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Clássico das frustrações: Flamengo joga mal, mas vence um digno Vasco que cedeu ao fim

gol Flamengo comemoração David Luiz Arrascaeta Filipe Luís Vasco Carioca 2022

Bruno Henrique Riquelme Flamengo Vasco

Certamente nunca houve na História tamanha distância técnica entre Flamengo e Vasco. Um breve passar de olhos numa lista com os elencos e a constatação é óbvia. A superioridade rubro-negra é tamanha que em condições normais a vitória ocorreria sem grandes sustos. Trata-se, porém, de um clássico. O Clássico dos Milhões. A rivalidade tradicional traz combustível de parte a parte. Equilibra forças. O lado com maiores limitações se mobiliza. No caso, o Vasco. O lado com ampla vantagem técnica por vezes se espanta e encontra dificuldades enormes para vencer. Foi o que ocorreu no Engenhão neste domingo, na vitória rubro-negra por 2 a 1 arrancada no apagar das luzes com chute magistral de Arrascaeta. Daí o motivo para frustração de parte a parte: entre os rubro-negros pela vitória com uma apresentação muito aquém do esperado. E dos vascaínos por um time que teve dignidade e competitividade, mas falhou no último instante e saiu derrotado.

Desde que voltou a figurar no alto escalão do futebol sul-americano, como protagonista de todas as competições, o Flamengo demonstra dificuldades nos clássicos. Conte aí desde os tempos de Jorge Jesus quantas goleadas ocorreram diante dos maiores rivais. Um 4 a 1 sobre o próprio Vasco, em Brasília, em jogo absolutamente insano, com direito a penalidades perdidas pelo rival. Usualmente é um time que ainda que esteja absoluto em campo não reproduz no placar. Estaciona e não leva o gosto da arquibancada ao gramado. Com uma semana livre para treinos, ao contrário do adversário, sem nenhum problema físico além de Rodrigo Caio, a condição era ideal para um Flamengo com fome. Paulo Sousa teve as peças à disposição para formar o que considerava ideal ao momento. Montou mais uma vez a equipe no seu 3-4-2-1, trinca com Fabrício Bruno, David Luiz e Filipe Luís, Arão e Andreas por dentro, Matheuzinho e Everton Ribeiro nas alas. À frente, o trio Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol.

Fla no início: na frente, Gabi na direita, BH centro, Arrasca na esquerda

Do outro lado, Zé Ricardo segurou Raniel de olho na Copa do Brasil. Um confronto com a Ferroviária antes, outro com o Juazeirense depois. No meio, o poderoso Flamengo. Situação difícil. Como poupar de onde já pouco tem? A ideia de Zé foi segurar Raniel, pôr Getúlio à frente com Nenê e mandar a campo um 4-4-2, com Gabriel Pec e Riquelme estratégicos pelos lados. Ao atacar seriam eles os responsáveis pela velocidade. Mas ao defender eram eles os responsáveis por formar com os zagueiros e laterais uma linha de seis defensores. Travar o Flamengo do jogo já usual do time de Paulo Sousa: triangulações pelos lados para tentar a jogada com paciência até o cruzamento ou passe mais atrás ser certeiro ao encontrar espaço na área. Um 6-3-1 quando Getúlio recuava para tentar fechar o centro com Zé Gabriel e Juninho. O Vasco exagerou na postura de presa. O Flamengo, de bom grado, se colocou como predador.

Vasco no início Pec e Riquelme na formação da linha de seis

Iniciava o jogo principalmente pela esquerda, com Filipe Luís, Andreas e Everton Ribeiro. Dali circulava de lado a lado para tentar acionar os atacantes. O Vasco fechava as pontas, mas havia amplo espaço para a bola girar pelo centro. Rondava a área com uma constância não indicada para quem tinha como premissa se defender. Bastaram dez minutos. A pressão de bola do Flamengo na saída vascaína era constante. E foi eficiente. Riquelme foi desarmado, Arão com a bola nos pés tocou em Gabigol, que esticou em Matheuzinho. No cruzamento, Anderson Conceição, sozinho, jogou para escanteio. O Vasco tentava respirar. Não conseguiria. Na cobrança, Arrascaeta jogou a Arão, que dominou, girou e cruzou para Filipe Luís se antecipar a Léo Matos na pequena área. De cabeça, 1 a 0.

Superioridade tática, técnica e no placar. Pouco tempo já rodado no cronômetro. Adversário recuado. O panorama parecia indicar um Flamengo avassalador. Falsa impressão. O domínio rubro-negro seguiu por mais alguns minutos com troca de passes de lado a lado. Mas o Vasco, então, percebeu a necessidade de avançar. Combater mais o Flamengo no campo ofensivo. Pec e especialmente Riquelme deram mais passos à frente. Pela esquerda a equipe tinha mais facilidade de explorar deficiências rubro-negras. Paulo Sousa optou por alternar o posicionamento dos três jogadores mais avançados. Foi muito comum observar Bruno Henrique centralizado, Arrascaeta mais à esquerda e Gabigol à direita. Havia troca de posições, mas não com a mobilidade necessária para confundir e criar problemas para a defesa vascaína. O Flamengo, ao se defender, desenha um 4-4-2. Gabigol tem dificuldades em fechar o setor pela direita, no auxílio a Matheuzinho. Zé Ricardo soube explorar melhor o lado. Levou problemas duas vezes.

Primeiro em um cruzamento de Riquelme para Getúlio. David Luiz fez bom corte e impediu a finalização de frente para Hugo. Depois, Nenê cruzou da ponta na cabeça de Zé Gabriel, que só não empatou a partida devido a uma defesa espetacular de Hugo no canto esquerdo. O Flamengo já havia baixado a intensidade e mentalmente indicava ter problemas. Perdia divididas, mostrava maior nervosismo. Andreas cometeu falta e levantou demais o cotovelo – poderia ter custado uma expulsão. Nenê já circulava com maior facilidade atrás dos volantes rubro-negros. O Vasco subia o nível de competitividade. Paulo Sousa, enérgico na área técnica, parecia sentir a dificuldade.

Na volta ao segundo tempo, o Flamengo tentou repetir a estratégia do início da partida. Ocupação do campo rival, troca de passes até achar uma brecha para ampliar a vantagem. Arrascaeta tentava o centro para tentar acionar Bruno Henrique ou Gabigol e entradas em diagonal por trás da defesa. O Vasco, do seu lado, esperava pelo erro. Ele veio inicialmente com Andreas Pereira. Um desarme sofrido que, claro, remeteu a Montevideu. É um erro a ser corrigido. Não apenas na parte mental, uma necessidade óbvia. Mas Andreas, muito técnico, tenta utilizar a qualidade ao dominar a bola para acelerar o jogo. O erro pode ser fatal. Ao perceber a bola chegando, ele já pensa na sequência da jogada. Tem o costume de gingar o corpo, deixar a bola passar e aí tentar protegê-la do adversário que se aproxima em busca do desarme. Gerson fazia isso com extrema eficiência e segurança. Dificilmente era desarmado. Andreas tem sido muito pressionado pelos rivais. Tem perdido no corpo. No tranco. Assim aconteceu.

Gabriel Pec disparou no contra-ataque diante de um Flamengo absolutamente escancarado. O erro de Andreas foi primordial, Filipe Luís também não conseguiu ajudá-lo. E David Luiz errou o cálculo de maneira fatal. Pediu calma aos companheiros e ao mesmo tempo não pressionou Pec. O chute espetacular ainda beijou a trave antes de balançar a rede. 1 a 1. O panorama até mesmo favorável da arquibancada rubro-negra havia virado. O Vasco, confiante, reforçou o caráter defensivo para travar o jogo do rival. E as vaias direcionadas a Andreas decretaram um abatimento de toda a equipe. Paulo Sousa decidiu mexer. João Gomes e Vitinho nas vagas de Andreas e Everton Ribeiro. Força por dentro, drible e habilidade no lado para tentar furar o bloqueio vascaíno, que já ensaiava novamente a linha defensiva com seis jogadores.

Zé Gabriel e Juninho mantinham a força por dentro para evitar dar espaços como no primeiro tempo. Forçar o Flamengo a girar de um lado a outro, encontrar a dificuldade na linha de seis. Getúlio, com pouca participação ofensiva, foi substituído por Raniel. Zé Ricardo indicava prender um pouco mais a bola no ataque e tentar velocidade em um contragolpe. Não conseguiu. O jogo permaneceu quase em um só tom. Flamengo com a bola, alternando de um lado a outro, sem conseguiu penetrar na defesa vascaína, buscar o fundo do campo. Paulo Sousa tentava dar vida ao time. Com o Vasco mais recuado, pôs Pedro e Rodinei nas vagas de Matheuzinho e Arão. Começava a tentar rechear a área cruzmaltina. Mas o Flamengo talvez pela primeira vez sob seu comando pareceu desorganizado.

Se antes rodava a bola de um lado a outro em busca do espaço, a partir daí alternou entre os passes e bolas longas. David Luiz a Rodinei no lado direito ou grande área. Fabrício Bruno em busca do pivô de Pedro justamente na área. A parte ofensiva estava confusa. Pedro, Gabigol, Bruno Henrique, Vitinho e Arrascaeta não se encontravam e tampouco pareciam ter posições ensaiadas ou definidas. O Flamengo desejava a vitória a qualquer custo, ainda que de maneira desorganizada. O Vasco mantinha a postura apenas com troca de peças. Figueiredo dava novo gás ao lado esquerdo, Sánchez ao lado direito. Da arquibancada vinham os gritos de Marinho e Paulo Sousa parecia resistente. Até que, enfim, entendeu ser o momento.

Ao fim, Flamengo recheado de atacantes e Arrasca com espaço

Sacou Fabrício Bruno, permaneceu apenas com David Luiz como zagueiro de ofício. Abriu Rodinei e Filipe Luís pelos lados. João Gomes à frente para dar a mínima segurança necessária. Arrascaeta solto pelo centro. Nas alas Marinho esticado à direita, Vitinho à esquerda. Por dentro Bruno Henrique, Pedro e Gabigol. A entrada de Marinho reorganizou a ideia ofensiva do Flamengo. Empurrava mais o Vasco ao campo defensivo, que mantinha o cinturão para bloquear as investidas rubro-negras. A dificuldade, no entanto, persistia. Furar a parede cruzmaltina e criar oportunidades claras de gol era tarefa improvável. Marinho recebia a bola à esquerda e tinha o espaço encurtado. Vitinho pela esquerda era melhor opção, na habilidade do mano a mano. No seu 6-3-1, o Vasco voltou a ceder espaços pelo centro como no início do jogo. Erro que seria fatal. Liberdade para que os defensores avançassem com a bola e entregassem.

Vasco ao fim: cinturão defensivo mantido em busca do empate

Especialmente no gol rubro-negro, errou o veterano Nenê. Marinho tentava a jogada da ponta para dentro, de caráter individual. Algo, inclusive, que contraria a ideia de Paulo Sousa. Acabou desarmado por Andrey. Nenê recebeu a bola e em vez de reter a posse, tentar cavar a falta, preferiu tentar um improvável gol de antes do meio de campo ao ver Hugo adiantado. Falhou. Na retomada, o Flamengo voltou ao ataque com enorme tranquilidade. Filipe Luís a Arrascaeta já no campo ofensivo. Dali a Vitinho pela esquerda. Bola de volta a Arrascaeta com liberdade pelo centro. Havia, além do chute, até espaço para Rodinei receber livre à direita. A finalização saiu como uma cópia de uma semana antes, contra o Resende. Um belo gol. 2 a 1.

Uma vitória arrancada com o pior desempenho da equipe sob o comando de Paulo Sousa. Momentos de desorganização, dificuldades para furar o bloqueio rival, mesmo diante de uma equipe com claras limitações técnicas. Abrem-se questionamentos sobre o não aproveitamento, desde o início ou durante a partida, de jogadores como João Gomes, Thiago Maia e Lázaro. Principalmente após uma semana livre de treinamentos. O técnico português parece ter feito a leitura do cenário: era mandatório vencer o rival para comprar dias de trabalho em paz até a semifinal. Da maneira que foi possível, talvez nem mesmo da maneira que gostaria, Paulo Sousa forçou o time à frente com atacantes para buscar o gol redentor. Conseguiu. O desafio agora é retomar a evolução existente até o primeiro tempo contra o Resende.

Do lado vascaíno, Zé Ricardo conseguiu organizar e mobilizar o time de maneira suficiente para um embate digno contra um dos principais times da Série A. Deve ser um espelho para a sequência da temporada, na luta para voltar à elite. Contra outros adversários na Série B, o Vasco necessariamente deverá tomar a iniciativa da partida. Aí o desafio de Zé Ricardo será maior. Um clássico definido no fim, com frustrações de lado a lado. Mas lições foram deixadas no Engenhão se o desejo for absorver.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 2X1 VASCO

Local: Estádio Nilton Santos, o Engenhão
Data: 27 de fevereiro de 2022
Árbitro: Rafael Martins de Sá (RJ)
VAR: Pathrice Wallace Correa (RJ)
Público e renda: 19.340 pagantes / 20.186 presentes / R$ 691.103,00
Cartões amarelos: Andreas Pereira, Willian Arão, Arrascaeta (FLA) e Juninho, Anderson Conceição, Juan Quintero, Figueiredo (VAS)
Gols: Filipe Luís (FLA), aos dez minutos do primeiro tempo; Gabriel Pec (VAS), aos cinco minutos e Arrascaeta (FLA), aos 43 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Hugo Souza; Fabrício Bruno (Marinho, 37’/2T), David Luiz e Filipe Luís; Matheuzinho (Rodinei, 20’/2T), Willian Arão (Pedro, 20’/2T), Andreas Pereira (João Gomes, 10’/2T), Everton Ribeiro (Vitinho, 10’/2T); Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol
Técnico: Paulo Sousa

VASCO: Thiago Rodrigues, Léo Matos, Juan Quintero, Anderson Conceição e Edimar; Zé Gabriel (Andrey, 29’/2T) e Juninho (Luiz Henrique, 21’/2T); Gabriel Pec (Jhon Sánchez, 29’/2T), Nenê e Riquelme (Figueiredo, 21’/2T); Getúlio (Raniel, 15’/2T)
Técnico: Zé Ricardo

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