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Em patamar abaixo, Flamengo vence um Vasco no limite em São Januário

Bruno Henrique gol Vasco Flamengo São Januário Brasileiro 2020

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Diego Benítez Vasco Flamengo São Januário Brasileiro 2020

(Marcelo Cortes / Flamengo)

A diferença técnica entre Vasco e Flamengo existe já há algum tempo. A consequência direta é uma realidade inimaginável a quem sempre conferiu um duelo equilibrado entre os rivais. Não foi surpresa, portanto, mais um triunfo rubro-negro no Clássico dos Milhões em São Januário, como neste sábado. Uma vitória de 2 a 1 que mostrou que mesmo um Flamengo abaixo do seu patamar – até para os melhores dias com Domènec Torrent – pode superar o atual Vasco no seu limite. Distância abissal.

Não que o Flamengo não tenha feito esforço algum para conseguir a vitória. Ao contrário. Teve de suar e acelerar um jogo em que parecia acomodado e confiante na vitória. Mas os rubro-negros não tinham todas as suas fichas na mesa. Rodrigo Caio, Everton Ribeiro, Isla e Arrascaeta convocados. Diego Alves e Gabigol lesionados. Seis titulares fora e ainda assim o time conseguiu ser competitivo diante de um Vasco em seu máximo, envolto na eterna crise que permeia a Colina e parece não ter data de validade. Retrato fiel do panorama dos rivais.

Vasco no início: bem fechado e saídas sempre pela esquerda

Sem o demitido Ramon, o Vasco recorreu a Alexandre Grasselli, da base, para comandar a equipe. A ideia foi bem válida. 4-4-2 muito bem fechado, com Carlinhos, Andrey e Marcos Júnior à frente da defesa, sem ceder espaços por dentro para o rival. A alternativa era saída rápida pelo lado esquerdo. Benítez para acionar Talles Magno em velocidade, às costas do setor mais utilizado pelo Flamengo contra o Sport, principalmente com a presença de Gerson. Funcionou bem no primeiro tempo. Benítez, dedicado, acompanhava os avanços do 8 rival e na retomada de bola esticava para a abertura de Talles no espaço deixado por Matheuzinho. Por ali o Vasco preocupou mais a defesa rubro-negra. E também por ali saiu o gol precoce, com oito minutos de jogo. A ideia clara: um vacilo rubro-negro, uma retomada rápida e inversão de lado no buraco às costas de Matheuzinho.

O vacilo chegou com a displicência de Bruno Henrique ao recuar bola recebida de Thiago Maia. Cayo Tenório, atento, roubou a pelota e disparou em velocidade ao ataque. Com facilidade driblou Filipe Luís e, obviamente, cruzaria ao outro lado. Léo Pereira hesitou ao fechar o espaço. Gustavo Henrique tentou fechar o passe e, antes, olhou para trás, ciente de que Matheuzinho acompanhava Talles Magno. Mas o lateral, talvez por inexperiência, tentou também fechar o espaço para o passe e buscou a bola. Talles ficou livre, ajeitou o corpo com tranquilidade e bateu no canto rasteiro direito de Hugo Neneca. 1 a 0 que fez com que um foguetório aparecesse nos lados de São Januário. A caixa de som, rápida, fez o coro da torcida explodir em alto-falantes. Melhor início, impossível.

Fla no início: Matheuzinho e Gerson mais por dentro, liberando espaço

O Flamengo, então, acabou por sair da sua zona de conforto de maneira muito precoce. Novamente no 4-2-3-1, o time tinha configuração parecida com o último jogo, com Gerson na ponta direita. Mas o meia era bem vigiado e tinha mais dificuldade para driblar ou segurar a bola. Até Leandro Castán, feroz, o acompanhava a partir da entrada da área. Invariavelmente Gerson buscava o centro. Como Matheuzinho. O lateral avançava, mas ao passar do meio de campo buscava um jogo mais por dentro, bem diferente da ultrapassagem de Isla. E o jogo se tornou repetitivo. Vasco no aguardar da subida do Flamengo, geralmente lenta, para utilizar o lado esquerdo com Benítez, Talles Magno e, por vezes, também Henrique. Funcionava, muito pela lentidão do Flamengo.

Bruno Henrique não demonstrava a ferocidade de sempre pela esquerda. Recebia a bola e hesitava em partir para cima. Ainda assim criou as duas jogadas mais perigosas do time no primeiro tempo. Em uma delas, Miranda afastou a finalização perigosa com Fernando Miguel já batido. Thiago Maia, pelo centro, tentava dar o ritmo diante de um Diego com dificuldade para fazer o papel de meia com passes verticais. O camisa 10, por mais que tente acelerar, tende ainda a cadenciar o jogo na atual fase da carreira. O Vasco, dedicado, estava fiel à ideia e bloqueava bem o Flamengo, induzindo o adversário aos lados e a cruzamentos improdutivos da intermediária para Pedro. A vantagem vascaína prevaleceu até o intervalo. Antes, o time ainda teve razão ao clamar pela expulsão de Diego, já com amarelo, após entrada em Benítez. Ainda que o Camisa 10 tenha escorregado, o lance merecia um amarelo. O árbitro de forma equivocada relevou.

Na volta ao segundo tempo, o Flamengo pareceu que continuaria a insistir com o jogo pelo lado direito. Conseguiu o empate por ali, após falta sofrida por Pedro e levantada por Diego para a antecipada de cabeça de Léo Pereira. O 1 a 1 deu mais calma aos rubro-negros para inverter o jogo. Gerson e Matheuzinho seguraram mais as investidas pelo setor, dando menos espaço para Benítez lançar e Talles Magno receber a bola. E o Flamengo acelerava do outro lado, com Bruno Henrique bem colado à linha alteral. Cayo Tenório, instintivamente, teve de segurar qualquer ímpeto ofensivo. O Flamengo tomou conta do campo vascaíno, mas ainda tinha dificuldade para ter um jogo mais vertical. Girava a bola e tentava alçá-la na área, sem sucesso. Dome percebeu a necessidade de mudança. Até mesmo para evitar uma expulsão de Diego. Sacou o meia, pôs Gerson por dentro e esticou Michael à direita. Na esquerda, Bruno Henrique passou a fazer a movimentação que mais preocupa o time adversário. Em vez de ficar mais colado à linha lateral, sai da esquerda para o centro. Assim surgiu o gol da virada.

Vasco ao fim: lançado ao ataque, na base do abafa final

Uma jogada inteligente. Pedro dá passos atrás e leva Castán e Miranda na sua cola. Thiago Maia, com absoluta liberdade pelo meio, enxerga Bruno Henrique partir nas costas da Cayo Tenório e vencer Miranda na corrida. Fernando Miguel saiu mal, tentando afastar a bola. No tapa fraco, a bola sobrou para Bruno Henrique. Com inteligência e frieza, o atacante cortou o goleiro e bateu no contrapé, com o beijar da bola no pé da trave antes de entrar. 2 a 1. Com a vantagem no placar, o Flamengo entrou ainda mais no modo de dosar energias. Natural pela insana sequência que tem pela frente: mais três jogos até o domingo seguinte. O Vasco não viu outra alternativa ao não ser ter caráter mais ofensivo, no campo rival. Grasselli tirou Cayo Tenório, amarelado, e pôs Vinícius no ataque. Carlinhos recuou à lateral. Depois tirou Talles Magno e pôs Guilherme Parede. Abriu o time para pressionar o Flamengo pelos lados. Arriscou. O empate não chegou por centímetros.

Ao fim, Flamengo mais avançado, com Vitinho por dentro

Na boa jogada de Marcos Junior para Parede cruzar e Cano conferir. Gol corretamente anulado pelo VAR pelo impedimento de Parede, inquestionável principalmente em imagem demonstrada depois. Em lances não interpretativos questionar a validação da tecnologia, mesmo com imagem clara, diz muito sobre o universo do futebol brasileiro. Com o Vasco adiantado, o Flamengo teve três grandes oportunidades de matar a partida em contra-ataque. Michael desperdiçou duas, Pedro uma. Falta de capricho. Domènec Torrent, aflito à beira do gramado, reclamava da permissão em deixar o Vasco alçar bolas na área. Mas mesmo com todo esforço do time da casa, a vitória em São Januário mais uma vez foi rubro-negra.

Um Flamengo que teve 62%* de posse e foi eficiente ao finalizar três bolas no gol e marcar duas vezes. Sem jogo plástico, mas competitivo o suficiente para vencer um Vasco que deu o seu máximo, foi superior no primeiro tempo, finalizou mais bolas ao gol – quatro. Três pontos fundamentais e que apontam a maior distância de um rival para o outro na História. Ainda que, neste sábado, o Flamengo tenha se apresentado abaixo do patamar.

*Números do app SoFa Score

FICHA TÉCNICA
VASCO 1X2 FLAMENGO

Local: São Januário
Data: 10 de outubro de 2020
Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (SP)
VAR: Rodrigo Guarizo Ferreira
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Cayo Tenório e Talles Magno (VAS) e Diego, Thiago Maia, Bruno Henrique, Léo Pereira, Vitinho (FLA)
Gols: Talles Magno (VAS), aos oito minutos do primeiro tempo; Léo Pereira (FLA), aos dois minutos e Bruno Henrique (FLA), aos 24 minutos do segundo tempo

VASCO: Fernando Miguel, Cayo Tenório (Vinicius, 27’/2T), Miranda, Leandro Castán e Henrique; Marcos Júnior (Gabriel Pec, 47’/2T), Andrey, Carlinhos, Benítez; Talles Magno (Guilherme Parede, 37’/2T) e Cano
Técnico: Alexandre Grasseli

FLAMENGO: Hugo Neneca, Matheuzinho, Gustavo Henrique, Léo Pereira e Filipe Luís; Willian Arão e Thiago Maia; Gerson (Vitinho, 44’/2T), Diego (Michael, 22’/2T) e Bruno Henrique (Lincoln, 49’/2T)
Técnico: Domènec Torrent

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