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No giro do craque, Flu de Diniz impõe humilhação a Flamengo e abraça eternidade

Fluminense campeão carioca 2023

(Mailson Santana / Fluminense FC)

Marcelo Fluminense gol Fla-Flu final 2023 Carioca

(Marcelo Gonçalves / Fluminense FC)

Um giro. Bastou um giro para conectar 17 anos no tempo. De garoto de Xerém a craque internacional. De repente tudo fez sentido. A cabeleira vasta, o toque com classe para dentro, a chapada com extrema categoria. O estufar na bochecha da rede que estará grifado em linhas bem traçadas no grosso livro do Fla-Flu. História. Quase sempre o futebol nos brinda com ela. Nem sempre com o luxo de três elementos simultaneamente. Um craque, um pensador, um coletivo brilhante. O Fluminense teve tudo isso em uma noite para a eternidade no Domingo de Páscoa no qual impôs uma humilhação ao Flamengo em sonora goleada de 4 a 1 no Maracanã. É um Fluminense com nome e sobrenome. O Fluminense de Diniz. Bicampeão carioca de forma histórica.

É necessário sempre ser precavido ao utilizar adjetivos como histórico, épico sob a pena de banalizá-los. Mas como adjetivar o tamanho do feito tricolor no Maracanã? O time pisou em campo já com um revés de 2 a 0 nas costas. Necessitava ser organizado. Ser intenso. Ter fome. Ser mentalmente impecável. Mesmo sem o comandante à beira do campo. Assim o fez. Pois, vejam, a atuação tricolor foi excelente. Tática, técnica. Mas nem chegou ao ápice dessa equipe. Não foi necessário diante da baixa resistência encontrada. Uma soma de fatores. O Fluminense simplesmente envolveu o Flamengo com suas movimentações e passes. Mas o dizimou mentalmente. A cada palmo disputado, vencido, emplacado. Inapelável. Vitória!, berraria Diniz se à beira do campo estivesse.

Flu no início: força pelo lado esquerdo, Arias onipresente

O Tricolor é formatado no 4-2-3-1, mas se há uma equipe no futebol brasileiro que torna a frase de Guardiola, de que essas classificações são apenas números de telefone, esta é o Fluminense. O time se esparrama em campo no apito inicial, agrupa, passes curtos, movimenta, enche um setor, esvazia, enche o outro. Gosta da posse. E aprende lições. Depois do bom início no primeiro jogo da decisão houve dificuldade. Se tentava a direita como escape, desta vez usou a esquerda. Por ali tinha o craque. Marcelo. Alexsander, enorme potencial, caiu para o meio com André. Keno esticava pelo lado. E havia, como sempre, o diferencial da equipe de Diniz: Arias. O colombiano, assim como no jogo com o Sporting Cristal, era onipresente. Desta vez mais ao centro, perturbava e usava as costas de Gerson e Thiago Maia com maestria. Pela esquerda o Fluminense iniciava o jogo. Ao ultrapassar o meio, era possível cair por dentro, num latifúndio. Havia espaço. Havia André, Ganso, Alexsander, Marcelo, Arias. Não havia resistência. O rival marcava com os olhos.

Vitor Pereira preservou nove jogadores na partida ruim contra o Aucas, na estreia da Libertadores. Imaginava-se que repetiria a estratégia eficiente em maior parte do primeiro jogo e no saldo final. Imposição física, saídas em velocidade diante de uma defesa adiantada. Mas não. Vitor Pereira voltou à dupla Pedro e Gabigol. Tentou pressionar. Mas não conseguiu. Se houve um vácuo no centro no primeiro jogo, desta vez o espaço começava pelo lado, à direita. Gabigol não fechava o setor. Alinhava a Pedro. Varela, por vezes, tentava o bote. Mas a rigor o time estava em um 5-3-2, pois Cebolinha voltava para tentar fechar com Gerson e Thiago Maia. Trabalhava com a vantagem na ida, dava bola. E dava espaço. Havia campo, muito campo para o Fluminense. E aos poucos o Flamengo foi mastigado. Física, tática, mentalmente. Alexsander por dentro avisou ao carimbar a trave de Santos. O gol de Marcelo, com liberdade para cair à direita, girar e bater sem pressão, não surpreendeu. A partir dali se entendia que a História já se desenhava à frente dos olhos.

Fla no início: 5-3-2, com problemas do lado direito

De forma débil, o Flamengo se esfarelou. Tentava sair ao jogo e errava passes facilmente. Inocentemente. Sem instinto de preservação, pois ainda contava com a vantagem, parecia presa acuada. Varela tentou a saída já clássica que tem errado constantemente, com o corte para dentro. Foi facilmente desarmado por Keno. No toque fácil a Ganso e daí a Cano, o Fluminense fez 2 a 0 como quem brincava no gramado do Maracanã. A humilhação estava imposta. E de maneira quase instintiva, o Tricolor arrecefeu um pouco a pressão, permitiu ao Flamengo ocupar um pouco o campo ofensivo ainda no primeiro tempo. Ayrton Lucas enfim conseguiu subir ao ataque. Deu a falsa impressão que havia jogo. Não havia.

Vitor Pereira sabia. Sentia. Tanto que fez duas modificações ainda no intervalo. Desfez a linha de três zagueiros, abriu mão definitivamente de Gabigol em uma decisão. Aplicou o que indicava ser um 4-1-4-1. Cebolinha e Matheus França mais abertos. Everton Ribeiro e Gerson por dentro. Thiago Mais por trás. Houve uma melhor fluidez. Os jogadores pareciam se reconhecer de maneira mais instintiva em campo. Fábio evitou o gol de cabeça de Thiago Maia. Mas qualquer resquício de reação rubro-negra sucumbiu ao pênalti no braço de Fabrício Bruno. Na cobrança de Cano, Santos ainda errou ao tentar o encaixe da bola em vez de espalmá-la. No rebote, o 3 a 0 fatal. O jogo estava entregue. A decisão sacramentada. A História feita.

Flu ao fim: título no bolso, mais protegido e bem superior

O baile tricolor seguiu. A passividade rubro-negra, também. O quarto gol emblemático. David Luiz errou domínio de bola de forma inexplicável em um arranque de Keno. O Fluminense forçava o jogo ainda pela esquerda. Mas Cano pegou a sobra e enxergou o buraco pela direita. Guga, livre, chegou para bater rasteiro. No rebote de Santos, Alexsander, também livre, bateu forte para o fundo da rede. Uma equipe completamente inteira em campo. Outra entregue. Diferenças gigantes tática, física e, especialmente, mental. Mérito enorme de Fernando Diniz. Que bancou, por exemplo, Felipe Melo na defesa. O veterano teve boa atuação, com liderança, especialmente no primeiro tempo.

Fla no fim: tentativa de atacar, mas já desmobilizado e desorganizado

Nem mesmo o gol tardio de Ayrton Lucas conseguiu impactar. Tampouco foi comemorado. É um Flamengo desmobilizado. Desacreditado. Abatido. Apático. E sem rumo diante do atropelo em talvez sua pior atuação em decisões na História. Vitor Pereira se perdeu em decisões, não conseguiu mais o encaixe e parece ter perdido também a capacidade mínima de mobilização de elenco. Se foi compreensível a não renovação de Dorival Júnior em busca de um crescimento de uma equipe que foi claudicante nas decisões, uma ruptura atual se torna ainda mais compreensível. Uma vez mais o clube descarta os meses iniciais da temporada em meio a problemas internos. O elenco segue com qualidade e ignorar tal fato é tão absurdo quanto imaginar evolução no atual trabalho.

O contrário do Fluminense. Fernando Diniz cada vez mais demonstra ajustes finos em seu trabalho. No conhecimento do elenco. Na condução do formar da equipe. É óbvio que técnica e numericamente o grupo ainda está aquém de grupos milionários, como o próprio rival. Mas a equipe encorpa. Ganha adendos. Como um craque. Houve quem duvidasse da capacidade de Marcelo agregar algo à armadura tricolor. É craque. A qualidade fina que faltava a um time encaixado. O elo com a torcida. Do passado ao presente. De um time com nome e sobrenome. Em um giro, 17 anos se conectaram. Memórias foram eternizadas. Sentimentos em verde, branco e grená. Um novo capítulo na História do Fla-Flu. É o Fluminense de Fernando Diniz. Bicampeão Carioca de 2023.

FICHA TÉCNICO
FLUMINENSE 4X1 FLAMENGO

Data: 09 de abril de 2023
Árbitro: Bruno Arleu de Araújo
VAR: Rodrigo Nunes Sá
Público e renda: 60.044 pagantes / 65.075 presentes / R$ 4.810.051,50
Cartões amarelos: André, Marcelo, Alexsander, David Braz (FLU) e Léo Pereira, Gerson, Everton Ribeiro (FLA)
Gols: Marcelo (FLU), aos 26 minutos e Cano (FLU), aos 31 minutos do primeiro tempo e Cano (FLU), aos nove minutos e Alexsander (FLU), aos 18 minutos e Ayrton Lucas (FLA), aos 50 minutos do segundo tempo

FLUMINENSE: Fábio, Guga, Nino, Felipe Melo (Vitor Mendes, 17’/2T) e Marcelo (David Braz, 34’/2T); André e Alexsander; Arias, Paulo Henrique Ganso (Gabriel Pirani, 34’/2T) e Keno (Lima, 26’/2T); Cano
Técnico: Fernando Diniz

FLAMENGO: Santos, Fabrício Bruno (Filipe Luís, 36’/2T), David Luiz e Léo Pereira (Matheus França / Intervalo); Varela, Thiago Maia (Victor Hugo, 27’/2T), Gerson e Ayrton Lucas; Everton Cebolinha (Matheus Gonçalves, 36’/2T), Gabigol (Everton Ribeiro / Intervalo) e Pedro
Técnico: Vitor Pereira

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