Everton Ribeiro Flamengo final Guayaquil 2022 Libertadores
Everton Ribeiro, o Capitão do Tempo
03 novembro 01:04
Gilson Ricardo Rádio Tupi
Gilsão, a rampa e a serra
24 janeiro 23:26

Pinceladas de VP: um Flamengo com toques diferentes atropela a Portuguesa

Gabigol camisa 10 estreia Flamengo

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Pedro gol Flamengo camisa 9 primeiro

(Gilvan de Souza / Flamengo)

Ano novo, vida nova. O Flamengo mudou porque desejava ter cara nova. Ousou. Mesmo campeão de dois dos três principais títulos entendeu que o time das copas de Dorival Júnior tinha apontado para uma descendente em 2022. Apresentou pecados que poderiam ter sido vitais nas taças. Falhas claras. E precisaria de um refinamento tático bem mais apurado para encarar os desafios de 2023. Daí surgiu a oportunidade de Vitor Pereira. Experiência no mercado europeu, maior variedade tática e já com conhecimento do mercado sul-americano. VP anunciou na sua chegada que não cometeria o erro de ser autoral de cara. Não pintaria imediatamente várias paredes. Óbvio. O erro do Flamengo não era estrutural. Já tem uma bela casa. Basta mesmo repintar paredes. Talvez uma ou outra seja realocada. Para, aos poucos, voltar a ser muito competitivo e belo no mais alto patamar.

Tempo é ingrediente fundamental nesse processo. Mas é, também, ingrediente escasso. Vitor Pereira não o terá. Por isso colocar em campo todo o seu time já de cara foi fundamental neste domingo contra o Portuguesa em um escaldante Maracanã abafado pelo verão carioca. Mesmo sob o sol que quase fazia derreter as colunas do estádio valeu a pena para as quase 52 mil pessoas que lá estiveram para desfrutar um bom futebol. O Flamengo de Vitor Pereira já tem modificações em relação ao de Dorival Júnior. Algumas cores diferentes nas paredes. Talvez apenas partes pintadas, alguns testes antes de trocar a cor definitivamente. Um 4 a 1 que arrancou sorrisos, deu indicações mesmo diante de um adversário fraco e serviu para aquecer os motores para a temporada.

A começar pelo seguinte, caro amigo: o losango tão falado de Dorival em 2022 não está mais lá. É até difícil neste primeiro momento apontar a formatação exata do Flamengo de Vitor Pereira. Os tais números de telefone como chama Pep Guardiola. Pode ser um 4-4-2. Alguns apontaram o 4-1-3-2 também. Como queiram. Assemelha-se até ao time de Jorge Jesus neste sentido. Sedento, rápido, vertical. Certo é que as substituições forçadas pelo destino até ajudaram de alguma maneira. Varela em Rodinei, Ayrton Lucas em Filipe Luís e, principalmente, Gerson em João Gomes. Sem a bola, nenhum espanto em relação a outros tempos, no 4-4-2 clássico, Ribeiro e Arrascaeta fechando os lados. Cansou-se de ver o time de JJ exercitar esse movimento no auge. Com a bola, semelhanças com 2019 também. O time até iniciou em uma linha de quatro. Sempre com a missão de pressionar o adversário. Mas, rapidamente, passou a fazer a saída de três usualmente com Thiago Maia entre os zagueiros, embora Gerson também fizesse a função vez e outra. Geralmente o volante depois de realizar a saída se adianta. Mas não. Thiago Maia se fixava e o time liberava demais os laterais. Ayrton Lucas à esquerda e Varela à direita. Gerson mais à frente por dentro e, ainda mais à adiantados, Everton Ribeiro e Arrascaeta, alternando lados. Gabigol, entre direita e meio, buscava a aproximação de Pedro, também pouco móvel. Um organismo muito vivo, com cinco jogadores no campo ofensivo, esgarçando a equipe ao máximo, procurando espaços na defesa adversária. Com aproximação, muita mobilidade, troca de posições, passes curtos, mas uma novidade: Arrascaeta esperava a ultrapassagem dos laterais para lançamento ou enfiada de bola.

Fla no início: Thiago na saída de três, Gerson na dinâmica e laterais à frente

Assim saiu o primeiro gol. Ayrton Lucas recebeu na esquerda e cruzou para Pedro, de peito, marcar pela primeira vez com a camisa 9. 1 a 0. O Flamengo tinha fluidez, mobilidade. Muito se devia a Gerson. A dinâmica do agora Camisa 20 faz enorme diferença. Sim, amigos. Era a Portuguesa, no Campeonato Carioca. Mas pode ser o River Plate numa final de Libertadores. Gerson contribuirá da mesma maneira para a fluidez. É um jogador que recua para fazer a saída de três e também afunda por dentro para ajudar a pressão na saída rival. Domina, toca, recebe de volta, passa. A bola anda, o time anda. É muito distinto de João Gomes e sua intensidade, que leva maior condução e muito menor capacidade criativa. Com o Coringa, jogo vertical, passe agudo. O Flamengo se adaptou ao que as circunstâncias lhe entregaram. Especificamente no jogo de ontem: não ter Filipe Luís e ter Ayrton Lucas.

Ainda em recondicionamento físico, Filipe ficou fora. Ayrton, muito mais agudo, foi para o jogo. Natural que as bolas sejam esticadas para suas ultrapassagens em velocidade. Com Filipe, mais difícil. Fatalmente o jogo será mais pensado, trabalhado. Ocorre que Rodinei e seu jogo agudo já não existem na direita. Diante de um adversário frágil como a Portuguesa, Varela não teve problemas em avançar. Várias vezes apareceu como alternativa à frente. Mas há questões: o seu setor é mais preenchido do que a esquerda – por ali estão frequentemente Gabigol e Everton Ribeiro. E neste domingo Fabrício Bruno, veloz e de ótima recuperação, estava às suas costas para qualquer emergência. Usualmente quem ocupa o setor é David Luiz na defesa, desta vez deslocado para a esquerda, uma vez que Léo Pereira era desfalque. Um quebra-cabeça a ser montado por Vitor Pereira e estudado jogo a jogo. Adversário a adversário.

Defensivamente, a Portuguesa cobrou pouco. Quando tentou pressionar proporcionou ao Flamengo um dos lances mais belos do jogo e, consequentemente, o primeiro gol de Gabigol com a 10. E demonstrou, também, a importância de Gerson. Fora várias as vezes que o time explorou o centro do campo. Toques rápidos, tabelas inteligentes, alternância de movimentos e posições. Em um lance Everton Ribeiro quase marcou um gol de placa. Mas no segundo gol, especificamente, tudo foi muito bem desenhado. A construção desde o início. Saída de Santos com Fabrício Bruno, que foi a Varela e Everton Ribeiro. Gerson recebe na intermediária e enxerga Pedro por dentro. Passe direto, vertical, limpo. Tirou inteiramente o Flamengo da pressão. Era algo contumaz na equipe de Jesus. Bruno Henrique se fartou algumas vezes, por exemplo. Pedro aproveitou e tocou em Gabigol, que limpou para dentro e bateu forte. João Lopes ainda contribuiu, mas a jogada, toda bem ensaiada, foi coroada.

Flamengo ao fim: Vidal mais adiantado, como meia

Óbvio que o Flamengo tem ajustes a fazer. Claro que, como disse Vitor Pereira, ainda se “parte” em campo. É problema que traz desde os tempos de Dorival Júnior. Fica espaçado por vezes, deixa os setores se desconectarem e, por isso, cede espaços. Ainda assim, ampliou com Fabrício Bruno em bela jogada de Pedro e depois, no fim, Thiago Maia fez após belíssimo passe de Gabigol, como um real 10, a Matheuzinho. VP preferiu sacar jogadores e poupar o fôlego, dosar energias. E transformou o Flamengo para um 4-2-3-1 com uma interessante novidade: Vidal, a seu ver, é mais meia do que volante. Talvez pela intensidade, menos necessária mais à frente do que no setor mais central do campo. Cebolinha e Marinho abertos, Gabigol mais centralizado.

Algumas pinceladas foram vistas nas paredes deste Flamengo de Vitor Pereira. Mas a base estrutural continua forte. É um time que carece, cada vez mais, de refinamento tático para encarar os adversários de grande porte. Até a Supercopa, no dia 28, não os terá. A função será ganhar mesmo ritmo de jogo, fazer ajustes de posicionamento, aproveitar o que o campo pode dar. Gerson e sua dinâmica. Ayrton Lucas e sua velocidade até o fundo. o entendimento do Gabigol com sua 10. De Pedro com sua 9. É um Flamengo diferente, mas parecido. Parecido, mas diferente. As cores parecem as mesmas. Mas se olhar com atenção já há novas provas. Uma pincelada aqui. Outra ali. Mobilidade. Organismo vivo. 2023, enfim, chegou para o campeão da América que mudou justamente mirar o mundo de novo.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 4X1 PORTUGUESA

Data: 15 de janeiro de 2022
Árbitro: Alex Gomes Stefano
VAR: Não houve
Público e renda: 49.964 pagantes / 51.994 presentes / R$ 1.660.773,00
Cartões amarelos: não houve
Gols: Pedro (FLA), aos 11 minutos e Gabigol (FLA), aos 37 minutos e Edson Carius (POR), aos 39 minutos do primeiro tempo e Fabrício Bruno (FLA), aos quatro minutos e Thiago Maia (FLA), aos 39 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Santos, Varela (Matheuzinho, 20’/2T), Fabrício Bruno, David Luiz e Ayrton Lucas; Thiago Maia; Gerson (Pulgar, 28’/2T), Everton Ribeiro (Marinho, 20’/2T) e Arrascaeta (Everton Cebolinha, 20’/2T); Gabigol e Pedro (Vidal, 28’/2T)
Técnico: Vitor Pereira

PORTUGUESA: João Lopes, Watson, Gerson, Fredson e Yuri; Charles, Vinicius Kiss (Fernandes / Intervalo), João Paulo (Roney, 36’/2T) e Anderson Rosa (Lucas Santos, 19’/2T); Jean Carlo (Cafu, 19’/2T) e Edson Carius (Gilmar, 25’/2T)
Técnico: Felipe Surian

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