou a equipe no 4-1-4-1, com Jean Lucas como substituto de Diego por dentro, pela direita, Paquetá ao seu lado, Vinicius e Everton Ribeiro nos lados. Cuellar seria o responsável por iniciar o jogo. Em vez de posse, o Flamengo esperava mais o River e tentava encaixar saídas rápidas pelos lados, principalmente com a velocidade de Vinicius. Na outra ponta, Everton Ribeiro tentava cair ao centro para abrir passagem a Rodinei, complicando a vida de Enzo Pérez e Saracchi, que tinha postura muito ofensiva. Foi, por dez minutos, promissor. Agudo, rápido, o Flamengo pressionou e teve boa chance no início, com chute de Paquetá, rebote, novo chute de Everton Ribeiro e o quase desvio de Vinicius Junior. Então, inexplicavelmente, o time deu passos atrás, entregou campo e bola ao River. Fez o jogo ser quase de um time só.

River no início: girar de bola de um lado a outro, mas sem ser incisivo

Em um 4-4-2, a equipe argentina, com o apoio pulsante da arquibancada, adiantou, passou a trabalhar quase inteiramente no campo ofensivo e a girar a bola de um lado ao outro. A postura defensiva do Flamengo era até interessante. Ocupava bem os espaços por dentro ou por fora, forçando os argentinos a cruzar muitas bolas. Seriam, de acordo com o Footstats, 31 ao longo do jogo, fato que não foi um grande problema em boa noite da dupla de zaga rubro-negra, Léo Duarte e Rhodolfo. Mas o River tinha imposição. Ponzio iniciava o jogo sem muito combate, fazendo a bola percorrer Palacios, Fernández e Enzo Pérez da esquerda para a direita, da direita para a esquerda. Faltava ao Flamengo respirar com uma válvula de escape. Não havia.

A bola não parava no ataque rubro-negro. Batia e voltava. Henrique Dourado não tem característica de pivô. É finalizador. A insistência em jogar da primeira maneira torna suas presença em campo e contratação quase inúteis. O camisa 19 batalha, corre, tenta por vezes dar combate. Mas quase não há chances para tocar a bola ao fundo da rede. Essa falta de entendimento sobrecarrega a equipe. Em vez de praticar o jogo coletivo, aposta nas individualidades de Vinicius Junior, Everton Ribeiro e Lucas Paquetá. Este último vale um parênteses. Após ótimo desempenho ao atuar muitas vezes como segundo volante, iniciando o jogo, em um 4-2-3-1, o meia demonstra cansaço frequente. Reflexo direto da doação em jogos recentes. Há um desgaste nítido que atrapalha seu desempenho. Já acontecera contra o Vasco. A eletricidade diminui, a irritação aumenta. Quando a cabeça falha, as pernas não mais acompanham. E na ânsia de retomar a bola, o camisa 11 tem falhado. Com um jogo importante pelo Brasileiro no sábado à noite, sua ausência seria ganho duplo.

Fla no início: postura fechada, chamando o River a seu campo

Todo esse pacote tornou sua escalação bem incompreensível. O Flamengo não buscou a vitória e o primeiro lugar do grupo com a gana imaginada. A presença do titular de melhor desempenho recente era, portanto, dispensável caso estivesse pendurado. Some a isso o fato de que Paquetá, então com sete amarelos, era o segundo jogador mais advertido do Flamengo na temporada, atrás apenas de Diego – com oito – e o receio aumentaria. Pois Paquetá, irritadiço e cansado, não conseguiu limpar lances como antes. Era desarmado com frequência, errava passes. Fazia faltas. Em um desses contragolpes, derrubou Fernández por trás. Recebeu o amarelo, o oitavo em 2018, e está suspenso para o primeiro jogo das oitavas de final, após a paralisação para a Copa do Mundo. Em vez de pensar no torneio, o Flamengo decidiu jogar apenas um jogo. Falhou.

O time foi envolvido pelo River Plate. Um jogo monótono muito em razão de também existir uma resignação do time argentino. O giro de bola de um lado ao outro era ineficaz, fazia passar somente o tempo. Sem agredir. Na verdade, apenas um lance levou perigo ao gol de Diego Alves. Fernández apareceu bem pela direita e cruzou ao meio da área. Scocco, livre de marcação, bateu de primeira para fora. Em seguida, o Flamengo teve a sua melhor chance no jogo. Rodinei dividiu com Maidana e conseguiu a bola. Tocou em Paquetá, na entrada da área, e recebeu de volta na ponta direita. O cruzamento saiu forte demais e Rhodolfo, Vinicius e Léo Duarte, dentro da área, não conseguiram completar. Um insosso 0 a 0 encerrou o primeiro tempo.

A segunda etapa não trouxe um panorama muito diferente. O Flamengo ainda no 4-1-4-1, chamando o River a seu campo, recuando, cedendo espaços e bola. O jogo ficou mais pegado na intermediária e o time argentino abusou das faltas. Entrada criminosa de Scocco em Paquetá rendeu apenas um cartão amarelo. O jogo rubro-negro não fluia. Todos os sinais de melhora recente com Mauricio Barbieri, ainda que diante de adversários menos qualificados, não mais apareciam. Era uma estratégia incompreensível: o Flamengo precisava da vitória para mudar de posição com o time argentino, mas não buscava o ataque. Aceitava, sem muito contestar, assistir ao River com a bola e o tempo passar, consolidando o segundo lugar do grupo. Parecia considerar um bom negócio simplesmente não sair derrotado do Monumental de Nuñez.

Ao fim, River tentou presisonar, mas, de novo, só criou uma chance clara

Talvez uma explicação seja a insegurança que ainda cerca Mauricio Barbieri no cargo. Há mais de dez jogos no comando da equipe, o técnico parece mais longe do adjetivo de auxiliar. Mas, ao mesmo tempo, carece de uma confirmação pública da diretoria para efetivá-lo no cargo. Sentir-se respaldado em suas ideias para ousar. Sem isso, o receio de perder jogos e acumular insatisfações que possam tirá-lo da função no turbulento ambiente rubro-negro parece ser dominante. E cria o bizarro paradoxo de Buenos Aires: o empate, ainda que seja pior em termos de classificação, tem neste sentido um impacto mais vantajoso do que um revés. Embora as consequências, na prática, fossem iguais. Reflexo direto da má gestão do futebol rubro-negro.

Ao fim, Fla com a mesma postura, resignado com o empate

Receoso, o Flamengo de Barbieri permaneceu sem nenhuma modificação até os 37 minutos do segundo tempo. Além de não tentar modificar o panorama tático em busca de uma vitória, tentando se desgarrar do envolvimento do River, o Flamengo aumentava a presença e o desgaste físico em campo de jogadores às vésperas de uma insana sequência no Campeonato Brasileiro até a paralisação da Copa. De novo, o pensamento no micro, não no macro. As trocas, quase protocolares a menos de dez minutos do fim, mantiveram a postura tímida do Flamengo, um time ainda amedrontado em Libertadores. Gallardo tentou acelerar o jogo pelos lados com substituições no River e a presença de área do colombiano Borré. Quase deu certo quando o atacante, no apagar das luzes, emendou uma bicileta no travessão de Diego Aves. E deixou o placar zerado.

No fundo, uma derrota para um Flamengo que deixou claro, na postura, ter ido a Buenos Aires com prioridade para não sair derrotado. Apenas 41% de posse de bola e três finalizações no alvo. Uma atuação que impacta no processo de recuperação que vinha sendo trilhado, ainda que com altos e baixos, desde o jogo com o Ceará. O Flamengo parece ter retomado ao ponto zero: também um empate sem gols e sem ideias para vencer, como foi contra o Santa Fé. Resignado, sem ideias, com quatro empates e duas vitórias sobre um mesmo time, o Emelec – derrotado em cinco de seis jogos na fase de grupos. O Flamengo está classificado para as oitavas de final da Libertadores. Mas, de novo, pôs em dúvida qualquer esperança para o futuro da temporada.

FICHA TÉCNICA
RIVER PLATE 0x0 FLAMENGO

Local: Monumental de Nuñez
Data: 23 de maio de 2018
Horário: 21h45
Árbitro: Andrés Cunha (URU)
Cartões Amarelos: Ignacio Fernández, Scocco, Enzo Pérez, Maidana (RIV) e Lucas Paquetá e Jean Lucas (FLA)
Gols: –

RIVER PLATE: Armani; Montiel, Pinola, Maidana e Saracchi; Exequiel Palacios (16 Rojas, 32’/2T), Ponzio, Ignacio Fernández e Enzo Pérez; Scocco (Mora, 37’/2T) e Lucas Pratto (Borré, 32’/2T)
Técnico: Marcelo Gallardo

FLAMENGO: Diego Alves; Rodinei, Léo Duarte, Juan e Renê; Cuellar; Everton Ribeiro, Jean Lucas (Jonas, 37’/2T), Lucas Paquetá e Vinicius Junior (Marlos Moreno, 41’/2T); Henrique Dourado (Lincoln, 37’/2T)
Técnico: Mauricio Barbieri

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