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Um Morumbi de lições: letal, Flamengo derruba São Paulo de novo

João Gomes gol São Paulo Morumbi Copa do Brasil 2022

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Everton Cebolinha primeiro gol Flamengo São Paulo Morumbi Copa do Brasil

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Está lá gravado no placar: 3 a 1 para o Flamengo no Morumbi, terceira vitória rubro-negra no palco tricolor. Está longe, muito longe de ser desprezível vencer o São Paulo em seus domínios de maneira tão constante, ainda mais em um jogo tão importante. É mais um feito histórico para essa geração. É incontestável. Inegável, também, apontar que das vitórias recentes no Cícero Pompeu de Toledo – nome de batismo do Morumbi – a conquistada na noite desta quarta-feira foi a mais difícil. Pois o São Paulo foi melhor e valorizou demais o triunfo. Foi, talvez, o limite do que esse elenco pode apresentar. Assim o duelo que terminou com uma vaga rubro-negra encaminhada terminou com lições valiosas aos dois lados.

Rogério Ceni deixou o Flamengo em meio a um caos de desgaste interno. Não com o elenco. Estava há 40 dias sem jogadores principais, convocados. Acabou fritado, com aval de boa parte da opinião pública. Por mais que cometa erros, tem boas ideias. Boas estratégias. E de novo as comprovou. Sem Miranda e Gabriel Neves, preferiu sacar Luciano e pôr Patrick. Sabia que o time titular do Flamengo, fortíssimo, encaixou com um losango no meio, mas deixa espaços pelos lados, especialmente quando o trio Arrascaeta, Gabigol e Pedro é pouco combativo na marcação. A direita com Rodinei e Everton Ribeiro funciona como uma arma poderosa se encontrar a maneira ideal em campo. Pois Rogério contra-atacou. Armou o São Paulo que alternava entre um 4-2-3-1 e um 4-1-4-1. Lembrou o que fez no próprio Flamengo campeão brasileiro de 2020, mas de forma invertida. Era o lateral-direito – e não o esquerdo – que ficava preso em um trio defensivo para o oposto avançar. Portanto Rafinha firmava mais o pé ao lado de Diego Costa e Léo, enquanto Reinaldo disparava para encostar em Patrick e infernizar Rodinei, que contava com pouco apoio de Gabigol. João Gomes, inclusive, chegou a inverter de lado com Everton Ribeiro com constância para dar suporte tamanho volume tricolor no setor.

Dorival tinha o Flamengo ao seu estilo já clássico. Um 4-4-2 com Arrascaeta nada estático na ponta do losango por trás dos atacantes, Everton e João Gomes trabalhando um tanto quanto alinhados, Thiago Maia mais atrás. Mas essa formação exige intensidade, pressão no adversário. Ao contrário, era o Flamengo quem sofria pressão na saída de bola e tinha dificuldades. Ao perder a posse cercava de longe. Ficou claro, então, que o São Paulo apostaria o seu jogo pelo lado esquerdo, em busca de triangulações com aproximação de Léo a Reinaldo e Patrick. Santos trabalhou logo de cara, ao defender uma bela cabeçada do Camisa 88. Lição rubro-negra. É necessário dar suporte a Rodinei pela direita. Participação efetiva também do ataque na defesa.

São Paulo no início: aposta na esquerda com trio Léo, Reinaldo e Patrick

Ocorre que o Flamengo, mesmo pressionado, incomodado, é perigoso. Basta um respiro, uma desatenção. O São Paulo permitiu. Em uma saída de escanteio, Santos retomou o jogo com agilidade e entregou a pelota a Everton Ribeiro, que devolveu a Filipe Luís. Enquanto o lateral percorreu todo o campo de maneira solitária, sete ou oito são-paulinos voltaram a galope para fechar a defesa, preocupados em afundar na área, criando um bloco sólido. E deixaram Filipe livre para rolar a Everton, também com liberdade para olhar, ver João Gomes ultrapassar Patrick e entrar quase na segunda trave para receber o passe magistral pelo alto e concluir de maneira tão perfeita quanto. 1 a 0. Lição são-paulina. Não é possível respirar, afundar na própria área, dar liberdade e não pressionar por um instante um time de tamanha qualidade quanto o Flamengo.

Com a vantagem era de se esperar que o jogo virasse ao gosto rubro-negro. Maior posse, maior calma, controle. Mas não. O Flamengo seguiu recuado em seu campo. Não por opção. O São Paulo o empurrava ao atacar em bloco, ganhar o meio, insistir no lado esquerdo. Patrick, Reinaldo, Léo. Também invertia por vezes à direita em busca de Igor Vinícius. A pressão assustou. Patrick acertou o travessão após desvio milagroso de Santos. Pela primeira vez o Flamengo de Dorival estava esbaforido, acuado. Tenso. Foram 20 minutos intensos do Tricolor de ocupar o campo rival, trocar passes, alçar bolas na área, explorar o lado esquerdo. E aí o ritmo cessou. O Flamengo, enfim, retomou a posse e quebrou a intensidade. Valeu a experiência. Passou a trocar passes, acalmar o jogo e soube levar a vantagem para o intervalo. Frustar o adversário.

Na volta ao segundo tempo, Rogério tentou dar mais agressividade com Galoppo na vaga de Igor Gomes. Mas cochilar diante do Flamengo pode ser fatal. Não foi por uma má finalização de Gabigol após contra-ataque em lançamento de Léo Pereira e passe de Pedro. De frente para Jandrei, bola isolada. Mas o jogo não era rubro-negro. O controle não era rubro-negro. Era são-paulino. Mais afeito a um 4-1-4-1, com espaços, o São Paulo seguia com inversões de um lado a outro, iniciava pela direita, atraía o Flamengo e rapidamente acionava o lado esquerdo. Reinaldo buscava o fundo. Cruzava da intermediária. Rodrigo Nestor afundava por dentro e se posicionava à frente da área por um arremate. A última linha defensiva rubro-negra sofria, mas até que suportava o que o restante da equipe não bloqueava. Sem David Luiz, o início do jogo era mais prejudicado, mas seguia forte na bola aérea com Fabrício Bruno. O problema era o espaço dado ao Tricolor até chegar à área. Pelos lados e, desta vez pior, de novo com espaço para finalizações por dentro, como ocorreu com o Palmeiras. Mas um vacilo…

Fla no início: mais recuado, sem Rodinei ao fundo, Ribeiro movimentando

Dorival sacou João Gomes, desgastado, e pôs Vidal. O chileno aos 35 anos não tem o ímpeto físico do garoto. Mas lê o jogo com a experiência e acha espaços. Faz a bola correr. Em uma retomada de Arrascaeta, recebeu e quando o mais trivial seria segurar a bola ou dar seguimento pela esquerda, quebrou o andamento da marcação rival com o passe de canhota à direita, sem indicar com o movimento do corpo, onde Rodinei tinha corredor livre. O Avión foi à frente, tocou em Arrascaeta, que cruzou. Jandrei espalmou fraco e a bola sobrou para Everton Ribeiro. O Camisa 7 já invertera no primeiro tempo várias vezes com João Gomes por conta das investidas tricolores no setor esquerdo da defesa. A chicotada de Everton de primeira obrigou defesa difícil e rebote para finalização fácil de Gabigol. Lição, de novo, são-paulina. Vacilos são fatais. 2 a 0.

São Paulo ao fim: dois atacantes, mas ainda força à esquerda

O segundo golpe fez murchar o Morumbi. Dois minutos antes Rogério havia sacado Patrick, extenuado com o vaivém pelo corredor esquerdo, e pôs Luciano ao lado de Calleri. Galoppo encostou mais à esquerda. Depois, insistiu em dar mais forças ao lado esquerdo ao trocar Reinaldo por Wellington. Deu certo. O lateral procurava ir ao fundo e cruzar ao outro lado para a chegada de Igor Vinícius às costas de Filipe Luís. Ensaiou duas vezes até chegar ao gol, ao cruzar de novo sem bloqueio de Rodinei. Igor dominou, gingou e rolou para Nestor bater rasteiro no cantinho esquerdo de Santos, com leve desvio de Vidal. De novo, o Flamengo sofria o gol com um arremate sem nenhum tipo de pressão na frente da área. Erro grave, como já havia acontecido no gol de empate do Palmeiras dias antes, com Raphael Veiga. Lição rubro-negra. 2 a 1.

Fla ao fim: Cebolinha escape, Vidal recuado, mas passe com qualidade

Diante da atmosfera de novo positiva do Morumbi, o Flamengo mais uma vez percebeu que o controle saíra de suas mãos facilmente. O São Paulo alternava a bola aos lados, pressionava em torno de um cinturão fechado rubro-negro, algo inédito com o time principal de Dorival Júnior. Mas de novo apareceram dois pontos cruciais no jogo. O vacilo são-paulino e a qualidade rubro-negra. A bola longa do Flamengo mal funcionara na noite. Santos tentava a saída com Pedro e Diego Costa antecipava para evitar o pivô com sucesso. Fabrício Bruno, então, resolveu arriscar em Lázaro, substituto do Camisa 21 um minuto antes, já nos acréscimos. Diego Costa, de novo, antecipou. A sobra caiu no pé de Arrascaeta, que se livrou de três e serviu Cebolinha. A limpada e a batida forte no canto direito de Jandrei explicam o investimento alto. Qualidade custa caro. 3 a 1 e vaga encaminhada.

Difícil contestar a análise de que o São Paulo atuou melhor no Morumbi. Teve 53% de posse e finalizou 26 vezes contra sete* do Flamengo. Detectou falhas, fez o jogo acontecer no campo defensivo rubro-negro por quase metade do jogo. Soube explorar os lados do campo. O limite, porém, não foi suficiente. É necessário melhorar, ir além, evoluir. Técnica e mentalmente. Lição são-paulina. A um Flamengo com vaga encaminhada e enorme ambição pelas três frentes que ainda há na temporada é necessário reconhecer a superioridade do adversário no jogo. Sim, nem sempre vai ser superior aos rivais, há jogos que se vence desta maneira. Não há dúvida. Mas o Flamengo estabeleceu um patamar em 2019. Jogar bem e vencer. Deve, sempre, persegui-lo, independentemente do que rivais estabeleçam como metas. Apresentou falhas que devem ser corrigidas. Mas apresentou, também, a letalidade de 2019 que fez muita falta em tempos recentes. Lição rubro-negra.

*Números do App SoFa Score

FICHA TÉCNICA
SÃO PAULO 1X3 FLAMENGO

Data: 24 de agosto de 2022
Árbitro: Anderson Daronco (RS-Fifa)
VAR: Rodrigo DAlonso Ferreira (SC)
Público e renda: 51.365 pagantes / R$ 6.238.678,00
Cartão amarelo: Everton Cebolinha (FLA)
Gols: João Gomes (FLA), aos 11 minutos do primeiro tempo e Gabigol (FLA), aos 21 minutos, Rodrigo Nestor (SAO), aos 33 minutos e Everton Cebolinha (FLA), aos 48 minutos do segundo tempo

SÃO PAULO: Jandrei, Igor Vinícius, Rafinha, Diego Costa, Léo e Reinaldo (Wellington, 30’/2T); Pablo Maia (Andrés, 47’/2T), Rodrigo Nestor, Igor Gomes (Galoppo / Intervalo); Patrick (Luciano, 19’/2T) e Calleri
Técnico: Rogério Ceni

FLAMENGO: Santos, Rodinei, David Luiz (Fabrício Bruno / Intervalo), Léo Pereira e Filipe Luís; Thiago Maia, João Gomes (Vidal, 13’/2T), Everton Ribeiro (Victor Hugo, 26’/2T) e Arrascaeta; Gabigol (Everton Cebolinha, 26’/2T) e Pedro (Lázaro, 47’/2T)
Técnico: Dorival Júnior

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