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Desmanche nas alturas: Flamengo tem segundo tempo terrível e cai diante do Aucas

Gabigol estreia Libertadores 2023 Aucas

(Marcelo Côrtes / Flamengo)

Matheus França gol estreia Flamengo Libertadores 2023 Aucas

(Marcelo Côrtes / Flamengo)

É bem possível iniciar o traçar dessas linhas como as últimas sobre o Fla-Flu. Desde que chegou ao Brasil, ainda para comandar o Corinthians, Vitor Pereira deixou claro ser um homem convicto de suas ideias. E as põe em prática independentemente do que achem você, eu, crítica e, literalmente, a torcida do Flamengo. Está claro, também, que ele não trabalha com o conceito de titulares. Escolhe a formação de acordo com estratégias. Para o jogo, para a semana, à baila do calendário. E sente o momento. Diante da bagagem enorme de insucessos em 2023, o Campeonato Carioca se impõe como necessidade. Tal qual um cilindro de oxigênio a quem está sufocado. A Libertadores, ainda não. Ainda assim, o Flamengo se desmanchou de maneira indesculpável no segundo tempo na altitude de Quito. Levou a virada de maneira débil como o atual campeão jamais poderia sofrer. Um 2 a 1 que eleva ainda mais a pressão para o Fla-Flu decisivo.

É óbvio que ao considerar os passos para a semana, VP fez a leitura do impacto na temporada. Um sucesso em Quito e um insucesso no Fla-Flu depois de abrir vantagem considerável no primeiro jogo seria catastrófico. Mas a imagem já está demais arranhada para qualquer percalço. Não há crédito. Ao contrário, há dívida. O Flamengo de VP deve seguir à risca o hino para sobreviver diante da realidade. Vencer, vencer, vencer. A quase 3 mil metros de altitude é necessário ter uma estratégia. Por mais que fisiologistas de rede social desconsiderem o impacto no organismo de atletas ou na velocidade da bola, ele é real. Bem real. VP, então, pôs em campo um time muito mais técnico do que no último fim de semana. Repetiu apenas dois jogadores do Fla-Flu: Santos e Matheus França. Mais técnico e, portanto, mais lento. Estratégia clara: manter a posse, respirar e controlar o jogo com a bola nos pés.

Aucas no início: time mais retraído, Quiñonez no meio dos zagueiros

O sistema, no fundo, era o mesmo. Um 3-4-3 com Filipe Luís como zagueiro, o que facilita a construção e o toque. Vidal, Victor Hugo e Everton Ribeiro também ajudam no fluir. A ideia de controle de jogo funcionou bem na primeira etapa. O Flamengo tinha a bola, girava, embora muito horizontalmente, sem acelerar tanto. Velocidade, talvez, com Marinho e Matheus França. Até compreensível: é necessário dosar energias na altitude para não se entregar a um ataque previsível do rival no segundo tempo. Até porque o Aucas deixava claro também o seu jogo. Em um 3-4-1-2, o time de César Farías jogava recuado, no aguardar do Flamengo e tentava esticar bolas às costas de Filipe Luís e Marinho. Foram algumas inversões de bola por ali para Cifuente ou Perlaza. Altitude, velocidade maior. E, por dentro, por vezes Quiñonez deixava a função de zagueiro e infiltrava. Nada dramático, porém. Era um jogo até tranquilo dada a fragilidade técnica do adversário. O Flamengo tinha campo.

Fla no início: time mais técnico, com posse e controle do jogo

E tinha poréns. Com o time adiantado, os três zagueiros não funcionavam tão bem, especialmente Pablo e Rodrigo Caio. O Aucas tentava explorar indecisões entre ambos. Havia espaço. E os alas tampouco funcionavam bem. Marinho com a dificuldade de sempre pela esquerda ao atacar e, especialmente, ao defender. E Wesley tinha dificuldade clara com a altitude. Tecnicamente pecava com a velocidade da bola, tanto ao bater nela ou ao acertar a passada. Ainda assim, o controle era rubro-negro e não espantou quando Pablo se antecipou a uma bola esticada, deu no pé de Matheus França, que arrancou, driblou três e abriu o placar. 1 a 0. Vantagem no bolso, primeiro tempo até bem controlado, com estratégia acertada. Parecia um noite encaminhada. Parecia.

Aucas na segunda etapa: time mais avançado, Quiñonez no meio

Pois às vezes parece também difícil explicar como um time experiente, com diversos jogos na altitude, é capaz de derreter no segundo tempo. Há, inegavelmente, o componente da altitude. Mas não só. No primeiro rolar de bola na segunda etapa ficou clara a mudança de postura do Aucas. Era algo esperado. O time mais retraído se adiantou. Quiñonez se descolou de vez da defesa e preencheu mais o meio. Passou a pressionar a saída de bola e ser agressivo. Bolas nas costas de Filipe Luís e Marinho. Cruzamentos na área, arremates de longe, cabeçada salva por Santos. O Flamengo se despedaçou, espaçado, como nos 20 minutos iniciais do Fla-Flu. Apaticamente. E com o agravante da altitude. Tentava formar a linha de cinco defensores e o meio esvaziado com Victor Hugo e Vidal, já amarelado, sem conseguir dar o mínimo de combate. Otero passou a ter muito espaço por dentro. E o Flamengo, debilmente, não conseguiu reagir. Mesmo com a troca tripla de alas e volante – Varela, Ayrton Lucas e Gerson entraram – o time continuou frágil, sem conseguir pressionar, sem reter a bola para respirar na primeira etapa. Pior: quando a tinha passou a errar mais tecnicamente, com passes sem calcular a velocidade da pelota na altitude. Sofrer o gol, óbvio, era questão de tempo.

Fla ao fim: dois atacantes, velocidade na esquerda

Num erro de Everton Ribeiro, Castillo avançou como quis, driblou Pablo indeciso diante de Rodrigo Caio como quis e chutou rasteiro para vencer Santos. 1 a 1. Ao torcedor rubro-negro que se acostumou a ver um Flamengo imponente e dominante na América nos últimos anos, obviamente era angustiante. Um estreante na competição, o Aucas, sem nenhum pudor avançava para apertar o campeão. Sentia a fragilidade, a exposição do visitante. O que ficou característico no segundo gol – corretamente – anulado de Castillo. Foi incompreensível – a palavra tem sido bastante utilizada no texto – a facilidade com que ele passou no meio da linha defensiva quase diante de uma pane do time. Combate praticamente zero. VP tentou dar maior gás com Cebolinha, pôr Pedro para segurar a bola na frente. A partida ficou nervosa. Aberta. Sem controle. Gabigol, depois de um bom tempo como centroavante, pouco fez. Era um time esfarelado. Não surpreendeu, portanto, que tenha repetido o erro do gol anulado e o veterano Ordóñez passado como quis pelo meio da defesa ao receber lançamento de Cuero para desviar de Santos e fazer o gol derradeiro. 2 a 1.

Após 14 jogos de invencibilidade como visitante na Libertadores, o Flamengo caiu na altitude de Quito diante do estreante Aucas. Um confronto no qual a equipe teve 61% de posse de bola* e 13 finalizações contra 12 do adversário. Se comprou dias de paz com três vitórias seguidas em clássicos, Vitor Pereira já os vê ameaçados. A estratégia foi falha em um segundo tempo abaixo de qualquer nota. Mentalmente, o peso aumenta para o Fla-Flu de domingo, mesmo com a vantagem. É compreensível que Vitor Pereira analise o peso e o impacto que o Carioca tenha na sequência da temporada e faça sua escolha. Se fizesse o contrário provavelmente também seria criticado. Mas é incompreensível a atuação da equipe especialmente no segundo tempo. Nas alturas, o campeão da América passou por inadmissível vexame.

*Números do Sofascore

FICHA TÉCNICO
AUCAS 2X1 FLAMENGO

Data: 05 de abril de 2023
Local: Estádio Gonzalo Pozo Ripalda, em Quito
Árbitro: José Argote (VEN)
VAR: Nicolas Gallo (COL)
Público e renda:
Cartões amarelos: Cangá, Castillo (AUC) e Pablo, Vidal, Wesley (FLA)
Gols: Matheus França (FLA), aos 38 minutos do primeiro tempo e Castillo (AUC), aos 12 minutos e Ordóñez (AUC), aos 39 minutos do segundo tempo

AUCAS: Galíndez, Quiñonez, Cangá e David; Caicedo (Mina, 30’/2T), Perlaza (Rezabala, 36’/2T), Vega (Carcelén, 29’/2T) e Cuero; Otero; Cifuente (Ordoñez, 17’/2T) e Castillo (Cano, 36’/2T)
Técnico: César Farías

FLAMENGO: Santos, Pablo, Rodrigo Caio e Filipe Luís; Wesley (Varela, 14’/2T), Vidal (Gerson, 15’/2T), Victor Hugo e Marinho (Ayrton Lucas, 14’/2T); Matheus França (Everton Cebolinha, 38’/2T), Everton Ribeiro (Pedro, 34’/2T) e Gabigol
Técnico: Vitor Pereira

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