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Gabigol e a língua da massa

Gabigol Flamengo 2022 pênaltis Copa do Brasil

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Gabigol Flamengo 2022 pênaltis Copa do Brasil

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Resta uma chance. Se o barbante não balançar, tudo fica por ali. O Maracanã, em suspense, se emudece. O Camisa 9 caminha até a marca, posiciona a bola. Coque no cabelo, olhos fixos na redonda. A corrida posiciona o corpo para a batida à esquerda. A canhota, certeira quase sempre, joga a pelota à direita. Estufa a rede e liberta a massa. A comemoração existe. Está definido que não há definição. Ainda. Gabigol percebe. Pede calma. Dois braços para cima. Bate no peito. Entende a linguagem daquela gente que passou a ser sua. Há tensão no ar. Paira uma dúvida. Cabe a ele chamar todos de volta ao lado dos seus. Ele berra. Chacoalha os braços. Como numa onda, o estádio desperta. Um a um, os rubro-negros entendem o chamado.

Pois foi este cidadão de São Bernardo do Campo que de repente se achou no Rio de Janeiro mais um entre milhões. Vestiu-se e reconhece-se rubro-negro. Talvez nem ele entenda bem o porquê. A sintonia foi quase instântanea. Explosivo, impaciente. Feliz, debochado. Encarna no campo o que a arquibancada exala. Gabigol fala a língua do cimento. A língua da massa. Capaz até de inverter dogmas. Expressões de décadas. A pressão virou apoio. Não se teme mais quando acaba o amor. Deseja-se que por 90 minutos o Maracanã vire um inferno. Em duas cores. Vermelho e preto, com a névoa rubro-negra a embaçar a visão adversária. Em uma frase, o Camisa 9 provou ser capaz de mudar o destino do próprio time e encharcar a mente rival. Gabigol entende a língua da massa.

É ali no campo um deles. Por isso por vezes exagera. Esquece do papel de profissional que lhe cabe e, por falar demais, cruza linhas nas reclamações a vossas senhorias do apito. Do gramado vocifera horrores que deveriam ser ditos apenas por um arquibaldo. Língua da massa. É apaixonante tê-lo no seu time. É irritante não o ter no seu time. Por isso é tão amado. Por isso é tão detestado. Sabe disso. Manda beijos com sinceridade. Manda beijos com ironia. É a língua da massa. E o estádio, antes tenso, atendeu ao chamado e explodiu novamente ao ver a vibração do Camisa 9. Pulsou ao vê-lo no gramado, sacudir os braços, olhos fechados, aos berros como um deles.

“VAMOOOO!”.

Sim, eles foram.

No chute cruzado de Rodinei, a explosão estava completa. O inferno, enfim, virou céu. E Gabigol, do campo, contempla a gente que se não é sua de berço, passou a ser de alma. Deixa-se distrair. A sintonia é tamanha a ponto de inverter a ordem. É o jogador, do campo, a admirar a torcida na arquibancada. Deixa escapar as canções da massa. Elas fluem fácil pelos lábios. Pela décima vez, o 9 levanta uma taça vestido de rubro-negro. Escancara o sorriso. Fez, faz e sabe que para sempre fará parte daquilo. Entendeu como é ser ídolo. Um instinto natural. Por isso a sintonia é fácil. Gabigol fala a língua da massa.

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