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Lição de competitividade: organizado, Vasco derruba Flamengo em clássico no Maracanã

Morato Vasco Flamengo Carioca 2021 Edmundo dança

(Flickr / Vasco)

Everton Ribeiro Andrey Flamengo Vasco 2021

(Alexandre Vidal / Flamengo)

O primeiro Clássico dos Milhões da temporada 2021 começou antes. Não antes do nada, como o Fla-Flu. Mas alguns dias antes. O Flamengo pediu, a Ferj atendeu. Um adiamento de data que deixava claro que o time encarava o jogo como um apronto para a Libertadores. Do outro lado, um Vasco sedento por devolver os bastidores em campo. O reflexo no placar foi incontestável. Um 3 a 1 vascaíno, com direito a fim de jejum, comemoração à la Edmundo e alívio na garganta. Clássico se ganha, mas também se joga. Uma lição de competitividade.

Fla no início: Everton Ribeiro e Gerson fora de posição

Por mais que o dia rubro-negro tenha sido agitado com a ausência de Arrascaeta repentinamente da lista de relacionados é difícil crer em um impacto moral na equipe. A consequência direta foi mesmo no campo. Na escalação. Na formação. Se Rogério Ceni pretendia usar o clássico como laboratório para a Libertadores, a fórmula mostrou ser ineficaz. Sem o uruguaio e Rodrigo Caio, poupado, manteve Arão na defesa ao lado de Bruno Viana e reforçou o meio com João Gomes. Daí o efeito dominó: Gerson adiantou um pouco mais, empurrado para a direita e Everton Ribeiro saiu do setor para a esquerda. Diego mais posicionado como primeiro homem à frente da defesa, João Gomes pouco à frente e a dupla Bruno Henrique e Gabigol no ataque. Poderia servir como observação. Mas os minutos iniciais demonstraram um Flamengo pouco interessado na partida, em rotação muito abaixo do confronto com o Palmeiras dias antes. Parecia feito por encomenda ao técnico Marcelo Cabo.

Vasco no início: organizado, fechado, velocidade nos lados

Enfrentar o Flamengo no atual panorama e com a disparidade técnica entre as equipes exige humildade e reconhecimento. Partir para o jogo franco com rival é caminho andado para ser fatal. O Vasco de Cabo olhou no espelho e compreendeu. Projetado inicialmente em um 4-2-3-1, o time manteve a formação em 4-4-2 na maior parte do tempo. Morato e Pec pelos lados, Marquinhos Gabriel e Cano mais soltos à frente. Por dentro Andrey e Galarza fechavam os espaços. Era o jogo claro: competitividade alta, intensidade na marcação e paciência para aproveitar os contragolpes. A partida, então, sorriu cedo. Aos cinco minutos, Léo Matos abriu o placar de cabeça ao vencer fácil Bruno Viana pelo alto em cobrança de escanteio de Zeca. 1 a 0. O jogo, novamente, tinha a trajetória fora do roteiro rubro-negro, como já acontecera com o Palmeiras. Mas domingo valia taça. Contra um rival tecnicamente imponente. A desconexão com o campo indicou um Flamengo confuso e pouco inspirado.

Fla ao fim: desorganizado, com espaços, em busca de um gol

A posse era basicamente rubro-negra. Mas em vão. Faltava penetrar na área cruzmaltina com qualidade, com toques rápidos para esgarçar o sistema defensivo adversário. O time rubro-negro voltou ao tempos de bolas alçadas pelos lados da intermediária. O Vasco atraía. Chamava. Fechava o centro e induzia o Flamengo aos lados. Isla ultrapassava pela direita, Filipe Luís nem tanto pela esquerda. Léo Matos, em ótima noite, acompanhava Bruno Henrique bem Girava de um lado a outro. Atrapalhavam, claro, os posicionamentos trocados do time de Ceni. Gerson à direita, sem organizar o jogo por trás. Everton Ribeiro à esquerda, sem o instinto de puxar com a canhota para o meio e abrir corredor para Isla. Sem fluidez de jogo, o Flamengo tentava se acertar. Ceni devolveu Ribeiro à direita, pôs Gerson à esquerda. De nada adiantou. O Vasco retomava a bola e acelerava principalmente pela direita com Morato. Puxava quase até a intermediária e aí buscava o meio com Marquinhos Gabriel. Velocidade para surpreender o Flamengo adiantado. Houve problemas. Houve espaço no centro. Diego se desdobrava, mas a intensidade cobrava preço alto para cobrir tamanho espaço de campo.

Vasco ao fim: ainda fechado, sem espaços para o rival

Em um dos avanços vascaínos, Andrey subiu pelo meio, passou por Gerson e tentou o passe para o centro. A bola resvalou em Diego e Morato, inteligente, viu Cano entrar pela área às costas de Bruno Viana. Fácil. O argentino recebeu e ajeitou a pelota com estilo, enchendo o pé no canto esquerdo de Diego Alves. 2 a 0. O relógio contava ainda menos de 30 minutos do primeiro tempo. E o Flamengo, atônito, tentou voltar ao jogo, imprimir algum tipo de competitividade. Falhou. Gabigol passou a sair demais do centro e buscar mais a direita, na individualidade. Everton Ribeiro cresceu pelo seu setor e até tentou tornar o jogo mais objetivo, papel exercido com maestria por Arrascaeta com seus passes. O Vasco parecia confortável. Bola rubro-negra, ideia vascaína. O jogo girava pela intermediária defensiva cruzmaltina, de um lado a outro, como queria o time de Marcelo Cabo. O placar folgado da vitória vascaína do primeiro tempo acionou o lado rubro-negro.

Rogério tentou cartadas. Minimizou as modificações em seu laboratório e tentou receita mais comum. Vitinho na vaga de João Gomes, Matheuzinho na de Isla. Gerson voltou ao centro do campo, Vitinho foi à esquerda. O time se entendeu melhor com o Camisa 11 como substituto de Arrascaeta. Da esquerda ele carimbou o pé da trave de Lucão no que poderia ter reacendido o Flamengo no jogo. Atormentava mais Léo Matos e Andrey, que tinham com quem se preocupar, de fato. Bruno Henrique afundou mais na área. Everton Ribeiro perdeu boa chance em cruzamento de Filipe Luís ao bater em cima de Lucão. Mas e o Vasco? Seguia organizado, agrupado, fechando espaços com muita marcação e consciente de seu papel no clássico. Precisava de uma bola para matar o jogo. Por mais que fosse pressionado, com o perigo sempre em frente à própria área, tinha um risco calculado. Precisava de uma bola.

Marcelo Cabo já tinha sacado Pec para pôr Bruno Gomes. Repor a vitalidade e manter a intensidade na marcação. Perdia um grande escape, mas seguiu a dificultar o Flamengo pelo centro. Ceni entendeu e trocou Everton Ribeiro por Rodrigo Muniz, em busca do jogo aéreo. Quando Diego, já desgastado, errou matada de bola e perdeu para Marquinhos Gabriel, Morato disparou. Pegou um Flamengo desorganizado, com franco espaço, em busca de um gol que o recolocasse na disputa. Filipe Luís mais posicionado à direita tentou acompanhar. O Camisa 10 vascaíno arrancou, deu corte desconcertante no lateral e bateu rasteiro no contrapé de Diego Alves. 3 a 0. A comemoração à la Edmundo em 1997 coroou a noite vascaína e sacramentou o desastre para os rubro-negros. Nem mesmo o gol de Vitinho no apagar das luzes evitou o constrangimento.

Não apenas pelo resultado. Mas por adiar o clássico em um dia, indicar um teste ao time titular e naufragar em disputa, concentração e organização no clássico. Rogério Ceni pretendia azeitar o time para a estreia na Libertadores. Sem uma peça fundamental decidiu mexer no todo, alternar posições. Não retomar Arão – mal em posicionamento e com erros técnicos bobos, como Bruno Viana – ao meio e testar dois defensores. Tornou o Flamengo mais frágil, exposto. Certamente vai para a Argentina com mais dúvidas do que esperava às vésperas da estreia na Libertadores. Do outro lado, Marcelo Cabo indicou um caminho para o Vasco na temporada. Intensidade e organização devem ser regras para 2021, não exceções. Por vezes terá de tomar as rédeas do jogo e atacar, principalmente na Série B. Mas fez da quinta-feira, 15 de abril de 2021, um dia especial para os cruzmaltinos. Encerrou o jejum de 17 jogos sem vitórias sobre o maior rival, resgatou um pouco da autoestima. E, de quebra, deu uma lição de competitividade ao Flamengo.

FLAMENGO 1X3 VASCO

Local: Maracanã
Data: 15 de abril de 2021
Árbitro: Bruno Arleu de Araújo (RJ)
VAR: não houve
Público e renda: portões fechados
Cartões amarelos: Diego (FLA) e Galarza, Morato, Léo Matos, Marcelo Cabo, Cayo Tenório (VAS)
Gols: Léo Matos (VAS), aos cinco minutos, e Cano (VAS), aos 27 minutos do primeiro tempo; Morato (VAS), aos 31 minutos e Vitinho (FLA), aos 47 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Isla (Matheuzinho / Intervalo), Willian Arão, Bruno Viana e Filipe Luís; João Gomes (Vitinho / Intervalo), Everton Ribeiro (Rodrigo Muniz, 30’/2T),
Técnico: Rogério Ceni

VASCO: Lucão, Léo Matos, Ernando, Leandro Castan e Zeca; Miranda (Andrey, 35’/2T), Galarza (Carlinhos, 43’/2T), Marquinhos Gabriel, Gabriel Pec e Morato (Cayo Tenório, 35’/2T); Cano (Léo Jabá, 35’/2T)
Técnico: Marcelo Cabo

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