Gerson Flamengo São Paulo Maracanã Brasileiro 2020
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Poesia da bola: Ceni resgata Flamengo na estreia, mas cai com pés de goleiro

Gabigol Flamengo São Paulo Copa do Brasil

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Gabigol Flamengo São Paulo Copa do Brasil

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Ainda que o ambiente não tenha sido o de sempre. Ainda que as condições em tempos de pandemia não tenham sido ideais… impressiona como o futebol gosta de traçar poesias com histórias da bola. O pacote de coincidências no Maracanã nesta quarta-feira era saboroso. Rogério Ceni pela primeira vez em um clube carioca justamente contra o São Paulo. Depois de ser eliminado pelo próprio Tricolor na fase anterior. Aliás, o último jogo do Mito do Morumbi, no comando do time paulista, em 2017, contra o Flamengo. Recepção calorosa da torcida em tempos de arquibancada vazia. E um jogo ironicamente decidido com os pés de um goleiro. Logo diante de Ceni. 2 a 1 quase no apagar das luzes que deu ao São Paulo um estufar de peito e, ainda assim, deu esperanças ao Flamengo de um futuro de novo promissor.

Desnecessário abordar a identificação e o conhecimento de Rogério Ceni sobre o São Paulo. É coisa de corpo e alma. Necessário, sim, abordar o conhecimento do técnico sobre futebol. A cultura da bola. Rogério chegou ao Flamengo com a leitura do cenário devida. Time de passado recente vitorioso, mas extremamente vulnerável. Desconfortável nas mãos de Domènec Torrent. O treinador, rapidamente, optou por devolver o conforto. Indicar aos atletas posições nas quais preferem jogar, com liberdade. Um aceno de boa fé. O pacote completo não só com a reaproximação literal de Gabigol com Bruno Henrique, mas também a volta de Diego Alves ao gol com faixa de capitão. Estruturas reestabelecidas. Restava dar o clique para reativar as ideias. Marcação avançada, como com Domènec. Mas agressiva, diferente dos tempos já idos do catalão. Sai o 4-2-3-1, volta o 4-4-2. Pelos lados Vitinho e Michael para superar os desfalques e aplicar velocidade. Everton Ribeiro e Pedro na seleção brasileira, Arrascaeta no banco ainda em condições físicas distantes das ideais. Agressividade, intensidade, movimentação. Menos posição.

Flamengo no início: avançado, agressivo e entre 4-4-2 e 4-2-4

Postura completamente distinta da goleada sofrida dez dias antes no mesmo Maracanã. E diante do mesmo rival. Fernando Diniz manteve a fórmula. 4-4-2, mas em vez de Tchê Tchê, afastado por covid, Juanfran na lateral. De restante, igual. Time avançado, tentando também pressionar o Flamengo e buscando sempre as saídas pelo centro do campo. Eis o problema. Com um time rubro-negro mais presente no campo adversário qualquer falha poderia ser fatal. O São Paulo cometeu várias no primeiro tempo. Diego Costa, Bruno Alves, Igor Gomes…bolas perdidas para pés rubro-negros que disparavam ao gol como nos tempos de Jesus. Pressão, retomada de bola e jogo bem vertical. Pelo lado, com jogadores velozes, Rogério Ceni tentou impedir o avanço dos laterais, principalmente Reinaldo. Foram armas na goleada de 4 a 1. Rogério mostrou ter observado.

São Paulo no início: Daniel Alves no iniciar do jogo, mas com dificuldade

Assim que o Tricolor tinha a bola, o Flamengo subia a marcação, posicionava Bruno Henrique e Gabigol avançados, com Michael e Vitinho tentando bloquear os lados. Por dentro, Gerson tinha a missão de receber a bola e esticar o passe, bem vertical. Como sempre. Assim aproveitou desarme de Vitinho em Bruno Alves para esticar ao Camisa 11 na direita. O passe ao centro saiu atrasado, às costas de Gabigol, que teve de frear a passada, dominar a bola para finalizar. Para fora. O Flamengo incomodava, sufocava, impedia o São Paulo de desenvolver o seu jogo. Daniel Alves, como sempre, travava duelos pelo centro no combate a Gerson, mas rapidamente recuava entre os zagueiros para iniciar a partida. Havia dificuldade, a tarefa não poderia ficar restrita a Luan. Caberia maior qualidade para indicar menos riscos. O Flamengo chamava atenção não apenas pela agressividade. Num breve olhar era claro: time muito mais agrupado no 4-4-2, avançando e recuando em bloco, com os zagueiros menos expostos a erros individuais como antes. Não houve finalização são-paulina no primeiro tempo. O pecado rubro-negro foi a má pontaria. Pois houve chances em demasia.

Michael, mesmo que não tenha sido brilhante, conseguiu cumprir o papel pelo lado esquerdo ao ser um tormento para Juanfran, que precisava ainda do auxílio de Gabriel Sara, sobrecarregando o garoto, ótimo escape para Diniz. Em uma saída errada, o atacante rubro-negro fez das suas diabruras pelo lado esquerdo e rolou ao centro. Gabigol não chegou. Faltava ritmo ao atacante, que já lamentara um gol anulado anteriormente também em passe de Michael, por dentro. O VAR anotou impedimento. O intervalo sem gols acabou por ser frustrante para um Flamengo amplamente superior. E um alívio para o São Paulo.

Rogério, inquieto, já dera instruções a Arrascaeta ainda no banco de reservas no primeiro tempo. A entrada na volta para a metade final tinha sido desenhada. Sacou Michael e pôs Arrascaeta em seu habitat. Da esquerda para o centro, sem ir ao fundo. Mudança de estratégia, mas aumento de qualidade para municiar a dupla de ataque. O problema foi ter sido golpeado antes. Uma amostra a quantas anda a fragilidade defensiva. A bola do São Paulo saiu limpa pelo lado e voltou ao meio, onde Gabriel Sara, inteligente, foi veloz o suficiente para ver a ultrapassagem de Brenner às costas de Gustavo Henrique. A bola entrou e o garoto, artilheiro por natureza, bateu sem chances para Diego Alves. 1 a 0. E a incredulidade invadiu o Maracanã.

A reação foi rápida. Vitinho já tinha ensaiado algumas vezes no primeiro tempo. Do lado para dentro e o passe. Arrascaeta o recebeu e, de primeira, colocaria Gabigol na frente de Volpi. Bruno Alves foi certeiro no corte. Bruno Henrique, próximo ao atacante, emulou 2019. Um toque e um passe para servir Gabigol. Na saída de Volpi, o toque com categoria. 1 a 1. Nem houve tempo de sair do jogo e o Flamengo inteiramente já estava de volta. Mas, claro, o desgaste do primeiro tempo cobraria. Ainda que tenha avançado a marcação em alguns momentos, a pressão não era igual. Gabigol, depois de um mês parado e minutos contra o Atlético-MG, já tinha dificuldades em acompanhar o ritmo da partida. Arrascaeta, ainda aquém, não tinha como fechar o lado direito como Michael. Juanfran avançava. Ceni, de novo, enxergou.

Sacou o Camisa 9 e pôs Thiago Maia no lado, mais à direita. Arrascaeta entrou por dentro para tentar incomodar a defesa são-paulina. Por mais que seja brilhante na leitura de espaços, não tem o tipo de jogo físico e técnico de Gabigol. Movimenta-se mesmo. O jogo ficou mais desafogado para o São Paulo. Havia mais liberdade para transitar da intermediária até o campo de ataque sem tamanha pressão. Avançar com os laterais. Trabalhar Igor Gomes e Gabriel Sara por dentro. Mas a ameaça, ainda, era a saída sem segurança. E por dentro. Volpi para Bruno Alves, erro de domínio e sorte ao Arrascaeta tentar diretamente o gol do que o passe para Bruno Henrique, livre. O jogo ainda era bem estudado, disputado. Mas o nível de intensidade já era menor. Diniz manteve a estrutura com Vitor Bueno e Pablo. Alternava pressão com o Flamengo. Sofria e a fazia.

Fla ao fim: tentativa de empate com Arrascaeta por dentro

A essa altura Hugo já tinha substituído Diego Alves, com câimbras. Na primeira intervenção impediu um gol de Luciano. Recebeu algumas bolas com os pés. Esticou, tocou curto. Sem maiores problemas. Ao fim da partida, o São Paulo subiu mais a marcação como em outros momentos. Posicionamento mais adiantado, tentando fechar opções de passe. Sabe que a ordem no Flamengo de Ceni é não rifar a bola. Trocar passes. Arão voltou a Léo Pereira, que tocou em Hugo e se afastou para o lado esquerdo, pronto para receber a bola como já fizera outras vezes. O garoto, então, abraçou o erro. A habilidade com os pés está longe de ser a mesma do novo treinador. Tem, sim, dificuldade. Mas não foi o caso. Bastaria devolver a Léo como das outras vezes. Por mais que o passe tenha sido lento havia tempo. Por mais que houvesse pressão, não era suficiente para complicar Léo Pereira. Havia espaço. Havia tempo. Mas Hugo fez a opção errada e tentou o drible diante de Brenner. Na pequena área. Erro infantil que custou o placar do bom jogo do time. Brenner não tem perdoado. 2 a 1 com chute feroz na rede.

Ao fim, São Paulo tentando travar espaços ao Flamengo

Fernando Diniz sacou o garoto e pôs Léo Pelé na defesa para bloquear qualquer investida rubro-negra. Ceni já tirar Vitinho e pôs Pedro Rocha, também ótimo no mano a mano, pela direita. Em cima de Juanfran, mais uma vez. O Flamengo girou, girou e não conseguiu mais ser incisivo. Eram poucos minutos e, moralmente, o time sentiu o erro de Hugo. Derrota inesperada, mas reflexo da eficiência são-paulina. A poesia da bola, travessa, fez Rogério Ceni cair em seu primeiro jogo pelo Flamengo diante do São Paulo e com erro dos pés com um goleiro. O time foi superior, finalizou 12 vezes contra quatro do adversário. Enquanto teve fôlego tentou ser agressivo, imponente, roubar bolas no campo rival. Travessos os deuses da bola. Rogério Ceni, de corpo e alma são-paulinos, vestiu rubro-negro. E iniciou o processo para retomar a identidade que parecia perdida de um Flamengo vitorioso. Há luz no futuro.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X2 SÃO PAULO

Local: Maracanã
Data: 11 de novembro de 2020
Árbitro: Anderson Daronco (RS – Fifa)
VAR: Daniel Nobre Bins (RS)
Acréscimos: Quatro minutos no primeiro tempo, seis minutos no segundo tempo
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Reinaldo (SAO)
Gols: Brenner (SAO), a um minuto, Gabigol (FLA), aos três minutos e Brenner (SAO), aos 42 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves (Hugo, 10’/2T), Matheuzinho, Gustavo Henrique, Léo Pereira e Renê; Willian Arão, Gerson, Vitinho (Pedro Rocha, 34’/2T), Michael (Arrascaeta / Intervalo), Gabigol (Thiago Maia, 23’/2T)
Técnico: Rogério Ceni

SÃO PAULO: Tiago Volpi, Juanfran, Diego Costa, Bruno Alves e Reinaldo; Luan, Daniel Alves, Gabriel Sara e Igor Gomes (Vitor Bueno, 33’/2T); Luciano (Pablo, 27’/2T) e Brenner (Léo Pelé, 45’/2T)
Técnico: Fernando Diniz

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