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Um Flamengo soberbo: primeira taça de 2020 chega com pitadas de novidades

Arrascaeta gol Flamengo Supercopa do Brasil 2020

(Flamengo / Divulgação)

Gabigol plaquinha Supercopa do Brasil Flamengo

(Flamengo / Divulgação)

As atuações e as seguidas conquistas do Flamengo em 2019 fecharam inúmeras portas de críticas que uma equipe pode receber no futebol. Restou praticamente uma: apontar o dedo a uma suposta arrogância dos rubro-negros. O flamenguista carrega como estilo de vida o jeito meio debochado, fanfarrão e irritante para os rivais até mesmo nos momentos ruins. Imagine no melhor momento em quarenta anos. Isto, na arquibancada. Pois o jeito de ser rubro-negro foi completamente incorporado pelo campo desde o último ano e talvez isso explique a perfeita simbiose entre time e torcida. A arquibancada fala, o campo responde. Um a extensão do outro, respondendo a anseios represados por décadas. Natural que os jogadores e o técnico acreditem, mesmo, ser de outro patamar no futebol brasileiro. No momento, é. A vitória conquistada com facilidade sobre o Athletico-PR, 3 a 0 sem espaço para muitas discussões, na Supercopa do Brasil, no Mané Garrincha, indicou que a realidade de 2019 segue a valer ao menos neste início de 2020. Este Flamengo pode até ter certa soberba. Mas é, mesmo, soberbo.

A tranquilidade com que dita o ritmo do jogo e a absoluta convicção dos jogadores sobre os movimentos necessários a fazer para envolver o adversário impressiona, principalmente se a observação for feita do próprio estádio. Não estamos acostumados a esse padrão neste futebol dos trópicos que até as chegadas de Jorge Sampaoli e Jorge Jesus, salvo raras exceções, só fazia empobrecer. Pois relembremos: depois de mais de um mês de férias, o Flamengo principal retornou à ativa em uma semana e venceu quatro jogos seguidos em apenas 20 dias. Já tem uma taça no bolso. Pode ter mais duas nos próximos dez dias. Mantém o padrão vitorioso e apresenta alternativas para continuar dominante. Não é pouco.

Fla no início: uma das formações do 4-4-2, com muita mobilidade

Arrascaeta como falso 9 não chega a ser novidade. No Cruzeiro atuou assim sob a batuta de Mano Menezes. Em 2019, por vezes encarnou esse papel. Neste ano, o uruguaio apresenta ainda maior versatilidade. No 4-4-2 do Fla-Flu da última quarta-feira foi o segundo atacante. No 4-4-2 deste domingo em Brasília esteve à esquerda e à direita da linha do meio, passou a ser segundo atacante e entendia o momento ideal para surgir como o falso centroavante. É uma peça de uma engrenagem que se movimenta com maestria. Se o Flamengo de 2019 encantava pela fluidez do jogo, o de 2020 mantém a pegada, mas parece ainda mais agressivo e infernal aos adversários com uma movimentação mais intensa. É um organismo vivo em plena mutação no gramado. Para se manter no topo são necessárias novas ideias. Só aí a vantagem já é imensa e fez o Flamengo largar na frente no Mané Garrincha.

Athletico no início: Marquinhos Gabriel por dentro e sem saída veloz

O time iniciou a partida no 4-4-2 com Everton Ribeiro à direita, Arrascaeta à esquerda, Bruno Henrique ao lado de Gabigol. Gerson e Arão por dentro. E voltou a utilizar da movimentação do Fla-Flu. O Camisa 9 abre à direita, Bruno Henrique à esquerda, Arrascaeta entra pelo centro. A defesa adversária não entende como encaixar a marcação com a troca tão rápida. E acaba por ceder espaços fatais. Para um time experimentado já seria difícil fazer frente ao Flamengo no Brasil. No caso de um Athletico-PR em pleno processo de reconstrução, no início da temporada, ficou quase impossível em quase todo o primeiro tempo. A tentativa de Dorival Júnior era um 4-3-3, com Rony e Nikão para aproveitar a velocidade pelos lados e Marquinhos Gabriel por dentro, na tentativa de confundir a marcação carioca. O Athletico avançou no rolar da pelota e tentou pressionar a saída de bola ainda na área rubro-negra. Deixou um espaço às costas muito bem aproveitado por Gerson, que tinha um latifúndio para escolher a melhor jogada para a movimentação do quarteto de frente. Quando o Athletico retomava a bola, Erick e Léo Cittadini eram pressionados imediatamente, com bom destaque para Willian Arão. O Flamengo matava a jogada paranaense no nascedouro. E sobrou no campo.

Construiu o jogo com incrível facilidade. É uma equipe madura, tranquila e consciente que pode ser personificada em Rafinha. O Flamengo já tinha bom desenvolvimento pelo setor direito com Everton Ribeiro nos tempos de Pará. Com o atual Camisa 13, o encaixe é quase perfeito. É ele a liderar o time até mentalmente. Pede calma no passe ou ultrapassa pela direita indicando o necessário para acelerar ao jogo. De toque em toque, o Flamengo chegou ao primeiro gol com uma pitada de calma e a movimentação mais ativa de 2020. Gabigol à direita, Bruno Henrique entre os estáticos zagueiros do Athletico, em diagonal. Cruzamento e, de cabeça, o desvio. 1 a 0. Um Flamengo superior, mas não tão explosivo com a intensidade do Fla-Flu da semifinal da Taça Guanabara. Adaptou-se à necessidade da partida: em um confronto decisivo deveria dosar energias e tê-las até o fim. Para, se preciso, dar o bote quando necessário.

Fla ao fim: pontas rápidos, Diego mais à frente

Sufocado em campo, o Athletico-PR não tinha brecha para erro ou desatenção. O Flamengo avançava em bloco, pelos dois lados do campo. Mexia-se demais. Quando Filipe Luís cruzou a bola da esquerda, Márcio Azevedo a recuou com o peito e uma confiança inexplicável para um time absolutamente dominado em campo e já com o revés no placar. O cálculo, claro, deu errado. Não matou a bola para si e nem a passou para o goleiro Santos. Gabigol farejou a brecha do meio-termo da escolha equivocada. Explodiu com uma sede de quem parecia viver um jejum de gols em 2019. Na luta, bola na rede. A representação da fome rubro-negra pela taça. Mais uma plaquinha. 2 a 0. Com o placar no bolso, o Flamengo permitiu ao Athletico duas investidas no fim do primeiro tempo. A primeira, uma esticada quase sem querer a Marquinhos Gabriel, parou em Diego Alves. A segunda, quando Rony enfim deu trabalho a Rafinha, se ofereceu a Erick no cruzamento, mas seguiu reto. Poderia ser um ressurgir do Furacão na partida. O intervalo chegou com a taça praticamente encaminhada ao Rio.

Ao fim, Athletico ainda na tentativa de pressão, com atacante de ofício

O segundo tempo trouxe um Athletico-PR disposto a mudar ao menos o panorama da partida, embora inverter o placar, mesmo, já parecesse missão quase impossível. Dorival sacou os laterais Khellven e Márcio Azevedo, recuou Erick à lateral direita e pôs Cavesin pelo meio. Adiantou a marcação, pressionou o Flamengo e deu a impressão que poderia igualar forças. Em vão. O time de Jorge Jesus já modificara uma vez mais. O 4-4-2 agora com Everton Ribeiro à esquerda, Arrascaeta à direita. Num piscar de olhos, Bruno Henrique avançava à ponta esquerda, Everton Ribeiro voltava à direita e Arrascaeta avançava para formar dupla momentânea com Gabigol. No contra-ataque, Everton caía por dentro, Gabigol à direita e Arrascaeta como falso 9. Assim nasceu o terceiro gol. Recuperação rápida de Arão para Bruno Henrique, disparado à frente de Wellington. O rolar para Gabigol encontrou a perna de Santos, mas Arrascaeta, como um típico 9, pegou a sobra e sacramentou o primeiro título de 2020. 3 a 0.

O grito de campeão ecoou na arquibancada do Mané Garrincha com orgulho. O Flamengo imponente de 2019 não perdeu o ritmo. Ao contrário, parece incrementar seu repertório mesmo com cardápio já tão variado. Jorge Jesus utilizou Michael para dar descanso a um exaurido Arrascaeta. Sacou Everton Ribeiro e pôs Diego entre Bruno Henrique e Michael, com Gabigol à frente. O Athletico lançou-se ainda mais ao ataque, principalmente pelo lado direito, onde Nikão e Rony se alternavam para tentar cansar Filipe Luís. O Flamengo, então, indicou de novo o 4-4-2 com Diego e Gabigol à frente, em busca de contra-ataques. Não havia mais tempo. No duelo entre o Campeão Brasileiro e o Campeão da Copa do Brasil saiu mesmo um Supercampeão de Brasília, com a terceira taça em menos de três meses. Um Flamengo que salda dívidas com sua gente por décadas de amargos insucessos. Que refaz a imagem de jogadores que ouviam piadas sobre cheirinho há pouco tempo. Um Flamengo que, talvez por tudo isso, curta o momento e deixe escapar, sim, certa soberba. Mas que, hoje, é mesmo soberbo num outro patamar.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 3X0 ATHLETICO-PR
Local: Mané Garrincha, em Brasília (DF)
Data: 16 de fevereiro de 2020
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO – Fifa)
Público e renda: 48.009 presentes / R$ 7.423.760,00
Cartão amarelo: Nikão (ATL)
Gols: Bruno Henrique (FLA), aos 14 minutos e Gabigol (FLA), aos 28 minutos do primeiro tempo; Arrascaeta (FLA), aos 23 minutos do segundo tempo

FLAMENGO: Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Gustavo Henrique e Filipe Luís (Renê, 42’/2T); Willian Arão, Gerson, Everton Ribeiro (Diego, 41’/2T) e Arrascaeta (Michael, 24’/2T); Bruno Henrique e Gabigol
Técnico: Jorge Jesus

ATHLETICO-PR: Santos, Khellven (Fernando Cavesin / Intervalo), Lucas Halter, Thiago Heleno e Márcio Azevedo (Abner Vinícius / Intervalo); Wellington, Erick e Léo Cittadini (Guilherme Bissoli, 18’/2T); Nikão, Rony e Marquinhos Gabriel
Técnico: Dorival Júnior

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