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Do 7 a 1 ao primeiro passo na História: Flamengo de Dorival derruba Athletico

Pedro bicicleta Athletico PR Copa do Brasil 2022

(Marcelo Côrtes / Flamengo)

(Marcelo Côrtes / Flamengo)

É possível dizer que a virada de chave do Flamengo na temporada ocorreu naqueles 7 a 1 sobre o Tolima no Maracanã. Noite mágica, ressurgir de Pedro com quatro gols, encaixe do losango, um time brotado imediatamente após o adeus de Andreas Pereira. Existiram atuações exuberantes da equipe de Dorival Júnior de lá para cá. Contra o Corinthians em Itaquera, por exemplo. Mas o desafio, o enorme desafio ainda viria a acontecer. Necessidade de se provar diante de dificuldade, ambiente hostil, histórico contra. Adversário duro. História a fazer. Tudo isso esteve em campo na Arena da Baixada na noite de quarta-feira. E um cruzamento belíssimo de Rodinei eternizou uma bicicleta – ou puxeta, fiquem à vontade – de Pedro. 1 a 0 diante do Athletico Paranaense em plena Arena. Classificação às semifinais da Copa do Brasil. O Flamengo de Dorival Júnior, enfim, colocou um pé na História pela primeira vez.

Athletico no início: linha de cinco, meio travado

É característica dessa geração derrubar tabus, traçar linhas e capítulos dourados no livro da História do Flamengo. Sob a batuta de Dorival retomou o trilho que havia desviado com Paulo Sousa e Renato Gaúcho. É óbvio, meus caros, que nenhum trofeu foi levantado. Faltam conquistas. Óbvio. Mas a dificuldade histórica que o Flamengo tem na Arena da Baixada para sair com um mísero ponto em um jogo trivial dá o tamanho do feito. Que poderia ter sido atingido de maneira mais tranquila. O placar de 1 a 0 ao fim dos 180 minutos não traduz o confronto. O Flamengo foi amplamente superior a um dos semifinalistas da América. Não é pouco. E o fato de justamente ter falhado tanto nas conclusões depois de um jogo tão superior no Maracanã foi o que tornou a tarefa na Arena da Baixada uma vez mais difícil. Dura. Propícia ao jeito Scolari de levar o mata-mata.

Felipão, óbvio, é inteligente e sabia da superioridade clara do Flamengo. Técnica e tática. Viu no primeiro jogo das quartas e também no confronto entre os reservas no Brasileiro. Em um a bola não entrou. Em outro cansou de entrar. Tratou logo de tentar travar o rival com todas as armas possíveis. Um Athletico no que poderia até ser uma tentativa de 3-4-1-2. Mas, no fundo, terminava quase num 5-4-1. Os três zagueiros Pedro Henrique, Thiago Heleno e Matheus Felipe contavam sempre com o auxílio pelos lados de Khellven e Abner para fechar a linha de cinco e não dar os lados ao Flamengo. Pelo centro funções especiais a Hugo Moura, sombra de Arrascaeta, e Erick, sombra de Everton Ribeiro. Terans um pouco mais à frente esquerda e Fernandinho por dentro ou caindo um pouco à direita, tentavam dar bote na saída de bola se possível, mas sem avançar tanto. Pablo, quase solitário, tentava correr em vão deu um lado a outro. E picotar o jogo do Flamengo, mesmo que com faltas violentas e ignoradas por Raphael Claus, fazia parte do jogo de Scolari. Do jogo mental. Desestabilizar os rubro-negros. Mesmo Fernandinho estava nessa. Se era fiel ao Guardiolismo, agora é fiel ao Scolarismo. Cumpre à risca o determinado. Mutante.

Fla no início: João Gomes como primeiro, Vidal à frente

Do outro lado Dorival manteve o Flamengo na forma similar ao time já considerado clássico. O 4-3-1-2 do losango, mas não tão bem desenhado assim por força das circunstâncias. As perseguições a Arrascaeta e, principalmente, a Everton Ribeiro incomodavam. Ribeiro é um motor que faz a engrenagem rubro-negra girar no ritmo desejado. Assim que pegava na bola, derrubado. Não que isso significasse falta no apito de Claus. Mas era indicação clara do time de Scolari. Assim o Athletico conseguiu truncar o jogo mesmo que na base da intimidação. O Flamengo saía desde a defesa com Léo Pereira e Fabrício Bruno, tinha calma e ia o lado direito, sempre o seu preferido para buscar o fundo com Rodinei. Mas Ribeiro era a válvula de escape para acionar o lateral. O Athletico então pressionava o Camisa 7 e negava o fundo ao 22 com a linha de cinco. Ao mesmo tempo buscava explorar o setor com Abner e Terans em velocidade. O Flamengo demorou um pouco a ajustar o início. Havia diferenças no posicionamento do meio, com João Gomes mais recuado na vaga do suspenso Thiago Maia. E Vidal mais adiantado, à esquerda. As seguidas pancadas do time paranaense incomodaram. Gabigol reclamou seguidamente, discutiu com Fernandinho. Mas não mergulhou na pilha.

Aos poucos a partida ganhou o contorno esperado. Bola no pé do Flamengo, troca de passes diante de um Athletico mais fechado em busca de contra-ataque com uma bola longa. Ocorre que a troca de passes carioca ainda era mais lenta. E facilitava a marcação athleticana. Vidal se destacava. Visão de jogo, limpava, achava espaços, se antecipava. Everton Ribeiro, mal tecnicamente, também atrapalhava o andamento rubro-negro. E Arrascaeta, duramente marcado por Hugo Moura, estava apagado. Na reta final do primeiro tempo, o Flamengo indicou já a mudança que viria. Passou a acelerar um pouco mais o jogo, trocar posições e confundir a linha defensiva do Athletico. Matheus Felipe errava botes pela esquerda a ponto de irritar Thiago Heleno com a desatenção, Rodinei passou a escapar, Gabigol achou espaços e finalizou com algum perigo para um belo tapa de Bento para escanteio. O intervalo chegou com quase 70% de bola carioca e duas finalizações no alvo. E, para alguns, a falsa sensação de um jogo equilibrado.

Athletico no fim: dois zagueiros, pontas

Sensação que se desmanchou assim que iniciou o segundo tempo. O Flamengo intenso, muito móvel, entrou em campo definitivamente. O Athletico se assustou. Já não tinha mais vigor para a marcação com muita pressão e também estava confuso com o vaivém de camisas brancas à sua frente. Cedeu, então, espaços. E este Flamengo com espaços para acelerar e trocar passes é fatal. Everton Ribeiro entrou no jogo e passou a acionar Rodinei, que cansou de atacar as costas de Abner. A linha de fundo voltou a ser o seu habitat. A presença no campo athleticano foi frequente. Girando a bola de um lado a outro. Filipe Luís, Vidal, Everton Ribeiro, Gabigol. O Athletico não conseguia passar do meio de campo e tampouco ter a bola para respirar. O gol seria questão de tempo. Bento salvou de forma espetacular um chute de Arrascaeta dentro da grande área. Mas quando Rodinei foi ao fundo e cruzou na medida pra Pedro, gigante, armar o movimento e completar de bicicleta, não houve jeito. Bola que estufou a rede. Abriu sorrisos. Encantou pela plasticidade. E calou quase toda a Arena, estupefata. Mas fez explodir a pequena parte de flamenguistas que estava um pouco acima do escanteio. 1 a 0.

Fla ao fim: Cebolinha como escape, Victor Hugo no meio

O lance do gol foi emblemático. É possível observar Gabigol sorrir com a finalização de Pedro. Uma dupla que se encaixou e se alterna entre protagonista e coadjuvante. Com mais espaços. E como havia espaços com o Athletico atordoado atrás do placar e diante das trocas de passes que seguiam rápidas do adversário. O Flamengo estava consciente do melhor momento. Filipe Luís, em noite magistral, se adiantava, buscava o meio para organizar e achava Ribeiro ou Vidal. Dali a Pedro para o pivô, rolando a Arrascaeta. Rodinei tinha passagem livre pela direita. O Athletico sofria, tinha dificuldades. Felipão tentou suas cartadas logo após o gol. Sacou Terans e Pablo, pôs Canobbio aberto na direita, Vitinho mais aberto na esquerda. Tentava velocidade. Mas o Flamengo estava inteiro. Organizado. Vitinho em um momento tentou acelerar para cima de Fabrício Bruno. O zagueiro tomou a frente, roubou a bola, girou e saiu para o jogo sem maiores problemas.

Sem a pressão na saída, o time não tinha dificuldades. Vidal fazia o jogo girar com qualidade nos passes. Esquerda, direita. De volta. Centro. Mesmo João Gomes, em um jogo deste tamanho, conseguiu passar no teste em uma posição que não era a sua. Claro que requer adaptações, principalmente ao receber e girar, tomar pressão de costas. Mas salvo a imaturidade ao receber cartão amarelo ainda no primeiro tempo por reclamação, cumpriu bom jogo. Se o Athletico adiantasse, uma bola esticada para pegar os zagueiros de surpresa. Em uma dessas o confronto quase se encerrou. Casquinha de Arrascaeta para trás, Pedro dominou e arrancou para a área, quando rolou para Gabigol.

Situação parecida para definir como ocorreu com o Internacional nas quartas de final da Libertadores de 2019. Bastaria deixar a bola escorar no pé e morrer no gol. O Camisa 9 quis valorizar demais, tirar demais do goleiro. Tirou do gol ao carimbar a trave e deixar o jogo ainda vivo. Quando Vidal sentiu o desgaste e dor devido a uma pancada e perdeu bola perigosa na frente da área, Dorival decidiu mudar. Sacou o chileno e, corajosamente, Gabigol diante de uma possibilidade de decisão de pênaltis. Pôs Victor Hugo e Cebolinha. No Athletico, Felipão abriu mão do trio de zagueiro, sacou Matheus Felipe, pôs Cuello aberto na esquerda, Vitinho por dentro e tentou atacar. Mas é difícil atacar quando apenas se preocupou em defender durante os 180 minutos. Mal sabia o caminho do gol adversário. Limitou-se, então, a buscar os lados em busca de uma bola redentora desviada de cabeça. Ela não chegou.

O jogo terminou com 63% de posse de bola para o Flamengo, que teve sete finalizações no alvo contra apenas uma do Athletico. Ninguém duvidava que o confronto seria difícil, principalmente por ser decidido na Arena da Baixada. Mas tampouco ninguém duvidava da superioridade do Flamengo. O Athletico Paranaense é um dos semifinalistas da Libertadores e está entre os cinco primeiros do Brasileiro. Esta geração, no entanto, insiste em gravar o nome na História do Flamengo desde 2019. A virada de chave chegou contra o Tolima no Maracanã. Um 7 a 1. Contra o time de Felipão, na Arena da Baixada, o Flamengo de Dorival Júnior deu o primeiro passo na História. E pode mais. Muito mais.

*Números SoFa Score

FICHA TÉCNICA
ATHLETICO-PR 0X1 FLAMENGO

Data: 18 de agosto de 2022
Árbitro: Raphael Claus (SP – Fifa)
VAR: Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral (Fifa – SP)
Público e renda: 39.360 presentes / R$ 1.380.145,00
Cartões amarelos: Terans, Fernandinho, Hugo Moura (ATL) e João Gomes (FLA)
Gol: Pedro (FLA), aos 11 minutos do segundo tempo

ATHLETICO-PR: Bento; Khellven, Matheus Felipe (Cuello, 22’//2T), Pedro Henrique, Thiago Heleno e Abner; Erick, Hugo Moura (Vitor Bueno, 41’/2T), Fernandinho, Terans (Vitinho, 13’/2T); Pablo (Cannobio, 13’/2T)
Técnico: Luiz Felipe Scolari

FLAMENGO: Santos, Rodinei, Fabrício Bruno, Léo Pereira e Filipe Luís; João Gomes, Vidal (Victor Hugo, 37’/2T), Everton Ribeiro (Pablo, 46’/2T) e Arrascaeta (Diego, 46’/2T); Gabigol (Everton Cebolinha, 37’/2T) e Pedro (Lázaro, 46’/2T)
Técnico: Dorival Júnior

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