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Grêmio vence e propõe ao Flamengo de Renato o dilema da alternativa

Renato Gaúcho Flamengo Grêmio Brasileiro 2021

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Vitinho Flamengo Grêmio Brasileiro 2021

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Enfrentar o mesmo adversário por diversas vezes seguidas traz ônus e bônus. É fácil conhecer o rival. Mas é também fácil ser rapidamente conhecido por ele. O Flamengo conseguiu vencer o Grêmio por duas vezes antes deste domingo no Maracanã por um agregado de 6 a 0. Desta vez caiu por 1 a 0, mas de forma preocupante. Não pelo placar, a sequência do Brasileiro, disputa de título. Nada disso. Há muito campeonato e tempo de recuperar até. O que torna preocupante, mesmo, foi o desempenho. O Grêmio de Felipão entendeu minimamente o Flamengo de Renato Gaúcho e de maneira até simples lhe propôs o dilema da alternativa. Saia da via quase única que tem alcançado as vitórias. O time rubro-negro, voraz nos últimos anos, não conseguiu. O sinal de alerta é ligado para a sequência da temporada e os jogos decisivos que já se apresentam.

Tão logo Renato Gaúcho chegou ao Flamengo ele mostrou que não teria receio em tornar a equipe com gosto pela posse, de farta troca de passes e que empurrava o adversário ao campo defensivo em um time que faria o papel de buscar o contra-ataque. A estreia contra o Defensa y Justicia, com todas as dificuldades, já foi o cartão de visitas. As goleadas seguintes apontaram um respiro. Um time que por vezes ocupou, sim, o campo adversário, marcou no campo rival, pressionou a saída de bola e conseguiu utilizar seu potencial ofensivo. Renato teria soltado um time travado por Rogério Ceni, disseram os apressados. Meia-verdade. Renato o tornou, sim, bem mais intuitivo, o que certamente funcionou para o momento.

Flamengo no primeiro tempo: dificuldade sem espaço

Mas ficou claro com o andar dos jogos que a equipe se tornou, também, menos organizada. Por isso as comparações com o time do Jorge Jesus são descabidas. Rogério Ceni tornou o Flamengo organizado em relação a Domènec Torrent. Mesmo com alternância de jogadores havia um padrão, ainda que no período da Copa América os desfalques em fartura tenham pesado para a ausência de resultados. Mas a organização pouco flexível segurava o lado intuitivo da equipe de tal maneira que prejudicava o potencial de alguns jogadores com o tempo. Renato foi pela outra via. Time mais intuitivo, menos organizado. Jorge Jesus unia os dois: time muito organizado, principalmente defensivamente, mas também extremamente intuitivo. Por isso aquela explosão épica. A questão da preferência de Renato, no entanto, foi ter ido além: moldou o Flamengo de maneira que nem Dome e nem Rogério fizeram com o espólio do time de Jorge Jesus. Um Flamengo de contra-ataque. Matar jogos ao chamar o rival ao seu campo e assim ser fulminante. Resolver jogos em minutos. Defensa y Justicia em Brasília, São Paulo no Maracanã, Grêmio no Sul, Santos na Vila…foram ótimas vitórias encontradas nas brechas dos jogos. Não no controle das partidas.

Seria fabuloso ao universo rubro-negro se a ideia de Renato fosse um acréscimo ao repertório do time. Uma alternativa a situações complicadas dentro de uma partida. Não um redirecionamento da equipe no estilo de jogo. Pois bem. Felipão, enfim, percebeu isso. Talvez tenha observado o próprio jogo contra o Palmeiras de Abel Ferreira, outro que prima pelo jogo de contra-ataque, embora de maneira bem mais rústica. No Allianz Parque o Flamengo teve a competência e a sorte de empatar a partida imediatamente após sofrer o gol inicial. Do contrário, o panorama poderia ser bem parecido ao que se viu neste domingo no Maracanã. Felipão mandou a campo um Grêmio no 4-2-3-1, com Ferreirinha e Alisson como escapes rápidos pelos lados e marcação ferrenha da intermediária defensiva. Nada de marcação na saída de bola rubro-negra como em jogos anteriores para dar campo à velocidade de Michael, por exemplo.

Grêmio no primeiro tempo: saída em velocidade para surpreender

De certa forma isso já travou o jogo rubro-negro. Pois o Flamengo hoje é mais direcionado a tomar a posse de bola e imediatamente acelerar a jogada, de forma vertical. Não trabalha mais a posse com calma até achar a brecha, o melhor momento para atacar. Everton Ribeiro fazia o movimento por dentro para dialogar com Vitinho e abrir corredor para Isla, bem vigiado por Rafinha. Arão recuava para fazer a saída de três e Andreas recebia a bola, girava e com os lados bem marcados, tanto para a subida de Isla ou Michael, com a dobra de Vanderson e Thiago Santos ou Rodrigues em cima, o volante buscava o jogo por dentro, com passes verticais. Tem muita qualidade neste quesito e por vezes quase achou Gabigol por ali. Mas o Grêmio se fechava bem e escapava sempre com velocidade, principalmente pela esquerda, às costas de Isla quando o espaço aparecia.

Mas a bola era rubro-negra. De poucas ideias, de pouco girar o jogo. De poucas alternativas. Everton Ribeiro, em boa fase, é quem dava o toque necessário de criatividade ao time sem Arrascaeta e Filipe Luís, mentes que desafogam e o auxiliam na saída de bola e criação. O Camisa 7 caía por dentro, buscava tabelas, mas pecava em finalizações, como na que bateu por cima do gol de Chapecó, sem marcação alguma. O Flamengo, desorganizado, espaçado e com menos intensidade na marcação, era alvo fácil para investidas gremistas. Por isso não foi surpresa Ferreirinha receber pela esquerda, cortar para dentro para Borja subir entre Léo Pereira e Renê para cabecear sem chances para Diego Alves. 1 a 0. E a estratégia de Felipão estava perfeitamente montada com o apito imediato para que as equipes descessem ao vestiário no intervalo.

Ao Flamengo não haveria outra maneira. Deveria assumir as rédeas do jogo de forma definitiva. Voltar a se impor sobre o adversário, trocar passes, empurrar o Grêmio para o campo defensivo e abrir brechas. Mesmo o empate no Maracanã não seria ruim para o Tricolor Gaúcho, em situação delicada na tabela. O desenho da partida, então, seria óbvio: era o Grêmio agora quem se fecharia completamente e buscaria o contra-ataque. A ideia preferida de Renato nos últimos jogos estava nas mãos de Felipão. Era o que apresentava a partida. A solução para isso é ter alternativas de jogo. O Flamengo não teve. Aos 19 minutos, ainda com muito tempo pela frente, Renato mostrou iniciativa.

Flamengo no segundo tempo: sem ideias, atacantes empilhados

Mas sacou dois meias, Everton Ribeiro e Vitinho, para pôr Pedro e Bruno Henrique em campo. Óbvio que são necessárias flechas para ferir o oponente. Mas sem arcos – ou com apenas um – fica difícil abastecê-las. Imediatamente o time se posicionou em um 4-2-4 em campo. Arão e Andreas pelo meio, com os quatro atacantes à frente, Bruno Henrique à esquerda, Michael à direita. Arão retornava aos zagueiros para a saída, Andreas se tornava o responsável pela criação em um latifúndio. Gabigol voltava à intermediária para tentar emular o papel de meia. Nada funcionava. Não parecia algo devidamente ensaiado. Era um time desequilibrado, em busca de um abafa salvador. Longe da estratégia e da calma e confiança necessárias de outros tempos para girar a bola e abrir espaços diante de um rival bem fechado. O Grêmio, posicionado em um 4-1-4-1, rebatia bolas enquanto podia. O Flamengo dependia exclusivamente da individualidade. Coletivo não havia. Bruno Henrique, ausente quase um mês por lesão, não tinha espaço para arrancar e mostrava dificuldade em movimentos.

Grêmio ao fim: recuado, em busca de deixar rival no desconforto

Havia opções de peças no banco. Thiago Maia, principalmente. Talvez adiantar Andreas ou o próprio Camisa 8. Mas um substituiu o outro apenas aos 48 minutos do segundo tempo. Kenedy, ainda fora de forma, estreou no desespero pela individualidade no lugar de Michael, em busca de dribles salvadores. Em vão. Diego Alves ainda evitou, ao defender pênalti de Borja, um placar maior. O Flamengo com abundância técnica em campo, mas poucas ideias para aproveitá-la. Pela segunda vez, o time de Renato Gaúcho saiu derrotado. De novo no Maracanã. De novo quando saiu atrás do placar. De novo às vésperas de um duelo importante em mata-mata. O Grêmio voltou ao Maracanã disposto a ter paciência e propor o dilema da alternativa ao Flamengo. Foi feliz. Tirou os rubro-negros do contra-ataque e lhes permitiu ter 62% de posse de bola* e trocar 454 passes. Mas apenas uma finalização certa no gol gaúcho. Faltaram ideias ao Flamengo em um momento crucial da temporada. A semifinal da Libertadores já se avizinha. Inegável que é preocupante.

*Números app SofaScore

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 0X1 GRÊMIO

Local: Maracanã
Data: 19 de setembro de 2021
Árbitro: Marielson Alves Silva (BA)
VAR: Bráulio da Silva Machado (SC – Fifa)
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Isla, Bruno Henrique, Rodrigo Caio (FLA), Borja, Thiago Santos, Vanderson (GRE)
Gol: Borja (GRE), aos 48 minutos do primeiro tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Isla (Matheuzinho, 32’/2T), Rodrigo Caio, Léo Pereira e Renê; Willian Arão e Andreas Pereira (Thiago Maia, 48’/2T); Everton Ribeiro (Bruno Henrique, 18’/2T), Vitinho (Pedro, 19’/2T) e Michael (Kenedy, 31’/2T); Gabigol
Técnico: Renato Gaúcho

GRÊMIO: Gabriel Chapecó (Brenno, 7’/2T), Vanderson, Ruan, Rodrigues e Rafinha (Cortês, 36’/2T); Thiago Santos e Lucas Silva (Mateus Sarará, 37’/2T); Ferreira (Léo Pereira, 36’/2T), Villasanti e Alisson (Diogo Barbosa, 47’/2T); Borja
Técnico: Luiz Felipe Scolari

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