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A fatal sedução do Titismo

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Lugano teve a precisão de um carrinho limpo no auge de carreira. Perguntado no programa Bola da Vez da ESPN Brasil o que achava sobre Tite, o então zagueiro são-paulino cunhou o adjetivo. Encantador de Serpentes. Certeiro. Simples. O técnico que assumiu a Seleção Brasileira foi o antídoto necessário para um futebol envenenado pela amargura de quem não se reconhecia mais no espelho, ainda atordoado com a humilhação do 7 a 1 em seus domínios. Além da competência, Tite e sua equipe entenderam o que o momento pedia. Uma transformação de imagem. Um antagonismo com o antecessor Dunga. Água para o vinho. Uma palavra da salvação. Inaugurou-se o Titismo na Seleção Brasileira.

Um estilo sedutor. Apresentação de planilhas com a quantidade de jogos estudados. Palavras bem posicionadas, empostadas. Posicionamento estratégico para agradar nichos. A busca pelo conhecimento. O Encantador com a flauta em punho, adormecendo críticas e tocando o trabalho ao seu estilo sem contestação sobre decisões, ainda que contraditórias. Tudo parecia dar certo. Uma Seleção renovada, organizada, com vitórias em sequência rumo ao topo da tabela nas Eliminatórias. O Brasil, de novo, quase imbatível. A sedução por essa ideia foi fatal. Pelo próprio Tite. Com um ambiente praticamente adormecido de críticas, o técnico acreditou demais no personagem que ocupou anúncios comerciais em overdose antes e durante a Copa do Mundo.

A dificuldade trazida pelo Mundial da Rússia indica que o encantamento de serpentes não foi suficiente. Tite merece um ciclo completo de Copa do Mundo. Deve continuar à frente da Seleção. Talvez não exista, mesmo, em nossos quadros alguém tão capaz para montar uma equipe de forma competitiva, em sintonia com o alto nível do futebol. E, ainda assim, não foi suficiente desta vez. O questionamento é essencial. Insistência com Gabriel Jesus e convocações com jogadores aquém das condições físicas ideais, talvez por gratidão, poucas opções no banco de reservas. Lembrou a Copa de 2010….com Dunga. A negação de que uma Copa do Mundo, de tiro curto, exige adaptações rápidas. Contra a Bélgica, o Brasil entrou em campo de forma previsível diante de um rival bem preparado. Adaptado. A inércia ao ver o time falhar em campo logo após o primeiro gol lembrou Luiz Felipe Scolari diante da Alemanha. Acordou tarde demais.

O momento é de deixar a flauta de lado. Admitir erros. Até primários, como o episódio da lista dos 35 jogadores, a perda do prazo, a confusão com Fifa e clubes brasileiros. O indício de que a aura de perfeição, na realidade, não existia. Se não foi vexatória como em 2014, a campanha brasileira na Copa de 2018 foi regular, mas aquém. O trabalho de Tite foi bom, com o pouco tempo à disposição durante o fim de ciclo, acerto rápido da equipe. Mas Neymar chegou indomável aos dois primeiros jogos da Copa. A tarefa vai além da tática. Do campo que fala. O externo também fala. Mas com a flauta a todo vapor, a voz messiânica nos anúncios, foi impossível ouvir os poucos alertas. Mesmo com todo ambiente favorável e estrutura, o Brasil falhou pela quarta vez consecutiva em uma Copa do Mundo. A sedução pelo Titismo foi fatal. Que fique no passado e Adenor Bacchi seja passível de críticas daqui para frente. Contestado, elogiado. Afinal, ele está no meio de nós.

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