Arrascaeta Flamengo Corinthians final Copa do Brasil 2022
Encurtou, mas é grande: Flamengo é de novo superior ao Corinthians na ida da decisão
13 outubro 15:24
Gabigol Flamengo 2022 pênaltis Copa do Brasil
Gabigol e a língua da massa
21 outubro 23:39

O tetra que completa o ciclo: Flamengo corre risco, mas geração levanta Copa do Brasil

Flamengo campeão Copa do Brasil 2022

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Rodinei Flamengo 2022 taça

(Gilvan de Souza / Flamengo)

O caminhar parece pesado e sobre o Camisa 22 pesam imensas dúvidas. De quase uma década. Data de 2016 a sua chegada ao clube, entre altos e baixos. O chute cruzado é forte, sem chance para Cássio. E Rodinei dispara como um guri feliz por conquistar a última figurinha necessária para um álbum. Na verdade, ele completou mesmo. Faltava a Copa do Brasil para o álbum das conquistas possíveis à histórica Geração 2019. Não falta mais. O Maracanã fervilha. Pulsa. Depois de caminhos tortuosos por derrotas em decisões, a geração reencontrou as medalhas douradas. Pela décima vez, a taça sobe. No risco máximo, o Flamengo se desmontou e se expôs. A conquista mais difícil desde que Gabigol e companhia passaram a traçar linhas douradas no livro rubro-negro. E simbólica: completa um ciclo por marcar a trajetória do tri ao tetra. De um Flamengo que em 2013, sob escombros, iniciava o seu processo de reconstrução a um Flamengo imponente, com estrelas, sólido no cenário internacional.

Não é nada trivial. Jamais será. Conquista que une passado e presente. Em um Maracanã absolutamente rubro-negro com quase 70 mil presentes o esperado era observar uma equipe imponente em campo para pressionar o Corinthians desde o início. Fazer valer a diferença existente entre os elencos. Havia, claro, a necessidade de vitória. Uma final única diante de 70 mil vozes a seu favor. Sem João Gomes, Vidal. Até por gestão de elenco. Perde-se intensidade, ganha-se em qualidade de passe. A intensidade, então, teria de ser compensada pela arquibancada e o Flamengo iria a campo com seu time de campos no 4-4-2 usual. Talvez um pouco adaptado inicialmente por conta da mudança do outro lado. Pois é o futebol. Um lado fala, o outro responde. Vitor Pereira falou bem com a escalação anunciada uma hora antes da partida, mas vazada horas antes.

Flamengo no início: time no losango, com espaços

Diferentemente de Itaquera, desta vez saía Adson e entrava Lucas Piton. Um 5-3-2. Expectativa de fechar bem a última trincheira para evitar que o Flamengo a ocupasse, não dar os lados. Por dentro Du Queiroz, Fausto Vera e Renato Augusto, com Roger Guedes mais pelo centro do campo ao lado de Yuri Alberto. Um erro estratégico do português. O jogo do Flamengo é mais central, não pelos lados. Seria improvável funcionar tão bem. E, de fato, não funcionou. Principalmente no início. Pois o Flamengo foi inteligente de saída. Abriu-se bem em campo, Arrascaeta buscou mais o lado esquerdo, Everton Ribeiro caiu pelo centro, a torcida berrou na arquibancada, o Maracanã pulsou. Deu para atordoar o Corinthians com movimentação. Com o som da massa. De passe em passe o Flamengo buscava o lado esquerdo, fazendo Gil sair do compasso e ir a caças em vão fora da área. Filipe Luís, Arrascaeta ocupavam espaço por ali. Pedro também. Arrascaeta tentou arremate e foi travado. Pedro também. Meeeengo. Meeengo. A arquibancada pulsava. Parecia questão de tempo. Era. Toma lá, dá cá. Arrascaeta ginga, Filipe Luís deixa a bola passar para o centro para o que de sinuca de Everton Ribeiro a Pedro. Na saída de Cássio, 1 a 0.

Corinthians no início: linha de cinco e ideia não bem-sucedida

Parecia um enredo desenhado pela ampla maioria. Flamengo na frente, jogo com facilidade como na Libertadores. Parecia apenas. Não foi assim. Embora no primeiro tempo a vantagem tenha sido rubro-negra era claro que havia problemas. Pois o Flamengo rapidamente se recolheu ao logango usual, posicionando Arrascaeta quase entre Pedro e Gabigol. A questão: João Gomes, ausente, fazia enorme falta no combate ao meio para pressionar o Corinthians. Vidal não consegue dar o combate necessário e houve um buraco por dentro onde o Corinthians conseguiu trabalhar mais a bola. Ainda assim quando o time rubro-negro acelerava, o trio de frente se encontrava com Everton Ribeiro havia perigo ao gol de Cássio. Foi assim no lance em que Pedro achou Gabigol, que mandou na trave para o rebote de Arrascaeta às redes, num impedimento assinalado pelo VAR de difícil convencimento ao olho humano – situações típicas do futebol brasileiro. A nota negativa ficava mesmo por conta da arbitragem de Wilton Pereira Sampaio. Confuso, invertia faltas, ignorava outras. Yuri Alberto, por exemplo, exagerou nas chegadas em defensores rubro-negros e passou ileso. Retrato de um apito desde sempre pressionado.

O segundo tempo trouxe um Corinthians modificado, consciente da necessidade do gol e da existência de possibilidade de espaços em campo. O Flamengo, até certo ponto no limite do conforto, entendeu que o panorama havia mudado. Houve um perigo ao gol de Cássio, bola belíssima enfiada por Gabigol que Arrascaeta, por decisão ou limitação física, decidiu bater fraco. Mas, modificado de volta ao 4-2-3-1 de Itaquera com Adson na vaga de Piton, o Corinthians alargou o Flamengo no Maracanã para achar espaços. Conseguiu. Vidal já não acompanhava minimamente o ritmo e, pior, torcera o tornozelo esquerdo. Adson cruzou para Roger Geudes perder gol inacreditável na pequena área. O Corinthians tinha volume, se apresentava. Mas havia um mínimo equilíbrio. Então as cartadas rubro-negras foram decisivas para desequilibrar de vez o confronto, mas contra si. Dorival Júnior testara Matheuzinho contra o Atlético-MG no meio-de-campo em atuação razoável, pelo lado direito. Victor Hugo por vezes jogou no meio durante a temporada, pelos dois lados.

Flamengo ao fim, já mais equilibrado, depois do caos

Pois justamente em uma decisão o técnico optou pelo lateral improvisado, do lado esquerdo, na vaga de Vidal. Foi um convite ao Corinthians. Matheuzinho não entregava intensidade na marcação, pouco pressionava e tampouco mantinha a posse de bola para desafogar o Flamengo. O time totalmente desequilibrado entendeu o golpe. E instintivamente recuou, dando mais campo ao Corinthians. Como dito, um lado fala, o outro responde. A resposta de Vitor Pereira foi quase imediata. Convidado pelo Flamengo, aceitou. Sacou um volante, Du Queiroz, e pôs Giuliano para auxiliar um Renato Augusto já bem desgastado na criação. Fausto Vera permaneceu na marcação e o time assumiu um 4-1-4-1.
Minutos depois, o baque. Thiago Maia sentiu lesão. Diego e Matheus França poderiam ser opções. Filipe Luís com Ayrton Lucas na lateral, também, ainda que de maneira emergencial. Dorival recorreu a Fabrício Bruno na defesa e utilizou David Luiz, em ótima noite na defesa, como volante. Foram momentos doloridos ao Flamengo e o gol corintiano parecia questão de tempo. Absolutamente mutilado em seu jogo, seja da maneira como se organizava ou como pensa em sua filosofia de jogo, o time recuava cada vez mais. É uma equipe que não sabe apenas se defender. Assistir ao outro com a bola. O Corinthians girava de um lado a outro, pressionava. De fato, poucas chances reais. Mas parecia iminente o empate, o desconforto transparecia à arquibancada. O Maracanã, antes pulsante, arregalava os olhos. Não reconhecia o Flamengo.

Corinthians ao fim: mais para a frente, dominante

Dorival percebeu e tentou reequilibrar a equipe. Sacou Arrascaeta e Pedro e pôr Victor Hugo e Cebolinha. Victor Hugo mais por dentro com Fabrício Bruno, Matheuzinho à direita, Cebolinha à esquerda, Everton Ribeiro e Gabigol à frente. Vitor Pereira lançou Matheus Vital em Roger Guedes e Maycon em Fausto Vera. O Corinthians continuou superior. Pelos lados levava vantagem, invariavelmente pelo setor esquerdo de ataque, em busca de cruzamentos à área. Numa das tentativas, o desvio de Fábio Santos e e a sobra para Giuliano empatar. 1 a 1. Os sinalizadores que já haviam esfriado o Flamengo no início do jogo agora esfriavam o Corinthians com a paralisação. A arquibancada rubro-negra, ciente do apuro, saiu em socorro do time aos berros. Equilibrou forças no fim e o time, um pouco mais balançeado, ainda conseguiu dois contra-ataques perigosos com Cebolinha, um chute por cima, e Victor Hugo, que acabou cruzando em cima da defesa ao tentar passar para Gabigol. Àquela altura Fabrício estava no meio como volante e David Luiz voltara à defesa, mas os pênaltis definiriam o tetracampeão.

A distância clara, cristalina entre os dois elencos vista na Libertadores e no primeiro jogo havia desaparecido no segundo tempo. Houve méritos corintianos, mas o Flamengo deu todas as condições possíveis ao se automutilar taticamente. Por mais que houvesse desfalques havia também condições de oferecer opções mais equilibradas. Arriscou-se em demasia, desnecessariamente. Mas havia, no entanto, um reencontro marcado de um geração com o trilho das vitórias. Eram nove taças levantadas até então. Um caminho interrompido desde o fim de 2021. Mas na galeria da turma de 2019 faltava uma no hall das mais acessíveis. A Copa do Brasil.

A arquibancada pulsou para as penalidades. E esfriou na perda de Filipe Luís. Mas Gabigol fala a língua do cimento. Entende a massa. Fazer parte do inferno do Maracanã, agora, é positivo. Aos berros, ele chamou os seus ao definir que nada estava definido. E o destino, travesso, chamou Rodinei para rasgar o último envelope. Tirar a última figurinha. Completar um ciclo entre o tri e o tetra, unindo Flamengos tão diferentes. O cromo brilhante foi tirado no estufar da rede de Cássio. No explodir do lateral, camisa girando, a massa se perdeu no delírio da décima taça de uma geração histórica que se iniciou em 2019 para não mais parar. A sede de conquistas segue, sim, para Guayaquil. Há lições a tirar também. O time se expôs. Mas o álbum está lá completo para essa turma. Flamengo, tetracampeão da Copa do Brasil.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO (6) 1X1 (5) CORINTHIANS

Data: 19 de outubro de 2022
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO – Fifa)
VAR: Pablo Ramon Gonçalves Pinheiro (RN)
Público e renda: 61.566 pagantes / 68.097 presentes / R$ 11.177.332,00
Cartões amarelos: Thiago Maia, Léo Pereira (FLA) e Fausto Vera, Lucas Piton (COR)
Gols: Pedro (FLA), aos seis minutos do primeiro tempo e Giuliano (COR), aos 36 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Santos, Rodinei, David Luiz, Léo Pereira e Filipe Luís; Thiago Maia (Fabrício Bruno, 26’/2T), Vidal (Matheuzinho, 17’/2T), Everton Ribeiro e Arrascaeta (Victor Hugo, 32’/2T); Gabigol e Pedro (Everton Cebolinha, 32’/2T)
Técnico: Dorival Júnior

CORINTHIANS: Cássio, Gil, Balbuena, Fábio Santos; Fagner, Fausto Vera (Maycon, 32’/2T), Du Queiroz (Giuliano, 21’/2T), Renato Augusto e Lucas Piton (Adson/Intervalo e depois Gustavo Mosquito, 44’/2T); Roger Guedes (Matheus Vital, 32’/2T) e Yuri Alberto
Técnico: Vitor Pereira

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