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Peças comprometedoras, erros repetitivos: Fla insiste na rotina e cai diante do Grêmio

Rafael Vaz Jael Grêmio Flamengo 2017

Rafael Vaz Jael Grêmio Flamengo 2017

É normal indicar que problemas devem ser detectados quando um time não consegue apresentar desempenho satisfatório ao longo da temporada. Mas não há necessidade alguma de buscar os buracos na colcha de retalhos do Flamengo em 2017. Eles são claros, evidentes. E repetitivos. Muito em função deles o time acabou mais uma vez derrotado, desta vez em minutos, pelo Grêmio em Porto Alegre num jogo aparentemente controlado. Um 3 a 1 dias depois do empate com alma que deu a vaga contra o Fluminense na Sul-Americana.

No futebol existem fatores impactantes no resultado final além de tática e técnica. O ambiente de um jogador no universo de determinado clube deve ser levado em consideração. Há grande possibilidade de resultar em um desempenho ruim em campo. O receio de nova falha, a baixa qualidade técnica. A rejeição de grande parte da torcida e as falhas contínuas levam a um desgaste que tornam inviável a permanência de certas peças. O Flamengo perdeu essa passada ao manter, como diz o companheiro André Rocha, do UOL, seus elos fracos no elenco após a vexatória eliminação na Libertadores.

Grêmio no início: Jael parado, pontas pouco velozes

É como se uma equipe de F-1 insistisse em manter no carro por seguidas corridas peças que comprometeram o desempenho ao longo da temporada. Um problema dividido pela direção de futebol do clube, omissa, e por técnicos que insistem em mandar a campo tais jogadores. Reinaldo Rueda tem a seu favor apenas o pouco tempo no cargo e o conhecimento provavelmente ainda escasso das culturas do futebol no país e do próprio clube. Talvez por isso tenha mandado a campo o Flamengo num 4-2-3-1 com Rafael Vaz, Márcio Araújo e Pará trajado com a faixa de capitão a campo. E também seja tão pragmático.

Um dos méritos de Rueda ao assumir o time numa semifinal de Copa do Brasil foi tornar o Flamengo mais consistente defensivamente. Era um momento de mar revolto, sujeito a chuvas e trovoadas e com uma vaga onde o saldo de gols era determinante. Arrumada a casa, o pragmatismo não deixou o time. O Flamengo continua com pouco gosto pelo ataque, pragmático, quase com receio de encarar o rival mesmo com jogadores de qualidade que existem em seu plantel. Ainda que existissem os desfalques de seus dois principais jogadores – Guerrero, envolvido no problema do doping, e Diego, poupado por dores musculares – havia ovos para uma omelete mais vistosa. Rueda não quis.

O Flamengo realizou um primeiro tempo até competente na parte defensiva. Encarava, afinal, o Grêmio finalista na Libertadores e com seu time quase completo. Também num 4-2-3-1, Renato Gaúcho fez de Jael a referência no ataque, com Luan com espaço atrás dele, Ramiro e Fernandinho nas pontas, aproximação de Arthur e Michel. Procurava o toque de pé, girando o jogo, tentando infiltração. Com Arão de ponta direita e Cuellar fazendo a saída de jogo, o Flamengo fechou bem o entorno de sua área, freando a possibilidades de enfiadas de bola gremistas. Everton Ribeiro, porém, tinha poucas opções para dialogar na criatividade, embora também tivesse espaço pelo centro. Vinícius Junior e Geuvânio, por exemplo, estavam no banco de reservas.

Fla no início: 4-2-3-1 com Arão na direita

Neste panorama, Felipe Vizeu continuou como Guerrero em seus recentes dias pelo Flamengo. Uma ilha no ataque, lutando contra múltiplos adversários quase em vão. Houve três bons lances no primeiro tempo. Luan, dificultando a marcação com mobilidade nas costas de Márcio Araújo, apareceu de frente para o gol e obrigou Diego Alves a fazer defesa importante no chute de fora da área. Do outro lado, Everton Ribeiro, no fim da primeira etapa, buscou bola entre os zagueiros, avançou para tabelar e achou Renê na frente da área, que bateu forte e assustou Paulo Victor. Arão, ao tentar toque de letra na área, serviu Arthur, que achou Ramiro dentro da área. Na batida forte, Diego Alves salvou de novo. E o primeiro tempo encerrou. O Flamengo parecia controlar o Grêmio. E pareceu ainda mais.

Isso porque, confiante, a equipe abriu o placar com boa jogada de Everton Ribeiro no primeiro minuto da etapa final. O camisa 7 começou o lance pelo meio e recebeu o cruzamento do xará Everton, cabeceando no cantinho esquerdo de Paulo Victor. Um belo gol que parecia indicar que o Flamengo controlava mesmo o jogo. Freara o Grêmio de forma eficaz no primeiro tempo, dando o passo seguinte logo de cara na segunda metade. Cuellar adiantou, deixou o campo defensivo mais com Márcio Araújo. O Rubro-Negro melhorou, ocupando melhor o território gremista. Na tabela de Renê e Everton, com conclusão de Cuellar dentro da área, ficou claro. Mas há as peças que fazem o carro falhar mesmo na corrida que lidera.

Grêmio ao fim: Everton elétrico e Beto da Silva com mobilidade

Não se trata de implicância. Basta observar o lance e lembrar quantas vezes Rafael Vaz, por exemplo, falhou na temporada. Ou Márcio Araújo. Basta um clique para o Flamengo desmoronar. De novo com os mesmo problemas. De novo com falhas dos mesmos jogadores. Michel, livre na intermediária, lançou Ramiro na área, que venceu disputa de cabeça com Renê. A bola cruzou marota por Vaz e Rhodolfo e, principalmente, Pará, que só observou Everton tocar para o gol. O atacante acabara de entrar na vaga de Fernandinho para aumentar a velocidade sobre o lateral rubro-negro. Em segundos, funcionou. 1 a 1.

Não havia o mínimo de resistência do Flamengo. Do espírito reencontrado na quarta-feira diante do Fluminense não existia nem mais um esboço. Talvez por não ser um clássico regional. Talvez por não dimensionar a importância de pontos na reta final do Brasileiro. Talvez por pura incompetência mesmo. Pois Pará, de novo, falhou. Como já falhara no jogo. Como já falhara diante de Jô, do Corinthians. Lançamento de Edilson para Everton às suas costas, falha no corte, domínio e contribuição de Diego Alves na definição entre a trave e o goleiro. Em dois minutos, Grêmio 2. Flamengo, desmoronado, entregue, 1. São falhas evidentes e recorrentes que comprometem a temporada e parecem se espalhar para o restante grupo. Rhodolfo, que apresentou atuações até seguras anteriormente, estava em tarde desastrosa após o primeiro gol.

Fla ao fim: avenida Pará e Vinicius Jr tardiamente

Rueda tentou repetir a fórmula Vinicius Junior utilizada no Fla-Flu. Talvez funcionasse com o Flamengo já vencendo, não em pane diante do finalista da Libertadores, em seu estádio. Não há um garoto de 17 anos que resista a um time caprichado de elos fracos. A suas peças que constantemente comprometem o time. Rafael Vaz, em nova síndrome de David Luiz, pensou ter protegido a bola de Beto da Silva na esquerda. Rápido, o atacante tocou a redonda por um lado e escapou pelo outro. O combate de Márcio Araújo foi inútil e o cruzamento saiu diante de Rhodolfo e Pará, lentos, assustados, atônitos. Luan, espero, apareceu na pequena área para fechar o 3 a 1 e decretar a vitória que o Flamengo acreditava ter controlado. Mas é justamente o contrário.

O Flamengo não tem controle algum sobre seus passos nesta temporada. O futebol do clube segue desgovernado. A régua para medir o investimento é necessária para cobrança diante de uma campanha de ruborizar no Campeonato Brasileiro. Como seria também necessária para justificar desempenho regular com pouco investimento. Não é o caso. O Flamengo dos cálculos, das finanças, dos certificados de gestão eficaz não entende como gerir o futebol depois de tantos anos. Transformar números em gols, orçamento parrudo em conquistas. Cobrar postura. Contentava-se, talvez, com um empate em Porto Alegre quando não há mais espaço para pensar.

Ao não agir para estancar a sangria da Libertadores, a diretoria rubro-negra abriu espaço para insistentes escalações de peças que falham jogo sim, jogo não. São úteis em algumas partidas, mas altamente comprometedores em outras. Rafael Vaz, Márcio Araújo, Pará foram, de novo, fusíveis que queimaram. E fundamentais em um pacote que pode resultar, talvez, na pior relação custo-benefício do futebol rubro-negro nos últimos 15 anos. Se iniciou o ano sonhando com títulos do Brasileiro e da Libertadores, o milionário Flamengo não tem nem a certeza de que estará na maior competição sul-americana em 2018. É caso não só de reflexão, mas de terapia.

FICHA TÉCNICA:
GRÊMIO 3X1 FLAMENGO

Local: Arena do Grêmio
Data: 05 de novembro de 2017
Horário: 17h
Árbitro: Raphael Claus (SP – Fifa)
Público e renda: 18.199 pagantes / 19.973 presentes / R$ 628.494,00
Cartões amarelos:
Gols: Everton Ribeiro, a um minuto e Everton (GRE), aos 24 minutos e aos 26 minutos e Luan (GRE), aos 36 minutos do segundo tempo

GRÊMIO: Paulo Victor; Edilson, Geromel, Kannemann e Marcelo Oliveira; Michel e Arthur; Ramiro (Léo Moura, 38’/2T), Luan e Fernandinho (Everton, 22’/2T); Jael (Beto da Silva, 23’/2T)
Técnico: Renato Gaúcho

FLAMENGO: Diego Alves; Pará, Rhodolfo, Rafael Vaz e Renê (Vinicius Junior, 30’/2T); Márcio Araújo e Cuellar (Lucas Paquetá, 43’/2T); Willian Arão (Geuvânio, 38’/2T), Everton Ribeiro e Everton; Felipe Vizeu
Técnico: Reinaldo Rueda

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