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Um Flamengo exposto carimba a faixa do Corinthians em um jogo de reflexões

Felipe Vizeu Flamengo choro

Felipe Vizeu Flamengo choro

Seria possível analisar a vitória do Flamengo sobre o Corinthians por 3 a 0, na Ilha do Urubu, sob diversos aspectos. Buscar entender a utilização de peças que pareciam esquecidas, como Mancuello e Geuvânio, e que poderiam ter sido úteis ao longo da temporada. Ressalvar, por exemplo, que o rival era um campeão de ressaca, desfalcado de jogadores fundamentais como os laterais Fagner e Arana. Buscar entender, também, o impacto do resultado para o primeiro jogo da semifinal na Copa Sul-Americana, contra o Junior Barranquilla. Falar do ótimo jogo de Diego. Da estreia de Lincoln. Mas seria, mesmo, até desonesto deixar de lado a hecatombe que surgiu em campo em uma briga protagonizada por Rhodolfo e um infantil Felipe Vizeu.

Irregular ao longo da temporada, o Flamengo somatizou nas últimas semanas as críticas, de todos os lados, de que se tratava de um elenco resignado com o fracasso. Incapaz de sentir as derrotas e lutar até o fim para evitá-las. Claro que tamanha pressão mexe com o brio dos atletas. Arranca, quase a fórceps, o desejo de responder em campo ao caldeirão vivenciado fora. Mas o grupo de profissionais do Flamengo falhou por algum momento ao medir a própria temperatura, expondo-se diante de câmeras e deixando claro que as informações de divisões internas e falta de comunicação e comando não são meras invenções.

Fla no início: Mancuello como boa surpresa e Cuellar ótimo

Por mais que a cobrança fosse necessária e o centroavante tivesse a obrigação de repetir Guerrero nos escanteios, marcando posição na primeira trave, óbvio que Rhodolfo errou. O chega pra lá, com uma encarada feroz e um soquinho nas costas de Vizeu, foi um tom acima. Mas errou também o atacante ao buscar o contato e vociferar contra o zagueiro após cobrança por posicionamento a ponto de deixá-lo transtornado. Um borbulhar de quem sente o bafejar da pressão com intimidade. De quem não pode mais admitir o mínimo erro. Acuado com resultados ruins, o Flamengo em parte respondeu raivoso. Errático. Nervoso. E os erros de zagueiro e atacante estariam ali resumidos a mais uma entre inúmeras brigas entre companheiros. Algo que seria fatalmente diluído diante do placar favorável.

Mas Vizeu ultrapassou a linha ao comemorar o terceiro gol com um gesto obsceno ao próprio companheiro. Mediu-se, ali, com a própria régua. Com um individualismo que nada contribui ao time, ao elenco, ao clube. Reacendeu a fogueira. Prolongou o embate. Entregou os próprios companheiros, e não só Rhodolfo, em uma bandeja. Abriu as entranhas rubro-negras a olhos vistos. E fez o time descer ao vestiário em meio a uma crise a resolver. Mesmo vencendo por 3 a 0.

Corinthians no início: laterais tímidos, Camacho mal

Pois antes do lamentável espetáculo da dupla houve um jogo. Enfim, um bom jogo do Flamengo de Reinaldo Rueda, recheado de atuações irregulares. Era um bom dia. No 4-2-3-1, o colombiano mandou a campo um time com caras novas, muito em função dos desfalques. Mancuello e Geuvânio nas pontas. E funcionou bem. Antes de se perder com a ebulição dos dois companheiros, o time ajustou o ponto. Foi aguerrido sem ser violento. Consciente sem ser apático. Competitivo. E houve movimentos interessantes. Mancuello pelo lado esquerdo não cansou de procurar infiltração na área quando a bola repousava do outro lado.

Aparecia com perigo, abrindo espaço para avanços de Trauco pela lateral, não pelo centro como de costume. E quando Diego também entrava na área, o argentino tentava ocupar o centro. Por ali guardou um golaço e de fora da área, no ângulo direito de Cássio. E deixou a pensar se não poderia ter sido melhor aproveitado em 2017. Tem qualidade no passe e no chute em um time que sempre buscou muito o jogo aéreo. Um enigma difícil de responder.

Mas neste domingo havia, também, Diego. O tempo parado durante a última lesão muscular, no Flamengo e na Seleção Brasileira, parece ter sido produtivo. Desde que sofreu o problema no joelho direito, o camisa 35 poucas vezes pareceu pleno fisicamente. Em nada lembrava o Diego do início do ano, mais solto, leve, conseguindo dar as passadas necessárias para se movimentar de um lado para o outro. Fazer o jogo girar por si, sem peso. Diante do Corinthians, conseguiu. Talvez o desentrosamento rival, em um 4-2-3-1 com Fellipe Bastos e Gabriel como volantes, tenha lhe concedido mais espaço. A presença dos laterais reservas, Léo Príncipe e Marciel, dificultando a manutenção da forte defesa do campeão, também. Mas o meia aproveitou a quantidade de campo que tinha.

Colocou a bola debaixo do braço com auxílio luxuoso de Cuellar. O colombiano, aliás, é um alento. Irônico pensar que quase foi emprestado ao Vitória. Tem qualidades indispensáveis para um volante moderno, com ótimo combate e facilidade para receber a bola dos zagueiros e dar início ao jogo rubro-negro. E não se intimida. Dribla adversários e busca avançar com a bola rumo ao campo adversário, sem toques laterais. Com o fluir tão produtivo, o Corinthians se encolheu na maior parte do tempo no 4-4-2. Camacho, pelo meio, não respondia. Marquinhos Gabriel, pela direita, tampouco. No lançamento de Rhodolfo, a cabeçada de Arão para Geuvânio bailar e ser derrubado por Pablo. O pênalti bem cobrado por Diego parecia indicar um reajustar de rumo. Mas, diria o poeta dos pés, Flamengo é Flamengo.

Fla ao fim: Cuellar ainda em todo lugar

O belo gol de Vizeu num erro de saída de bola corintiana pôs não só o placar de 3 a 0, mas tudo o construído até ali em risco. O dedo médio em riste e a boca cheia percorreram o mundo e obrigaram o ineditismo da cena saltar à frente do futebol nas manchetes. Uma molecagem imperdoável até mesmo a um garoto de 20 anos, talhado em competições com seleções de base e mais de uma temporada entre os profissionais. Foi um Flamengo exposto ao ridículo. E que teve de pôr panos quentes no ambiente de um vestiário explosivo. O ânimo diminuiu também em campo. A partida, promissora, tornou-se comum. Verdade que o jogo estava resolvido, já que não houve expulsão e no 11 contra 11, o Corinthians, já com o peso da faixa da última rodada, parecia pouco interessado em mudar o andar da carruagem.

Rueda aproveitou para fazer mudanças. Everton Ribeiro, barrado, voltou ao time no lugar de Geuvânio. Vizeu deu espaço para a primeira vez da promessa Lincoln entre os profissionais. Novato, o garoto não soube ainda se posicionar bem. Correu muito sem direção. Pareceu impactado, deixando Diego muitas vezes como o homem mais avançado. Natural para quem conta apenas 16 anos de vida. E Mancuello, enfim, deixou o campo para a entrada de Rodinei. Cumpriu bem o seu papel, num vaivém que o deixou esgotado. Parecia saber que gastava ali a sua última ficha no clube. Um fim de festa sem muitos sustos. Um jogo que permite reflexões.

Corinthians ao fim: testes de fim de temporada

Não há motivos para celebrar uma briga interna tão exposta quanto ocorreu na Ilha do Urubu. Há problemas claros a resolver e talvez não haja tempo para dissecá-los ainda em 2017. Não serve o Flamengo apático, não serve o Flamengo que se estapeia com nervos à flor da pele. O desafio é encontrar o meio-termo existente até os 40 minutos do primeiro tempo. Um time mais consciente e aguerrido, com vasta troca de passes, aproximação contínua de Cuellar, Diego ativo e criativo, pontas participativos. Menos bola pelo alto. Foram 20 cruzamentos, de acordo com o site Footstats. Número bem inferior a outras partidas.

Pouco importa a ressaca corintiana. O Flamengo deveria aproveitar a chance. E assim o fez. No meio da tempestade ainda pareceu haver motivos para comemorar: o goleiro Diego Alves indica cada vez mais ser o candidato para ocupar o cargo de líder absoluto do elenco. Foi ele que impediu a troca de sopapos explícita entre Rhodolfo e Vizeu e segurou o zagueiro em pleno ato de fúria. Foi ele quem se apresentou para dar entrevistas sobre o tema antes da dupla, no fim da partida. Liderança natural. Cabe à diretoria fazer o que lhe faltou no restante da temporada: agir diante de um episódio que prejudicou, principalmente, a imagem do clube. Caberia uma multa e, no caso de Vizeu, ainda infeliz com o dedo que correu o mundo, um empréstimo em 2018 para respirar novos ares e amadurecer. Deixar os moleques brincar nem sempre pode ser algo positivo.

FICHA TÉCNICA:
FLAMENGO 3X0 CORINTHIANS

Local: Estádio Luso-Brasileiro, a Ilha do Urubu
Data: 19 de novembro de 2017
Horário: 17h
Árbitro: Wagner Reway (MT)
Cartões amarelos: Geuvânio, Pará, Rhodolfo e Rafael Vaz (FLA) e Léo Príncipe, Giovanni Augusto, Marquinhos Gabriel e Romero (COR)
Público e renda: 12.293 pagantes / 13.491 presentes / R$ 294.198,00
Gols: Mancuello (FLA), aos 20 minutos e Diego (FLA), aos 32 minutos e Felipe Vizeu (FLA), aos 45 minutos do primeiro tempo

FLAMENGO: Diego Alves; Pará, Rhodolfo, Rafael Vaz e Trauco; Cuellar e Willian Arão; Geuvânio (Everton Ribeiro, 20’/2T), Diego e Mancuello (Rodinei, 34’/2T); Felipe Vizeu (Lincoln, 19’/2T)
Técnico: Reinaldo Rueda

CORINTHIANS: Cássio; Léo Príncipe, Balbuena, Pablo e Marciel; Gabriel e Felipe Bastos (Giovanni Augusto / Intervalo); Marquinhos Gabriel (Pedrinho, 28’/2T), Camacho e Romero (Rodrigo Figueiredo, 40’/2T); Jô
Técnico: Fábio Carille

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