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Controlar é preciso: Flamengo golpeia Barcelona, mas não mata confronto

Bruno Henrique Flamengo Libertadores 2021 Barcelona

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Andreas Pereira Flamengo Barcelona Libertadores

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Pulsa o coração. É impossível negar o óbvio, caro torcedor. Uma vitória de 2 a 0 em casa numa semifinal de Libertadores é um resultado espetacular. Digno de comemoração, de celebrar com os amigos, rir de orelha a orelha, debochar dos rivais. Curtir. Baixa a frieza da razão. Tampouco é impossível negar o outro óbvio, caro torcedor: o Flamengo que venceu o Barcelona de Guayaquil no Maracanã por 2 a 0 nesta quarta-feira requer ainda muitos ajustes, especialmente a pensar no futuro. Peca demais no seu trabalho coletivo. E justamente por isso perdeu enorme chance de sacramentar a vaga na final no jogo de ida e tornar a partida de volta uma mera formalidade.

Flamengo no início: Gabi mais à direita, Andreas bem intenso

Não, não se trata de ser chato. Nem ter má vontade. Apontar questões delicadas mesmo em noites de bela festa da torcida no Maracanã é o que justifica uma análise. O Flamengo atravessa o seu maior período de glórias em quatro décadas. Conseguiu montar desde então o seu elenco mais qualificado. Um processo que teve início há pouco mais de dois anos. Não é a ideia iniciar aqui um estudo sobre Jorge Jesus. Mas o treinador português marcou a referência em 2019 de tal maneira que parte de suas ideias são seguidas até hoje pelos sucessores. O seu principal pilar, responsável por arrebatar público e crítica, era claro: tornar enfim o Flamengo a equipe avassaladora tão sonhada. Vejam bem: avassaladora, não infalível. Sim, o time histórico de 2019 por algumas vezes sofreu, teve momentos difíceis principalmente no período inicial de construção. Mas a ideia de controlar os jogos era inegociável.

Domènec Torrent e Rogério Ceni compartilhavam da mesma premissa. Podiam até não conseguir em determinados momentos por diversos fatores – queda física, por exemplo. Mas o Flamengo buscava controlar – e conseguia na maior parte – os jogos. Ditar o ritmo. Renato Gaúcho é quem apontou para essa ruptura. Natural que encare, portanto, críticas mesmo em uma vitória numa semifinal de Libertadores. Grande parte dos torcedores rubro-negros, ainda com quase todo este time, acostumou-se a vencer de outra maneira. O famoso outro patamar. Diante do Barcelona, o time venceu, mas correu riscos além do necessário em uma semifinal em casa. Dada a disparidade técnica. Dado o panorama apresentado pelo jogo.

Barcelona no início: pressão na saída de bola do Flamengo

Sem Arrascaeta e Filipe Luís, Renato buscou o simples. Renê e Vitinho. David Luiz como estreante na defesa, decisão acertada. Jogador experiente, confiante e de impacto diante de adversários e torcida. Um Flamengo no 4-2-3-1 e que tentou, sim, pressionar o Barcelona na saída de bola desde o início. Causou dificuldades ao rival. Mas causaria mais ainda se o Flamengo fosse uma equipe coletivamente organizada. Não é. É espaçada e tem dificuldade em agrupar seus setores ao ser atacada. Fabián Bustos, obviamente, sabe. E talvez até por isso tenha decidido não ser um mero sparring no Maracanã. Teve coragem e mandou o seu time à frente nos minutos iniciais. Devolveu a ousadia na mesma moeda. Alternou a equipe entre um 4-2-3-1 e, principalmente, um 4-4-2, Damían Díaz e Mastriani mais à frente com a pressão direta na saída, Preciado e Emmanuel Martínez pelos lados. E um adendo: ao Arão receber a bola entre os zagueiros para iniciar o jogo rubro-negro, Molina subia rapidamente para não o deixar respirar. Causou problemas. O Flamengo, hoje, tem enorme dificuldades para sair deste cenário. Corre riscos além do necessário.

Por isso Diego Alves foi obrigado a trabalhar para evitar o gol equatoriano que condicionaria o restante da partida. A defesa no chute de Mastriani foi espetacular – e reforça a ideia de que o clube tem de renovar o contrato do Camisa 1 enquanto não tiver outro atleta minimamente seguro para a posição. Por enquanto, está longe de tê-lo. Sem consistência defensiva, o Flamengo tentou utilizar o ataque como esta estratégia. É um risco assumido. Trocar golpes com o adversário em vez de assumir as rédeas do jogo e ditar o próprio ritmo, como era sua característica e que obviamente lhe traz menos riscos. David Luiz entendeu o momento e não deu brecha para qualquer jogada de efeito. Chutões, chegadas objetivas. No perde e ganha, o acelerar da partida tornava o panorama desconfortável, a arquibancada tensa. Mas era curioso. O Flamengo contava com boas atuações indidivuais. Tecnicamente, os jogadores se destacavam. Mas, coletivamente, o time não encaixava.

Flamengo ao fim: dois centroavantes, Maia e Arão

Andreas Pereira, pelo meio, fazia sua melhor partida desde a chegada. Apresentava intensidade acima de outros jogos, pressionava rivais, girava com a bola de um a outro lado. Isla, com o apoio da arquibancada, esbanjava confiança na lateral – fez desarme salvador na grande área em Emmanuel Martínez. Everton Ribeiro saía da direita para dentro. Bruno Henrique atacava Castillo pela esquerda. E Gabigol abria demais na direita, preocupando Pineida e chamando Riveros para fora da área. Mas Vitinho destoava. Nas costas dos volantes, o Camisa 11 não conseguia achar os passes ou espaços para finalização. Tampouco entrava na área para incomodar os zagueiros. A rotação era abaixo do jogo. Gabigol, então, tinha papel fundamental. Ocupava quase sempre o lado direito, dialogando com Isla ou em busca do próprio Vitinho. Movimentação quase infernal, intensa, na temperatura de um mata-mata de Libertadores. E qualidade individual que salta aos olhos. O entendimento com Bruno Henrique, também. Por uma ou duas vezes ensaiou o movimento já clássico, desde 2019. Puxada para dentro e bola alçada na segunda trave para mergulho de Bruno às costas da defesa. Lembrem do gol contra o Athletico na Supercopa do Brasil 2020, por exemplo. Algumas tentativas foram bloqueadas. Até que houve espaço. Passe perfeito, voo de Bruno Henrique e finalização ainda mais. 1 a 0.

Um gol que mentalmente desafogou o Flamengo na partida e diminuiu o ímpeto do Barcelona. A marcação equatoriana já não era mais tão avançada. E o time rubro-negro, enfim, teve seu momento de maior conforto no jogo. Trocou passes da defesa ao ataque. Arão recebia a bola entre os zagueiros já sem pressão, girava de Andreas aos laterais e fazia chegar a Everton Ribeiro ou Bruno Henrique. Ao perder a bola, tentava recuperá-la logo no campo de ataque. Espasmos do futebol dominante de outrora que quase deram frutos. Em uma recuperação, Renê esticou quase de costas para Gabigol ajeitar e tocar para Bruno Henrique na pequena área cabecear no travessão. Depois Andreas Pereira, por dentro, recebeu e sem ser pressionado bateu forte para ver a bola também resvalar no travessão de Burrai. O Barcelona tentou avançar mais um pouco. E ficou ao gosto do Flamengo de Renato Gaúcho e sua arma mortal: o contra-ataque.

Barcelona ao fim: um a menos, mas sem retranca

Em rápida recuperação na defesa, Everton Ribeiro recebeu por dentro e esticou a Gabigol na direita. A combinação é fatal. Dali a Vitinho, em cruzamento de primeira para Bruno Henrique, na segunda trave, tocar para o gol. 2 a 0. O Barcelona, então, desmanchou mentalmente. Ficou evidente na entrada mais dura de Molina em Bruno Henrique que o levou a receber o segundo cartão amarelo. Cenário perfeito para o Flamengo. Dois gols de vantagem, adversário com menos um, encurralado no segundo tempo, chance enorme de aplicar a goleada e passear em Guayaquil. Apenas uma chance.

Na volta do intervalo, Fabián Bustos surpreendeu ao sacar Damían Díaz, pôr Carcelén em campo e ainda assim agredir. O volante quase diminuiu em chute rasteiro com um minuto, mas Diego Alves, de novo, fez ótima defesa. Não foi um segundo tempo de um time só. Renato sacou Vitinho, pôs Thiago Maia e adiantou Andreas. Fabián Bustos renovou o fôlego e fez questão de não manter o time entricheirado na própria área. As chances rubro-negras vieram pelo alto, como o lançamento de Renê a Gabigol, que tocou por cima de cabeça. De novo, o jogo coletivo faltou quando o Flamengo deveria ser o protagonista absoluto da partida, com condições favoráveis, um jogador a mais, abrir espaços e ampliar a vantagem para viajar com o máximo de conforto e confronto praticamente liquidado em Guayaquil.

É o óbvio: o resultado foi espetacular, a vantagem considerável. É, também, o óbvio: a vantagem poderia ser ainda maior diante do panorama apresentado pela partida. Mesmo com um a mais durante quase todo o segundo tempo – não fosse a incompreensível agressão de Léo Pereira a León – o Flamengo sofreu 13 finalizações do Barcelona. Sim, finalizou 17 vezes*. Fez dois gols. Mas Diego Alves trabalhou demais. É o que ocorre quando não se tem o controle. Quando não se propõe a ter o controle. Quando não se consegue ter o controle. O Flamengo mais dependente das individualidades desde Abel Braga está próximo da final da Libertadores. E deixa claro que tem problemas e limites. Antes, tem de confirmar a vaga. Mas tem, também, tempo de fazer ajustes até lá. São tão necessários quanto reconhecer que Montevideu nunca esteve tão próxima.

*Números App SoFaScore

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 2X0 BARCELONA DE GUAYAQUIL

Local: Maracanã
Data: 22 de setembro de 2021
Árbitro: Andrés Cunha (URU)
VAR: Leodan González (URU)
Público e renda: 22.193 pagantes / 23.083 presentes / R$ 4.062.780,00
Cartões amarelos: Rodrigo Caio (FLA) e Castillo (BAR)
Cartões vermelhos: Molina (BAR), aos 46 minutos do primeiro tempo e Léo Pereira (FLA), aos 43 minutos do segundo tempo
Gols: Bruno Henrique (FLA), aos 20 minutos e aos 37 minutos do primeiro tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Isla (Matheuzinho, 34’/2T), Rodrigo Caio, David Luiz (Léo Pereira, 12’/2T) e Renê; Willian Arão e Andreas Pereira (Pedro, 38’/2T); Everton Ribeiro, Vitinho (Thiago Maia, 12’/2T) e Bruno Henrique (Michael, 34’/2T); Gabigol
Técnico: Renato Gaúcho

BARCELONA-EQU: Burrai; Castillo, León, Riveros e Pineida; Piñatares (Sergio López, 50’/2T), Molina, Emmanuel Martínez (Montaño, 36’/2T) e Preciado (Perlaza, 25’/2T); Damían Díaz (Carcelén / Intervalo) e Mastriani (Garcés, 25’/2T)
Técnico: Fabián Bustos

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