Bruno Henrique Flamengo Libertadores 2021 Barcelona
Controlar é preciso: Flamengo golpeia Barcelona, mas não mata confronto
23 setembro 22:33
Andreas Pereira Flamengo Palmeiras Final Libertadores 2021
Em um piscar, o baque rubro-negro: organizado, Palmeiras dá choque no Flamengo e leva o tri
03 dezembro 00:50

Sí, se puede: Flamengo histórico traça linha do Equador ao Uruguai pelo tri da América

Bruno Henrique Flamengo Barcelona Guayaquil 2021 Libertadores

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Everton Ribeiro Flamengo Barcelona Guayaquil Libertadores 2021

(Marcelo Cortes / Flamengo)

A arrancada é instantânea quando observa a fluidez dos passes. De um companheiro a outro, da esquerda à direita. A bola certamente vai chegar até ele. Limpa. Basta tocá-la ao fundo do barbante, suave. Quando Gabigol enxerga Everton Ribeiro por trás da defesa, ele aumenta a velocidade das passadas. Como se ainda fosse possível. Tão veloz que tem de desacelerar. E acelerar de novo. O toque é rápido, sem chances para o lateral equatoriano em desespero. A freada, brusca. As mãos vão aos ouvidos. Os olhos esbugalhados. Xingamentos no ar. Um gol que fincou bandeira. Fez, de novo, História. Bruno Henrique, inacreditável, anotou quatro em uma semifinal de Libertadores. Dois no Rio, dois em Guayaquil. 2 a 0 em cada perna contra o Barcelona. E do Equador traçou a linha que leva o Flamengo ao Uruguai, de novo ao Centenário, em busca do tri da América.

Barcelona no início: dois atacantes para perturbar os zagueiros

É impossível ainda mensurar o tamanho desta geração na história rubro-negra. Menos ainda o lugar do atacante que veste a camisa 27 desde 2019 e acumula jogos e atuações decisivas no panteão da Gávea. O tempo dirá. E ainda há tempo. Se há. Tempo que já contou muito, mudou percepções, sentimentos. O rubro-negro que tinha calafrios com fases mata-mata nas canchas de Sudamérica, vejam, está confiante. Enxerga-se agora como habitante deste universo particular chamado Libertadores. O baile sobre o Grêmio de Renato Gaúcho na noite de outubro de 2019 foi um suspiro eterno. Sem fim. Desta vez, não. A noite de setembro em Guayaquil é igualmente histórica, mas sem suspiro. Provoca reação oposta. Urro de alegria. Orgulho. Afirmação. Uma guinada na percepção não apenas externa, mas no olhar rubro-negro ao próprio reflexo. Pela terceira vez finalista em uma Libertadores. A segunda vez em três anos. Não é mesmo pouco.

Flamengo no início: time com postura à frente mesmo com vantagem

E sofrimento não houve. Sim, Diego Alves foi exigido de novo. Há vários pontos a corrigir e afinar até o encontro com o Palmeiras em Montevideu em 27 de novembro. Mas em momento algum o Flamengo fez questionar a sua vaga na final. Mérito inegável de uma geração que rompeu barreiras na tarde de 23 de novembro de 2019 em Lima. E, atualmente, méritos também de Renato Gaúcho, regente da orquestra. Na Libertadores Renato, inegavelmente, pavimenta o caminho rubro-negro de forma histórica. Seis jogos, seis vitórias, 18 gols marcados, três sofridos. Currículo invejável. No Monumental, o time fez partida superior à apresentada no Maracanã. Correu riscos, mas desta vez poderia de certa maneira até correr dada a vantagem. Adaptou-se às circunstâncias do jogo. Mais à frente, mais atrás. Com posse, sem posse. E mostrou, também, o lado negativo de ainda ter gosto pela famosa trocação, o caos instaurado. Pouco controle. Enquanto dá certo, a maior parte da torcida pouco vai questionar. Mas é melhor tê-lo.

Renato teve pela primeira vez o time completo. Seu 11 ideal. Ao menos por dez minutos, até David Luiz deixar o campo com lesão na coxa. Gustavo Henrique então teve entrar, deslocando Rodrigo Caio da direita para a esquerda. De restante, o time seguiu o mesmo, em um 4-2-3-1. E levou um susto aos 40 segundos, com o cartão amarelo de Andreas Pereira. Foram dois lances que mostraram maturidade da equipe para disputar a Libertadores. Um volante amarelado tão cedo, um baque com a saída de um zagueiro de nome logo com dez minutos. Mas sem desespero. O Flamengo contava que seria pressionado pelo Barcelona. Sabia, também, que teria de pressionar. Por isso apertou mais à frente nos minutos iniciais. Tentou causar problema à saída de bola equatoriana. A questão fundamental é que atualmente apresenta problemas ao se reorganizar defensivamente. Tão logo perde a bola, ainda há espaços generosos entre ataque, meio e defesa. É uma equipe pouco agrupada. Há campo para o adversário jogar, o que foi bem explorado por Fabián Bustos.

O Barcelona, com a necessidade de fazer gols para entrar novamente no confronto, sacou Damían Díaz em relação ao primeiro jogo e pôs dois atacantes, Garcés e Mastriani, para perturbar a defesa rubro-negra. 4-4-2 e apostou nos avanços pelos lados dos laterais, Pineida e Castillo, em busca dos finalizadores na área. Filipe Luís, pela esquerda, deu conta do recado com a inteligência de sempre nos passos em campo. Isla, à direita, já encontrou mais dificuldades com os avanços de Emmanuel Martínez e Pineida. Não à toa Renato pedia atenção a Isla e o auxílio de Everton Ribeiro. O técnico entende que há o que corrigir, espaços a fechar. Evitar ceder chances de finalização, arremates sem bloqueios. O Flamengo deve ser mais seguro, organizado defensivamente. Mas há o outro ldo: voltou a ser fatal à frente.

Ainda que Arrascaeta estivesse longe de sua forma, sem tempo de bola após o período inativo com a lesão, sua presença contribui para a fluidez do jogo. Os passes rodam, o entendimento com o trio Bruno Henrique, Gabigol e Everton Ribeiro é óbvio. As jogadas estão ensaiadas desde 2019. Os espaços aparecem com a movimentação. Assim o time conseguiu abrir o placar com o Barcelona avançado. Troca rápida de passes, Arão a Everton Ribeiro, que quebrou para dentro e achou Bruno Henrique nas costas da defesa, preocupada também com o arranque de Gabigol à direita. Livre, leve e solto, o Camisa 27 driblou Burrai e tocou para fazer 1 a 0 e praticamente liquidar o confronto. 1 a 0. Jogada muito parecida com a do primeiro gol contra a LDU em Quito, ainda na fase de grupos. A memória está lá. O Barcelona, então, se lançou ainda mais ao ataque. E o Flamengo diminuiu a preocupação defensiva. Abriu caminho para a direita para as subidas de Pineida. Por ali o Barcelona chegou e exigiu de Diego Alves três participações importantes para evitar o gol equatoriano. Ainda assim encerrou a primeira etapa com a vantagem.

Ao fim, Barcelona ainda à frente, em busca de um gol de honra

Era uma partida aberta. Sem domínio evidente, com espaços dos dois lados, ataques mais francos. O Flamengo, ao contrário do Maracanã, poderia até correr mais riscos. O Barcelona deveria correr riscos. É grande a diferença. Renato fez o time no segundo tempo dar passos atrás, mas alternar para ter mais a bola no pé. Manter a posse, trocar mais de lado a lado. Ser mais racional com a vaga para a final tão próxima. Atrair o Barcelona e definir o placar. Beber da fonte de 2019 não é demérito a técnico algum do Flamengo que assuma o time após Jorge Jesus. Ao contrário. É entender que oito das 11 peças que formaram engrenagem tão preciosa ainda estão por ali, prontas para funcionar quase da mesma maneira se possível. Se desejado. Em alguns momentos, o desejo é possível.

Flamengo ao fim: classificado, Bruno Viana como volante

Saída de bola com Diego Alves para Arão ainda na pequena área. A bola gira da esquerda entre Filipe Luís, Andreas e Rodrigo Caio até ir à direita a Gustavo Henrique e Isla. Dali a Arrascaeta, Gabigol e Everton Ribeiro, já em velocidade nas costas de um desesperado Riveros. O toque para Bruno Henrique na pequena área rolar para o gol mesmo com o carrinho em vão de Castillo completou a jogada espetacular. Todos os 11 jogadores tocam na bola. O Barcelona, atraído de um lado a outro. De trás para a frente. Movimentou-se a mando do Flamengo sem se dar conta. Quando percebeu, Bruno Henrique já estava solitário, livre para fazer o gol. E o confronto estava encerrado com o 2 a 0 no placar.

Fabián Bustos, digno, manteve o time à frente com trocas, não abdicou de um jogo ofensivo em seu próprio território. Mas o Flamengo, já dono da partida, assumiu o controle de vez. Trocava passes à espera do apito e da vaga na final. Baixou a intensidade. Fez substituições. Olhou para o futuro. Dia 27 de novembro, contra o Palmeiras, no Estádio Centenário, em Montevidéu. Pela terceira vez na história em uma final de Libertadores. A segunda desta geração em três anos. E sem grandes sustos. O suspiro com a vaga na decisão em 2019 virou o urro de alegria e orgulho em 2021. A afirmação de uma guinada na História. E com provas de que o time completo, com concentração e competitividade no alto, pode apresentar seus melhores momentos com posse de bola, troca de passes, imposição. Mais coletivo, menos individual. A característica que o fez histórico. É ingrediente precioso a se levar na linha recém-traçada do Equador ao Uruguai. O tri da América pode passar justamente por aí. Sí, se puede.

FICHA TÉCNICA
BARCELONA DE GUAYAQUIL 0X2 FLAMENGO

Local: Monumental de Guayaquil
Data: 29 de setembro de 2021
Árbitro: Roberto Tobar (CHI)
VAR: Julio Bascuñan (CHI)
Público e renda: não divulgado
Cartões amarelos: León, Piñatares (BAR) e Andreas Pereira, Willian Arão (FLA)
Gols: Bruno Henrique (FLA), aos 17 minutos do primeiro tempo e aos quatro minutos do segundo tempo

BARCELONA-EQU: Burrai, Castillo, León, Riveros e Pineida; Emmanuel Martínez, Carcelén (Perlaza, 10’/2T), Piñatares (Oyola, 33’/2T), e Preciado (Damían Díaz / Intervalo); Garcés (Cortéz, 10’/2T) e Mastriani (Sergio López, 33’/2T)
Técnico: Fabián Bustos

FLAMENGO: Diego Alves, Isla, Rodrigo Caio, David Luiz (Gustavo Henrique, 9’/1T) e Filipe Luís (Renê, 25’/2T); Willian Arão e Andreas Pereira (Bruno Viana, 31’/2T); Everton Ribeiro, Arrascaeta (Pedro, 31’/2T) e Bruno Henrique (Michael, 25’/2T); Gabigol
Técnico: Renato Gaúcho

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