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Afogado em acúmulo de erros, Flamengo esfarela diante da eficiência do São Paulo

Vitinho Flamengo São Paulo Morumbi Copa do Brasil 2020

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Gerson Morumbi Flamengo São Paulo Copa do Brasil

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Ação e reação. Consequências. A eliminação desta quarta-feira na Copa do Brasil apresentou de maneira impactante em 2020 o resultado de uma série de erros cometidos pelo Flamengo, principalmente no pós-pandemia. Um time esfacelado por desfalques, sim, mas também desmobilizado. Incapaz de reagir diante das dificuldades ao menor ataque. A pancada de 3 a 0 no Morumbi demonstrou quão frágil se tornou a equipe rubro-negra em momento-chave do ano: basta um mínimo percalço para tudo ruir. Esfarelar. É este Flamengo esfarelado, afogado em um acúmulo de erros, que vai ter de juntar os cacos para seguir na temporada com chances de conquistar ainda alguma taça. Desafio é enorme e talvez indique a necessidade de uma reformulação. Não de peças. Mas de ideias. De postura.

Ação. O Flamengo construiu uma ideia de jogo e um espírito de competitividade em um trabalho que tinha como eixo a comissão técnica de Jorge Jesus. Sucesso absoluto, com trabalho seguido à risca pelo centralizador Mister. Transformação. Sim, é necessário falar do português. O clube indicou não ter planejado o passo seguinte, sem que ele estivesse no dia a dia do Ninho do Urubu, talvez entorpecido em uma miopia sobre o tamanho do papel desempenhado de JJ nos corredores do CT. Seria necessário absorver e implementar o seu legado. Ao mesmo passo apoiou publicamente o retorno das competições em meio à pandemia mesmo com a possibilidade evidente de voltar a disputar o Carioca e, depois, ficar quase um mês paralisado às vésperas do Brasileiro. Reação. Ao tentar reativar qualquer tipo de protocolo o vácuo de poder de vários dias foi fatal. Abriu portas para a desmobilização. Ao reaquecer os motores para a disputa do Brasileiro a rotação dos rivais já era outra. E cá estamos em novembro a criticar o Flamengo por falta de competitividade no Morumbi. Por mais que Rogério Ceni tenha tentado reativar o modo Jesus neste primeiro momento, a desmobilização já era grande. Clara. E importante ressaltar: desmobilização não é falta de vontade. Ao contrário. O time até tenta.

São Paulo no primeiro tempo: bem na defesa, com dificuldade de sair

Pois o primeiro tempo no Morumbi, taticamente, não foi ruim. Ao contrário. Cumpriu até boa atuação dentro do cenário como já fizera também no Maracanã. E aí é sempre necessário fazer a ressalva: são inúmeros desfalques e desconsiderar todos seria até mesmo desonesto na análise. Isla, Rodrigo Caio, Filipe Luís, Diego, Thiago Maia, Pedro, Gabigol. Por mais que o elenco seja dado como o mais farto do futebol brasileiro – e de fato o é – não há equipe que resista a manter o seu patamar com perdas desse quilate. Ainda assim, o Flamengo tinha time para ser competitivo. Mas exigia concentração no máximo. Rogério, então, montou novamente um 4-4-2, desta vez com Arrascaeta ao lado de Bruno Henrique à frente. Michael e Vitinho nos lados, Gerson e Willian Arão por dentro. Na defesa, a novidade Thuler ao lado de Léo Pereira. E um detalhe: ao contrários dos dois primeiros jogos, Arão voltou a fazer a saída de três entre os defensores. Dá mais qualidade à saída. E lá foi a equipe a ocupar o campo do São Paulo. Farta troca de passes, mas sem agressividade. Muito, claro, pelo mérito do São Paulo com sua boa postura defensiva, sem disposição a correr riscos. O Flamengo que sonhava emular sua versão de 2019 na verdade apresentava um simulacro dos momentos irregulares da edição 2018.

Fla no início: avançado, pressionando São Paulo, mas sem agredir

No 4-4-2 bem agrupado, o time de Fernando Diniz tentava fechar os espaços, puxava Gabriel Sara e Igor Gomes pelos lados e trabalhava não ter os erros de saída de bola que promoveram chances rubro-negras no primeiro jogo. Mas a pressão rubro-negra funcionava a ponto de o time tricolor, com vantagem no placar agregado, chegar a jogar deliberadamente algumas bolas para a lateral ao ser incomodado. Não tinha opções de passe para iniciar seu jogo. Da beira do gramado, Diniz berrava. Reclamava. Estava desconfortável. O Flamengo pressionava, ocupava o campo, desarmava no ataque. Mas pouco agredia ofensivamente. Diferença fundamental para o time de 2019, agora um retrato na parede. Arrascaeta, claramente longe das condições físicas ideais tentava voltar ao centro, mas o espaço era reduzido. Não havia fluidez no jogo por dentro e as pouca opção, principalmente de Renê, pelos lados atrapalhava. O jogo era horizontal. O Flamengo dominava. Cercava, rondava. Mas não espetava. Gerson era mais lento do que o normal, com passes laterais por falta de opção por dentro. Bruno Henrique, sem espaço diante de um rival bem fechado, pouco produzia. Dominou, mas não levou. Fatal para quem precisava de um gol para reequilibrar o confronto.

Ação. Rogério Ceni claramente melhorou o time em relação ao trabalho anterior. Mas não é milagreiro. São apenas três jogos. Tornou o Flamengo um time bem mais agrupado, com avanços e recuos em bloco, e sofreu com avalanche de desfalques. O problema é a herança. Que partiu de uma escolha que rapidamente se mostrou errada. Domènec Torrent foi contratado após dias de conversas dos dirigentes na Europa. Não soube gerenciar o grupo, apontou erros a céu aberto, perdeu o controle e a capacidade de administrar o ambiente de um clube no futebol brasileiro com enorme pressão. Ainda encarou um elenco em rotação abaixo do indicado após o vácuo entre Carioca e Brasileiro. E surto de covid. Uma tentativa frustrada. A transição tentada entre o time já montado e a ideia do catalão foi afoita demais, longe do combinado. O legado é um time exposto, frágil demais defensivamente. Capaz de ruir à primeira adversidade. Sorte do São Paulo neste sentido e de sua total eficiência.

São Paulo ao fim: pressão maior no campo rival, ainda com consistência

Tão logo a bola voltou a rolar no segundo tempo ficou claro: Fernando Diniz adiantara o time para tentar incomodar também o Flamengo no iniciar de seu jogo. Bastava um clique. Ele quase veio em erro de Thuler no primeiro tempo, em que Brenner disparou e foi desarmado por Matheuzinho. No segundo chegou em cobrança de lateral. Juanfrán para Daniel Alves. Drible gingado em Arrascaeta e belo passe entre os zagueiros para Luciano tocar rapidamente. O VAR confirmou após a anulação do bandeira. Renê dava condição. Mas a bola saiu de Daniel Alves sem pressão e viajou fácil entre os zagueiros. Frágil. Exposto. 1 a 0. A partir daí o Flamengo ruiu. A estratégia de Rogério de pôr Everton Ribeiro em campo no sacrifício, na vaga de um Michael que sequer mostrava o potencial dos dribles, foi em vão. O time agrupado, que dominava a partida e avançava ao campo do adversário deu lugar ao nervosismo espaçado dos tempos de Domènec. Natural até. São gols e mais gols sofridos em sequência. Pânico diante do ataque adversário. Vai acontecer de novo. Mentalmente o Flamengo ruiu.

Fla ao fim: atacantes, espaçado e completamente entregue

O São Paulo aproveitou para sacramentar o confronto com facilidade que não teve no primeiro tempo. Havia espaço para ameaçar, já conseguia jogar, com calma para executar o planejado. Reinaldo cruzou da esquerda sem pressão e Luciano, com avanço solitário no meio da defesa, cabeceou sem chances para Diego Alves. 2 a 0. Novamente o Flamengo estava eliminado da Copa do Brasil. Mas moralmente definhou de vez no pênalti dado pelo VAR e isolado por Vitinho. Ação. Um time com Everton Ribeiro e Arrascaeta em campo permite que Vitinho, marcado pela torcida e com um peso enorme às costas, cobre pênalti importante. Mais um na lista de erros permissivos que invadiram o ambiente rubro-negro. Capaz de gerar momentos como a perda de gol de Lincoln contra o Atlético-GO e o desleixo de Hugo que gerou o gol de Brenner e a derrota no Maracanã. Condicionou o jogo do Morumbi. Rogério então passou a apostar em atacantes e poupar seu principais jogadores. Há ainda Libertadores e Brasileiro em jogo, como havia em 2019. Mas o espírito é diferente.

O São Paulo venceu o confronto pela eficiência. Atuou de acordo com o manual de um mata-mata, muito concentrado, e contou, também, com a ineficiência rival, principalmente no primeiro tempo do Maracanã. Deu a última estocada com Pablo, um 3 a 0 após pressão de Daniel Alves – em boa noite, embora longe dos superlativos atribuídos em meio à empolgação tricolor com a classificação – no improvisado zagueiro Arão. Uma eliminação que deixou o Flamengo atordoado. Incapaz de reagir no confronto. Conseguiu ser melhor em dois dos quatro tempos, mas acabou derrotado em placar folgado. E que refletiu o pacote de erros que cometeu no pós-pandemia. Como a incapacidade do departamento médico de repetir o bom desempenho de 2019. E as constantes mudanças no corpo técnico. Um clube que sempre teve a si próprio como ameaça ao que foi construído, como bem indicou Mauro Cezar Pereira ainda no início do ano. O momento é de retomar a mobilização. Superar atritos, agendas e indicações pessoais e outras possíveis prioridades. Ingredientes que fazem ruir o castelo erguido na temporada de ouro. O brilhantismo de 2019 parece ser impossível de ser resgatado. Mas ainda há disputas possíveis.

FICHA TÉCNICA
SÃO PAULO 3X0 FLAMENGO

Local: Morumbi
Data: 18 de novembro de 2020
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO – Fifa)
VAR: Wagner Reway (MT)
Acréscimos: dois minutos no primeiro tempo e seis minutos no segundo tempo
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Gerson (FLA)
Gols: Luciano (SAO), a um minuto e aos dez minutos, Pablo (SAO), aos 39 minutos do segundo tempo

SÃO PAULO: Tiago Volpi, Juanfrán, Diego Costa, Bruno Alves e Reinaldo (Léo Pelé, 40’/2T); Gabriel Sara (Hernanes), Daniel Alves, Luan e Igor Gomes (Vitor Bueno, 40’/2T); Luciano (Pablo, 36’/2T) e Brenner (Tchê Tchê, 18’/2T)
Técnico: Fernando Diniz

FLAMENGO: Diego Alves, Matheuzinho, Thuler, (Pepê, 20’/2T), Léo Pereira e Renê; Willian Arão, Gerson, Michael (Everton Ribeiro / Intervalo) e Vitinho (Pedro Rocha, 33’/2T); Arrascaeta (Lázaro, 33’/2T) e Bruno Henrique (Lincoln, 33’/2T)
Técnico: Rogério Ceni

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