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Estratégico e eficiente, Flamengo derruba Fluminense no primeiro jogo da final

Filipe Luís Ayrton Lucas comemoração gol Fla-Flu final Carioca

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Pedro comemoração gol Gabigol Fla-Flu final

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Desde que chegou ao Brasil, ainda para comandar o Corinthians, Vitor Pereira deixou claro ser um homem convicto de suas ideias. Ele as tem e as põe em prática independentemente do que digam em arquibancada, mídia ou redes sociais. Pensa de forma estratégica, goste você ou não do caminho seguido por ele. Dê certo ou errado. Do outro lado, um oponente tão convicto quanto em suas ideias. Tão apaixonado quanto por estratégia. Fernando Diniz. Mas distintos. Incrivelmente distintos. Estrategicamente, a superioridade do Fluminense nos últimos tempos tem sido clara sobre o Flamengo. Um espinho, capaz de derrubar a equipe campeã em 2022 depois de 19 jogos de invencibilidade. VP, então, estudou uma maneira de como impactar a fórmula de Diniz. Com enorme dose de coragem, conseguiu. Estratégico e eficiente, o Flamengo construiu a boa vitória de 2 a 0 e abriu vantagem interessante na final do Campeonato Carioca.

Vitor Pereira promove no Flamengo uma reformulação decantada em bastidores após a saída de Jorge Jesus, mas nunca colocada em prática de fato. Há receio de mexer em vespeiros parrudos. Paulo Sousa se arriscou em 2022. Sem tato e respaldo, caiu. VP aguardou o momento. Esperou o furacão do início das três competições. Mesmo sem resultados e taças, sobreviveu no cargo. Então viu ser necessário pôr suas ideias em prática. No primeiro Fla-Flu decisivo talvez tenha chegado ao máximo da ousadia até aqui. Sem Arrascaeta, manteve Everton Ribeiro e Gabigol no banco. Costurou sigilo absoluto nos treinos e blindou a escalação. Manteve o 3-4-3 com três zagueiros de ofício e pôs Everton Cebolinha e Matheus França ao lado de Pedro. Era claro: ter força física, pressionar e sair em velocidade às costas do time adiantado de Fernando Diniz.

Nos minutos iniciais, o Flamengo conseguiu pressionar e até incomodar o Fluminense. Mas foram mesmo apenas minutos iniciais. Ainda na necessidade de ajustes, o 3-4-3 rubro-negro se espaçou em um 5-2-3 quando Varela e Ayrton Lucas alinhavam com os zagueiros e Cebolinha e Matheus França tentavam pressionar à frente. Sozinhos por dentro, Gerson e Thiago Maia sofriam, além de terem dificuldades técnicas. O Fluminense no 4-2-3-1 já padrão se refestelou com tamanho espaço. Pois basta a bola rolar que tais números ficam no papel e o time tricolor encharca o meio de campo. Por dentro atuam Martinelli, Ganso, Samuel Xavier, Aleksander e um jogador especial: André.

O Camisa 7 era senhor absoluto do meio de campo. Iniciava a jogada entre os zagueiros, saía no toque curto, resistia aos combates, arriscava bolas esticadas por baixo. Marca e joga. É completo. Com tamanha superioridade, o Fluminense empurrou o Flamengo ao campo defensivo. Com o buraco no meio, teve muito volume. Mas, a rigor, uma chance real. E que chance. Gerson cochilou inexplicavelmente no recuo e Arias aproveitou para se antecipar a Léo Pereira. Santos salvou gol quase certo e que certamente condicionaria o jogo. Depois, Cano teve bolas enfiadas por trás da defesa para finalizar. Mas estava impedido em ambas. Para sorte rubro-negra a parada técnica chegara.

Fla no primeiro tempo: Gerson e Thiago Maia isolados, espaço no meio

Vitor Pereira fez ajuste fino. Se a ideia era recuar e explorar bolas longas de David Luiz ou Léo Pereira, por exemplo, era necessário ter um time agrupado. Não espaçado. Cebolinha e Matheus França deram passos atrás, alinharam mais a Gerson e Thiago Maia e o time assumiu algo próximo a um 5-4-1. Com o meio mais povoado, o domínio tricolor por dentro diminuiu. O Flamengo voltou a respirar e a tentar acionar as bolas em velocidade, em especial à esquerda para Ayrton Lucas e Everton Cebolinha. Gerson, com maior auxílio, aumentou a qualidade do jogo. Mas ainda está longe do jogador de 2019 ou 2020: não foram as raras as vezes em que tentou proteger a bola e girar e acabou desarmado. Cenário quase impossível há dois anos, quando deixou o clube rumo ao futebol francês. O Flamengo melhorou. Assustou com arremates de longe e a bola passou a rondar a área tricolor. Mas ainda era pouco. Longe do desejado pelo técnico.

Flu no início: meio recheado e André no comando absoluto

No retorno do intervalo, Diniz utilizou do expediente que já dera certo no Fla-Flu da Taça Guanabara. Gabriel Pirani no meio para tomar ainda mais conta do espaço. Keno, tímido e bem anulado por Varela, deixou o jogo. Martinelli caiu mais à esquerda. Toques curtos para avançar, empurrar o Flamengo. Mas a ideia de Vitor Pereira estava melhor assimilada. Mais bem executada. Velocidade, troca rápida de passes e conclusão. Utilização de passes longos. Assim que Santos estourou a bola, Matheus França dominou e achou Pedro na frente da área. Todo o time tricolor se deslocou para o setor. O toque de Pedro, rápido, deslocou qualquer chance de mudança de direção rápida dos defensores. Cebolinha dominou, girou e serviu Ayrton Lucas, que bateu direto, sem chances para Fábio. 1 a 0.

Fla ao fim: time mais técnico, com posse e Filipe Luís na defesa

O primeiro passo da estratégia de Vitor Pereira estava dado. Atingir a vantagem. Gerar desconforto ao Fluminense. Competir fisicamente. Com o jogo mais desgastado, VP pôs em campo jogadores mais técnicos. Filipe Luís, Vidal, Everton Ribeiro e Gabigol. Sem Cebolinha e Matheus França à frente, um time mais lento. Gabigol, a surpresa pela ausência, quase alinhou a Pedro, partindo pela direita. E o Flamengo estrategicamente deu passos ao seu velho estilo: posse, girar a bola para achar brechas e, enfim, acelerar. Diniz ao mesmo tempo colaborou do outro lado: sacou David Braz para pôr Lima e tirou André do meio de campo. Deu espaço a um Flamengo que se anunciava pela posse. Estrategicamente foi fatal. Em minutos, o jogo respondeu.

Flu ao fim: time mais retraído para evitar fim precoce do confronto

Uma jogada trabalhada que combinou até estilos. O jogo girou por mais de um minuto, de pé em pé. Ribeiro, Vidal, Gabigol, Gerson. Santos estourou de novo e Pedro amaciou no peito para Ayrton Lucas. E o time pôs a pelota a girar. Combinação de estilos. Até Ayrton achar a brecha para acelerar e cruzar rasteiro para a chapada de Pedro para o gol. 2 a 0. A partida já estava encaminhada ao Flamengo e ficou ainda mais no bolso depois que Samuel Xavier deu entrada desnecessária em Ayrton Lucas e foi indiscutivelmente bem expulso – o que até provocou reclamação justa dos tricolores sobre critério em torno de uma falta de Léo Pereira passível de cartão vermelho.

Diniz, também expulso, refez a defesa com Guga e tirou Ganso do meio. Fechou a equipe para evitar que o confronto se encerrasse ali. E o Flamengo, ainda um time que carece de maior confiança, pareceu se contentar com o 2 a 0 em vez de arriscar o terceiro ou sofrer o primeiro. Mas demonstrava incrível fluidez no jogo pela simples presença de Filipe Luís na defesa: era zagueiro, mas parecia por vezes lateral com o avanço por dentro, pelo lado, os passes precisos. É peça fundamental ao Flamengo desde 2019 e ainda mais no sistema com três defensores.

O confronto ainda está aberto, embora a vantagem rubro-negra seja inegavelmente grande. O Fluminense apresentou problemas e acabou impactado. Tentou utilizar a fórmula que sempre deu certo contra o Flamengo, mas há um fato do qual Diniz deve se orgulhar. Vitor Pereira detectou a necessidade de moldar completamente a equipe para enfrentá-lo. Criar um antídoto para batê-lo. Mostrou refinamento. Ainda que desagrade a torcida. Ainda que desagrade medalhões e os mantenha no banco. O Flamengo pode e deve evoluir em seu jogo. Muito. O assimilar ainda acontece. Com alívio da pressão e, quem sabe, de uma taça, pode ser acelerado. Mas desta vez, especificamente contra um adversário que sempre foi um espinho, conseguiu ser estratégico e eficiente. Ainda que o custo seja não ser brilhante.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 2X0 FLUMINENSE

Data: 01 de abril de 2023
Árbitro: Wagner do Nascimento Magalhães
VAR: Carlos Eduardo Nunes Braga
Público e renda: 60.254 pagantes / 65.234 presentes / R$ 4.873.272,50
Cartões amarelos: Thiago Maia, Léo Pereira, Pedro e Ayrton Lucas (FLA) e Paulo Henrique Ganso, André e Pedro Rangel (FLU)
Cartão vermelho: Samuel Xavier (FLU), aos 24 minutos do segundo tempo
Gols: Ayrton Lucas (FLA), aos cinco minutos do segundo tempo e Pedro (FLA), aos 21 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Santos, Fabrício Bruno, David Luiz e Léo Pereira (Filipe Luís, 19’/2T); Varela, Thiago Maia (Vidal, 20’/2T), Gerson (Matheus Gonçalves, 44’/2T) e Ayrton Lucas; Matheus França (Everton Ribeiro, 19’/2T), Pedro e Everton Cebolinha (Gabigol / 19’2T)
Técnico: Vitor Pereira

FLUMINENSE: Fábio, Samuel Xavier, Nino, David Braz (Lima, 20’/2T) e Aleksander; André e Martinelli (Felipe Melo, 36’/2T); Arias, Paulo Henrique Ganso (Guga, 29’/2T) e Keno (Gabriel Pirani / Intervalo e depois Vitor Duarte, 29’/2T); Cano
Técnico: Fernando Diniz

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