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A bola corre, o jogo flui: Flamengo massacra o Corinthians em Itaquera

Flamengo Corinthians Bruno Henrique Itaquera Brasileiro 2020

(Twitter Flamengo / Felipe Patiño)

Vitinho Flamengo Corinthians Brasileiro 2020 Itaquera

(Twitter Flamengo / Felipe Patiño)

Um dos grandes adversários do trabalho de Domènec Torrent à frente do Flamengo tem sido o gramado do Maracanã. É daqueles episódios no mínimo irônicos: um time altamente técnico, com bom potencial para desenvolver o seu jogo travado muitas vezes por um campo em que a bola só faz pererecar. No gramado da Neo Química Arena, em Itaquera, houve enfim o encontro a um habitat natural à maior parte dos jogadores. Um piso ideal para uma equipe que gosta de ter a bola e fazê-la correr. De pé em pé. Quem gira é ela. O jogo flui. Assim, o Flamengo colocou o Corinthians na roda com facilidade, mesmo sem impor grande ritmo, e aplicou goleada histórica de 5 a 1. Que diferença faz um gramado ideal. Mas, claro, o resultado não se deveu apenas a isso. Há bem mais. Há, também, evolução.

Corinthians no início: tentou avançar, pressionar, mas não conseguiu

Isso em meio a um calendário louco. Do sábado retrasado a este domingo, o Flamengo disputou quatro jogos e alcançou dez pontos em 12 possíveis. Mas desta vez Dome teve um dia a mais de respiro para montar uma equipe um pouco mais descansada. E realizou aposta já esboçada no passado por Jorge Jesus e por ele próprio, em jogos recentes: Vitinho visto como meia, não atacante. No 4-2-3-1, o Camisa 11 fez o papel de meia centralizado, atrás do atacante. Bruno Henrique bem aberto à esquerda, com Everton Ribeiro à direita, invertendo por vezes com o próprio Vitinho por dentro. Thiago Maia à frente dos zagueiros, com Gerson na fluidez encarregado de dar o ritmo ao time ao ataque. Mas a aposta mais ousada inicialmente veio do Corinthians.

Talvez numa tentativa de achar rapidamente o gol e levar o resultado até o fim, Vagner Mancini indicou os mandantes num 4-2-3-1, com pressão na saída de bola rubro-negra. Durou poucos minutos. Sem capacidade para ser de fato agressivo, o Corinthians logo se retraiu, com Mateus Vital e Boselli mais à frente, Everaldo e Otero pelos lados, em alternância. Retomar a bola e sair em velocidade. O problema era ter a bola assim que o Flamengo decidiu assumir a partida. Não, o Flamengo não tem mais a fúria e a mobilidade de Jorge Jesus. Ficou no passado. Mas pode ser eficiente, competitivo e também plástico no modelo de Domènec. É a bola quem corre, de pé em pé, achando os jogadores devidamente posicionados e possibilitando inversões de jogo com frequência. Inicio de um lado, fim de outro. Assim o time começou a desequilibrar a defesa corintiana. Toques rápidos, inversões igualmente velozes. E Vitinho com facilidade para fazer o jogo andar. Toques mais rápidos, menos condução, capacidade de finalização. E vitalidade, o que geralmente lhe falta.

Fla no início: Vitinho por dentro, Everton alternando

O gol corretamente anulado pelo VAR de Pedro iniciou em retomada de bola do atacante ainda no campo defensivo. O Flamengo partia, acelerava e tinha, sim, troca de posições. Everton ocupava o meio, Vitinho entrava na área pela direita. Bruno Henrique pela esquerda, ainda que displicente em alguns passes para rápida saída. Filipe Luís, por trás, com todo o suporte ao iniciar a construção do jogo rubro-negro, organizar o time, acalmar a bola e fazê-la girar deliciosamente pelo gramado bem cuidado. Flamengo bem postado, com calma. Parecia ciente de que o gol sairia a qualquer momento, dada a superioridade. E saiu mesmo. Bruno Henrique fez o movimento da esquerda para o centro com a bola. Filipe Luís ultrapassou. O atacante deu a quebra em quem esperava um arremate dali ou avanço à grande área. Achou Filipe, à esquerda, que não cruzou. Deu um passe para a cabeçada do pequenino Everton Ribeiro, que já invadia a área. Vitinho, pela direita, também estava dentro dela. Assim, claro, como Pedro. 1 a 0.

O Flamengo era completamente dominante na partida. Claro, por ser um time ainda em reestruturação há falhas a corrigir. A exposição da entrada da área para finalizações adversárias é uma delas. Tem sido vulnerável nesse aspecto. Não à toa a grande chance do Corinthians no primeiro tempo foi no setor. Camacho recebeu na frente da área, ajeitou, não sofreu pressão e mandou uma bala no travessão de Hugo Neneca. Aí o time rubro-negro contou com a sorte. Tão dominante, tão superior e ainda capaz de entregar espaços para o adversário que são capazes de complicar o jogo. Ofensivamente, o time funcionava bem e sabia explorar o espaço entre zagueiros e volantes corintianos. E ensaiou demais o segundo gol, que viria no segundo tempo Everton Ribeiro e Vitinho recebendo na entrada da área, prontos para arrematar na meta de Cássio.

Ao fim, Corinthians retraído depois do quarto gol, mas com espaços

Depois de mais de 60% de posse de bola no primeiro tempo, o Flamengo voltou ao segundo ainda mais dominante. E o flutuar de Everton Ribeiro segue fundamental. É ele quem acha os espaços necessários e clareia para o desenvolver do jogo rubro-negro. É ele quem faz o diferente, dribla até a imagem da transmissão na tv. Talvez até por isso tenha maior liberdade de movimentação sob a batuta de Domènec. Mérito do técnico por enxergar a qualidade no meia e não o impedir, engessar como enxergado por muitos. Pois assim, flutuante, Everton Ribeiro recebeu pela direita, deu um leve tapa na bola e seguiu para o meio. Vitinho, à frente da área, recebeu, ajeitou, sem pressão alguma, e bateu de canhota sem a menor possibilidade de defesa para Cássio. 2 a 0. Mancini acabara de fazer uma trinca de substituições para apostar na velocidade. Objetivo claro de aproveitar um Flamengo possivelmente desgastado na maratona de quatro jogos em uma semana. Mantuan, Cazares e Luan nas vagas de Mateus Vital, Otero e Boselli. Aumentou, de fato, a velocidade. Mas abriu, também, mais espaços para o Flamengo. Sem ter como medir forças. É fatal.

Ao fim, Flamengo avançado, aproveitando espaços

Em seguida, Natan fez 3 a 0 em escanteio cobrado por Everton Ribeiro. O jogo estava basicamente sacramentado, embora o Corinthians assustasse nas bolas paradas. Assim Gil fez dois gols, um deles anulado pelo VAR e outro numa saída em falso de Neneca. Mas o jovem goleiro, em seguida, se recuperou com duas defesas espetaculares. Uma no chão, de Cazares. Outra no alto, de Luan. Com vantagem no placar, o Flamengo fez a bola girar. Quem corre é ela, não os jogadores. Evitar a fadiga. Com o Corinthians mais escancarado seria questão de tempo aproveitar os espaços. Vitinho circulava com muito mais liberdade, sem o combate direto de um já amarelado Xavier. Bastava contra-atacar com inteligência. Livre por dentro, ele recebeu e viu a ultrapassagem de Isla, com um latifúndio à disposição deixado por Lucas Piton. Cruzamento de primeira, rasteiro. Pedro não alcançou. Mas há sempre outras opções. Bruno Henrique, por exemplo. 4 a 1.

Momento, então, de poupar. E testar. Dome sacou vários jogadores e posicionou o time ainda mais adiantado. Filipe Luís quase alinhou a Noga e Natan. Isla disparou ao ataque junto com Ramon, mais à frente. Arão no centro, com Diego e Gerson por dentro. À frente, Bruno Henrique e Lincoln. Uma blitz para sufocar o adversário mesmo com o jogo já resolvido. De olho em alguma necessidade futura. O golaço de Diego, passando por quatro marcadores atordoados, apenas indicou um Corinthians já esfarelado diante de um Flamengo leve, dominante, impactante. Mas de maneira diferente da antiga fúria. Mais frio, mais calculista. E com peças mais ajustadas a Dome. Um time, de novo, em busca do jogo  que lhe faz não só confortável. Mas também feliz.

E que indica nomes relevantes para o futuro, como Natan, Noga e Hugo Neneca. Uma transição já em curso. É cedo para dizer se o time vai voltar a conquistar trofeus com a frequência de tempos recentes. Mas já entende melhor sua maneira de se apresentar. De dominar. Teve 61% de posse de bola, finalizou seis vezes no gol adversário*. Cinco entraram. Trocou 530 passes. Afinal, quem corre agora é a bola. O jogo flui. O Flamengo sobe. Massacra o Corinthians mesmo em Itaquera. Promissor.

*Números do SoFa Score

FICHA TÉCNICA
CORINTHIANS 1X5 FLAMENGO

Local: Neo Química Arena, em Itaquera, São Paulo (SP)
Data: 18 de outubro de 2020
Árbitro: Leandro Pedro Vuaden (RS)
VAR:
Público e renda:
Cartões amarelos: Xavier, Camacho, Otero, Luan (COR) e Natan, Bruno Henrique, Thiago Maia, Filipe Luís, Gerson (FLA)
Gols: Everton Ribeiro (FLA), aos 31 minutos do primeiro tempo; Vitinho (FLA), aos seis minutos, Natan (FLA), aos 12 minutos e Gil (COR), aos 18 minutos, Bruno Henrique (FLA), aos 26 minutos, e Diego (FLA), aos 40 minutos do segundo tempo

CORINTHIANS: Cássio, Fagner, Marllon, Gil e Lucas Piton; Xavier; Mateus Vital (Mantuan, 10’/2T), Camacho (Gabriel, 29’/2T), Otero (Cazares, 10’/2T) e Everaldo (Gustavo Mosquito, 29’/2T); Boselli (Luan, 10’/2T)
Técnico: Vagner Mancini

FLAMENGO: Hugo Neneca, Isla, Gustavo Henrique (Noga, 38’/1T), Natan e Filipe Luís; Thiago Maia (Willian Arão, 27’/2T) e Gerson; Everton Ribeiro (Ramon, 36’/2T), Vitinho (Diego, 27’/2T) e Bruno Henrique; Pedro (Lincoln, 36’/2T)
Técnico: Domènec Torrent

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