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Marcelo Cortes / Flamengo
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O Maestro e o recital: Flamengo de Filipe Luís baila diante do Grêmio na Arena

Filipe Luís Grêmio Flamengo Copa do Brasil 2023

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Bruno Henrique Gabigol fusão Grêmio Copa do Brasil Flamengo

(Marcelo Cortes / Flamengo)

Fosse contada em livros, a história da segunda maior geração do Flamengo ganharia capa dura e contornos dourados entre as linhas rubro-negras destinadas ao museu. E teria um autor. Que lê, participa, influencia. Apaga garranchos e os direciona em campo com passes, instruções, ditando por vezes o rumo da História como um de seus alicerces. Não foram poucas as vezes desde 2019 em que Filipe Luís, ao seu estilo, comandou os caminhos do Flamengo e teve participações fundamentais para reger a orquestra. Um lateral que, por vezes, comanda tudo como um Maestro. Assim foi nesta quarta-feira, na Arena, em mais uma noite para os livros do Flamengo que tem em Gabigol o nome e a alma. Mas em Filipe Luís, um dos grandes cérebros. O baile de 2 a 0 sobre o Grêmio confirma.

Óbvio que o quarteto histórico – como não utilizar sempre tal complemento neste Flamengo? – é fundamental. Mas o Flamengo de 2019, já um quadro na parede, teve como seus alicerces os laterais. Filipe Luís e Rafinha transformaram a equipe de Jorge Jesus e permitiram a chegada ao outro patamar. Coordenavam a linha defensiva e iniciavam, em conjunto, a construção de um jogo encantador. Rafinha se foi. Filipe ficou. E todos os grandes momentos da equipe desde então contam com ele. Ayrton Lucas surgiu como candidato a desbancá-lo. É ótima opção. Mas o futebol, travesso, fez questão de recolocar Filipe em campo no retorno de Bruno Henrique. Um complemento. E assim chegamos ao jogo desta quarta. Ao recital rubro-negro. O auge desta equipe, até agora, em 2023.

No modelo de Jorge Sampaoli, Wesley é liberado ao ataque, quase como um ala ou ponta. O lateral-esquerdo fixa mais ao lado dos zagueiros e participa do início de jogo. Sem atacar o fundo. É muito mais característica de Filipe do que Ayrton. Sem o Camisa 6, lesionado, o Flamengo entrou em campo com o veterano. E Sampaoli ainda surpreendeu: sem Gerson, manteve o quarteto e reforçou o meio não com dois volantes clássicos. Allan ficou no banco. Victor Hugo esteve no meio ao lado de Thiago Maia. Estava claro: ideia de reter a bola, controlar o jogo com a posse, se impor ao adversário. Ao estilo Flamengo.

Grêmio no início: Kannemann à caça e buraco no meio

Que encaixou justamente no estilo Grêmio de Renato. Mais uma vez. Uma linha de cinco defensores, dois jogadores por dentro – Carballo e Villasanti – três na frente, com Bitello e Cristaldo pelo lados e Suárez quase como um lutador solitário mais avançado. Talvez uma tentativa de 5-4-1 para se defender. Na prática, um 5-2-3 com fartos e generosos espaços. E aí entra Filipe Luís. Testemunha ocular e um dos autores das linhas traçadas do segundo melhor momento rubro-negro na História. É com o lateral que o Flamengo inicia o jogo. Desafoga. Encontra passes por dentro, no buraco existentes atrás dos pretensos meias gremistas. E fez o time atacar em bloco. Foram 15 minutos iniciais de um Grêmio empolgado na Arena, com pressão na saída de bola. E que se transformou em perigo em erros de passe de Everton Ribeiro e do goleiro Matheus Cunha – este a ser corrigido, já que a autoconfiança parece estar a ponto de traí-lo e se transformar em gol bobo a qualquer momento. O Grêmio não aproveitou.

Flamengo no início: Filipe como maestro, time para controlar pela posse

Foi um Flamengo absolutamente confortável. Com toques rápidos, circular de bola e muita movimentação. Toca, passa, recebe. É fatal contra equipes de Renato Gaúcho. O suspiro para uma eternidade na semifinal da Libertadores em 2019 que diga. A saída para caça dos gremistas é absolutamente incompreensível e até fácil de desorganizar. Kannemann fazia avanços de maneira ensandecida. Por vezes a Gabigol, por vezes a Arrascaeta. Como no lance do gol rubro-negro. O zagueiro argentino foi caçar o meia uruguaio. No arranque de Wesley por dentro, Bruno Henrique deu opção no corredor – Filipe busca muito mais o centro, não o lado – e Gabigol entra sem tanto combate. 1 a 0 exemplar. Didático. E que deixou o Flamengo ainda mais confortável sob a batuta de Filipe Luís.

Caso tenha interesse selecione em redes sociais ou plataformas de vídeos lances do lateral no jogo. Filipe recebe a bola, balança, gira, ginga. Observa a melhor opção de passe, geralmente por dentro. Visão privilegiada. Vai além. De elegância. Caberia até um fraque. O Flamengo girava e ocupava o centro com Everton Ribeiro, Victor Hugo e parte para abastecer o ataque. Wesley, em sua melhor atuação nos profissionais, não mostrava afobação. Recebia a bola, acalmava, girava o jogo. Havia um plano definido. Uma ideia que, se necessário fosse, poderia levar a posse de volta até Matheus Cunha para reiniciar a construção do jogo. Algo que tem sido impossível no Maracanã diante dos resmungos que inevitavelmente brotam da arquibancada. É característica deste Flamengo. Com tamanha movimentação, no primeiro tempo foi possível observar Gabigol à esquerda, Bruno Henrique por dentro, Arrascaeta na área. Trocas incessantes que levaram à tabela entre Ribeiro e o uruguaio, com a mão de Bruno Alves. Gabigol, incrivelmente, cobrou mal um pênalti e Grando defendeu para aliviar o Grêmio. O 1 a 0 no intervalo era lucro.

Grêmio ao fim: tentativa de apenas manter o prejuízo já instalado

O próprio Renato já entendia assim. Pois ainda no primeiro tempo sacou Bruno Uvini, amarelado, para colocar Ferreirinha. Tentava explorar Wesley, já amarelado. Mas a consequência foi pior. Kannemann, desprotegido sem a trinca de zagueiros, continuaria a sair à caça. O cartão vermelho seria consequência óbvia. Tanto que chegou em 14 minutos, depois de uma falta desclassificante e desnecessária sobre Everton Ribeiro. E foi curioso. O Flamengo precisou de cinco minutos para fazer a releitura do jogo, agora com um jogador a mais. Nesse meio-tempo, o Grêmio escapou pelos lados, Suárez lutou bravamente à frente. A posse rubro-negra diminuiu levemente. Mas tudo se reestabeleceu. Sob a batuta de Filipe. Lá vai o Maestro, por dentro, como um meia para acionar Arrascaeta e deste a Thiago Maia. Dali ao gol, validado graças à inteligência de Gabigol no lance ao não interferir na jogada para não caracterizar o impedimento. 2 a 0.

Flamengo no fim: peças de alto nível para manter o pique

O Grêmio desmanchou. Renato tentou manter alguma combatividade, mas à essa altura a torcida era pela manutenção do prejuízo. O Flamengo rodava a bola. Olé. De um lado a outro. Olé. A ala visitante da arquibancada provocava. Contava até cinco. O estádio, estupefato, acompanhava ao Flamengo avançar e trocar passes com maestria. Filipe regia tudo. Se o Grêmio ameaçava pressionar, o lateral era o desafogo. Achava buracos para encaixar o passe tirar o time de qualquer perigo. Quando o Grêmio indicava o desejo por um jogo elétrico, no vaivém, bola nos pés de Filipe. Acalmava, indicava ser necessário desacelerar e manter o Flamengo no caminho construído até ali. Impecável.

O placar não reflete o baile, verdade. 65% de posse, 14 finalizações, 635 passes trocados*. Pedro desperdiçou boas chances quando entrou, por exemplo. Foi, no entanto, um Flamengo maduro, consciente e completamente entregue a cada uma das disputas que brotaram na Arena. Copas ou liga, pouco importa. Este time tem gosto pelos grandes jogos. É diante de todos os holofotes, nos grandes palcos, com grandes rivais que retoma a caneta histórica e volta determinado a traçar linhas. Se o Flamengo era pancada e alvo de piada no Sul há mais de década, já ocorre o contrário. Um elenco que, em campo, parece sempre ter prazer de atuar junto. Em jogos para sempre. Com apresentações para a História. Como uma orquestra. No recital da Arena, o Flamengo promoveu o baile. Sob os olhos e pés de um Maestro. Um dos alicerces de 2019. Se o Flamengo conta tantos momentos para completar o seu museu e dar brilho à própria História desde então, muito passou por Filipe Luís.

*Números app Sofa Score

FICHA TÉCNICA
GRÊMIO 0X2 FLAMENGO

Data: 26 de julho de 2023
Árbitro: Raphael Claus (SP – Fifa)
VAR: Igor Junio Benevenuto (MG – Fifa)
Público e renda: 50.128 pagantes / 52.933 presentes / R$ 4.951.301,00
Cartões amarelos: Bruno Uvini, Ferreira, Reinaldo (GRE) e Léo Pereira, Wesley, Allan (FLA)
Cartão vermelho: Kannemann (GRE), aos 14 minutos do segundo tempo
Gols: Gabigol (FLA), aos 33 minutos do primeiro tempo e Thiago Maia (FLA), aos 22 minutos do segundo tempo

GRÊMIO: Gabriel Grando, João Pedro, Bruno Uvini (Ferreira, 44’/2T), Bruno Alves, Kannemann e Reinaldo; Bitello (Zinho, 31’/2T), Villasanti, Carballo (Nathan, 31’/2T) e Cristaldo (Gustavo Martins, 15’/2T); Suárez
Técnico: Renato Gaúcho

FLAMENGO: Matheus Cunha, Wesley (Varela, 19’/2T), Fabrício Bruno, Léo Pereira e Filipe Luís; Thiago Maia, Victor Hugo, Everton Ribeiro (Luiz Araújo, 44’/2T), Arrascaeta (Allan, 32’/2T); Bruno Henrique (Everton Cebolinha, 32’/2T), Gabigol (Pedro, 31’/2T)
Técnico: Jorge Sampaoli

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