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A força da freguesia: Flamengo não precisa do limite para derrubar o Palmeiras de novo

Michael Flamengo gol Palmeiras Allianz Parque

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Pedro Flamengo gol Palmeiras

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Desde que o Flamengo de 2019 se apresentou ao futebol brasileiro como o time a arrebatar multidões e vitimar adversários o Palmeiras também se colocou – ou foi colocado – como o rival capaz de impedir este protagonismo. Jamais conseguiu nos embates diretos. Ainda que o fantástico time de Jorge Jesus seja apenas uma bela lembrança na memória, os encontros entre as duas potências desde então sempre terminaram com um sorriso rubro-negro no canto de boca. Neste domingo houve mais um capítulo no Allianz Parque. Outra vitória do Flamengo, um 3 a 1 de virada que manteve o jejum verde e deixou claro: não é necessário para o time rubro-negro ir ao limite atualmente para vencer um rival que insiste em ser pobre em suas ideias mesmo com tamanho investimento.

Uma vez mais o Flamengo estava encharcado de problemas. Desfalques pesados de titulares. Rodrigo Caio, Filipe Luís, Diego, Bruno Henrique, Gabigol. Desfalques também de opções imediatas, como Renê. Renato Gaúcho fez uso do elenco forte que ainda tem em mãos mesmo em condições adversas. Um 4-2-3-1 com Andreas Pereira ao lado de Arão no meio. Arrascaeta por dentro, com Michael e Everton Ribeiro pelos lados. Pedro à frente. Nas laterais, Isla e o jovem Ramon, terceira opção para a vaga. Esperava-se um duelo difícil diante de um adversário com 15 dias de treinamento, nenhum problema físico e jogadores descansados. Abel Ferreira pôde escolher o que de melhor tinha à disposição.

Mandou a campo um Palmeiras também num 4-2-3-1. Optou por Wesley, Raphael Veiga e Dudu como o trio atrás de Rony. Mais atrás a dupla de volantes com Danilo e Zé Rafael. Marcos Rocha e Piquerez nas laterais. Mas nada agressivo. Parece ser contra os próprios princípios da equipe. O Flamengo iniciou a partida a pressionar mais a saída de bola palmeirense. A predileção de Abel Ferreira é clara e quase única: chamar o adversário em busca do contragolpe fulminante e quase sempre muito bem executado. E explorar ao extremo as bolas longas para os jogadores de velocidade, especialmente nos lados do campo.

Palmeiras no início: opção única para esticar velocidade pelos lados

E tome bola esticada em busca de Wesley para explorar o setor de Ramon, jovem ainda com pouco tempo entre os profissionais e que mostrou até dificuldade principalmente no primeiro tempo. Não foram poucas as vezes nas quais ele teve dúvida sobre qual adversário atacar e por vezes deixou Marcos Rocha, por exemplo, dominar, ajeitar a bola e cruzar sem nenhum tipo de pressão. Natural pelo pouco tempo de carreira. Fazia parte do cardápio palmeirense tentar ainda o jogo com Dudu, de fora para dentro ao se juntar com Raphael Veiga, e Piquerez ir até a intermediária para buscar o cruzamento. Quase tudo nascia, invariavelmente, em bolas lançadas por Weverton.

Com tão pouco desejo pela posse por parte palmeirense coube ao Flamengo, ainda que não quisesse, manter a bola no início da partida. Girar o jogo primeiramente entre Arão e Andreas. E vale o destaque sobre o recém-chegado: era esperado e óbvio que se destacaria na técnica. Passe refinado, boa visão de jogo. Ajuda na saída de bola. Claramente. Mas ainda requer de maior intensidade no meio, na pegada ao combater os adversários. Esse perfil fez falta no gol palmeirense. Que encaixou o seu tão desejado contra-ataque. Com um Flamengo adiantado, Dudu recebeu a bola das mãos de Weverton e avançou, ligou Wesley, posicionado justamente no outro lado do campo, à esquerda. O atacante caiu para cima de Isla e no fundo só poderia mesmo fazer a jogada usual de puxar para dentro da área. O chileno, inocente, deu o corpo para aceitar o drible. Andreas, a seu lado, abriu espaço em vez de pressioná-lo, provavelmente com receio de cometer o pênalti. Visão limpa, o chute rasteiro saiu um tanto quanto triscado, mas foi suficiente para vencer Diego Alves. 1 a 0.

Fla no início: Vitinho na maior parte, já sem Arrascaeta

Parecia o cenário ideal para Abel Ferreira. Uma vantagem no placar e que obrigaria o Flamengo a abrir ainda mais espaços para seu jogo quase único com bolas longas esticadas às velocidades de Rony, Wesley e Dudu. Talvez até fosse. Mas o problema de ter uma via quase única para vitória é justamente esse: depender de um cenário que pode derreter a qualquer instante. No caso, no minuto seguinte. Mal a bola saiu, Arrascaeta rolou a Pedro, que esticou a Everton Ribeiro. Com espaço às costas de Piquerez, o meia tranquilamente viu Michael, pequenino, surgir atrás das costas de Marcos Rocha e cruzou no capricho para o atacante cabecear com estilo, à la Romário diante de Siboldi em 1993 no Maracanã. Coisas do futebol. 1 a 1.

Foi impossível, então, o Flamengo manter o volume no meio de campo ao perder Arrascaeta lesionado. A Data Fifa, de novo, cobrava seu preço ao elenco rubro-negro. Renato preferiu colocar Vitinho em campo a adiantar Andreas e pôr Thiago Maia. O time perdeu posse, deu passos atrás, mas é interessante: nesta faceta se mostra até confortável sob a batuta de Renato Gaúcho. Explora a velocidade, especialmente quando tem Michael. E de repente inverteu o tabuleiro do jogo e pressionou ainda mais Abel e seu Palmeiras. Deu ao adversário a chance de ser protagonista. Vá lá, assuma o jogo. É um papel que parece causar pavor ao treinador português. Com a bola, o time paulista é obrigado a criar. Trabalhar as jogadas, ter mais alternativas, buscar o jogo pelo chão. Não esticar em velocidade para seus pontas. E aí se viu em apuros. Não teve oportunidades. Facilitou a vida para rebatidas, por exemplo, da dupla formada por Bruno Viana e Gustavo Henrique. Com um Flamengo ainda tímido ofensivamente, o primeiro tempo terminou com o empate.

Na segunda etapa, Abel talvez tenha tentado ser mais ofensivo ao trocar Raphael Veiga por Gustavo Scarpa. Utilizar também a maior capacidade do Camisa 14 em batidas em bola parada e finalizações de fora da área. Mas, de novo, faltam alternativas de jogo ao atual campeão da América. O tal repertório. Invariavelmente o Palmeiras encerra sua tentativa de agredir o adversário com uma bola esticada ou uma bola alçada à área rival. Faltam ideias. Não faltam jogadores. Há qualidade para Abel, principalmente se comparado à maioria dos rivais sul-americanos. Renato Gaúcho, por sua vez, tem mostrado uma faceta mais fria neste Flamengo. Se em outros jogos foi caracterizado pela pura trocação, sem controlar de maneira alguma o jogo, uma aposta clara na superioridade técnica, desta vez foi bem mais racional. Segurou-se defensivamente a partir da saída de Arrascaeta e buscou as brechas. Ela veio no segundo tempo em um escanteio. Vitinho a Pedro, que subiu entre dois defensores e tocou de cabeça, sem chance para Weverton. 2 a 1. O impacto mental no adversário foi devastador e imediato.

Palmeiras ao fim: Scarpa lateral, atacantes em profusão e espaço

Abel fez três trocas para tentar reanimar o Palmeiras. Patrick de Paula, Breno Lopes, Luiz Adriano. Novas tentativas de ímpeto ofensivo, claro. Mas parecia não saber como. Sacar Wesley, o jogador mais incômodo à defesa rubro-negra, soava como inexplicável a um técnico que só vê um caminho para a vitória. Renato fez aposta até arriscada diante do cenário. Sacou Everton Ribeiro e pôs Thiago Maia. Fez o time recuar até demais. Mas as mexidas do treinador rival o ajudaram. Luiz Adriano, menos móvel que Rony, era mais fácil de seguir à dupla de zaga rubro-negra. Wesley já não atormentava Ramon, bem melhor postado do que no primeiro tempo e fechando melhor os espaços na defesa.

Quando Abel tentou a última cartada ao empilhar Willian na frente ao lado de Luiz Adriano e recuar Scarpa para a lateral no lugar de Piquerez, Renato respondeu com força e velocidade. Matheuzinho e Rodinei em dupla pela direita. Vitinho, no setor desde a saída de Ribeiro, foi para o centro ocupar a vaga de Pedro, substituído. João Gomes entrou no lugar de Andreas Pereira. Pois veja: o Flamengo geralmente dominante, com jogadores técnicos, agressivo não teve receio algum de se adaptar ao momento. Fechou-se e pôs velocidade e força para explorar o Palmeiras com o próprio veneno – utilizado recentemente contra Grêmio e Santos, diga-se. Contra-ataque mortal. Scarpa teria então de se preocupar com Rodinei e Matheuzinho, sem tanta liberdade para avançar e lançar bolas na área ou virar o jogo para Breno Lopes às costas de Ramon. Bastaria uma retomada de bola correta…

Ela veio com Vitinho quase como um meia. Passos atrás, ele recebeu a bola por dentro e acionou Michael pela esquerda. Incansável, o ponta acelerou para dentro da área e em cima de Marcos Rocha fez o que quis. Deu corte seco para dentro e bateu rasteiro no contrapé de Weverton para decretar a vitória. 3 a 1. Sem tanto esforço. Em boa partida, mas longe de qualquer grande exibição, o Flamengo de novo bateu o Palmeiras em São Paulo. Um duelo que em qualidade esteve abaixo dos embates da Supercopa do Brasil no início da temporada e da abertura do Brasileiro.

Ao fim, estratégia arriscada, mas com sucesso diante da falha de Abel

E que tornam cada vez mais inexplicáveis os elogios recebidos constantemente por Abel Ferreira. O Palmeiras coleciona bons jogadores, investe pesado para ter um elenco comprovadamente qualidade, mas apresenta um jogo limitado, com dificuldade diante de adversários de grande porte, como neste domingo. Faltam alternativas para chegar ao ataque, alcançar a vitória além de uma ideia monotemática. Ignorar este panorama, evitar críticas e, pior, buscar elogios ainda assim é desserviço não só ao Palmeiras como ao próprio futebol brasileiro.

A deficiência alviverde fica ainda mais clara diante dos desfalques do Flamengo e, principalmente, do fato de que não foi necessário ao time rubro-negro atingir o seu limite para vencer em pleno Allianz Parque. Renato dá a este grupo histórico rubro-negro o seu perfil mais intuitivo. E devolveu a sua alta letalidade perdida deste os tempos de Jorge Jesus. É um mérito. Mas vai além: aceita se adaptar ao que o jogo oferece. Ultimamente tem sido o time do contra-ataque. Por vezes pode ser perigoso contra adversários mais imponentes, principalmente em mata-mata. Mas tem funcionado. Neste domingo, mesmo recheado de problemas, o Flamengo mostrou a força na sua freguesia.

FICHA TÉCNICA
PALMEIRAS 1X3 FLAMENGO

Local: Allianz Parque
Data: 12 de setembro de 2021
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO – Fifa)
VAR: Elmo Alves Resende Cunha (GO)
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Zé Rafael (PAL) e Pedro, Vitinho (FLA)
Cartão vermelho: Zé Rafael (PAL), aos 49 minutos do segundo tempo
Gols: Wesley (PAL), aos 14 minutos, Michael (FLA), aos 16 minutos do primeiro tempo; Pedro (FLA), aos 11 minutos e Michael (FLA), aos 35 minutos do segundo tempo

PALMEIRAS: Weverton, Marcos Rocha, Luan, Gómez e Piquerez (Willian, 27’/2T); Danilo (Patrick de Paula, 15’/2T) e Zé Rafael; Wesley (Breno Lopes, 15’/2T), Raphael Veiga (Gustavo Scarpa / Intervalo) e Dudu; Rony (Luiz Adriano, 15’/2T)
Técnico: Abel Ferreira

FLAMENGO: Diego Alves, Isla (Matheuzinho, 28’/2T), Gustavo Henrique, Bruno Viana e Ramon; Willian Arão e Andreas Pereira (João Gomes, 28’/2T); Everton Ribeiro (Thiago Maia, 18’/2T), Arrascaeta (Vitinho, 23’/1T) e Michael; Pedro (Rodinei, 28’/2T)
Técnico: Renato Gaúcho

  • Danilo

    Cirúrgico, como o contra ataque pretendido pelo Palmeiras, porém executado pelo Fla com o Michael (não com o Rodinei, pelamor). Abs PHT