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Na overdose de Fla-Flu, o saldo é rubro-negro: Flamengo na final do Carioca

Gabigol Flamengo Fla-Flu semifinal Carioca 2019

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Bruno Henrique Fla-Flu semifinal Carioca 2019

(Alexandre Vidal / Flamengo)

Um dos pontos mais criticados do Campeonato Carioca é a banalização dos clássicos. Rivais tradicionais se enfrentam à exaustão. É, sem dúvidas, um ponto negativo. Mas há, também, um positivo: os constantes embates exigem mais da preparação dos times. Maior conhecimento mútuo, maior criatividade necessária para chegar à vitória. No quarto Fla-Flu da temporada, o primeiro empate, em 1 a 1. Mas com gosto de vitória do Flamengo, classificado à final por ter a melhor campanha na soma de pontos da competição. Na overdose, o saldo foi rubro-negro.

O pouco tempo para treinamentos desde a derrota para o Peñarol exigiria alguma criatividade de Abel Braga para tentar neutralizar o inquieto Fernando Diniz. A pressão na saída de bola já havia ocorrido nos últimos dois confrontos, vencidos pelo Flamengo. Precisaria, então, de mais. Abel Braga tirou um coelho da cartola. No 4-2-3-1, inverteu os pontas, Everton Ribeiro e Bruno Henrique. Uma mudança questionada por muitos, mas que, em minutos, foi possível observar que daria efeito se somada à pressão na saída de bola rival. Deixar o Fluminense no maior desconforto possível.

Fla no início: Everton e Bruno Henrique trocados, time bem adiantado

O Tricolor de Diniz geralmente abre os zagueiros, buscando a saída por dentro com um volante, liberando os laterais como alas. A escolha é, preferencialmente, por iniciar o jogo com Caio Henrique e acelerar com Everaldo. Ao colocar Bruno Henrique para pressionar sempre o camisa 19 rival, Abel criou problemas para o Fluminense. Avançado em bloco, o Flamengo dominava inteiramente a partida, deixando pouco tempo para o Tricolor respirar. Raciocinar. Tentar trocar passes. Com sete minutos, a pressão deu efeito e Arão, de cabeça, abriu o placar após Rodolfo dividir bola com Léo Duarte. Bruno Arleu de Araújo conferiu no VAR e errou: anulou o tento alegando falta inexistente de Léo Duarte, atropelado por Rodolfo em pleno voo. A pressão rubro-negra, no entanto, persistiu.

Flu no início: mais recuado do que de costume, com dificuldades de sair

Foi interessante notar a intensa movimentação rubro-negra. Everton Ribeiro caía da esquerda ao meio, trocando por vezes com Diego. Toques rápidos, acelerando. Arão, à direita, dava suporte a Bruno Henrique na marcação adiantada, assim como Pará. A exceção vinha do ataque: Uribe parecia desconectado, longe da vibração de Gabigol, expulso contra o Peñarol e no banco de reservas para que o Flamengo pudesse ter maior entrosamento para o confronto com o San José, quinta-feira, no Maracanã. Serviu pouco. Por vezes até desligado, Uribe esteve sempre um tom abaixo da intensidade da equipe.

Diniz estava inquieto na área técnica diante da clara dificuldade do time para jogar. Um Fluminense recuado, apenas com Yony González e Luciano mais à frente. Sem Ganso, Daniel não conseguia dar o ritmo a um time tão recuado. Gilberto era a válvula de escape pelo lado direito. Mas o time, além de menos organizado, vivia noite tecnicamente ruim. Errava passes em demasia, falhava nos botes no meio. Mas o futebol…

Diante de tanta pressão, com picos de posse de bola de 65%, o Flamengo teve poucas chances claras. Talvez tivesse uma delas com Uribe, lançado de forma soberba por Everton Ribeiro na área. Mas o árbitro Bruno Arleu decidiu errar três vezes no mesmo lance. A primeira ao paralisar a jogada sem sinalização do auxiliar. A segunda ao ignorar o protocolo do VAR, que indica que a jogada deve seguir até o fim. A terceira porque Uribe estava em condição legal. O vasto espaço cedido pelo Fluminense deixava o Flamengo sedento, confortável na partida. Diego, por exemplo, claramente tentou arriscar passes agudos, como já fizera contra o Peñarol. E tem acertado. Dessa vez, deixou Bruno Henrique livre às costas de Caio Henrique. O corte, seco, deixou o lateral tricolor ainda mais vendido. O chute, rasteiro, só não virou gol devido à ótima defesa de Rodolfo com o pé. No rebote, Uribe, atrasado, dividiu com Gilberto e perdeu ótima chance. Um espaço se abriu ao Fluminense.

Fla ao fim: ainda em busca do gol e com Arrascaeta dando fluidez

Enquanto incomodou Caio Henrique, Bruno Henrique foi um enorme tormento. Veloz, sabe fazer a pressão e dá pouco tempo ao rival para raciocinar. Ao ver Rodolfo perder o gol, o atacante acompanhou de longe o avanço tricolor. Caio Henrique e Everaldo, enfim, tinham uma brecha. O atacante driblou fácil Arão e rolou em Caio. A batida com classe achou a cabeça de Gilberto, observado à distância por Léo Duarte. A finalização foi realizada sem sair do chão. No canto de Diego Alves. 1 a 0. Futebol tem dessas. E fez o Fluminense colocar os nervos no lugar, passar a trocar passes com maior calma, voltar ao seu jogo.

O retorno ao segundo tempo trouxe um Flamengo com Gabigol na vaga de Uribe. Mas Abel repetiu o que já fizera contra o Peñarol: abriu o camisa 9 à direita e liberou Bruno Henrique para ficar centralizado. O jogo se tornou mais aberto. Gabigol não recompõe com vitalidade como Bruno Henrique. Caio Henrique tinha mais liberdade para jogar, tramar passes. Este Flamengo, no entanto, tem característica diferente dos anos anteriores: não desiste. O desgaste foi grande. A equipe voltou a morder no campo de defesa tricolor, avançando. E a arquibancada pediu Arrascaeta. Abel resistiu por seis minutos, puxando um grito de gol da arquibancada quando o uruguaio entrou em campo, na vaga de Diego. É qualidade que deve ser cada vez mais utilizada. A facilidade com que o meia acha espaços e faz o jogo andar impressiona. Por mais que, necessariamente, proteja a bola às vezes, busca sempre o passe à frente, rumo ao gol. Vê espaços que raramente outros meias enxergam.

Flu ao fim: tentativa de acionar João Pedro em vão

A forte movimentação rubro-negra fez Bruno Henrique trocar com Gabigol. Da direita ao centro. Em uma dessas alternâncias, Renê achou o camisa 9 na área, à esquerda. A bola triscou em Gilberto e sobrou limpa. Gabigol avançou e chutou forte, entre Rodolfo e a trave. Um desafogo na alma rubro-negra e de um time dominante na maior parte do jogo. 1 a 1. Chamou atenção que mesmo com o empate que garantia a vaga o Flamengo insistiu em acelrar para tentar o segundo. Vitinho substituiu Bruno Henrique na direita e continuou o combate na saída de bola rival. Um ponto forte da equipe. Diniz tentou espremer ao máximo o elenco. Abriu Marquinhos Calazans à direita, sacou um zagueiro e deixou o menino João Pedro à frente, na esperança de uma bola aérea que não chegou. O empate deixou o Flamengo na final do Campeonato Carioca, à espera de Vasco ou Bangu.

Na overdose de Fla-Flus, não há dúvida de que o saldo rubro-negro. De um time que, ainda às voltas com a tragédia do Ninho do Urubu, saiu eliminado do Maracanã nos acréscimos de forma vexatória, engolido taticamente, a uma equipe que devolveu na mesma moeda. Engoliu o Fluminense no primeiro tempo da semifinal do Carioca, mesmo com um revés no placar. Quatro Fla-Flus, duas vitórias rubro-negras, uma tricolor e um empate. Neste último, um Flamengo com 53% de posse de bola, 14 finalizações contra sete do rival, inclusive trocando mais passes (335 x 299*). Não há dúvidas de que o Flamengo, mesmo longe de qualquer perfeição, conseguiu evoluir para travar o Fluminense, também já bem desgastado fisicamente – um elenco enxuto dificilmente conseguirá manter sempre o estilo Fernando Diniz. Cabe agora ser mais maduro fora do Estadual. A final do Carioca não é tudo. Mas é, sim, alguma coisa.

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FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X1 FLUMINENSE
Local: Maracanã
Data: 6 de abril de 2019
Árbitro: Bruno Arleu de Araújo (RJ)
Público e renda: 43.035 pagantes / 46.128 presentes / R$ 1.491.472,00
Cartões amarelos: Bruno Henrique, Willian Arão, Gabigol, Vitinho e Everton Ribeiro (FLA) e Nino, Gilberto  e Bruno Silva (FLU)
Gols: Gilberto (FLU), aos 44 minutos do primeiro tempo e Gabigol (FLA), aos 23 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves; Pará, Léo Duarte, Rodrigo Caio e Renê; Cuellar e Willian Arão; Everton Ribeiro, Diego (Arrascaeta, 18’/2T) e Bruno Henrique (Vitinho, 30’/2T); Uribe (Gabigol / Intervalo)
Técnico: Abel Braga

FLUMINENSE: Rodolfo, Gilberto, Nino (João Pedro, 33’/2T), Matheus Ferraz e Caio Henrique; Dodi (Calazans, 32’/2T) e Bruno Silva; Luciano, Daniel (Allan, 12’/2T) e Everaldo; Yony González
Técnico: Fernando Diniz

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